OCORRÊNCIA DE TARPON ATLANTICUS (VALENCIENNES, 1846) (PISCES: MEGALOPIDAE) NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS (ESTADO DA BAHIA,BRASIL)



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Transcrição:

69 OCORRÊNCIA DE TARPON ATLANTICUS (VALENCIENNES, 1846) (PISCES: MEGALOPIDAE) NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS (ESTADO DA BAHIA,BRASIL) Paulo Roberto Duarte Lopes * Marconi Porto Sena ** RESUM0 É registrada,pela primeira vez, a presença de Tarpon atlanticus (Valenciennes, 1846), no interior da Baía de Todos os Santos (Estado da Bahia, Brasil). Foram analisados 5 exemplares, medindo entre 210,95 e 226,00mm de comprimento total, coletados próximo à desembocadura do Rio Dorneles (Praia de Araripe de Baixo), Município de Saubara (13º S - 39º W). São apresentados, além de uma diagnose, dados merísticos e morfométricos dos exemplares examinados, que se encontram depositados na coleção do Laboratório de Ictiologia da Universidade Estadual de Feira de Santana. ABSTRACT The presence of Tarpon atlanticus (Valenciennes, 1846) is recorded for the first time inside the Todos os Santos Bay (State of Bahia, Brazil). Five specimens were analized, measuring between 210,95 and 226,00mm in total length, collected near the mouth of Dorneles River (Araripe de Baixo Beach), Saubara Municipality (13ºS - 39ºW). Morphometric and meristic data, as well as a diagnosis, are presented for the examined specimens, which are housed in the collection of the Laboratório de Ictiologia, Universidade Estadual de Feira de Santana. 1 INTRODUÇÃO Tarpon atlanticus (Valenciennes, 1846), conhecido no Brasil como camurupim e pertencente à família Megalopidae, distribui-se pelo Pacífico oriental e em ambos os lados do Atlântico tropical e subtropical, sendo que, na região ocidental deste, é encontrado desde a Nova Escócia, onde é tido como raro, até o norte da Argentina (BOHLKE & CHAPLIN, 1993; FIGUEIREDO & MENEZES, * Prof. Auxiliar do Dep. de Ciências Biológicas. ** Funcionário do Laboratório de Ictiologia, Dep. de Ciências Biológicas Licenciado em Ciências Biológicas pela UEFS.

70 1978; RANDALL, 1983; Whitehead & Vergara R. in FISCHER, 1978). No Brasil, T. atlanticus é considerado por FIGUEIREDO e MENEZES (op.cit.) relativamente comum, no Nordeste e, muito abundante, entre o sul da Flórida e o Nordeste brasileiro, por Whitehead e Vergara R. in FISCHER (op.cit.), porém pouco se conhece sobre esta espécie ao longo da costa brasileira. Os trabalhos realizados tratam de estudos biométricos de jovens (PAIVA e MENEZES, 1963), da biologia (MENEZES & PAIVA, 1966), da relação comprimento-peso (MENEZES, 1967), da relação comprimento-peso de jovens (MENEZES, 1968) e da alimentação (MENEZES, 1968), limitados ao litoral do Estado do Ceará (Região Nordeste), onde T. atlanticus tem importância econômica. A Baía de Todos os Santos, o maior acidente geográfico desta natureza, no Brasil, com cerca de 800km², e que se encontra sob o impacto gerado pelo desenvolvimento crescente e acelerado das atividades humanas realizadas em suas margens e áreas vizinhas, tem sua ictiofauna pouco conhecida e estudos se fazem necessários para determinar sua composição específica, permitindo, posteriormente, a análise da biologia de suas espécies na busca de uma exploração racional desses recursos, de modo a garantir sua preservação e, ao mesmo tempo, a sobrevivência das populações humanas, que dependem da pesca na Baía de Todos os Santos. 2 MATERIAL E MÉTODOS Serviram de base para este estudo 5 exemplares de T. atlanticus, capturados juntos, em 28 de setembro de 1995, durante a baixa-mar em um estreito trecho do Rio Dorneles, próximo de sua desembocadura, em uma área de manguezal, na Praia de Araripe de Baixo (também conhecida localmente como Praia de Monte Cristo), Município de Saubara, no interior da Baía de Todos os Santos, Estado da Bahia (figura 1). O apetrecho de pesca utilizado foi uma rede de arrasto manual e, logo após a captura, os peixes foram fixados em formol a 10% e, depois de um período de cerca de 48 horas, transferidos para álcool a 70%, sendo depositados na coleção do Laboratório de Ictiologia (Departamento de Ciências Biológicas) da Universidade Estadual de Feira de Santana (sigla: LIUFS) e registrados sob o número 1180. As medidas incluídas neste estudo foram obtidas com auxílio de um paquímetro, com precisão de 0,05mm (sendo também expressas em milímetros) e baseiam-se, principalmente, em PAIVA e MENEZES (1963). Os dados merísticos constam na tabela I, en-

71 quanto que os dados morfométricos constam na tabela II. Fig.1 Mapa da região assinalando o local da coleta (x).

