Registro: 2018.0000129196 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100, da Comarca de, em que é apelante NADJA SATIE KOUCHI (JUSTIÇA GRATUITA), são apelados MARCOS AURÉLIO OPPIDO e EMPRESA FOLHA DA MANHA S/A. ACORDAM, em 30ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores ARALDO TELLES (Presidente) e ENIO ZULIANI., 27 de fevereiro de 2018. CARLOS DIAS MOTTA RELATOR Assinatura Eletrônica
Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 Apelante: Nadja Satie Kouchi Apelados: Marcos Aurélio Oppido e Empresa Folha da Manha S/A Comarca: Voto nº 12159 INDENIZAÇÃO. Ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos morais. Sentença de improcedência. Interposição de apelação pela autora. Controvérsia acerca da suposta falta de autorização da autora para publicação de sua fotografia na rede social Facebook e em capa de revista de grande circulação, bem como sobre os eventuais danos morais decorrentes das publicações indevidas de sua imagem nas referidas mídias. Ausência de prova de que a autora tenha efetivamente consentido com a exibição de sua fotografia em qualquer mídia. Publicações da fotografia da autora, sem a sua autorização, é situação apta a ensejar indenização por danos morais, por uso indevido de sua imagem. Hipótese de danos morais in re ipsa. Autora faz jus à cessação da circulação das publicações indevidas, bem como à reparação dos danos morais decorrentes da ofensa à sua imagem. Inteligência do artigo 20 do Código Civil. Fixação da indenização por danos morais no montante de R$ 5.000,00 para cada réu que se mostra suficiente para compensar os danos experimentados pela autora, sem gerar enriquecimento ilícito, bem como para punir os réus e inibir a prática de outros atos ilícitos. Reforma da r. Apelação provida. Trata-se de apelação interposta em razão da r. sentença de fls. 177/178, que julgou improcedente a ação movida por Nadja Satie Kouchi em face de Marcos Aurélio Oppido e Folha da Manhã S.A. Irresignada, a autora interpôs recurso de apelação, sustentando, em síntese, que: por irresponsabilidade dos réus, o seu ensaio fotográfico circulou, sem a sua autorização, no país inteiro, Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.2/7
por meio de redes sociais e de revista de massiva divulgação; é cabível indenização nos casos de ofensa à imagem de um indivíduo; são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sendo assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação, conforme o artigo 5º, X, da CF/1988; a sentença deve ser reformada, para julgar procedentes os pedidos formulados na exordial (fls. 190/196). Recurso de apelação tempestivo e isento de preparo, em razão de a autora ser beneficiária da justiça gratuita (fls. 75). Houve apresentação de contrarrazões pelos réus, ora apelados (fls. 199/206 e 207/220). É o relatório. Depreende-se dos autos que a autora realizou ensaio fotográfico com o réu Marcos Aurélio Oppido, que no ramo da fotografia é conhecido como o senhor Gal Oppido. Em linhas gerais, a autora alega que o ensaio fotográfico foi realizado com a finalidade exclusiva de constituir um portfólio e que jamais autorizou a publicação de suas fotografias em qualquer veículo de comunicação ou plataforma de mídia social. No entanto, consta nos autos que uma fotografia da autora, oriunda do ensaio fotográfico supracitado, foi publicada na página do réu Gal Oppido na rede social Facebook, na data de 02.07.2014 (fls. 17/20). Além disso, a fotografia supracitada foi exibida na capa da Revista, publicada pela ré Folha da Manhã S.A, durante a semana de 07.07.2015 a 13.07.2015, para ilustrar matéria jornalística referente ao elevado índice de paulistanos que Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.3/7
