Júlio F. FERREIRA da SILVA RESUMO

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Transcrição:

GESTÃO OPTIMIZADA DOS RECURSOS HÍDRICOS DISPONÍVEIS EM ZONAS COSTEIRAS O incremento da recarga como componente duma estratégia para utilização sustentável de aquíferos costeiros Júlio F. FERREIRA da SILVA Prof. Auxiliar do Departamento de Engª Civil da Universidade do Minho, Azurém 4800-058 Guimarães, Portugal 253510207, juliofs@civil.uminho.pt Naim HAIE Prof. Associado do Departamento de Engª Civil da Universidade do Minho, Azurém 4800-058 Guimarães, Portugal 253510205, naim@civil.uminho.pt RESUMO Os aquíferos costeiros são sistemas que possuem em equilíbrio dinâmico volumes de água doce e de água salgada. Qualquer alteração dos regimes de extracção e de recarga altera aquele estado. Neste trabalho faz-se uma análise quantitativa dos efeitos do incremento da recarga no controlo da utilização de aquíferos do litoral potencialmente sujeitos à intrusão marinha. Sendo a utilização da água subterrânea economicamente interessante, aconselhariam os princípios de gestão de recursos hídricos o aproveitamento do escoamento subterrâneo que se dirige inevitavelmente para o mar. No entanto, a extracção de água de aquíferos costeiros deve respeitar regras para que seja possível manter sob controlo a cunha salina. O incremento da recarga é uma medida de gestão que pode ajudar nessa regulação. A condução e introdução no aquífero de água superficial proveniente de linhas de águas vizinhas permite aumentar o volume de água doce no aquífero e, assim, impelir a água salgada em direcção ao mar. A metodologia desenvolvida faculta o estudo do efeito das variações da recarga na posição da interface água doce - água salgada. Analisam-se os efeitos do incremento da recarga no aquífero Mexilhoeira Grande - Portimão. Determinam-se as extracções aconselháveis face a determinada distância de segurança admitida em relação a um ponto de controlo. Calcula-se o acréscimo na extracção em função das quantidades disponíveis para recarga. Determina-se o recuo da interface em função da recarga. Conclui-se que o incremento da recarga contribui para a utilização controlada e sustentável da água subterrânea e, consequentemente, para a gestão racional dos recursos hídricos disponíveis nas regiões costeiras. Palavras-chave: Gestão de aquíferos costeiros, Gestão integrada de águas subterrâneas e águas superficiais, Intrusão salina, Modelação de águas subterrâneas, Optimização da exploração de aquíferos.

