Documento para discussão no GT répteis e anfíbios



Documentos relacionados
Fauna de anfíbios e répteis das Caatingas

HERPETOFAUNA DA CAATINGA

1. Programa Ambiental Monitoramento de Fauna

RÉPTEIS E ANFÍBIOS. Tabela 1. Herpetofauna do domo de Itabaiana, número de espécies registradas. Áreas Abertas. Áreas Fechadas

6.2. Herpetofauna da área de Curimataú, Paraíba. Cristina. Arzabe. Gabriel Skuk. Gindomar Gomes Santana. Fagner Ribeiro Delfim

prioritárias para a conservação da Caatinga

1 30/04/13 Consolidação a pedido do Ibama MaAG MJJG MJJG /08/09 Emissão final FAR MaAG

Chec List Journal of species lists and distribution

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

Herpetofauna em remanescente de Caatinga no Sertão de Pernambuco, Brasil

LEVANTAMENTO DOS RÉPTEIS DO ACERVO DO LABORATÓRIO DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIAS UnU IPORÁ PARA CATALOGAÇÃO DA COLEÇÃO ZOOLÓGICA

LEVANTAMENTO HERPETOFAUNÍSTICO DA FAZENDA LIGEIRO DA FURNE EM CAMPINA GRANDE- PB LIFTING OF SLIGHT HERPETOFAUNÍSTICO FARM IN FURNE CAMPINA GRANDE- PB

Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNIVASF, Campus Ciências Agrárias, CEP , Petrolina, Brasil

Herpetofauna, Espora Hydroelectric Power Plant, state of Goiás, Brazil.

SOCIEDADE PAULISTA DE ZOOLÓGICOS

Anfíbios e Répteis do Pantanal Sul 1

Contribuição ao conhecimento da herpetofauna do nordeste do estado de Minas Gerais, Brasil

DIAGNÓSTICO AMBIENTAL. Fauna

RÉPTEIS SQUAMATA DE UMA ÁREA DE TRANSIÇÃO FLORESTA- SAVANA NO OESTE DO ESTADO DO PARÁ, BRASIL

Répteis do município de Duque de Caxias, Baixada Fluminense, Rio de Janeiro, Sudeste do Brasil

A - DIAGNOSTICO DA FAUNA DE ANFIBIOS E REPTEIS DA FLORESTA ESTADUAL DO AMAPÁ (FLOTA/AP)

Plano de Manejo da APA de Conceição da Barra - Volume 2

Biota Neotropica ISSN: Instituto Virtual da Biodiversidade Brasil

SPECIAL PUBLICATIONS IN HERPETOLOGY

SPECIAL PUBLICATIONS IN HERPETOLOGY

Coordenação Geral Biól. M.Sc. Adriano Souza Cunha CRBio Biól. Juliano Ferrer dos Santos CRBio

XXII INVENTAIRE REPTILES (TESTUDINES, SQUAMATA, CROCODYLIA) DE LA RÉSERVE BIOLOGIQUE DE PEDRA TALHADA

SPECIAL PUBLICATIONS IN HERPETOLOGY

RÉPTEIS SQUAMATA DE REMANESCENTES FLORESTAIS DO CAMPUS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, NATAL-RN, BRASIL

CONSIDERAÇÕES BIOGEOGRÁFICAS SOBRE A HERPETOFAUNA DO SUBMÉDIO E DA FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO, BRASIL

Origem, Evolução e Diversidade da Fauna do Bioma Caatinga

6.1. Herpetofauna da área Reserva da Serra das Almas, Ceará. Maria Borges-Nojosa. Paulo Cascon

. a d iza r to u a ia p ó C II

Diversidade de anfíbios e répteis em áreas prioritárias para a conservação da Caatinga

Amphibians and reptiles of a Cerrado area in Primavera do Leste Municipality, Mato Grosso State, Central Brazil

LEVANTAMENTO HERPETOFAUNÍSTICO DE UMA ÁREA DE CERRADO EM ALTO ARAGUAIA, MATO GROSSO, BRASIL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