praticavam relações sexuais de maneira precoce e sem as devidas precauções (fls. 23/24). A autora sustenta que a publicação de sua fotografia na rede social Facebook e em revista de grande circulação, sem a sua autorização, casou grave prejuízo à sua imagem, razão pela qual faz jus à reparação por danos morais. Por outro lado, o réu Gal Oppido aduz, em resumo, que a autora consentiu com a realização de ensaio fotográfico para exposição, razão pela qual não houve dano à imagem. Por sua vez, a ré Folha da Manhã S.A. alega que não houve dano à imagem, porque não é possível identificar a autora na fotografia publicada. Desse modo, nota-se que a controvérsia desta demanda versa sobre a suposta falta de autorização da autora para publicação de sua fotografia na rede social Facebook e em capa de revista de grande circulação, bem como sobre os eventuais danos morais decorrentes das publicações indevidas de sua imagem nas referidas mídias. Destaca-se que cabia aos réus comprovar a autorização para publicação da fotografia em questão, pois não se poderia exigir da autora a produção de prova de fato negativo, a saber, prova de que não autorizou a publicação da fotografia em questão. Contudo, os réus não trouxeram aos autos provas aptas a demonstrar que a autora tenha efetivamente consentido com a exibição de sua fotografia em qualquer mídia, de tal sorte que não foi demonstrada a licitude das publicações questionadas nesta demanda. Ademais, não há que se falar em autorização tácita, Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.4/7
pois a autora ajuizou a medida judicial cabível para cessar a divulgação da fotografia em questão. E as publicações da fotografia da autora, sem a sua autorização, é situação apta a ensejar indenização por danos morais, por uso indevido de sua imagem. Trata-se de hipótese de danos morais in re ipsa, sem que haja necessidade de prova do prejuízo ou dano. De todo modo, cumpre ressaltar que, no caso em tela, as publicações indevidas realmente têm o condão de causar grave constrangimento à autora, pois a sua imagem foi associada à prática de relações sexuais prematuras e sem a adoção das cautelas necessárias. Ainda que a autora não possa ser identificada na fotografia em questão, o fato é que a sua imagem foi publicada em mídias de enorme propagação, sem a sua autorização, e ainda foi vinculada a temas embaraçosos, causando transtornos que caracterizam danos morais. Mesmo que terceiros não a identifiquem, ela se identificou, evidentemente, nas mídias, o que já causa dano moral. Evidente que se a autora pudesse ser identificada pelo público, o dano seria muito maior, e assim também a indenização. Destarte, infere-se que a autora faz jus à cessação da circulação das publicações indevidas, bem como à reparação dos danos morais decorrentes da ofensa à sua imagem, consoante inteligência do artigo 20 do Código Civil. Ditos isso, salienta-se que, ao fixar o valor da indenização por danos morais, o magistrado deve respeitar os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, bem como observar critérios como a gravidade da conduta, a extensão do dano, Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.5/7
a necessidade de desestimular o ofensor e a condição econômica das partes. Sopesando os princípios e critérios acima referidos, nota-se que a indenização por danos morais, fixada no montante de R$ 5.000,00 para cada réu, mostra-se suficiente para compensar os danos experimentados pela autora, sem gerar enriquecimento ilícito, bem como para punir os réus e inibir a prática de outros atos ilícitos. A correção monetária sobre a indenização por dano moral incide desde a data do arbitramento, conforme a súmula nº 362 do STJ. Por sua vez, os juros moratórios sobre a indenização por danos morais fluem desde os eventos danosos (datas das publicações indevidas), a saber, o dia 02.07.2014 para o réu Gal Oppido (fls. 18), e o dia 07.07.2015 para a ré Folha da Manhã S.A. (fls. 23), conforme a súmula nº 54 do C. STJ. Destarte, a r. sentença deve ser reformada para: a) condenar os réus a se absterem-se de publicar, divulgar ou distribuir, por qualquer meio, as imagens indicadas nos documentos de fls. 17/20 e 23/24, sob pena de multa diária de R$ 100,00, até o limite de R$ 5.000,00. b) condenar cada réu a pagar à autora a indenização por danos morais, fixada no montante de R$ 5.000,00, com correção monetária a contar da data deste julgamento, consoante a súmula nº 362 do C. STJ, e acrescido de juros de mora 1% ao mês, a contar dos eventos danosos (datas das publicações indevidas), Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.6/7
conforme a súmula nº 54 do C. STJ. Em razão da sucumbência, condeno os réus ao pagamento das despesas processuais e dos honorários advocatícios, os quais arbitro em 10% sobre o valor das respectivas condenações. Ante o exposto, dou provimento à apelação. Carlos Dias Motta Relator Apelação nº 1103016-22.2015.8.26.0100 - - Voto nº12159 - p.7/7