1 INTRODUÇÃO Neste trabalho divulga-se um modelo para a gestão conjuntiva dos recursos hídricos disponíveis em zonas costeiras. O uso de uma parcela da água superficial disponível numa região costeira para incrementar a recarga de aquíferos contribui para a utilização controlada e sustentável da água subterrânea. A gestão racional de recursos hídricos em zonas costeiras recomenda o aproveitamento da água disponível, ao invés de a deixar escoar-se para o mar. No entanto, interessa manter sob controlo a intrusão salina. Assim, o principal problema a resolver será determinar a extracção máxima permitida e as quantidades de água a usar na recarga para manter a interface além de determinada distância aos pontos de controlo. O incremento da recarga deverá ser realizado se acarretar vantagens técnicas, ambientais e económicas ou, pelo menos, sem que agrave significativamente os custos de exploração. A região objecto dos estudos localiza-se no sul de Portugal, no Algarve e em concreto no concelho de Portimão. O sistema de abastecimento de água a este concelho algarvio apoiava-se, até há pouco tempo, em captações subterrâneas implantadas no aquífero Mexilhoeira Grande - Portimão. Este aquífero esteve nas últimas décadas sujeito a extracções excessivas. A análise dos dados históricos relativos à qualidade da água bruta da maioria dos furos dos antigos Serviços Municipalizados de Portimão (S.M.P.) revela que a condutividade e os teores de cloretos no aquífero apresentavam valores superiores aos recomendáveis e admissíveis pelas normas de qualidade da água em vigor. Actualmente, o abastecimento de água a Portimão é realizado essencialmente a partir de água de origem superficial proveniente do sistema adutor do Barlavento, gerido pela empresa Águas do Algarve. De acordo com os relatórios de actividades e de contas da empresa herdeira dos S.M.P., a Empresa Municipal de Águas e Resíduos de Portimão E.M.A.R.P. (2000), o custo de produção da água de abastecimento de origem subterrânea era metade do custo da água comprada à empresa Águas do Algarve, ou seja 0,16 /m 3. Assim, mesmo com um eventual acréscimo para a melhoria da qualidade da água captada no aquífero Mexilhoeira Grande-Portimão, o custo de abastecimento com água subterrânea será economicamente interessante. Assim, interessa estudar quais deveriam ser as políticas de gestão para que seja possível manter pelo menos algumas origens subterrâneas. Nos itens seguintes descrevem-se os modelos de gestão que envolve a associação de técnicas de optimização e de modelos de simulação do fenómeno intrusão salina, faz-se a caracterização geral do sistema aquífero objecto dos estudos, determinam-se as extracções máximas admissíveis face a determinada quantidade de água disponível para recarga e mostra-se o efeito do incremento da recarga no controlo da intrusão salina. Finalmente, far-se-á a análise de resultados e apresentadas as respectivas conclusões. 2 MODELO DE GESTÃO DE AQUÍFEROS SUJEITOS À INTRUSÃO SALINA A gestão optimizada das utilizações de aquíferos potencialmente sujeitos à intrusão salina consiste em determinar o conjunto de extracções e a quantidade de água a solicitar a uma origem superficial ou fornecedor exterior (eventualmente um sistema adutor regional) para que sejam satisfeitas as solicitações, mantendo, no entanto, o controlo sob o fenómeno da intrusão salina. A adequada gestão dum sistema de captação e de abastecimento de água a partir de aquíferos costeiros exige a utilização conjunta de técnicas de optimização e de modelos de simulação dos sistemas físicos envolvidos. Os métodos de optimização, como os algoritmos genéticos divulgados por GOLDBERG (1989), determinam os melhores regimes de extracções e os esquemas de funcionamento do sistema de abastecimento de água. Os modelos de simulação, como os defendidos por STRACK (1989) e BAKKER (2002), antecipam o comportamento do aquífero e dos órgãos do sistema de

