DIPTEROFAUNA DE INTERESSE FORENSE EM AMBIENTE URBANO NA AMAZÔNIA ORIENTAL



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DIPTEROFAUNA DE INTERESSE FORENSE EM AMBIENTE URBANO NA AMAZÔNIA ORIENTAL Peniche, T. (1,2) ; Barros, I. F. A. (2) ; Sidônio, I. A. P. (2) ; Cavalcante, K. S. (2) ; Moutinho, C. S. (2) ; Nascimento, F. A. (2) ; Souto, R. N. P. (2,3) tayrespeniche18@hotmail.com (1) Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Universidade Federal do Amapá - UNIFAP, Macapá - AP, Brasil; (2) Laboratório de Arthropoda, Universidade Federal do Amapá - UNIFAP, Macapá - AP, Brasil ; (3) Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal do Amapá - UNIFAP, Macapá - AP, Brasil. RESUMO A entomologia forense é a aplicação do estudo dos insetos e outros artrópodes a procedimentos legais. O período em que os insetos colonizam a carcaça pode ser utilizado para estimar o intervalo pós-morte (IPM). Objetivou-se estudar a composição da dipterofauna de interesse forense em carcaças de Sus scrofa (L., 1758) em ambiente urbano de Macapá - AP. Os experimentos foram realizados no quintal de uma residência, área urbana de Macapá. Utilizou-se duas carcaças de suínos, expostas em períodos distintos. Foram coletados 2.295 dípteros muscóides, distribuídos entre adultos coletados e adultos emergidos em laboratório, a saber: Chrysomya albiceps com 1.367 indivíduos, Chrysomya megacephala (248), Chrysomya putoria (78), Lucilia eximia (242), Chloroprocta idioidea (13), Lucilia cuprina (02), Musca domestica (05), Ophyra aenescens (139), Oxysarcodexia intona (05), Oxysarcodexia fluminensis (04), Oxysarcodexia thornax (04), Ravinia belforti (05) e Peckia

(Peckia) chrysostoma (15), Hermetia illucens (30) e Ornidia obesa (02). As famílias Fanniidae e Ulidiidae não foram identificadas a nível de espécie. Conclui-se que Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Lucilia eximia, Ophyra aenescens e Hermetia illucens são espécies com grande potencial para a Entomologia forense, uma vez que servem como indicadores de intervalo pós-morte (IPM) para área residencial da cidade de Macapá AP. Palavras-chave: Entomologia, IPM, Dípteros. INTRODUÇÃO A entomologia forense é a ciência que os insetos aplicados nas investigações criminais. Os insetos são importantes por serem considerados os primeiros artrópodes a chegarem ao local do crime, e participarem efetivamente da decomposição da carcaça, tanto pelos adultos, quanto por seus imaturos, e muitas das vezes, são fatores determinantes no tempo da decomposição do cadáver. O processo de chegada das diferentes ordens de insetos na carcaça, recebe o nome de sucessão entomológica (OLIVEIRA-COSTA, 2011; RAFAEL et al., 2012). Lord e Stevenson (1986) subdividiram essa ciência em três áreas principais, sendo Entomologia urbana, de Produtos estocados e a Médico-Legal. Gomes (1997) divide os processos de decomposição, em ambiente terrestre, em cinco fases, que são mais utilizadas em países neotropicais, sendo: Fresca, Coloração, Gasosa ou enfisematosa, Coliquativa ou da fusão e Esqueletização. 2

A ordem Diptera, uma das maiores e mais diversas ordens de insetos, reúne os mosquitos e as moscas, estas últimas representando o grupo de insetos de maior importância para os estudos de entomologia forense. Segundo Oliveira-Costa (2011), as quatro subfamílias de califorídeos que ocorrem na região neotropical são Toxitarsinae, Mesembrinellinae, Chrysomyinae e Calliphorinae. E os gêneros de maior importância forense neotropical são Chrysomya, Hemilucilia, Lucilia, Cochliomyia e Calliphora. Estes insetos em grandes populações podem causar transtornos ao homem e animais, por estarem associados ou serem causadores de miíases (FARES et al., 2005). Apesar disso são úteis como decompositores de carcaças e têm importância forense na elucidação de crimes, uma vez que a identificação desses insetos e suas taxas de desenvolvimento permitem estimar o intervalo pós-morte IPM. Segundo Oliveira-Costa (2013), a região Norte vem contribuindo efetivamente com os trabalhos no Brasil. Um banco de dados está sendo montado para auxiliar os profissionais que visam trabalhar com entomologia forense. No estado do Amapá o uso da entomologia forense é relativamente recente, e aos poucos conquista o interesse de peritos, acadêmicos e pesquisadores. Pujol- Luz e Francez (2008), publicaram trabalhos onde calcularam o IPM através dos insetos na Polícia Técnico Cientifica (POLITEC) do Amapá. O trabalho teve 3