LEVANTAMENTO DA ANUROFAUNA DO MUNICÍPIO DE MARINGÁ, PR

6.3. Herpetofauna da área de Betânia e Floresta, Pernambuco. Maria Borges-Nojosa. Ednilza Maranhão dos Santos

A origem, evolução e diversidade da fauna da Mata Atlântica. André Victor Lucci Freitas Departamento de Biologia Animal Unicamp

O Estado da Biodiversidade Brasileira: Genes, Espécies e Biomas

A herpetofauna que ocupa o sul da América do Sul

Eliza Maria Xavier Freire 2

Federal do Espírito Santo. Santo. * para correspondência:

Distribuição geográfica de Psychosaura agmosticha (Rodrigues, 2000) (Squamata, Mabuyidae)

Bráulio A. Santos (UFPB)

DOMÍNIO DOS MARES DE MORROS

The squamata fauna of the Chapada do Araripe, Northeastern Brazil.

PROGRAMA DE MONITORAMENTO DE FAUNA DA PCH SANTO ANTONIO DO CAIAPÓ

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2016

As principais ameaças à conservação do Bioma Pampa. Márcio Borges Martins

UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

REVISTA BRASILEIRA DE ZOOLOGIA

01. (FUVEST) Dentre os vários aspectos que justificam a diversidade biológica da Mata Atlântica, encontram-se:

AUTORES: TELES, Maria do Socorro Lopes (1); SOUSA, Claire Anne Viana (2)

Atendimento as recomendações solicitas para UHE de Xingó

DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DE ANFÍBIOS NA MATA ATLÂNTICA DO SUL DA BAHIA

A Fauna de Répteis na Região de Paranapiacaba

Serpentes do Município de Viçosa, Mata Atlântica do Sudeste do Brasil

Anfíbios e répteis do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul, Brasil

Biomas Brasileiros. A Geografia Levada a Sério

TÍTULO: CARACTERIZAÇÃO DA HERPETOFAUNA EM ÁREAS DE CONSERVAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BOREBI, SÃO PAULO.

RIO ACOLHEDOR I - PACIÊNCIAUNIDADE MUNICIPAL DE REINSERÇÃO SOCIAL. PERFIL DOS ACOLHIDOS: Uso de crack e outras drogas e Estado de origem.

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Pesquisa Pantanal. Job: 13/0528

Florestas de Proteção: Áreas Prioritárias para Conservação e Ações para a Preservação das Áreas Protegidas

ÁGUA BRANCA PRINCESA ISABEL

CAPÍTULO 2 ANDAMENTO DO PROJETO BÁSICO AMBIENTAL

BRASIL NO MUNDO: FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL. Nossas fronteiras-problema : Fusos horários Mundiais

REPRESENTATIVIDADE DO BIOMA CAATINGA NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO ESTADO DO PIAUÍ

VITOR DIAS FERNANDES CONSIDERAÇÕES BIOGEOGRÁFICAS SOBRE A FAUNA DE SQUAMATA NO MÉDIO CURSO DO RIO SÃO FRANCISCO, BRASIL

ANATEL ESCOLHE SEGUNDA OPERADORA DE TELEFONIA FIXA PARA 121 MUNICÍPIOS

Biologia Geral e Experimental

NOVAS JURISDIÇÕES DE ACORDO COM A RA Nº 060/2008, DE 04/08/2008

DIFERENCIAIS SOCIODEMOGRÁFICOS ENTRE OS IDOSOS NO BRASIL

G e o l o g i a M i n e r a ç ã o e A s s e s s o r i a L t d a. geominas@terra.com.br Fone Fone Fax


ESCRITÓRIO TÉCNICO DE ESTUDOS ECONÔMICOS DO NORDESTE ETENE INFORME RURAL ETENE PRODUÇÃO E ÁREA COLHIDA DE CANA DE AÇÚCAR NO NORDESTE.

