PARLAMENTO EUROPEU 2014-2019 Documento de sessão 4.3.2015 B8-0227/2015 PROPOSTA DE RESOLUÇÃO apresentada na sequência de uma declaração da Comissão nos termos do artigo 123.º, n.º 2, do Regimento sobre as imagens de abusos sexuais de crianças na Internet (2015/2564(RSP)) Martina Anderson, Kateřina Konečná, Malin Björk, Lynn Boylan, Matt Carthy, Liadh Ní Riada, Dimitrios Papadimoulis, Kostas Chrysogonos, Sofia Sakorafa, Marisa Matias em nome do Grupo GUE/NGL RE\1052755.doc PE552.202v01-00 Unida na diversidade
B8-0227/2015 Resolução do Parlamento Europeu sobre as imagens de abusos sexuais de crianças na Internet (2015/2564(RSP)) O Parlamento Europeu, Tendo em conta a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de novembro de 1989, e os respetivos protocolos, Tendo em conta o artigo 3.º do Tratado da União Europeia, Tendo em conta o artigo 24.º da Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, Tendo em conta a Convenção do Conselho da Europa sobre o Cibercrime, de 23 de novembro de 2001, Tendo em conta a Convenção do Conselho da Europa para a Proteção das Crianças contra a Exploração e os Abusos Sexuais, de 25 de outubro de 2007, Tendo em conta as Diretrizes da UE sobre a Promoção e Proteção dos Direitos da Criança, Tendo em conta a Diretiva 2011/93/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 13 de dezembro de 2011, relativa à luta contra o abuso sexual e a exploração sexual de crianças e a pornografia infantil, e que substitui a Decisão-Quadro 2004/68/JAI do Conselho, Tendo em conta a Observação Geral n. 14 (2013) do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, sobre o direito da criança a que o seu interesse superior seja considerado uma prioridade, Tendo em conta o Programa da UE para os Direitos da Criança, adotado em fevereiro de 2011, Tendo em conta a Comunicação da Comissão intitulada «Um lugar especial para as crianças na ação externa da UE» (COM(2008)0055), Tendo em conta as Diretrizes da UE sobre a Promoção e Proteção dos Direitos da Criança, Tendo em conta a estratégia da UE para a erradicação do tráfico de seres humanos 2012-2016, nomeadamente as disposições sobre o financiamento da elaboração de diretrizes aplicáveis aos sistemas de proteção da criança e ao intercâmbio de práticas de excelência, Tendo em conta o seu debate na sessão plenária de 12 de fevereiro de 2015 sobre a luta contra o abuso sexual de crianças na Internet, PE552.202v01-00 2/6 RE\1052755.doc
Tendo em conta o artigo 123.º, n.º 2, do seu Regimento, A. Considerando que o abuso sexual e a exploração sexual de crianças, incluindo a pornografia infantil, constituem violações graves dos direitos fundamentais, em especial do direito das crianças à proteção e aos cuidados necessários para fazerem valer os seus direitos, tal como estabelecido na Convenção das Nações Unidas de 1989 sobre os Direitos da Criança (UNCRC) e na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia; B. Considerando que crimes graves, como a exploração sexual de crianças e a pornografia infantil, devem ser tratados de forma abrangente, abarcando a proteção das crianças vítimas dos crimes, incluindo a prestação de cuidados, a prevenção do fenómeno e a instauração de ações contra os autores dos crimes; considerando que o Estado deve aplicar plenamente a UNCRC e, em particular, os Princípios Gerais, o artigo 2.º (não discriminação), o artigo 6.º (direito à vida, à sobrevivência e ao desenvolvimento) e o artigo 12.º (direito da criança a ser ouvida e a que a sua opinião seja tida em conta); C. Considerando que é necessário respeitar, em particular, o disposto no artigo 3.º da UNCRC, ou seja, o superior interesse da criança deve prevalecer sobre qualquer outra consideração quando se adotam medidas para combater estes crimes e resolver as respetivas consequências, em conformidade com a Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia; D. Considerando que, por força do artigo 13.º da UNCRC, a criança, dentro dos limites necessários estabelecidos pela lei, tem direito à liberdade de expressão, que inclui a liberdade de procurar, receber e difundir informações; que, nos termos do artigo 17.º da UNCRC, se reconhece às crianças o direito de aceder à informação e aos materiais provenientes de diversas fontes nacionais e internacionais, incluindo dos meios de comunicação social, que deverão ser encorajados pelo Estado a elaborar orientações adequadas para proteger a criança das informações e dos materiais que sejam prejudiciais ao seu bem-estar; E. Considerando que a Observação Geral n.