transporte da água face às alternativas geradas pela ferramenta de optimização. Em FERREIRA DA SILVA (2003) defende-se uma metodologia que associa métodos de optimização e modelos de simulação da intrusão marinha em cascata e num grau de complexidade crescente. Assim, o modelo de optimização simulação (ou de gestão) tem em vista a definição de estratégias que permitam a maximização dos resultados económicos e que mantenham sob controlo o volume de água doce no aquífero, ou seja, a qualidade das águas subterrâneas afectadas pela intrusão marinha. As equações que caracterizam o escoamento num sistema aquífero costeiro podem ser definidas aplicando a expressão de Darcy a cada lado da interface água doce / água salgada: hd hd hd hd ( K xx ) d + ( K yy ) ( K zz ) d + Qd = Sd x x y d y z z t (1) hs hs hs hs ( K xx ) s + ( K yy ) ( K zz ) s + Qs = S s x x y s y z z t (2) Em que: x, y - coordenadas, d água doce; s a água salgada; h - altura piezométrica, Q - caudal extraído ou injectado, S - coeficiente de armazenamento, t - tempo. A resolução da equação diferencial que caracteriza o escoamento pode realizar-se por via analítica, nalguns casos, e mais genericamente por via numérica. Defende-se que o estudo de sistemas complexos e de grande dimensão deve iniciar-se com o recurso a modelos conceptuais simples para numa segunda fase ser usado um modelo numérico, necessariamente mais refinado. Strack (1976 e 1989) desenvolveu uma solução exacta para caracterizar o escoamento em aquíferos costeiros com uma linha de costa recta, diversas captações localizadas a xi do mar e o respectivo caudal Qi. O potencial é definido, usando o método das imagens, por: n 2 2 q Qi ( x xi ) + ( y yi ) φ = x + LN K = πk 2 2 i 1 ( x + x ) + ( ) i y yi (3) 4 onde: q - escoamento específico; K - condutividade hidráulica; Qi - extracção / Injecção; (xi, yi) coordenadas do local de extracção / injecção; n - número de locais extracção / injecção. 3 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O sistema aquífero da Mexilhoeira Grande - Portimão localiza-se no litoral do concelho de Portimão em Portugal, ou seja no Barlavento Algarvio e na Orla Meridional Portuguesa e abrange as bacias hidrográficas das Ribeiras do Barlavento e do Rio Arade. A área do sistema aquífero é de aproximadamente 50 km². De acordo com INAG (2000) os contornos do aquífero são definidos a sul pelo oceano Atlântico e a norte pelas formações do Hetangiano, sendo os limites laterais definidos pela ribeira do Arão a Oeste e pela ribeira de Boina a Este. A espessura do aquífero apresentará valores entre 60 e 110 m e a transmissividade entre 85 a 2300 m²/dia. Salgueiro (2001) para o estudo do escoamento regional ensaiou diversos valores da condutividade, desde 4 a 259,2 m/dia, tendo defendido o valor 212,9 m/dia para a análise do escoamento regional. Experimenta os valores 60, 150 m para a espessura do aquífero, considerando finalmente 110 m. A aplicação de uma técnica de optimização para tentar encontrar os valores característicos do aquífero que minimizavam o quadrado do somatório das diferenças entre as cotas piezométricas calculadas e observadas nalguns pontos, deparou-se com algumas dificuldades designadamente o desconhecimento da espessura do aquífero e com a qualidade da informação. Como dados foram usados as cotas piezométricos nos furos dos S.M.P. e nos pontos usados por Salgueiro (2001). Não existe qualquer referência às condições em que foram medidas as alturas da água nos furos. Foi incluída uma entrada de caudal concentrada para simular o eventual contributo da falha de Portimão, no entanto a técnica de optimização não lhe atribuía qualquer valor. A experimentação com os modelos de simulação permitiu ir apurando os valores que

poderiam corresponder a situações verosímeis. O conjunto de valores médios que dá bons resultados é: espessura do aquífero 75 m, condutividade hidráulica 200 m/dia e escoamento específico 3 m 2 /dia, no entanto existem outras combinações cujos resultados apresentam, também, boas aproximações aos dados. Os dados sobre as principais captações existentes no sistema aquífero podem ser encontrados nos documentos dos Serviços Municipalizados de Portimão (S.M.P.) e no trabalho elaborado por Rosa (1997). Os S.M.P. fizeram o registo das extracções mensais das suas doze captações entre Maio de 1983 e Dezembro de 1996. Devido à degradação da qualidade da água na origem, os furos localizados mais a sul foram sucessivamente abandonados e construídos novos mais a norte. A região tem outras origens, designadamente a origem superficial do grande sistema adutor do Barlavento Algarvio que abastece actualmente a quase totalidade do sistema de distribuição de água a Portimão. As utilizações de água em Portimão têm crescido substancialmente ao longo dos últimos 20 anos. Os dados recolhidos junto dos S.M.P. e da empresa que lhe sucedeu a E.M.A.R.P. indicam que o crescimento na década de 90 foi significativo. De facto, a utilização anual em 1999 cresceu 1,26 milhões de m 3 em relação a 1992. A utilização média diária anual foi em 2002 de 16.647 m 3 /dia. Figura 1 - Localização da área de estudo (Figura adaptada de INAG (2000)) 4 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA E OBJECTIVO Face aos elevados teores de cloretos que em 1995-1996 existiam na maioria dos furos dos S.M.P., pretende estudar-se a possibilidade de continuar a extracção de água subterrânea, no entanto mantendo sob controlo a interface água salobra / água doce. Esta hipótese será eventualmente viável à custa da redução das extracções e do incremento da recarga. Analisando os dados relativos aos furos que estavam em actividade em 1995 e 1996 verifica-se que os primeiros candidatos a continuar a extracção serão os furos que estão implantados mais a norte, ou seja as captações designadas por JCS5 e JCS9. Estes furos estão implantados, respectivamente, a 5850 e 6510 m do mar. Como o furo JCS5 é dos dois o que está implantado mais a sul, então será o ponto mais desfavorável em termos de intrusão salina, pelo que será considerado como ponto de controlo ou de verificação. O objectivo do modelo de gestão dos recursos hídricos costeiros prende-se com a determinação das quantidades necessárias para recarga, dos caudais a extrair pelas captações