ANEXO VII - TERMO DE REFERÊNCIA

2- (0,5) O acúmulo de lixo é um grave problema dos ambientes urbanos. Sobre o lixo responda: a) Quais são os principais destino do lixo?

COMPOSIÇÃO, HISTÓRIA NATURAL, DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DAS SERPENTES NO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, SP FAUSTO ERRITTO BARBO

Guarulhos (SP) - Ponto de Cultura faz passeio pelo antigo caminho do trem da Cantareira

Simpósios. 2) Integrando a história natural com ecologia, evolução e conservação de anfíbios e répteis.

C R E D I A M I G O Programa de Microcrédito do Banco do Nordeste

SERPENTES DA RESERVA BIOLÓGICA COSTÃO DA SERRA EM SIDERÓPOLIS, SANTA CATARINA, BRASIL

RELAÇÃO DOS SQUAMATA (REPTILIA) DA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL MEANDROS DO RIO ARAGUAIA, BRASIL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, RESGATAR A IMPORTÂNCIA DO BIOMA CAATINGA

Herpetofauna dos remanescentes de Mata Atlântica da região de Tapiraí e Piedade, SP, sudeste do Brasil

Biodiversidade em Minas Gerais

Composição e história natural das serpentes de Cerrado de Itirapina, São Paulo, sudeste do Brasil

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

Obituário de Osvaldo Rodrigues da Cunha ( )

Efeito do reflorestamento de restingas sobre taxocenose de lagartos

DIVERSIDADE DE RÉPTEIS EM UMA ÁREA DA REGIÃO CENTRAL DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Ecologia e história natural de uma taxocenose de serpentes no Núcleo Santa Virgínia do Parque Estadual da Serra do Mar, no sudeste do Brasil

DESMATAMENTO EM ÁREAS PROTEGIDAS DA CAATINGA

EM BUSCA DE ÁGUA NO SERTÃO DO NORDESTE

CONSELHO ESTADUAL DE DEFESA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE CONSELHOS TUTELARES DA PARAÍBA

Serpentes de Viçosa e região (Minas Gerais)

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E POLINIZAÇÃO DE PLANTAS DO BIOMA CAATINGA: A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS DIFERENCIADAS EM SALA DE AULA.

Transcrição:

A FAUNA DE RÉPTEIS E ANFÍBIOS DAS CAATINGAS Miguel Trefaut Rodrigues Museu de Zoologia e Instituto de Biociências, Departamento de Zoologia, Universidade de São Paulo Documento para discussão no GT répteis e anfíbios Petrolina, 2000

Entre os principais domínios morfoclimáticos brasileiros, o das Caatingas, ocupando uma área aproximada de 800.000 km 2 é, de modo geral, um dos mais bem conhecidos quanto à sua fauna de répteis e anfíbios. Conhecem-se hoje de localidades com a feição característica das caatingas semiáridas 40 espécies de lagartos, 7 espécies de anfisbenídeos, 45 espécies de serpentes, 4 quelônios, 1 Crocodylia, 44 anfíbios anuros e 1 Gymnophiona. Se considerarmos as ilhas relictuais de florestas como os brejos florestados e enclaves de outros tipos de paisagens mais mésicas sem a fácie típica das caatingas, os números aumentam muito. Abordaremos aqui apenas a fauna associada a localidades estritamente caracterizadas como caatinga. Um levantamento preliminar, tomando por base a coleção do Museu de Zoologia da USP, ainda sem incorporar completamente a coleção de anfíbios Werner Bokermann, mostra que existem espécimes documentários de cerca de 150 localidades assim distribuídas: Piauí 6; Ceará 18; Rio Grande do Norte 7; Paraíba 19; Pernambuco 27; Alagoas 6 e Bahia 53. Não há registros de répteis e anfíbios para as manchas de Caatingas do Norte de Minas Gerais. Olhando com mais detalhe para a amostragem de cada uma destas cerca de 150 localidades verificamos que muito poucas contam com coleções representativas das comunidades de répteis e anfíbios alí presentes. Assim, Valença, no Piauí, - aliás, situada em uma área de contato com os cerrados- é a localidade melhor amostrada com 19 espécies de serpentes, 15 de lagartos e apenas 8 de anfíbios. As cinco demais amostras documentam apenas a fauna mais generalista, não passando de 3 espécies de serpentes, 5 de lagartos e 3 de anuros por localidade. A situação do Ceará é um pouco melhor se considerarmos a cobertura geral do estado, mas nenhuma localidade 2

