A QUESTÃO BOLIVIANA E AS RELAÇÕES EXTERNAS DO BRASIL O Sr. Feu Rosa/PP-ES pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados. Os acontecimentos ocorridos na Bolívia, de desapropriação, nacionalização unilateral de bens brasileiros e as ameaças de extinguir-se o MERCOSUL, juntamente com o sonho de uma maior unidade na América do Sul me preocupam. É lamentável o comportamento do Presidente da Bolívia Evo Morales em tomar uma atitude inoportuna e intempestiva com relação à Petrobrás e ameaças de cortar o gás para o Brasil. Claro que prejuízos serão ressarcidos pois, afinal de contas o Brasil não é inimigo da Bolívia, pelo contrário, se os bolivianos liderados pelo Sr. Morales achavam que nossos compatriotas lá estavam com comportamento imperialista, que se manifestassem como bons parceiros e certamente seriam ultrapassados os conflitos na boa diplomacia e convivência e sem nenhuma parte levar prejuízo; renegociações são sempre bem vindas em relações internacionais. O que não pode é haver animosidade desnecessária e desconfianças entre países julgados amigos, além de vizinhos e com fronteira comum tão extensa,
superior a 1000 quilômetros. Mas o arroubo de desconfiança foi feito, a patriotada do Presidente boliviano ocorreu e desencadeou uma onda de descontentamento no Brasil sem precedentes. Muitos anos passarão para que esta mancha seja retirada de nossas relações bilaterais, independente do que os interesses comerciais ditarem. Por outro lado, vem a notícia não alvissareira de que o MERCOSUL está agonizando um acordo entre os quatro países integrantes: a Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai que tinha tudo para dar certo. E não dá por questões culturais incompreensíveis. Por um bom período o comércio e as transações comerciais entre os quatro países chegou a níveis anuais superiores a 22 bilhões de dólares indicador de que comercialmente as relações podem ir bem com a resultante de e emprego, renda e melhoria da qualidade de vida para larga faixa de cidadãos pertencentes ao MERCOSUL. Relações outras que as comerciais nem tem como ir mal pois as proximidades dos países obrigam até a uniformidade maior de comunicação. Mais de seis milhões de habitantes nas fronteiras comuns falam portunhol fluentemente. As questões policiais, penais, acadêmicas, jurídicas e outras não tem como serem tratadas sem as visões múltiplas
de cada nacionalidade para o bem de todos. Mas, não obstante a boa vontade de alguns, a realidade para uma maior integração em todos os níveis tem sido difícil. Nem parece que cogitou-se durante um bom período a adoção de uma moeda única e uma profundidade bem maior de aproveitamento das vantagens comparativas de cada nação-membro do tratado do MERCOSUL e mesmo com a intenção da Bolívia, Peru e Venezuela! No entanto, temos que ser realistas e o Brasil não pode esperar a vida toda, ou talvez nessa vertente de política com seus vizinhos do sul não tem tido a competência desejada para abrir mais avenidas de bom relacionamento. Assim, julgo eu, Sr. Presidente, que nosso país poderia explorar outras alternativas de vez em quando lembradas para alavancar com força suas relações de toda natureza no continente. Temos uma forte tradição a ser preservada e algumas vezes esquecida pelos nossos governantes responsáveis pela nossa política externa. Há cerca de quarenta anos atrás tive oportunidade de fazer uma pesquisa sobre a viação da República do Panamá. O Panamá já foi parte da Colômbia, como conseqüência de um dos vice-reinados deixados pela colonização espanhola. Os Estados Unidos em 1903 apoiaram a independência panamenha através de estímulos aos separatistas, muito
ligados, principalmente as políticas visando melhorar as condições de transporte da costa leste para costa oeste dos Estados Unidos, objetivo era o futuro Canal do Panamá. A República do Panamá existe como uma país independente por causa dos Estados Unidos. Pelos investimentos realizados e importância do Panamá no mundo e nas Américas, a história provou que aquele país e seu altivo e valoroso povo tem dado grandes contribuições às relações internacionais. Nas pesquisas adicionais resultantes desse trabalho sobre independência do Panamá, eu não poderia deixar de colocar o nosso país num contexto internacional de grande cobiça das potências européias num palco grandioso em que resultou numa total fragmentação do continente africano, preâmbulo para conflitos que resultaram na primeira guerra mundial e nas irresponsabilidades posteriores em que guerras tribais estimuladas mataram mais de 10 milhões de vidas humanas. A América do Sul e o Brasil não ficaram fora das cogitações das potências européias agressivas e sequiosas de novos mercados e de pilhagens. Absolutamente. Nossa unidade nacional foi muito, fruto de nossa garra e nosso espírito unificador por uma pátria unida, falando um único idioma, o português. Mas tivemos de contar também com