72 Fig.2 Tarpon atlanticus, LIUFS 1180 (5: 210,95-226,00 mm) Rio Dorneles, Praia de Araripe de Baixo, Saubara (Estado da Bahia)

73 3 RESULTADOS Material examinado: LIUFS 1180 Rio Dorneles (Praia de Araripe de Baixo), Saubara, Baía de Todos os Santos, Estado da Bahia (5: 210,95 226,00mm) (fig.2). Descrição: Corpo alongado, recoberto por escamas bem desenvolvidas e menores junto à base da nadadeira caudal, altura moderada; cabeça e olhos bem desenvolvidos; boca ampla, em posição superior e com dentes pequenos em ambas as maxilas; maxila inferior mais saliente que a maxila superior; extremidade posterior da maxila superior estendendo-se além da margem posterior do olho por uma curta distância; narinas em posição anterior aos olhos, margem do pré- -opérculo e do opérculo membranosas e destituídas de espinhos; pseudobrânquia ausente; rastros branquiais no primeiro arco branquial bem desenvolvidos, longos, finos e muito próximos entre si, maiores no ramo inferior do que no ramo superior do primeiro arco branquial e diminuindo gradativamente de tamanho nos demais arcos branquiais; nadadeiras constituídas somente por raios; nadadeiras peitorais em posição baixa no corpo; nadadeira dorsal única, situada aproximadamente no meio do corpo e com seu último raio prolongado em filamento; nadadeiras pélvicas em posição abdominal, sua origem localizada em posição anterior a uma linha vertical que passa pela origem da nadadeira dorsal; origem da nadadeira anal localizada em uma linha vertical que passa atrás da nadadeira dorsal; nadadeira caudal furcada; linha lateral presente, bem desenvolvida, aproximadamente reta e passando pelo meio do corpo. Colorido (em álcool a 70%): Dorsalmente de cor escura, tornando-se gradativamente mais claro em direção à região ventral do corpo; nadadeiras peitorais e pélvicas de cor clara; nadadeiras dorsal e caudal com coloração geral escura; nadadeira anal com pigmentos escuros esparsos em seus extremos e nas bases dos raios anteriores.

74 TABELA I: Dados merísticos de Tarpon atlanticus coletados no Rio Dorneles, Praia de Araripe de Baixo, Saubara Bahia NADADEIRAS ESCAMAS DA N. PEITORAL DORSAL PÉLVICA ANAL L.LATERAL 1 14/14 13 9/9 21 42 2 14/14 13 9/9 21 43 3 14/14 13 9/9 20 44 4 14/14 13 9/9 21 44 5 14/14 13 9/9 20 45 TABELA II: Dados morfométricos de Tarpon atlanticus coletados no Rio Dorneles, Praia de Araripe de Baixo, Saubara Bahia N. CF DO CC CPD AC APC CP CZ CT 1 11,80 10,30 43,95 84,40 39,60 14,05 155,10 183,30 210,95 2 12,75 10,05 44,20 83,65 39,15 15,50 155,70 183,55 211,80 3 13,15 10,05 47,85 88,70 44,65 17,05 156,20 193,20 226,00 4 12,10 09,20 43,65 88,55 39,15 14,55 148,95 178,90 207,90 5 14,15 10,65 48,00 88,40 42,35 15,25 150,75 184,00 223,70 LEGENDA N. = Número do exemplar CF = Comprimento do focinho DO = Diâmetro orbital CC = Comprimento da cabeça CPD = Comprimento pré-dorsal AC = Altura do corpo APC = Altura do pedúnculo caudal CP = Comprimento padrão CZ = Comprimento zoológico CT = Comprimento total