está individualmente tão bem representada em coleções como Valença. A melhor amostragem está na região do Carirí, novamente uma área de transição, agora com as matas e os cerrados. De Arajara conhecemos 10 espécies de Serpentes, 12 de lagartos e 3 de anfíbios e de Santana do Carirí, 3 serpentes, 12 lagartos e 10 anuros. Morro Branco (Beberibe) e Coluna, nas imediações de Justiniano Serpa, são as duas outras localidades melhor amostradas, respectivamente com 5 serpentes e 8 lagartos, contra 8 e 12; nenhum anuro está representado em coleções daquelas localidades. No Rio Grande do Norte, Angicos é a localidade mais bem amostrada com 6 espécies de lagartos e 8 de anuros, seguida de Maxaranguape com 3 serpentes, 5 lagartos e 4 anuros; das demais cinco, a melhor amostrada quanto aos lagartos está representada por 4 espécies; por 2 quanto `as serpentes e por 3 quanto aos anuros. Das 19 localidades da Paraíba, Cabaceiras e Gurinhém são as melhores amostradas, respectivamente com 5 serpentes, 16 lagartos e 4 anuros e 9 serpentes, 11 lagartos e 8 anuros. Coremas e Junco do Seridó, com 9 espécies, são as localidades melhor representadas quanto aos anuros, contudo mal representadas quanto `as serpentes e lagartos, respectivamente 7 e 3 espécies de serpentes e 5 e 7 espécies de lagartos. Exú é a localidade mais bem amostrada de Pernambuco e de todo o nordeste seco nas coleções do MZUSP: são dalí conhecidas 18 espécies de serpentes, 16 de lagartos e 19 de anfíbios anuros. Quanto `as serpentes, Carnaubeira e Agrestina seguem Exú com 10 e 6 espécies respectivamente; das 24 outras localidades, a mais bem representada tem 3 espécies documentadas na coleção do MZUSP. Com os lagartos a situação é um pouco melhor: Seguem Exú, Agrestina com 10, Pesqueira com 9, Carnaubeira com 8 e várias outras localidades de onde 5 a 7 espécies tiveram 3

espécimes testemunhos colecionados. A situação dos anfíbios é triste: o maior número de espécies conhecido de uma localidade (9) está com Serra dos Cavalos, das outras 25 localidades a melhor representada (Petrolina) o está por apenas 3. Vale mencionar que Serra dos Cavalos foi incluída pois embora majoritáriamente sua fisionomia seja a de floresta úmida, enfeixa fácies de Caatinga no entorno. Das 6 localidades de Alagoas, as coleções de Xingó são as melhores: 10 espécies de Serpentes; 19 de lagartos e 12 de anuros. A coleção resulta de um empreendimento hidroelétrico e mostra bem a importância de aproveitar científicamente estas ocasiões para maximizar nossa representação da diversidade biológica local. Não há momento melhor para amostrar as comunidades de répteis e anfíbios. A Barragem de Itaparica, cujas coleções foram pulverizadas e não estão no MZUSP, parece ter sido a localidade melhor amostrada quanto `as serpentes de todo o nordeste: 27 espécies (Silva Jr. & Sites Jr., 94).Entre lagartos e anfisbenídeos 21 espécies foram apontadas para a área da Barragem; não há dados sobre os anuros. De Alagoas, excetuando Xingó, Quebrangulo é a localidade mais bem amostrada com 8 serpentes, 4 lagartos e 2 anuros. Sergipe tradicionalmente tem sido um estado mal amostrado. A localidade hoje mais bem representada na coleção é Areia Branca: 3 serpentes; 7 lagartos e 13 anuros. Ainda assim, parte da área envolve a fauna dos ambientes especiais da Serra de Itabaiana, como por exemplo o lagarto Tropidurus hygomi, alí presente, mas ausente das caatingas típicas.os números devem ser melhorados com coletas que vêm sendo alí realizadas. Finalmente, existem 53 localidades da Bahia com amostras de répteis e anfíbios nas coleções do MZUSP. Apenas 4 delas estão representadas por mais de 7 espécies 4