ajuda de nações amigas. Uma pesquisa de 40 anos atrás na Biblioteca Pública de Nova Iorque, além da questão do Panamá eu lia, associado no contexto o interesse e a cobiça das nações européias em dividir o Brasil, como estavam impiedosamente fazendo na África com todas as más conseqüências que podemos avaliar até hoje. Mais de cem livros e cerca de setenta documentos que pude na época levantar, se bem que eram existentes muito mais, comprovavam isso. E porque no inicio do século XX os países europeus não se insinuaram mais fortemente o Brasil? Nosso país então, possuía forças armadas de respeito, mas desproporcionais em relação ao gigantismo do país continente. A habilidade de nossa diplomacia liderada pelo Barão de Rio Branco conseguiu o total apoio dos Estados Unidos, aliás o primeiro país a reconhecer nossa República. Rio Branco seguia o rumo de o Brasil caminhar para um relacionamento excepcional com os Estados Unidos e, graças também a isso, a genialidade gerou os maiores prêmios para nosso país. No mesmo ano que a Colômbia perdia sua província, o Brasil ganhava o Acre, 1903. E quantos cobiçavam aquele território e outros do Brasil a partir de remanescências e conflitos em nossas forças armadas, comuns no final do século XIX e conseqüentes até há poucos anos.
Não podemos menosprezar o trabalho de Rio Branco e antes de Joaquim Nabuco e posteriormente de Oswaldo Aranha. Nossa história está aí para ser sempre pesquisada principalmente pela nossa mocidade. Eu creio, senhor Presidente, que os pseudo-conflitos com foros de alarmantes e lamentáveis, tipo o com a Bolívia, e a agonia do MERCOSUL precisavam nos estimular a vôos mais altos. O Brasil República, desde os primórdios, esteve muito ligado aos Estados Unidos, não quer dizer que hoje não esteja. Mas certamente para melhor se relacionar com a Europa e o Japão é imprescindível uma maior participação dos investimentos americanos para sua maior inserção no mercado global e relevante desses blocos econômicos. Nunca deixar de estimular sempre e cada vez maior relacionamento com nossos amigos mais próximos e isso é muito natural. Mas certamente a história e as perspectivas futuras mostram com toda clareza a necessidade de tratados e relacionamentos cada vez mais próximos e estreitos com os Estados Unidos. Para os espíritos saudosistas da guerra fria, basta dizer que hoje, qualquer tratado comercial não seria só como os Estados Unidos, seria no mínimo com México e o Canadá, e não é por causa de serem vizinhos próximos que
os mesmos nem pensam em políticas diferentes. O principal impulsionador do desenvolvimento Mexicano é o comércio com os Estados Unidos e o Canadá que cacifam o Estado Americano no tabuleiro Global. Não podemos ficar fora desse sistema, num país com nossas grandiosidades de potencial e de problemas com tantos brasileiros na mais absoluta carência, com tantos brasileiros de talento querendo se mostrar para o mundo além do futebol. É preciso rever todo nosso relacionamento o exterior, face inicialmente aos tratados propostos no relacionamento bilateral com os Estados Unidos. Nosso país não pode prescindir de algo como a ALCA, um tratado de livre comércio para as Américas, preservando toda nossa soberania nacional - os interesses do povo brasileiro exigem isso, e chega de perda de tempo com questões menores no reconhecimento das problemáticas pontuais com nossos vizinhos. As crises criadas, não por nossa causa, demandaram de nós atitudes firmes numa nova geração de caminhos a serem criados ou despertados ou re-despertados para ampliar o relacionamento com os Estados Unidos. Negar isso é uma crueldade para com o povo e a juventude de meu país. Obrigado Sr. Presidente.