Rev. Brasil. Biol., 5(3) :339-34 3 Setembro, 19-15 Rio de Janeiro, D. F. UM NOVO GÊNERO E DOIS ALÓTIPOS DE "GONY- LEPTIDAE" (OPILIONES) 1 B. A. M, SOARES e HÉLIA ELLER MONTEIRO SOARE S Departamento de zoologia, S. Paulo (Com 3 figuras no texto ) Recebemos um lote de opiliöes, coligidos e enviados gentilment e pelo Dr. PETR WYGODZINSKY, da localidade de Campos de Jordão, n o Estado de São Paulo, bem como dois exemplares apanhados na Estrada Rio-São Paulo (km. 47), no Estado do Rio de Janeiro. Entr e espécies já conhecidas, encontramos um novo e interessantíssimo gênero, que dedicamos ao Dr. PETR WYGODZTNSKY, e, pela primeira vez, dois exemplares de Discocyrtus niger Melo-Leitão, 1923, pois até agor a só se conhecia o tipo (uma fêmea). Dêstes dois espécimes, um é u m macho adulto, que vamos descrever como alótipo, o outro é uma fême a jovém, mas perfeitamente identificável, por comparação com o tipo. Agradecemos imensamente ao ilustre entomologista o material enviado. Descrevemos também o alótipo de Bunoplus pachypalpi Roewer, 1927, que foi coligido, juntamente com um macho, em Rodrigues Alves, no Estado de São Paulo, pelo entomologista R. L. ARAÚJO, que gentil - mente nos enviou o material, e a quem, da mesma forma, muito agradecemos. GONYLEPTID.AE GONYLEPTINAE Wygodzinskyia n. g. Cömoro ocular com forte espinho mediano dirigido para a frente. Areas, I, II, IV, tergitos livres e opérculo anal inermes. Área III com alta apófise mediana bífida. Fëmur dos palpos inerme. Tarsos I de 5 segmentos, os outro s de 6. Porção terminal dos tarsos I e II de 3 segmentos. Genótipo : Wygodzinskyia viridiornata n. sp. Recebido para publicação a 7 de maio de 1945. Trabalho elaborado no Departamento de Zoologia da Secretaria de Agricultura do Estad o de São Paulo.
340 B. A. M. SOARES e RELIA HELLER MONTEIRO SOARE S Wygodzinskyia viridiornata n. sp. (Fig. 1 ). Comprimento : 4,0 mm. Artículos tarsais : 5 6 6 6. Borda anterior do cefalotórax com pequeno dente entre as quelíceras, co m raros grânulos irregularmente distribuídos, e com cinco pequenos espinhos d e diversos tamanhos em fila, de um lado e de outro. Cõmoro ocular próximo d a borda anterior do cefalotórax, granuloso, com forte espinho mediano dirigid o para a frente e provido de alguns grânulos. Cefalotórax apenas granuloso atrá s do cómoro ocular. Area I dividida. Areas I e II inermes, irregularmente granulosas. Area III irregularmente granulosa, com alta apófise bífida median a granulosa na base. Area IV inerme, com duas filas irregulares de grânulo s de diferentes tamanhos. Tergitos livres I a III inermes, I e II com uma fil a de grânulos e III com duas. Areas laterais pràticamente lisas. com grânulo s minúsculos e quase imperceptíveis (visíveis sùmente com grande aumento e quando o material está meio húmido). Esternitos livres com uma fila de minúsculos grânulos pilíferos. Area estigmática e ancas corn minúsculas granulações piliferas. Palpos : trocânteres corn dois tubérculos setiferos inferiores ; fémures corn um tubérculo pilifero basal inferior e com outro mediano n a mesma face, e sem espinho apical interno : tíbias e tarsos com 3 3 espinho s inferiores. Fémures I sub-retos, granulosos dorsalmente, e corn duas filas de tubérculos inferiores. Trocãnteres II com um espinho apical posterior. Fêmures II retos, granulosos, e com um espinho apical posterior. Fémures II I curvos, granulosos dorsalmente, com duas filas de tubérculos inferiores e corn um espinho apical posterior. Tibias III com urna fila inferior de tubérculos. Pernas IV : ancas corn grossos grânulos dorsais, com pequenino espinho apica l externo, quase obsoleto, e sem apófise apical interna ; trocânteres tão longo s quão largos, corn granulações piliferas na face inferior, com dois pequenino s tubérculos laterais internos, um subapical e outro mediano, e coin pequen o tubérculo apical interno ; fémures curvos, com três pequenos espinhos dis - postos em fila e separados entre si, dorsalmente, com dois espinhos apicai s dorsais, o interno muito maior, e com