de serpentes, 10 delas têm mais de 7 espécies de lagartos e de apenas 6 delas há coleções representando 7 ou mais espécies de anfíbios. As localidades melhor amostradas estão todas na região das dunas interiores do Rio São Francisco, ou em áreas de transição, como Itiúba. Os comentários acima mostram claramente o caráter fortuito da maioria das coleções realizadas. Poucas derivaram de campanhas a longo prazo que procuraram maximizar a representação das comunidades de répteis e anfíbios do local. Geralmente representam o interesse do especialista que visita uma localidade em uma época propícia para a coleta de um grupo, mas não para outro. Assim, embora de modo geral o conhecimento possa hoje ser considerado adequado, faltam em coleções amostragens representativas das comunidades de R&A dos diversos ambientes. Um bom exemplo de uma localidade bem trabalhada é Exú. A pouca representatividade de formas subterrâneas, fossoriais e/ou supostamente raras em coleções mostra também que há necessidade imperativa de adequar as metodologias de coleta. Do ponto de vista da cobertura geográfica, ainda falta muito a fazer. Esta lacuna é talvez a mais importante a preencher para podermos definir as áreas prioritárias para a conservação no domínio. As amostragens são ainda tão incipientes que é impossível, salvo algumas exceções, falar sobre endemismos. Sabemos por exemplo que a mais importante área de endemismo está na região do campo de dunas do Rio São Francisco (Rodrigues, 1996), caracterizada por gêneros e espécies que não ocorrem em nenhum outro tipo de hábitat na região neotropical. Esta é sem dúvida a área prioritária para a conservação. Contudo, essa descoberta é extremamente recente. Haverá outras áreas no domínio, ainda inexploradas, com importância histórica, ecológica e evolutiva similar? 5

É muito possível que sim. Sabemos que outros endemismos ou disjunções do domínio, no que respeita os lagartos, estão também em regiões com solos arenosos. Tropidurus hygomi acima mencionado, embora não seja um animal de Caatinga, é um dos exemplos de disjunção espacial associada `a distribuição dos solos arenosos. Lagartos como Tropidurus cocorobensis; uma espécie de Cnemidophorus que ainda está por descrever e a cobra-cega Amphisbaena arenaria são exemplos similares, de espécies endêmicas, disjuntas e encravadas no domínio. O que dizer de outras espécies conhecidas de uma ou de poucas localidades, ainda que ocorram em áreas fisionomicamente caracterizadas como Caatinga? Entre os lagartos estariam nesta situação Mabuya agmosticha e Phyllopezus periosus; o último o maior geco brasileiro e descrito poucos anos atrás. Há outros exemplos. Não podemos sequer fazer comentários no que toca as serpentes ou os anfíbios anuros. Só é possível dizer que, como foi mostrado acima, nosso conhecimento sobre as Caatingas é tão fragmentário que necessitamos urgentemente de inventários multidisciplinares utilizando metodologia adequada de modo a amostrar melhor a diversidade biológica do domínio. É este trabalho que permitirá traçar com base científica firme algumas das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade ainda desconhecidas por falta adequada de amostragem. Número de espécies de Répteis e Anfíbios da Caatinga, por localidadenas coleções do MZUSP: S=Serpentes; L= Lagartos e Anfibeni deos; A= Anfíbios anuros Piauí Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Floriano 0647; 4301 0 1 0 Oeiras 0701; 4208 0 1 0 Patos 0702; 3716 0 4 0 Piripirí 0411; 4145 3 5 3 São Raimundo Nonato 0901; 4242 0 5 0 Valença 0624; 4145 19 15 8 6