como objetivo estudar a composição da dipterofauna, a identificação e tempo das fases de decomposição de carcaças de suínos Sus scrofa (Linnaeus, 1758), em ambiente urbano da cidade de Macapá AP, analisando a diversidade de espécies de dípteros adultos coletados e imaturos nos dois períodos verificando as espécies de interesse forense que servem como possíveis indicadores de intervalo pós-morte (IPM) em área urbana de Macapá. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi realizado no quintal de uma residência, no Bairro Universidade, área urbana da cidade de Macapá (0 0 00 01.62 N e 51 0 05 25.38 O). Como modelo experimental foram utilizadas carcaças de dois suínos Sus scrofa (Linnaeus, 1758) de aproximadamente 12 kg, utilizadas de isca para atratividade dos insetos. As carcaças foram expostas durante o período menos chuvoso, de 22 de outubro a 07 de novembro de 2012 e no período mais chuvoso, de 25 de março a 09 de abril de 2013, no ambiente de estudo. As coletas foram feitas diariamente, sempre no mesmo horário utilizando uma armadilha adaptada de Salviano (1996), que tem forma de pirâmide feita de ferro tipo vergalhão ¾ de base quadrada revestida com os tecidos Oxford e Organza e com os frascos de PVC, ou garrafas tipo pet, colocados no ápice da mesma, funcionando como tubo coletor para capturar os 4

dípteros adultos. Os insetos imaturos foram coletados com auxílio de pinças e colocados em recipientes plásticos contendo carne moída e outro com vermiculita para a pupação dos insetos. As moscas coletadas foram encaminhadas para o Laboratório de Arthropoda da Universidade Federal do Amapá UNIFAP, para identificação e quantificação. Os dados quantitativos e qualitativos foram armazenados em planilhas do programa Excel e analisados usando-se os softwares Past e BioEstat 5.0. Para a estimativa da diversidade de espécies foi aplicado o índice de Shannon (1949) que é o índice mais usado para medir a diversidade de uma comunidade, pois incorpora tanto a Riqueza quanto a Equitabilidade. É definido da seguinte forma, H = - pi(log pi), onde, pi = valor importância, log = base 2 ou 10 ou neperiano e diversidade H é essencialmente adimensional, o mesmo foi feito no programa Past. RESULTADOS E DISCUSSÃO Um total de 2.295 dípteros muscóides foi coletado, entre adultos e emergidos no laboratório durante os períodos menos chuvoso 2012 e mais chuvoso de 2013. No período menos chuvoso de 2012 foram coletados 462 adultos, distribuídos em seis famílias e oito espécies: Calliphoridae (Chrysomya albiceps (Wiedemann, 1819), Chrysomya megacephala (Fabricius, 1794), Chrysomya putoria (Wiedemann, 1830), Lucilia eximia (Wiedemann, 1819)), Muscidae (Musca 5

domestica (Linnaeus, 1758), Ophyra aenescens (Wiedemann, 1830), Stratiomyidae (Hermetia illucens (Linnaeus, 1758)) e Syrphidae (Ornidia obesa (Fabricius, 1775). Fanniidae e Ulidiidae, não foram identificados até espécie, por conta disso não entraram na análise. Emergiram em laboratório 813 indivíduos da família Calliphoridae, quatro espécies foram identificadas, a saber: Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Chloroprocta idioidea (Robineau- Desvoidy, 1830) e Chrysomya putoria (Tabela 1). Tabela 1. Riqueza e Abundancia de dípteros adultos e emergidos durante o período menos chuvoso de 2012 em área urbana de Macapá - AP. Espécies Adultos Coletados % Adultos Emergidos % Total % Chrysomya albiceps 205 70,69 749 92,13 954 86,49 Chrysomya megacephala 20 6,90 50 6,15 70 6,35 Chrysomya putoria 52 17,93 1 0,12 53 4,81 Lucilia eximia 4 1,38 0 0 4 0,36 Musca domestica 4 1,38 0 0 4 0,36 Ophyra aenescens 3 1,03 0 0 3 0,27 Hermetia illucens 1 0,34 0 0 1 0,09 Ornidia obesa 1 0,34 0 0 1 0,09 Chloroprocta idioidea 0 0 13 1,60 13 1,18 TOTAL 290 100 813 100 1103 100 No período mais chuvoso foram coletados 213 espécimes adultos pertencentes a cinco famílias: Calliphoridae, Muscidae, Sarcophagidae, Syrphidae e Ulidiidae. Foram identificadas doze espécies: Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Chrysomya putoria, Lucilia eximia, 6