subterrâneas (já existentes) e do caudal a solicitar ao sistema adutor de abastecimento do barlavento (fornecedor exterior) para satisfazer a solicitação do sistema de distribuição de água e manter sob controlo o avanço da intrusão marinha. A solicitação pretendida é de 12.000 m³/dia, eventualmente o valor de um dia útil do mês de menor utilização. Os limites superiores para as extracções dos furos foram definidos adoptando os valores máximos registados em 1995. Quadro 1 - Limites de funcionamento das origens Designação Qmín Qmáx da captação (m³/dia) (m³/dia) QJCS5 0 5280 QJCS9 0 1800 sendo: QJCS5 - Extracção diária no furo JCS5; QJCS9 - Extracção diária no furo JCS9 Os Serviços Municipalizados de Portimão (S.M.P.) chegaram a estudar a hipótese de implementarem a recarga artificial no aquífero Mexilhoeira Grande - Portimão, utilizando a água da ribeira da Torre. Em Rosa (1997) é referido que um estudo da antiga Direcção de Recursos Hídricos recomendava a realização de um ou dois furos na zona norte do aquífero, concretamente junto à ribeira da Torre em Alcalar. Segundo Rosa (1997) os próprios S.M.P. teriam mandado executar um furo para este efeito, no entanto a localização não teria sido bem definida. O projecto para a recarga artificial foi entretanto abandonado devido ao abastecimento de água ter passado a realizar-se pela empresa Águas do Algarve. Assim, interessa estudar o efeito que esta medida teria nas quantidades máximas a extrair do aquífero, contudo, mantendo o controlo sobre a interface água salobra / água doce. Os estudos seguintes foram realizados considerando que os furos para recarga seriam implantados nos locais de coordenadas (160000, 27100) e (159800, 27100), ou seja a 9600 m do mar. Como a água subterrânea apresenta um custo menor relativamente à origens superficiais, então interessa que a interface fique próximo da distância máxima admissível em relação ao mar. Realizando estudos para diversas eventuais distâncias de segurança ficam disponíveis resultados que poderão ajudar para uma melhor fundamentação de decisões. 5 DETERMINAÇÃO DAS EXTRACÇÕES EM FUNÇÃO DA RECARGA E DA DISTÂNCIA AO PONTO DE CONTROLO Admitindo que a água para recarga teria origem nas linhas de água da região, designadamente na ribeira da Torre, conforme indicado em Rosa (1997), então o custo com esta operação seria reduzido. Considerando que a água passaria por um filtro de brita e areia e que receberia uma desinfecção com hipoclorito de sódio, então o encargo unitário de exploração poderá ser quantificado através da seguinte função de custo: CRA = [ 0,0705 0, 007LN ( QRA )]ε (4) Sendo: CRA - Custo da recarga artificial com água de ribeira ( /m³); QRA - Quantidade de água para recarga artificial (m³/dia); ε - Parâmetro que simula a incerteza associada às condições de mercado. Os restantes custos unitários médios usados estão registados no quadro seguinte: Quadro 2 - Custos médios em função da origem Origem de água ( /m³) JCS5 0,22 JCS9 0,23 B 0,32 sendo: JCS5, JCS9 - Captações subterrâneas; B - Fornecedor exterior de água de superfície.