Ceará Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Acaraú 0 1 0 Arajara 0721; 3924 10 12 3 Barbalha 0719; 3917 2 0 0 Baturité 0423; 3853 5 3 3 Chapada do Araripe 0720; 4000 2 3 0 Chorozinho 0418; 3839 0 1 0 Coluna 0402; 3829 8 12 0 Crato 0714; 3923 2 3 1 Icó 0512; 3917 0 1 0 Itapipoca 0330; 3934 2 4 1 Itapipoca 0330; 3934 2 2 2 Lima Campos 0 0 2 Maranguape 0401; 3852 3 3 6 Morro Branco 0410; 3806 5 8 0 Mulungú 0418; 3900 1 6 0 Pacaj ús 0411; 3827 7 8 0 Quixadá 0421; 3838 2 0 0 Santana do Cariri 0711; 3944 3 12 10 Rio Grande do Norte Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Angicos 0540; 3636 0 6 8 Ceará- Mirim 0538; 3526 0 0 1 Eduardo Gom es 0 0 1 Maxaranguape 0530; 3516 3 5 4 Mossoró 0512; 3731 0 1 1 Ponta Negra 0557; 3510 0 3 3 Presidente Juscelino 0606; 3542 2 4 0 Paraiba Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Alagoa Grande 0734; 3520 1 0 0 Cabaceiras 0730; 3612 5 16 4 Caiçara 0626; 3529 2 1 0 Campina Grande 0713; 3551 0 2 0 Corem as 0701; 3707 7 5 9 Cruz do Espírito Santo 0708; 3506 1 0 0 Gurinhém 0708; 3527 9 11 8 Joazeirinho 0704; 3635 0 2 0 Junco do Seridó 0700; 3643 3 7 9 Mamanguape 0650; 3507 8 4 6 Mojeiro de Baixo 0717; 3528 0 2 0 Patos 0702; 3716 1 3 0 7

Piancó 0710; 3756 0 6 0 Santa Luzia 0662; 3656 0 2 0 São José de Espinharas 0650; 3719 4 8 1 São Tomé 0739; 3655 1 0 0 Serra do Teixeira 0712; 3715 1 0 0 Soledade 0704; 3621 0 3 0 Umbuzeiro 0742; 3540 0 4 0 Pernambuco Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Açude dos Tambores 0821; 3630 0 1 0 Agrestina 0837; 3557 6 10 0 Belém do São Francisco 0845; 3858 0 2 0 Bom Conselho 0910; 3641 1 2 3 Carnaubeira 0818; 3845 10 8 1 Caruaru 0816; 3558 0 6 0 Catimbau 0836; 3715 0 2 0 Cruz de Malta 0815; 4020 1 0 0 Custódia 0807; 3739 0 1 0 Encruzilhada 0841; 4007 0 5 0 Exu 0731; 3943 18 16 19 Floresta 0823; 3850 1 1 0 Garanhuns 0854; 3629 0 1 0 Ipubi 0739; 4007 0 1 0 Jatobá 0905; 3812 0 1 0 João Alfredo 0752; 3535 0 3 0 Jutaí 0838; 4014 1 0 0 Limoeiro 0752; 3528 0 2 0 Maniçoba 0736; 3945 0 1 0 Ouricuri 0753; 4005 0 2 1 Pesqueira 0821; 3643 0 9 0 Petrolândia 0905; 3818 0 1 0 Petrolina 0924; 4030 1 1 3 Salgueiro 0804; 3906 0 0 2 Serra dos Cav alos 0821; 3602 3 0 9 Serra Talhada 0759; 3810 1 5 2 Síti o dos Nunes 0802; 3751 0 7 0 Alagoas Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Canoas 0929; 3552 1 0 0 Mangabeiras 0956; 3605 3 0 0 Maninbú 1010; 3622 4 0 1 Maragogí 0901; 3513 3 0 0 Quebrangulo 0920; 3628 8 4 2 Xingó 0924; 3758 10 19 12 8