Lucilia cuprina (Wiedemann, 1830), Musca domestica, Ophyra aenescens, Oxysarcodexia fluminensis (Lopes, 1946), Oxysarcodexia intona (Curran e Walley, 1934), Oxysarcodexia thornax (Walker, 1849), Ravinia belforti (Prado e Fonseca, 1932) e Ornidia obesa (Fabricius, 1775) (Tabela 2). As famílias Ulidiidae com (163) indivíduos e Fanniidae com (9) não foram identificadas até espécie. Chegaram até a fase adulta em laboratório 873 indivíduos, distribuídos em quatro famílias: Calliphoridae, Sarcophagidae, Stratiomyidae e Muscidae. Foram identificadas sete espécies: Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Chrysomya putoria, Lucilia eximia, Ophyra aenescens, Hermetia illucens e Peckia (Peckia) chrysostoma (Wiedemann, 1830) (Tabela 2). A família Calliphoridae apresentou a maior riqueza de espécies Chrysomya albiceps, C. megacephala, C. putoria, Lucilia eximia, L. cuprina e Chloroprocta idioidea. A espécie C. albiceps foi a mais abundante nos dois períodos de experimentos entre os adultos coletados e emergidos no laboratório; é considerada uma espécie de grande importância forense. A esta espécie foi atribuído por D Almeida e Lopes (1983) o índice de +60,85 de sinantropia. Carvalho e Linhares (2001) em uma área de mata, assinalaram nove espécies de califorídeos, sendo quatro comuns as observadas no presente estudo, C. albiceps, C. megacephala, C. putoria e L. eximia. Relataram C. albiceps como a 7

espécie mais abundante em carcaças de suíno; estes mesmos autores afirmam que esta espécie chega à carcaça logo após sua exposição, e é predominante em ralação as outras devido a veracidade de suas larvas, fato observado in loco a predação de outras larvas. Souza (2009) em área urbana identificou C. albiceps e L. eximia como as espécies mais abundantes e presentes em todos os estágios de decomposição, porém neste estudo L. eximia não foi uma espécie com abundancia significativa. Lobato e Souto (2013) em área de mata coletaram apenas adultos de C. idioidea. Carvalho e Linhares (2001) consideram C. megacephala uma espécie de grande potencial forense, pois foi associada, como espécie predominante a carcaça colocada em área urbana. Oliveira-Costa (2005) coletou esta espécie colonizando carcaça suína e cadáveres humanos na região metropolitana do Rio de Janeiro. A família Muscidae apresentou duas espécies Musca domestica e Ophyra aenescens, Monteiro e Souto (2012) coletaram estas duas espécies colonizando carcaças de porcos em área urbana de Macapá AP. Salviano (1996) no Rio de Janeiro observou Ophyra aenescens como a segunda espécie mais frequente em carcaças de suínos e Oliveira-Costa et al. (2001) registraram adultos desta espécies colonizando cadáveres humanos. A família Syrphidae e Stratiomyidae, apresentaram duas espécies Ornidia obesa apenas entre os adultos coletados e Hermetia illucens, esteve presente apenas entre os adultos 8