º 13 do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, sobre o direito da criança a ser protegida contra qualquer forma de violência, sublinha que o direito da criança a ser ouvida e a que a sua opinião seja devidamente tida em consideração deve ser sistematicamente respeitado em todos os processos de decisão e que a sua capacitação e participação devem ocupar um lugar central na prestação de cuidados infantis e nos programas e estratégias de proteção 1 ; F. Considerando que a Observação Geral n.º 16 do Comité dos Direitos da Criança das Nações Unidas, sobre as obrigações dos Estados relativamente ao impacto do setor empresarial nos direitos da criança 2 também destaca os perigos criados pela Internet e estabelece a obrigação por parte do sector empresarial de facultar informações às crianças e aos jovens, para que possam, de forma eficaz, gerir os riscos e saber a quem recorrer em busca de ajuda, e recomenda ao setor empresarial que se coordene com o setor das tecnologias de informação e comunicação para elaborar e aplicar medidas adequadas de proteção das crianças contra o material violento e desadequado disponível 1 N.º 3, alínea e). 2 7 de fevereiro de 2013. RE\1052755.doc 3/6 PE552.202v01-00
na Internet; G. Considerando que o aliciamento de crianças para fins sexuais e exploração sexual constitui uma ameaça com características específicas no contexto da Internet, na medida em que esta confere aos utilizadores um anonimato sem precedentes e, portanto, uma oportunidade para esconderem a sua verdadeira identidade e as suas características pessoais, como a idade; H. Considerando que a Internet pode expor as crianças a riscos particulares, devido a fenómenos como a pornografia infantil, o intercâmbio de materiais violentos, a cibercriminalidade, a intimidação, o assédio, o aliciamento, a possibilidade de acesso ou obtenção de bens e serviços legalmente restritos ou impróprios para a idade, a exposição a publicidade imprópria para a idade, agressiva ou enganadora, burlas, a usurpação de identidade, a fraude e outros riscos de natureza financeira que podem provocar experiências traumatizantes; I. Considerando que, dada a sua natureza internacional, a exploração infantil e o abuso sexual de crianças na Internet - incluindo a proliferação de material pedopornográfico na Internet e a ciberpredação - continuam a ser uma das principais fontes de preocupação para as autoridades policiais e judiciárias, sob a forma de crimes que vão da extorsão sexual e do aliciamento à produção privada de material pedopornográfico e sua transmissão em direto, o que representa um desafio especial para a investigação devido às inovações tecnológicas que proporcionam um acesso mais fácil e mais rápido aos materiais por parte dos criminosos, incluindo os ciberpredadores; J. Considerando que as medidas tomadas pelos Estados-Membros para impedir conteúdos ilegais na Internet nem sempre são eficazes, providas de recursos suficientes ou plenamente aplicadas e implicam, inevitavelmente, abordagens diferentes da prevenção de conteúdos nocivos; considerando, além disso, que se verifica um subfinanciamento dos programas educativos destinados às crianças e aos pais, nos Estados-Membros, para proteger as crianças na Internet; K. Considerando que a proteção dos menores no mundo digital deve ser abordada a nível regulamentar e envolver diretamente os intervenientes, mediante a aplicação de medidas mais eficazes, inclusive através de recursos adicionais, sendo necessário que os órgãos dos Estados-Membros pertinentes coordenem as suas atividades para salvaguardar as crianças em risco na Internet, aumentando os recursos destinados à investigação e à instauração de ações contra os criminosos; 1. Apela à Comissão e aos Estados-Membros para que deem cumprimento à presente Resolução, apliquem plenamente o artigo 12.º da UNCRC e consultem diretamente as crianças e os jovens, cujas opiniões deverão ter em conta; 2. Apela à Comissão e aos Estados-Membros para que reforcem a cooperação entre as autoridades policiais e judiciárias, no interior dos Estados-Membros e entre os vários Estados, por forma a investigar e desmantelar com maior eficácia as redes de autores de crimes sexuais contra crianças, dando prioridade aos direitos e à segurança das crianças envolvidas; em todas estas atividades, o superior interesse da criança deve ser a consideração principal; PE552.202v01-00 4/6 RE\1052755.doc
