NIQUELÂNDIA O Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência Social de Niquelândia, promoveu na cidade, entre a manhã e a tarde de sexta-feira (23), uma discussão com o tema Lei Maria da Penha e Empoderamento das Mulheres. A Lei de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, em vigor desde 22 de setembro de 2006, foi proposta em dezembro de 2000 no Congresso Nacional pela então deputada federal goiana Nair Lobo. Com a nova legislação, o Código Penal foi alterado, permitindo que os agressores domésticos sejam presos em flagrante ou tenham a prisão preventiva decretada. A punição, em caso de condenação, passou de um ano para três anos de prisão. A pena mínima, no entanto, foi reduzida de seis para três meses. Se a vítima for mulher portadora de deficiência física, a pena poderá ser agravada em um terço. A violência é uma doença que afeta a família inteira. Infelizmente, temos uma lei que é muito importante mas que, sozinha, não funciona. Ela ainda depende da regulamentação de políticas públicas para o fortalecimento das mulheres, em Niquelândia e no Estado de Goiás. Não basta apenas o respaldo dessa legislação, se não temos o apoio para as mulheres que são violentadas e agredidas em suas casas. Em nosso Estado, só temos uma casa-abrigo para essas mulheres,
o que é muito pouco. E o empoderamento das mulheres só se dará com a inserção delas no mercado de trabalho, comentou a coordenadora do Dandara no Cerrado, Dailir Rodrigues da Silva. Quem também esteve em Niquelândia naquele dia foi a delegada Miriam Aparecida Borges de Oliveira. Há sete anos, ela é a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) em Goiânia. Segundo ela, somente na capital, foram realizadas 1.600 prisões em flagrantes de agressores domésticos desde outubro de 2006 (fora as prisões decretadas posteriormente pela Justiça) após a instituição da Lei Maria da Penha. A autoridade policial lembrou que os casos de violência doméstica eram anteriormente enquadrados na Lei 10.259/01, que trata dos chamados crimes de menor potencial ofensivo. Os delitos do tipo eram registrados através dos Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO), Em geral, nas sentenças condenatórias, as penas impostas aos homens eram brandas, normalmente através da prestação de trabalhos comunitários, pagamento de multa em dinheiro ou doação de cestas básicas a entidades assistenciais, por exemplo. Essa história acabou. Hoje, se agredir mulher, dá cadeia. E vai preso. Por isso, Lei Maria da Penha é um avanço extraordinário, que surgiu para resgatar a cidadania da mulher brasileira. Hoje, a mulher que procura ajuda acredita
na Justiça. Para mulheres de particulares ou de funcionários públicos com porte de arma, inclusive de policiais civis e militares, a Justiça pode suspender ou cassar o direito de uso desse revólver. Na capital, hoje temos o Juizado da Mulher, que já deferiu medidas protetivas em menos de três horas após o ocorrido. Por isso, precisamos lutar para que existam mais juizados desse tipo nos demais municípios goianos, a fim de que haja mais rapidez no julgamento desses casos, comentou a delegada-titular da Deam-Goiânia, em entrevista exclusiva ao Diário do Norte. Entre outras coisas, Miriam citou que lei também permite que os juizes determinem o comparecimento obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação. Fora isso, existem mecanismos para a proteção das vítimas. A legistação prevê que, em caso de risco de vida ou situação de agressão, o agressor deve sair de casa, para manter a distância entre ele e a mulher ofendida. Fora isso, a Lei 11.340/06, as mulheres agredidas ainda têm o direito de reaver bens e cancelar procurações feitas em nome do agressor. A violência psicológica também passou a ser caracterizada como violência doméstica. GRACILENE APÓIA INICIATIVA Gosto muito do trabalho feito pelo grupo Dandara no Cerrado, pois são voluntárias em defesa das mulheres, através de palestras e de oficinas. Vimos que o projeto do grupo era
uma oportunidade ímpar para Niquelândia e resolvemos dar o nosso apoio. A Lei Maria da Penha é um tema que precisa ser mais bem discutido, para que as mulheres estejam cientes de seus direitos e façam uso deles. Na área de Serviço Social, nós deparamos muito com agressões, principalmente psicológica. Muitos dos cursos que oferecemos são para mulheres agredidas que nos procuram, querendo eliminar a dependência delas em relação aos seus maridos ou ex-maridos. Por isso, estamos trabalhando na criação da Superintendência da Mulher em Niquelândia, com um trabalho também voltado para a área de igualdade racial, comentou a primeira-dama e secretária de Assistência Social e Cidadania, Gracilene Batista. O delegado-titular do DP de Niquelândia, Gerson José de Souza, também participou do encontro. HISTÓRICO O batismo da Lei é uma homenagem a uma militante dos direitos das mulheres, a farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes. Ela lutou 20 anos para ver o ex-marido Marco Antonio Herredia condenado. Por duas vezes, em 1983, ela foi vítima de tentativas de homicídio. O primeiro com arma de fogo atingiu a medula e a deixou paraplégica. Depois, sofreu choques e tentativas de afogamento. O fato foi parar na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que responsabilizou o Brasil por negligência e omissão em relação
à violência doméstica. Somente em 2003, o ex-marido de Penha foi preso, tendo ficado apenas dois anos na cadeia.