Acórdão nº 358/06 21.DEZ.06 1ªS/SS. O Município de Lamego celebrou com Caixa Geral de Depósitos, S.A., e



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Transcrição:

Mantido pelo acórdão nº 1/07, de 30/03/07, proferido no recurso nº 04/07 Acórdão nº 358/06 21.DEZ.06 1ªS/SS Processo nº 1887/06 O Município de Lamego celebrou com Caixa Geral de Depósitos, S.A., e com Caixa Banco de Investimento, S.A., um contrato de cessão de créditos sobre rendas futuras devidas pela EDP Distribuição-Energia, S.A., ora submetido à fiscalização prévia. Releva para a apreciação do processo a seguinte matéria factual: 1. Com data de 26/06/2001, a Assembleia Municipal de Lamego aprovou, em 26/6/2001, a renovação de um contrato de concessão de distribuição de energia eléctrica em baixa tensão, celebrado entre o Município de Lamego (doravante designado por Município) e a empresa EDP Distribuição - Energia, S.A. (doravante designada por EDP), cujos principais termos se são os seguintes: a) Através do contrato o Município concede à EDP a distribuição de energia eléctrica em baixa tensão na área do município de

Lamego, por um prazo de vinte anos, renovável por iguais períodos; b) A concessão confere ao Município o direito a receber da EDP rendas anuais, referentes ao ano civil a que correspondam, cada uma paga, sucessivamente, em quatro prestações iguais (que se vencem no último dia de cada trimestre do calendário), calculadas nos termos previstos na Portaria n.º 437/2001, de 28/04. 2. Na sequência de deliberação sobre proposta apresentada à Câmara Municipal em 4/8/2006 foi lançada tendo para o efeito sido enviados convites a oito instituições de crédito. 3. De acordo com os convites, a operação apresenta as seguintes características: a ) Objecto: Cessão da totalidade dos créditos relativos a rendas futuras devidas pela EDP Distribuição Energia, S.A.; b ) Início da operação: 01/10/2006; c ) Prazo: 20 anos; d ) Valor trimestral dos créditos cedidos (base 2006): 156.821,44; 2

e ) Deverá ser considerada uma taxa anual de actualização dos créditos cedidos de pelo menos 3%, com efeitos em Janeiro de cada ano. 4. Em reunião de 12/09/2006, tendo por base uma proposta do Presidente da Câmara, a Câmara Municipal autorizou a contratação da operação de cessão de créditos sobre rendas futuras com a Caixa Geral de Depósitos, S.A. (doravante designada por CGD). 5. De acordo com a referida proposta, o montante estimado de rendas futuras ascende a cerca de 8.517.808,00, em data de referência a 01/09, destinando-se a receita proveniente do contrato pretendido celebrar a realização dos seguintes investimentos: Pavilhão multiusos; Piscinas cobertas e remodelação das piscinas descobertas; Teatro Ribeiro da Conceição; Edifício técnico; Zona Industrial; Biblioteca Municipal; Arquivo Municipal; Requalificação Urbana; Escola de hotelaria; Habitação Social em curso; 3

Requalificação do Complexo desportivo de Lamego (em parceria); Acessos ao Vale Abraão e Zona Ribeirinha do Douro; Oficina, armazém e Parque Industrial Municipal. 6. Por deliberação de 29/09/2006, a Assembleia Municipal anuiu à realização da operação. 7. Nos termos da proposta da adjudicatária, para um prazo de 15 anos e tendo por referência um valor total nominal das rendas a ceder de 11.841.836,42, o valor actualizado indicativo dos créditos cedidos, à data de 01/09/2006, era de 8.517.808,00. 8. A taxa de desconto é determinada pela soma da taxa de mid swap para a vida média da operação (7 anos) com um spread de 0,37%. 9. Por seu turno, o preço seria pago da seguinte forma: a) Pagamento inicial: 90% do valor actualizado na data da produção de efeitos do contrato de concessão ( 7.666.027,20); b) Pagamentos diferidos: o restante ao longo da duração da operação em função da performance das cobranças. 10. Com data de 19/10/2006, o Município de Lamego, a CGD e a Caixa Banco de Investimento, S.A., outorgaram o contrato ora submetido a visto, o qual produzirá efeitos na data da sua assinatura, com excepção do efeito principal de cessão de 4