Sergipe Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Areia Branca 1046; 3719 3 7 13 Campo do Brito 1045; 3730 4 1 0 Itaporanda d Ajuda 1059; 3718 1 0 0 Serra de Itabaiana 1042; 3729 1 0 0 Sirirí 1035; 3708 0 1 0 Bahia Coordenadas Serpentes Lagartos Anfíbios Alagoado 0929; 4121 7 13 0 As Pedras 1036; 4239 0 4 0 Baixa Grande 1157; 4011 1 0 0 Barra 1105; 4309 1 11 0 Barragem de Sobradinho 0926; 4048 0 1 0 Bendengó 0958; 3912 0 1 1 Buritirama 1043; 4338 3 3 1 Caatinga do Moura 1058; 4045 8 8 7 Campo Form oso 1501; 4107 0 1 12 Canudos 0953; 3913 0 1 2 Capão do Jucú 1254; 4141 1 0 3 Caraíba dos Bragas 0939; 4120 1 4 0 Cocorobó 0953; 3902 0 7 10 Coronel João Sá 1017; 3755 0 3 0 Curaçá 0859; 3954 0 5 15 Euclides da Cunha 1031; 3901 0 0 1 Gameleira 1255; 3836 0 1 0 Gentio do Ouro 1106; 4244 0 1 0 Guarajuba 1242; 3806 0 1 0 Iaçú 1245; 4013 1 0 0 Ibiraba 1048; 4250 10 12 4 Igatú 1253; 4129 3 3 1 Iramaia 1222; 4122 0 0 1 Irece 1119; 4152 0 2 0 Itabela 1634; 3924 1 0 0 Itaetê 1259; 4058 1 0 0 Itiuba 1042; 3951 6 6 13 Jacobina 1111; 4030 1 7 2 Jequié 1352; 4006 1 2 5 Jeremoabo 1004; 3821 3 5 8 Juazeiro 0924; 4030 2 1 0 Manga 1128; 4400 0 4 0 Maracujá 1050; 4440 2 1 0 Mocajuba 1209; 4027 1 0 0 Mulungú 0418; 3900 0 2 1 9

Nova Barra do Tarraxil 0850; 3900 0 4 2 Nova Rodelas 0859; 3848 1 2 0 Nova Soure 1114; 3829 0 4 0 Paulo Afonso 0921; 3815 0 3 2 Pilão Arcado 1009; 4226 0 2 0 Planalto Baiano 1440; 4028 0 5 4 Poções 1432; 4022 0 2 1 Queimadas 1037; 4236 6 13 2 Raso da Catarina 0942; 3831 1 4 6 Santana dos Brejos 1259; 4403 0 1 0 Santo Inácio 1106; 4244 8 16 1 Seabra 1 0 0 Senhor do Bonfim 1027; 4011 5 5 1 Tiquara 1028; 4032 1 0 0 Vacaria 1039; 4237 0 11 1 Vila Nova 1027; 4011 0 2 0 Vitória da Conquista 1451; 4050 1 1 0 Xique-Xique 1050; 4243 0 7 3 RÉPTEIS E ANFÍBIOS DAS CAATINGAS SQUAMATA Amphisbaenidae (7) Amphisbaena alba Amphisbaena arenaria Amphisbaena hastata Amphisbaena ignatiana Amphisbaena petrei Amphisbaena vermicularis Leposternon polystegum Anguidae (1) Diploglossus lessonae Teiidae (3) Ameiva ameiva Cnemidophorus ocellifer Tupinambis merianae Gymnophthalmidae (14) Anotosaura vanzolinia Anotosaura collaris Calyptommatus leiolepis Calyptommatus nicterus Calyptommatus sinebrachiatus Colobosaura mentalis Colobosauroides cearensis Colobosauroides carvalhoi Micrablepharus maximiliani Nothobachia ablephara Procellosaurinus erythrocercus Procellosaurinus tetradactylus Psilophthalmus paeminosus Vanzosaura rubricauda Scincidae (3) Mabuya heathi Mabuya agmosticha Mabuya macrorhyncha Gekkonidae (8) Briba brasiliana Coleodactylus meridionalis 10