coletados durante o período menos chuvoso e durante o período mais chuvoso apresentou-se apenas entre os adultos emergidos em laboratório. Tabela 2. Riqueza e Abundancia de dípteros adultos e emergidos durante o período mais chuvoso de 2013 em área urbana de Macapá - AP. Espécie Adultos Adultos Coletados % Emergidos % Total % Chrysomya albiceps 90 46,39 323 37,47 413 39,11 Chrysomya megacephala 11 5,67 167 19,37 178 16,86 Chrysomya putoria 19 9,79 6 0,70 25 2,37 Lucilia cuprina 2 1,03 0 0 2 0,19 Lucilia eximia 31 15,98 207 24,01 238 22,54 Musca domestica 1 0,52 0 0 1 0,09 Ophyra aenescens 21 10,82 115 13,34 136 12,88 Ornidia obesa 1 0,52 0 0 1 0,09 Oxysarcodexia fluminensis 4 2,06 0 0 4 0,38 Oxysarcodexia intona 5 2,58 0 0 5 0,47 Oxysarcodexia thornax 4 2,06 0 0 4 0,38 Ravinia belforti 5 2,58 0 0 5 0,47 Peckia chrysostoma 0 0 15 1,74 15 1,42 Hermetia illucens 0 0 29 3,36 29 2,75 TOTAL 194 100 862 100 1056 100 A família Sarcophagidae esteve presente apenas no período mais chuvoso, apresentando cinco espécies: Oxysarcodexia intona, O. fluminensis, O. thornax, Ravinia belforti e Peckia chrysostoma esta última espécie foi o único sarcofagídeo entre os adultos emergidos em laboratório. Segundo Souza e Linhares (1997) as espécies desse grupo 9

tem preferência por períodos mais frios do ano, o que explica a sua ausência durante o período menos chuvoso. Oxysarcodexia e Peckia são considerados os gêneros que possuem alta riqueza e abundancia em carcaças, em experimentos realizados no Brasil (Salviano, 1996; Carvalho e Linhares, 2001). No Distrito Federal Barros et al. (2008) coletaram (O. fluminensis, O. thornax, Ravinia belforti e Peckia (P) chrysostoma) e O. thornax mostrou-se a espécie mais abundante. A estimativa do índice de diversidade de Shannon foi maior no período mais chuvoso (1,573) quando comparada ao menos chuvoso (0,568), entretanto não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois períodos (t= 1, 1887 e p= 0,1231). As maiores temperaturas influenciam diretamente a velocidade da decomposição e colonização de um cadáver, influenciando assim, na putrefação, sucessão e atividade dos insetos (CAMPOBASSO e INTRONA 2001). Cinco fases de decomposição foram observadas durante o período menos chuvoso Fase fresca, Coloração ou cromática, Gasosa, inchamento ou enfisematosa, Coliquativa ou da fusão e Esqueletização ou mumificação, corroborando com as fases descritas por Oliveira- Costa (2011). Monteiro e Souto (2012) no Campus Marco zero da Universidade Federal do Amapá também observaram a mumificação da carcaça. Duas fases, Coloração e Gasosa ocorreram simultaneamente. 10

CONCLUSÃO A riqueza das espécies de muscóides amostradas sofreu influência da precipitação pluviométrica. A sucessão das espécies de muscóides nas carcaças foi influenciada pelos períodos de menor e maior precipitação. As espécies Chrysomya albiceps, Chrysomya megacephala, Lucilia eximia, Ophyra aenescens e Hermetia illucens mostraram-se com grande potencial para a Entomologia forense, uma vez que servem como indicadores de intervalo pós-morte (IPM) para área residencial da cidade de Macapá AP. REFERÊNCIAS BARROS, R. M.; MELLO-PATIU, C. A.; PUJOL-LUZ, J. R. Sarcophagidae (Insecta, Diptera) associados à decomposição de carcaças de Sus scrofa Linnaeus (Suidae) em área de Cerrado do Distrito Federal, Brasil. Rev. Bras. Entomol. 52: 606-609, 2008. CAMPOBASSO, C. P.; INTRONA, F. The forensic entomologist in the context of the forensic pathologist s role. Forensic Science International, 120: 132-139, 2001. CARVALHO, L. M. L.; LINHARES, A. X. Seazonality of Insect succession and pig carcass decomposition in a natural forest area in southeastem Brazil. Journal Forensic Sciences 46: 604-608. 2001. D ALMEIDA J. M.; LOPES, H. S. Sinantropia de dipteros caliptratos (Calliphoridae) no Estado do Rio de Janeiro. Arquivos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 6(1): 30-47, 1983. 11

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