3. Realça a necessidade de uma abordagem global, dentro dos Estados-Membros e entre os vários Estados, por forma a proteger ao máximo os direitos e o superior interesse das crianças e a garantir uma proteção efetiva e a coerência, englobando a luta contra o crime, a cibersegurança, a proteção dos consumidores e os direitos fundamentais; 4. Reconhece os vários papéis, funções e responsabilidades do Estado e do setor privado, nomeadamente no que toca à investigação, ao julgamento, ao direito à privacidade e à proteção de dados; insta a uma verdadeira relação de trabalho e, sob reserva da devida supervisão legal e judiciária e no respeito do que é legal e necessário ao interesse superior da criança, bem como em prol da proteção das crianças contra os abusos sexuais na Internet, ao intercâmbio de informações entre as autoridades policiais, outros serviços do Estado competentes, as autoridades judiciárias e, se adequado e necessário e em conformidade com a lei, o setor das TIC, os fornecedores de serviços de Internet (FSI), o setor bancário e as organizações não governamentais, incluindo as organizações de proteção dos jovens e crianças, tendo em vista assegurar os direitos e a proteção das crianças na Internet e zelar por que sejam consideradas pessoas vulneráveis nos termos da lei; exorta a Comissão a tomar a iniciativa de solicitar a todos os Estados-Membros que adotem medidas para combater todas as formas de ciberpredação e de ciberassédio; 5. Salienta que as medidas que limitem os direitos fundamentais na Internet devem ser necessárias e proporcionais, em conformidade com a legislação europeia e do Estado-Membro em questão e no respeito pelos direitos da criança previstos na UNCRC; recorda que os conteúdos ilegais em linha devem ser imediatamente suprimidos, no respeito pelo direito a um processo equitativo; recorda que a supressão de conteúdos ilegais em linha, em que o setor das TIC tem um papel a desempenhar, só pode ter lugar após uma autorização judicial; sublinha a importância de respeitar os princípios do direito a um processo equitativo e da separação de poderes; 6. Exorta os Estados-Membros a criar pontos de contacto nacionais e a dotá-los de recursos suficientes para a denúncia de condutas e conteúdos criminosos e nocivos; 7. Recorda que os Estados-Membros devem tomar as devidas medidas e garantir os recursos necessários para assegurar que as pessoas que temam poder vir a cometer qualquer crime relativo a abusos sexuais e a exploração sexual possam ter acesso, quando tal se revele apropriado, a programas ou medidas de intervenção eficazes, destinados a avaliar e a prevenir os riscos da prática desses crimes. 8. Insta a Comissão a analisar os modelos de gestão de distribuição comercial de serviços ocultos, nomeadamente fiscalizando os mercados criminais da Deep Web e da Darknet, de modo a reconhecer a disseminação na Internet da exploração sexual de crianças para fins comerciais como uma possível consequência da transição de um sistema de pagamento tradicional para uma nova economia digital largamente não regulada; 9. Apela à Comissão e aos Estados-Membros para que colaborem com os representantes de sistemas de pagamento alternativos, de modo a encontrar formas de melhorar a cooperação com as autoridades policiais e judiciárias, nomeadamente uma formação comum para uma melhor identificação dos processos de pagamento associados à distribuição comercial de material pedopornográfico; RE\1052755.doc 5/6 PE552.202v01-00
10. Solicita à Comissão que antecipe a publicação da sua avaliação da implementação pelos Estados-Membros das medidas necessárias para transporem a Diretiva 2011/93/UE e apresente o seu relatório ao Parlamento Europeu antes de junho de 2015; 11. Encarrega a sua Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos de avaliar e acompanhar as últimas evoluções e de efetuar uma análise aprofundada do atual quadro político relativo à luta contra o abuso sexual de crianças na Internet, sob a forma de um relatório sobre a aplicação da Diretiva 2011/93/UE, bem como de prestar informações em sessão plenária dentro de um ano. PE552.202v01-00 6/6 RE\1052755.doc