Não considerando o incremento da recarga, as melhores políticas de extracção versus distância de segurança (ds) determinadas pelo modelo de gestão estão registadas no quadro seguinte: Quadro 3 - Valores máximos das extracções versus ds e respectivos custos sem incremento da recarga ds QJCS5 QJCS9 Q S Custo sub Custo total (m) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) ( /dia) ( /dia) 200.00 2919 1800 4719 1056 3386 300.00 2765 1800 4565 1022 3402 400.00 2480 1800 4280 960 3430 500.00 2095 1800 3895 875 3469 600.00 1624 1800 3424 771 3516 700.00 1076 1800 2876 651 3570 800.00 453 1800 2253 514 3633 sendo: ds - distância de segurança; Qs - Extracção total; Custo sub - Custo da extracção. Com o propósito de estudar o efeito do incremento da recarga na definição duma política de extracção controlada introduziu-se no modelo de gestão a variável infiltração de água no aquífero (RA) com um valor máximo de 100 m 3 /dia. O modelo de gestão devolve como melhor solução para cada distância de segurança (ds) a utilização integral da capacidade de incremento da recarga. De seguida alargou-se o estudo aumentando o limite superior da recarga. Os resultados obtidos encontram-se registados nos quadros seguinte e representados na figura que se lhes segue. Quadro 4 - Extracções versus ds e respectivos custos com incremento da recarga 100 m 3 /dia ds QJCS5 QJCS9 RA Qsub Custo sub Custo total (m) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) ( /dia) ( /dia) 200 2951.63 1800.00 100.00 4751.63 1063.36 3386.63 300 2800.23 1800.00 100.00 4600.23 1030.05 3401.77 400 2517.84 1800.00 100.00 4317.84 967.92 3430.01 500 2134.81 1800.00 100.00 3934.81 883.66 3468.31 600 1665.76 1800.00 100.00 3465.76 780.47 3515.22 700 1118.55 1800.00 100.00 2918.55 660.08 3569.94 800 497.51 1800.00 100.00 2297.51 523.45 3632.04 Quadro 5 - Extracções versus ds e respectivos custos com incremento da recarga 500 m 3 /dia ds QJCS5 QJCS9 RA Qsub Custo sub Custo total (m) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) ( /dia) ( /dia) 200.00 3082.90 1800.00 500.00 4882.90 1092.24 3382.99 300.00 2943.10 1800.00 500.00 4743.10 1061.48 3396.97 400.00 2669.80 1800.00 500.00 4469.80 1001.36 3424.30 500.00 2294.32 1800.00 500.00 4094.32 918.75 3461.84 600.00 1831.74 1800.00 500.00 3631.74 816.98 3508.10 700.00 1290.20 1800.00 500.00 3090.20 697.84 3562.26 800.00 674.21 1800.00 500.00 2474.21 562.33 3623.86 Quadro 6 - Extracções versus ds e respectivos custos com incremento da recarga 1000 m 3 /dia ds QJCS5 QJCS9 RA Qsub Custo sub Custo total (m) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) (m³/dia) ( /dia) ( /dia) 200.00 3247.00 1800.00 1000.00 5047.00 1128.34 3374.95 300.00 3121.70 1800.00 1000.00 4921.70 1100.77 3387.48 400.00 2859.76 1800.00 1000.00 4659.76 1043.15 3413.68

500.00 2493.71 1800.00 1000.00 4293.71 962.62 3450.28 600.00 2039.22 1800.00 1000.00 3839.22 862.63 3495.73 700.00 1504.77 1800.00 1000.00 3304.77 745.05 3549.18 800.00 895.09 1800.00 1000.00 2695.09 610.92 3610.14 As extracções máximas admissíveis encontradas pelo modelo de gestão em função da quantidade de água disponível para incrementar a recarga e da distância de segurança encontram-se registados na figura seguinte: Figura 2 - Extracção máxima versus recarga e distância de segurança A simbologia entregue nesta figura é a seguinte: RA - Incremento da Recarga; QS - Extracção subterrânea. A análise da representação anterior permite constatar que as extracções poderão crescer em função da quantidade de água disponível para recarga a um ritmo próximo do linear. A tomada de decisões relativamente à quantidade de água a utilizar para recarga poderá ser melhor fundamentada realizando o cálculo dos eventuais incrementos na extracção que estão associados a determinada quantidade de água disponível para infiltrar no aquífero. Na figura seguinte pode encontrar-se o benefício adicional, em termos de quantidade de água, que será possível retirar do aquífero em função da recarga artificial e da distância de segurança ao ponto de verificação.