Gymnodactylus geckoides Hemidactylus agrius Hemidactylus mabouia Phyllopezus periosus Phyllopezus pollicaris Lygodactylus klugei Iguanidae (1) Iguana iguana Polychrotidae (2) Polychrus acutirostris Enyalius bibroni Tropiduridae (8) Tropidurus amathites Tropidurus cocorobensis Tropidurus divaricatus Tropidurus erythrocephalus Tropidurus hispidus Tropidurus pinima Tropidurus psammonastes Tropidurus semitaeniatus Typhlopidae (1) Typhlops yonenagae Leptotyphlopidae (1) Leptotyphlops borapeliotes Boidae (2) Boa constrictor Corallus hortulanus Colubridae (35) Apostolepis arenarius Apostolepis cearensis Apotrolepis gaboi Apostolepis cf. longicaudata Chironius carinatus Chironius flavolineatus Clelia clelia Clelia occipitolutea Erythrolamprus aesculapii Helicops leopardinus Leptodeira annulata Leptophis ahaetulla Liophia almadensis Liophis dilepis Liophis miliaris Liophis mossoroensis Liopphis poecilogyrus Liophis reginae Liophis viridis Mastigodryas bifossatus Oxybelis aeneus Oxyrhopus trigeminus Philodryas nattereri Philodryas olfersi Phimophis chui Phimophis igleiasi Phimophis scriptorcibatus Pseudoboa nigra Psomophis joberti Sibynomorphus mikanii Spilotes pullatus Tantila melanocephala Thamnodynastes pallidus Thamnodynastes strigilis Waglerophis merremi Elapidae (2) Micrurus ibiboboca Micrurus lemniscatus Viperidae (4) Bothrops erythromelas Bothrops iglesiasi Bothrops neuwiedii Crotalus durissus CHELONIA 11

Kinosternidae (1) Kinosternon scorpioides Testudinidae (1) Geochelone carbonaria Chelidae (1) Phrynops geoffroanus Phrynops tuberculatus ANFÍBIOS Bufonidae (2) Bufo granulosus Bufo paracnemis Hylidae (15) Corythomantis greeningi Hyla crepitans Hyla minuta Hyla microcephala Hyla nana Hyla raniceps Phrynohyas venulosa Scinax aurata Scinax gr. catharinae Scinax eurydice Scinax oliveirai Scinax pachychrus Scinax gr. ruber Scinax x-signatus Trachycephalus atlas Leptodactylidae (21) Ceratophrys joazeirensis Eleutherodactylus ramagii Leptodactylus fuscus Leptodactylus labyrinthicus Leptodactylus latinasus Leptodactylus mystaceus Leptodactylus natalensis Leptodactylus ocellatus Leptodactylus podicipinus Leptodactylus syphax Leptodactylus troglodytes Odontophrynus carvalhoi Physalaemus albifrons Physalaemus centralis Physalaemus cicada Physalaemus cuvieri Physalaemus gracilis Physalaemus kroeyeri Pleurodema diplolistris Proceratophrys cristiceps Pseudopaludicola falcipes Pseudopaludicola mystacalis Microhylidae (1) Dermatonotus mulleri Phyllomedusidae (2) Phyllomedusa bahiana Phyllomedusa hypocondrialis Pipidae (1) Pipa carvalhoi Caecilidae Siphonops paulensis 12