créditos nele prevista que só se produzirá na Data de Produção de Efeitos, que ocorrerá no quinto dia útil a partir da recepção por parte da CGD de todos os documentos indicados na cláusula quinta, nomeadamente do visto do Tribunal (Cláusula 9.ª, n.º 2). 11. O contrato vigorará por um prazo de 15 anos a contar da Data de Produção de Efeitos (Cláusula 9.ª, n.º 3). 12. Para efeitos do contrato, os créditos cedidos consubstanciam-se nos direitos de crédito correspondentes às Rendas de Distribuição de Baixa Tensão que o Município detém perante a EDP Distribuição, vincendos pelo prazo de 15 anos (está previsto o pagamento de 60 trimestralidades, com data de transferência de 31/12/06 até 30/09/2006) a contar da Data de Produção de Efeitos, com o valor nominal total de 11.929.337,69 (Cláusula 1.ª, n.º 1, e Anexo V ao contrato)). 13. O preço devido pela aquisição dos créditos cedidos (designado por Preço-Base) é determinado dois dias úteis antes da Data de Produção de Efeitos, formando-se em função de uma fórmula prevista no Anexo IV ao contrato (Cláusula 1.ª, n.º 1)). 14. De acordo com a informação prestada pela CGD, o Preço-Base dos créditos cedidos à data da celebração do contrato é de 8.494.039,00, tendo por referência a taxa de mid-swap a 7 anos, de 3,9920%, apurada naquela data, acrescida do spread de 0,37%. 5

15. O preço acordado será pago na Data de Produção de Efeitos por crédito na Conta Município (Cláusula 4.ª, n.º 1), que é uma conta da titularidade do Município, aberta na C.G.D. 16. A este valor será deduzido a quantia referente à Comissão de Montagem, (remuneração a Caixa BI pela organização e montagem da operação) correspondente a 0,37% do Preço- Base, acrescida de quaisquer impostos ou outros encargos legais sobre ela incidentes (Cláusula 4.ª, n.º 2, e Cláusula 8.ª). 17. Para além do exposto, o Município pagará, ainda, à CGD uma Comissão de Gestão (remuneração pelos serviços de agenciamento) no montante de 1.000 por ano, actualizável, em quatro prestações trimestrais, iguais e sucessivas, acrescida de quaisquer encargos e impostos devidos nos termos da lei (Cláusula 8.ª, n. os 4, 5 e 6). 18. Poderão ocorrer ajustamentos ao Preço-Base dos créditos cedidos, a suportar pelo Município, caso se verifique (Cláusula 4.ª, n.º 3): a) Mora, que se prolongue por mais de dois dias úteis, no cumprimento pela EDP Distribuição da obrigação referente a algum dos créditos cedidos; b) Extinção, total ou parcial, por qualquer forma que não o cumprimento, de algum dos créditos cedidos; 6

c) A cessação ou a extinção, total ou parcial, por qualquer forma que não o seu cumprimento, da obrigação da devedora cedida de pagar os créditos cedidos; d) A inexistência ou a extinção, total ou parcial, de qualquer dos créditos cedidos. 19. O montante correspondente ao ajustamento do Preço-Base é calculado de acordo com uma fórmula prevista no Anexo VI ao contrato (Cláusula 4.ª, n.º 7). 20. Nos termos da cláusula 7.ª, n.º 1, o Município obriga-se, nomeadamente, a proceder aos depósitos ou às transferências do montante devido pelo ajustamento ao Preço-Base, sempre que a este haja lugar (alínea e)). 21. O incumprimento, ainda que parcial, pelo Município, de qualquer das obrigações previstas na cláusula 7.ª, n.º 1, nomeadamente a mencionada no ponto anterior, caso não seja por este sanado no prazo de dez dias úteis a contar da notificação da CGD para esse efeito, confere a esta o direito a resolver automática e imediatamente o contrato, mediante comunicação dirigida ao Município, sem que daí derive qualquer direito ao Município a ser indemnizado e sem prejuízo da reparação de quaisquer danos que advierem para a CGD (Cláusula 7.ª, n.º 2). 22. Nos termos da 2.ª parte do número 3 da cláusula 11.ª, no caso de resolução do contrato por motivo imputável ao Município, fica o 7

mesmo obrigado a pagar à CGD o valor que resultar da aplicação cumulativa das fórmulas de ajustamento ao Preço-Base constantes do Anexo VI ao contrato. 23. O Município garante a favor da CGD a solvência da devedora cedida durante a vigência do contrato (Cláusula 6.ª, n.º 2). * * * A questão nuclear que deve abordar-se no presente acórdão é essencialmente a mesma que foi já abordada nos Acórdãos n. os 247/06, 3/2/06 e 327/06 todos proferidos em subsecção da 1.ª Secção deste Tribunal. Ou seja e em termos simples se estamos perante uma verdadeira e própria cessão de crédito ou se, embora com esta denominação, se não estará antes perante um empréstimo, sendo que, como é óbvio, para tal qualificação não é decisiva a denominação mas antes a vontade das partes revelada no contrato e, até, em tudo quanto o precedeu. É nestes termos que a questão aparece colocada no já citado acórdão n.º 327/2006, proferido em 7/11/2006: Sendo a cessão de créditos (e também de créditos futuros) um negócio causal, importa, no entanto, averiguar qual a causa da cessão no âmbito dos concretos contratos a considerar. 8