Figura 3 - Incremento na extracção máxima versus recarga e distância de segurança A implementação de um sistema de recarga artificial de um aquífero envolve a realização de estudos técnico-económicos multidisciplinares, incluindo os relacionados com questões ambientais e com a garantia da operacionalidade do sistema. No entanto, a análise quantitativa dos efeitos da recarga na gestão de aquíferos do litoral potencialmente sujeitos à intrusão salina indica que o incremento da infiltração de água permite o aumento das extracções e de forma controlada. A quantificação dos custos totais envolvidos no abastecimento de água à região permite a construção de curvas e de superfícies que nos ajudam a identificar a posição do pé da interface a que corresponde menores encargos e a redução do custo total em função da quantidade de água disponível para recarga e do risco que o decisor queira eventualmente assumir. Figura 4 - Superfície dos custos versus recarga e distância de segurança

Figura 5 - Custos versus distância de segurança sem recarga e com recarga de 500 e 1000 m 3 /dia A análise dos resultados permite-nos inferir que o modelo de gestão encontra como melhores políticas o aproveitamento da capacidade de recarga disponível. O resultado económico, em termos de custos da utilização do aquífero, quando está a ser implementado o sistema de recarga artificial descrito, traduz-se em ganhos já que é possível extrair mais água subterrânea cujos encargos são inferiores aos relativos à importação de água através do sistema adutor do fornecedor exterior. A representação dos custos em função da quantidade de água disponível para recarga permite constatar-se o mérito da utilização dos recursos hídricos disponíveis na região. No entanto, as maiores virtudes da existência de um sistema de recarga artificial corresponderão ao facto da entidade gestora dispor de meios de controlo do volume de água doce presente no aquífero e, sobretudo, poder responder a um eventual avanço da cunha salina. No caso em análise, quantificando apenas a diferença de custos de exploração entre uma situação sem sistema de recarga artificial e um cenário com aquele sistema a funcionar, a superfície dos eventuais ganhos em função da quantidade de água disponível para recarga e da distância de segurança está representada na figura seguinte:

Figura 6 - Redução de custos devida ao incremento da recarga versus recarga e ds Assim, desde que a realização do incremento da recarga seja relativamente simples, eventualmente envolvendo a condução de água superficial para uma bacia de infiltração ou para antigos furos e a adição de um simples desinfectante, então esta operação revela-se economicamente vantajosa e em simultâneo contribui para o controlo da intrusão salina. 6 CONTROLO DA INTRUSÃO EM FUNÇÃO DA RECARGA Uma outra hipótese de estudo, tendo em vista aumentar a flexibilidade da gestão do aquífero costeiro, será determinar a posição que o pé da interface ocuparia junto do ponto de controlo face a eventual aumento da recarga artificial. Considerando que a condutividade hidráulica apresenta o valor de 200 m/dia, que a distância de segurança pretendida é de 200 m e que as extracções permaneceriam com os valores máximos admissíveis quando não existe recarga, então a redução da posição do pé da interface em relação à posição inicial apresenta a evolução registada na figura seguinte:

Figura 7 - Redução do pé da interface junto ao ponto de controlo versus recarga 7 CONCLUSÕES Os aquíferos do litoral são sistemas em equilíbrio dinâmico e, como tal, ao aumento das extracções e/ou à redução da recarga pode corresponder o avanço da cunha salina marinha. Sendo a produção de água de abastecimento a partir de origens subterrâneas economicamente vantajosa, poderá ser tentador a exploração daqueles reservatórios naturais. No entanto, interessa que as extracções sejam reguladas para que fiquem prevenidos os efeitos nefastos da intrusão salina. Assim, a gestão controlada e sustentável de aquíferos costeiros exige a definição das quantidades a extrair e a determinação das quantidades de água convenientes para recarga. Estas medidas contribuem para manter sob controlo o volume de água salgada no aquífero. Os princípios de gestão de bens limitados recomendam, quando aplicados aos recursos hídricos, a utilização integrada e complementar das origens de água disponíveis na região. A segurança na continuidade do abastecimento será reforçada dispondo permanentemente na região de origens alternativas operacionais. Os aquíferos não devem apenas ser considerados como mananciais a preservar como reserva estratégica, mas sim como origens que devem ser utilizadas de forma contínua, no entanto controlada. O aquífero Mexilhoeira Grande - Portimão sofreu ao longo das últimas décadas um progressivo agravamento da qualidade da água, consubstanciado, por exemplo, no aumento dos teores de cloretos. No entanto, por razões económicas e estratégicas será racional a manutenção de algumas captações, desde que seja possível manter sob controlo o volume de água salgada no aquífero. A redução das extracções, em relação aos tempos em que diversas captações funcionavam, a selecção de alguns furos implantados em locais mais afastados da água salgada e o incremento da recarga permitem a utilização de parte da água que seria descarregada no mar sem qualquer aproveitamento. Os resultados dos estudos realizados permitem concluir que o incremento da recarga pode ser usado como medida de gestão deste aquífero costeiro. Esta medida permite o aproveitamento de recursos hídricos a baixo custo, contribui para o controlo da cunha salina e possibilita o aumento das extracções de água doce. Adopta-se, assim, uma perspectiva global de gestão dos recursos hídricos disponíveis nesta região costeira algarvia.

O conceito de distância de segurança admissível em relação a pontos de controlo permite a definição das estratégias de gestão versus risco admitido pelo decisor. A implementação de um sistema de incremento da recarga de um aquífero envolve a realização de estudos técnico-económicos multidisciplinares. No entanto, a análise quantitativa dos efeitos da recarga na gestão de aquíferos do litoral potencialmente sujeitos à intrusão salina recomendam o incremento da infiltração de água. Sendo possível a utilização dos recursos hídricos superficiais vizinhos e desde que o custo da operação de recarga artificial se mantenha reduzido, então os resultados do modelo de gestão poderão revelar-se, também, como políticas viáveis de gestão dos recursos hídricos disponíveis nas regiões costeiras. As soluções disponibilizadas constituem uma parcela de um conjunto de acções que poderão ser implementadas para uma utilização conjuntiva, controlada e sustentável dos recursos hídricos subterrâneos e superficiais desta área costeira. AGRADECIMENTOS Os autores registam o apoio dado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia ao Centro de Engenharia Civil da Universidade do Minho. Este trabalho foi realizado com o apoio parcial do projecto POCTI/ECM/2512/9. Agradecemos aos antigos Serviços Municipalizados de Portimão (hoje EMARP) a cedência dos diversos dados usados neste trabalho. SIMBOLOGIA CRA - Custo da recarga artificial com água de ribeira; ε - Parâmetro que simula a incerteza associada às condições de mercado; ds - distância de segurança (m); K - condutividade hidráulica (m/dia); Qi - Extracção / injecção (m 3 /dia); QJCS5 - Extracção diária no furo JCS5 (m 3 /dia); QJCS9 - Extracção diária no furo JCS9 (m 3 /dia); Qmáx - Extracção máxima de cada captação (m 3 /dia); Qmín - Extracção mínima de cada captação (m 3 /dia); Qsub - Extracção subterrânea diária (m 3 /dia); RA - Quantidade diária de água para o incremento da recarga (m 3 /dia); xi e yi são as coordenadas da captação i; Xpe - distância do pé da interface ao mar (m).

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