duas filas inferiores e irregulares d e espinhos pequenos ; patelas corn grossos grânulos ; tibias com uma fila infero-lateral de tubérculos, além de grânulos piliferos irregularmente dispostos. Colorido geral castanho, irregularmente sombreado de negro, corn as granulações amarelo-esverdeadas, e corn manchas da mesma cór. muito típicas, agrupadas nas areas laterais, na área IV, nos tergitos livres I e II e nas anca s IV, como vemos na figura. Habitat : Campos de Jordão. Estado de São Paulo, Brasil. Holótipo :, n. 164. na coleção H. SOARES. GONYLEPTIDAE PACHYLINAE Discocyrtus niger Mello-Leitão (Fig. 2 ) Dáseocyrt u.s uiger Mello-Leitilo, 1923, Alq. Mus. Nue.. 24 :126, fig. 8. Alótipo. Comprimento : 4,5 mm. Artículos tarsais : 5 '6 9 10 -- i 7. Borda anterior do cefalotórax com uma fila de grânulos, tendo mais doi s ou :rés g rânuios agrupados em sua porção mediana. Cãmoro ocular alto, corn
NOVO GÉNERO DE "GONYLEPTIDAE" 34 1 dois espinhos levemente divergentes, com pequenas granulações esparsas n a frente dêsses espinhos, e com uma fila de seis grânulos atrás dos mesmos. Cefalotórax com duas filas de três grânulos atrás do cômoro ocular. Áreas I e IV divididas, II e III com um sulco longitudinal mediano pouco nítido, V inteira. Áreas I, II e IV inermes, I irregularmente granulosa em sua porçã o mediana, II e IV granulosas. Area III com dois altos espinhos divergentes, irregularmente granulosa ; área V inerme, com uma fila de grânulos. Área s Fig. 1 Wygodzinskyia viridiornata n. g., n. sp., fêmea ; fig. 2 Discocyrtus niger Mello - Leitão, 1923, alótipo macho ; fig. 3 Bunoplus pachypalpi Roewer, 1927, alótipo fêmea. laterais com duas filas de grânulos pilíferos, e com dois tubérculos pouco abaix o de sua porção mais dilatada. Tergitos livres I a III com uma fila de grânulos. Opérculo anal com minúsculos grânulos pilíferos. Esternitos livres apenas co m uma fila. Area estigmática e ancas com granulações pilíferas. Palpos : trocânteres com dois grossos grânulos inferiores ; fêmures com um espinho basal inferior, e com um espinho apical interno ; tíbias com 4-4 e tarsos com 3-3 espinhos inferiores Fêmures I sub-retos, II retos, granulosos, com um espinho apical posterior, III curvos, granulosos, com duas filas inferiores de grosso s grânulos, e com espinho apical posterior. Tibias III com duas filas inferiore s de grânulos, que vão aumentando de tamanho da base para o ápice, perto d o qual são tubérculos espiniformes. Pernas IV : ancas com granulações tuberculiformes dorsais, com apófise apical externa quase transversa, bífida, com o s ramos muito curtos e grossos, e com apófise apical interna bífida, com um do s ramos quase obsoleto ; trocânteres com dois espinhos laterais internos, u m sub-basal e outro apical, com grosso espinho sub-basal lateral externo, com pequeno tubérculo apical dorsal, e com alguns grânulos pilíferos dorsais ; fêmures levemente curvos, irregularmente granulosos, com dois espinhos apicais dorsais, um espinho dorsal subapical, um espinho lateral externo, próximo do ápice, e com dois espinhos apicais inferiores, além de uma série dorsal de grânulos pontudos, semelhantes a espinhos ; patelas e tíbias com grossos grânulos, a s tíbias com dois espinhos apicais inferiores. Colorido geral castanho, irregularmente marmorado de negro, sendo a cô r negra mais acentuada da área III para trás. Pernas I a III fulvas, com u m anel amarelo perto do ápice nas tíbias. Pernas IV : ancas castanhas, d e extremidade muito escura ; trocânteres e fêmures castanho-escuros, o ápice