Assim, e de acordo com as funções presentes naqueles contratos, é possível distinguir duas modalidades de cessão de créditos futuros, a saber: a cessão de créditos futuros em sentido próprio; a cessão de créditos futuros em sentido impróprio. Na cessão propriamente dita, o risco do incumprimento do terceiro devedor transfere-se para o cessionário; na imprópria, o cessionário não assume esse risco, pelo que terá o cedente que reembolsar o cessionário em caso de incumprimento pelo devedor, o que implica a exclusão da função del credere. Ou seja, na cessão de créditos futuros em sentido próprio, em que a assunção dos riscos da cobrança de créditos se configura como um efeito normal da aquisição de créditos, o que existe é uma compra e venda de créditos; na imprópria, e pela razão inversa, o que existe é um verdadeiro contrato de mútuo com restituição atípica. judice. Assim importará indagar em qual dos tipos se insere o contrato ora sub 9

A verdade é que, no entanto, um exame mais atento da matéria de facto leva-nos a concluir que se está perante um verdadeiro contrato de empréstimo de longo prazo no valor aproximado de 8 494 039,00 garantido por direitos de crédito e destinado à realização de investimentos municipais que o Município não estava em condições de suportar. Na verdade, no âmbito do rateio para 2006 foi atribuído à autarquia um montante de 1 289 028,00, montante esse já integralmente utilizado (cfr. ofício n.º 2483, de 11/8/2006, comunicando os montantes do rateio e proc. os n. os 1625/06 e 1706/06). Tendo em conta a necessidade de financiar os aludidos investimentos contratou o negócio ora em análise que, como se verá, apresenta os elementos essenciais de um contrato de empréstimo. Assim, através do contrato, a autarquia encaixa um valor aproximado de 8 494 039,00 obrigando-se a pagar um valor aproximado de 11 929 337,69, sendo o diferencial a remuneração da CGD pela cedência de fundos. Por seu turno, verifica-se que o empréstimo subjacente terá a duração de quinze anos sendo o reembolso do capital efectuado nas datas de vencimento dos créditos cedidos configurando a dedução do capital a entregar à autarquia um verdadeiro pagamento de juros à cabeça. 10

Não obstam à qualificação que vimos fazendo alguma especificidade derivada do facto de o reembolso do empréstimo ser, em princípio, efectuado pelo Município através de terceiro (isto é, do devedor das rendas correspondentes aos créditos) e só em certas situações pela autarquia, seja através do ajustamento ao preço-base, seja na decorrência da resolução do contrato. Nos termos da cláusula 4.ª, n.º 3, o incumprimento da devedora cedida (EDP) ou a extinção dos créditos cedidos implicam o ajustamento imediato e automático do preço-base a suportar pelo Município. Por outro lado há a considerar que: Na eventualidade de o Município não promover o referido ajustamento nos termos contratualmente previstos, assistirá à CGD o direito a resolver automática e imediatamente o contrato e sem prejuízo da reparação dos danos que daí advierem para a CGD (Cláusula 7.ª, n.º 1, al. e) e n. o 2); No caso de resolução do contrato por motivo imputável ao Município, fica o mesmo obrigado a pagar à CGD o valor que resultar da aplicação cumulativa das fórmulas de ajustamento ao Preço-Base constantes do Anexo VI ao contrato (cláusula 11.ª, n.º 3, segunda parte). 11

Ora, se estivéssemos perante uma verdadeira compra e venda de créditos (assumindo a cessão de créditos um papel de execução do contrato-fonte) o cedente limitar-se-ia a garantir a garantir a existência e a exigibilidade do crédito ao tempo da cessão, podendo ainda garantir a solvência do devedor (cfr. art.º 587, n. os 1 e 2, do Código Civil) mas o risco de incumprimento recairia sobre o cessionário, ao contrário do que se passa no caso em apreço. Estamos, assim, perante aquilo a que poderemos cessão de créditos imprópria recondutível a um contrato de mútuo. Mas, assim sendo, e estando esgotado, como se viu, a verba atribuída no rateio de 2006 à autarquia, resulta violada a norma constante do n.º 3 do art.º 33.º da Lei n.º 60-A/05, de 30/12 (Orçamento do Estado para 2006). Detendo tal norma inequívoca natureza financeira, a sua violação constitui fundamento de recusa de visto nos termos da alínea b) do n.º 3 do art.º 44.º da Lei n.º 98/97, de 26/8. Termos em que vai recusado o visto no presente contrato. São devidos emolumentos. Lisboa, 21 de Dezembro de 2006. 12

Os Juízes Conselheiros, Lídio de Magalhães Helena Ferreira Lopes Pinto Almeida Fui presente O Procurador-Geral Adjunto 13