342 B. A. M. SOARES e HELIA HELLER MONTEIRO SOARE S dos fêmures amarelos ; patelas e tíbias castanho-escuras, o ápice das tibias amarelo ; protarsos e tarsos amarelos. Alotipo n. 181, na coleção H. SOARES. Habitat : Estrada Rio-São Paulo (km. 47), Estado do Rio de Janeiro, Bra - sil. Coligido pelo Dr. PETR WYGODZINSKY, em 7-IV-1945. Bunoplus pachypalpi Roewer, 192 7 (Fig. 3) Alótipo 7. Comprimento 4,0 mm. Artículos tarsais : 5 8 6 6. Borda anterior do cefalotórax inerme, com pequena elevação mediana e granulosa. Cômoro ocular com um espinho mediano erecto e corn quatro grânulos, sendo dois maiores situados atrás do espinho. Cefalotórax com doi s tubérculos atrás do cômoro ocular e, entre os dais tubérculos, um grânulo. Areas I, II, IV e V inermes, I com poucos grânulos na porção mediana, II corn duas filas curtas de grânulos na porção mediana, IV corn uma fila irregula r de grânulos, V com uma fila de grossos grânulos, sendo os dois mediano s maiores. Area I dividida. Area III com dois espinhos separados, muito próximos na base, irregularmente granulosa na porção mediana. Areas laterai s corn duas filas de grânulos, tendo em sua porção mais dilatada um agrupa - mento de grânulos. Tergitos livres I e II corn uma fila de grossos grânulos, semelhantes a tubérculos, tergito livre III com forte espinho mediano curvo na extremidade, e com uma fila de grânulos espiniformes. Opérculo anal dorsa l com dois pequeninos espinhos, além de grânulos tuberculiformes. Opércul o anal ventral com granulações pilíferas. Esternitos livres com uma fila de grânulos piliferos. Area estigmática e ancas corn granulações pilíferas. Palpos : trocânteres com dois tubérculos setiferos na face inferior ; fêmures inermes, sem espinho apical interno ; tíbias com 3-4 e tarsos com 2-4 espinhos inferiores. Fêmures I e II sub-retos, III e IV curvos. Fêmures II e III com u m espinho apical posterior. Pernas IV : ancas com grossos grânulos piliferos, com pequeno espinho apical externo e sem apófise apical interna : trocânteres mais longos que largos, com grânulos piliferos e corn dois espinhos laterai s internos, um mais ou mënos mediano e outro apical ; fêmures curvos, com grânulos piliferos, com três filas inferiores de grossos grânulos tuberculiformes, e com dois pequenos espinhos apicais dorsais ; patelas com grossas granulações piliferas ; tibias com granulações pilíferas, além de duas filas inferiore s de grossos grânulos, que, à medida que se aproximam do ápice, vão-se trans - formando pouco a pouco em grânulos espiniformes. Colorido geral castanho-escuro. Palpos amarelo-queimados, com mancha s negras. São de côr amarela os espinhos do cômoro ocular, da área III e d o tergito livre III, bem como os grânulos dos tergitos livres. Porção median a das áreas I a III, e áreas laterais, no limite com as áreas do escudo dorsal, fulvas. Alótipo 7, n. 146, na coleção H. SOARES. Habitat : Rodrigues Alves, Estado de São Paulo, Brasil. Coligido por R. L. ARAUJO, em 9/11-XII-1943. Esta fêmea foi coligida com um macho na mesma localidade, o qual apresenta no tergito livre III um pequeno tubérculo mediano, difícil de ser observado, quase se confundindo com os demais grânulos
NOVO GÊNERO DE "GONYLEPTIDAE" 34 3 dêsse tergito. Este macho foi comparado com outros da mesma espécie, coligidos em Rio de Janeiro (Teresópolis neste Estado é a locali - dade-tipo da espécie), e pertencentes à coleção H. SOARES. O dimorfismo sexual é notável. De posse da fêmea, podemos completar a diagnose do gênero Bunoplus Roewer, 1927, que ficará com o seguinte conceito : Cômoro ocular com um espinho mediano. Area I dividida. Areas I, II, I V e V do escudo dorsal inermes, Area III no macho com forte espinho mediano, formado pela fusão de dois outros, e, na fêmea, com dois espinhos separados, muito próximos na base. Tergitos livres I e II inermes, III com um espinh o mediano na fêmea, com pequenino tubérculo mediano quase imperceptível n o macho. Opérculo anal inerme no macho, na. fêmea com dois pequeninos espinhos. Fêmur dos palpos inerme. Tarsos I de 4 ou 5 segmentos, II de mais d e 6, III e IV de 6. Porção terminal dos tarsos I de 2 segmentos no macho e d e 3 na fêmea. Apesar do dimorfismo sexual, pondo-se o macho e a fêmea juntos, debaixo da lupa, sem dificuldade podemos concluir que se trata d e um casal da mesma espécie. SUMMARY The authors describe one new genus of Opiliones belonging to the subfamil y Gonyleptinae, and the alotypes of Discocyrtus niger Mello-Leitão, 1923, an d Bunoplus pachypalpi Roewer, 1927.