75 4 DISCUSSÃO Segundo MENEZES e PAIVA (1966), a biologia de T. atlanticus não é bem conhecida, apesar da extensa bibliografia existente sobre essa espécie, devido à extrema dificuldade em se obter informações biológicas acuradas; isso resulta no fato de que T. atlanticus, apesar de sua ampla distribuição geográfica, seja geralmente considerado como um peixe para pesca esportiva e raramente constitua objeto de pesca comercial. Whitehead e Vergara R. in FISCHER (1978) assinalam Megalops atlantica como outro nome científico ainda em uso para T. atlanticus e que os jovens desta espécie freqüentemente ocorrem em poças estagnadas temporariamente desconectadas do mar; os caracteres distintivos de T. atlanticus, citados por esses autores, conferem nos exemplares aqui examinados. Com base em FIGUEIREDO e MENEZES (1978), as observações quanto ao número de raios na nadadeira dorsal (13 a 16) e ao número de escamas sobre a linha lateral (41 a 48) coincidem com o material estudado, porém diferem quanto ao número de raios na nadadeira anal (22 a 25), enquanto nos exemplares aqui citados este número variou entre 20 e 21. RANDALL (1983) denomina essa espécie de Megalops atlanticus, incluindo-a na família Elopidae e assinala que suas nadadeiras pélvicas apresentam 10 raios (9 nos exemplares estudados); as demais características citadas coincidem com o material procedente da Baía de Todos os Santos (13 a 16 raios na nadadeira dorsal, 41 a 48 escamas sobre a linha lateral e altura do corpo cerca de 4 vezes no comprimento padrão). NELSON (1984) cita, entre outras, como características que permitem o reconhecimento de Megalops atlanticus a inserção da nadadeira pélvica adiante da origem da nadadeira dorsal, a presença de 13 a 16 raios na nadadeira dorsal e de 41a 48 escamas sobre a linha lateral, o que concorda com os exemplares examinados. Segundo ROBINS, RAY e DOUGLASS (1986), os jovens (não leptocéfalos) de Megalops atlanticus são comuns em rios e canais de água doce. Bohlke e Smith-Vaniz in BOHLKE e CHAPLIN (1993) também preferem denominá-la Megalops atlanticus e pertencendo à família Elopidae; BOHLKE e CHAPLIN (1993) assinalam que especialmente os jovens são encontrados em locais que são variadamente descritos como estagnados, de odor repugnante ou de água de cor escura, muitos desses conectados com o mar somente na maré alta. Buckup (comun. pessoal), Figueiredo (comun. pessoal) e Rosa (comun. pessoal) informaram que, respectivamente, nas coleções de peixes do Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de

76 Janeiro), Museu de Zoologia (Universidade de São Paulo) e Departamento de Sistemática e Ecologia (Universidade Federal da Paraíba) não existem depositados exemplares de T. atlanticus procedentes da Baía de Todos os Santos. Segundo Almeida (comun. pessoal), também não existe material de T. atlanticus procedente da Baía de Todos os Santos depositado na coleção do Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal da Bahia, mas que essa espécie é comercializada em Conde (litoral norte do Estado da Bahia) e capturada por mergulhadores em frente ao Costa Azul (cidade de Salvador, Bahia), fora da área da Baía de Todos os Santos. Portanto, a captura desses 5 exemplares jovens de T. atlanticus é de interesse, pelo fato de o Laboratório de Ictiologia da Universidade Federal da Bahia já dispor de abundante material procedente da Baía de Todos os Santos e de continuar, ainda hoje, a realizar coletas na região, mas sem ter nunca capturado T. atlanticus. AGRADECIMENTOS Ao Dr. José L. de Figueiredo (Museu de Zoologia Universidade de São Paulo), Dr. Paulo A. Buckup (Museu Nacional Universidade Federal do Rio de Janeiro), Dr. Ricardo S. Rosa (Departamento de Sistemática e Ecologia Universidade Federal da Paraíba) e Profa. Virgínia G. Almeida (Laboratório de Ictiologia Universidade Federal da Bahia), pelas informações prestadas. Ao Prof. Mauro J. Cavalcanti (Departamento de Biologia Geral Universidade Santa Úrsula, Rio de Janeiro) pela correção da tradução do resumo para a língua inglesa. Ao Sr. Genivaldo Lima (Universidade Estadual de Feira de Santana), pelo serviço fotográfico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BÖHLKE, Eugenia B., SMITH-VANIZ, William F. Nomenclatural changes and additions, p.xi-xxvi. In: BOHLKE, James E., CHAPLIN, Charles C. G. Fishes of the Bahamas and adjacent tropical waters. Austin: University of Texas Press, 1993. xlviii + 771p. BÖHLKE, James E., CHAPLIN, Charles C. G. Fishes of the Bahamas and adjacent tropical waters. Austin: University of Texas Press, 1968. xlviii + 771p. FIGUEIREDO, Josë Lima de, MENEZES, Naércio Aquino de. Manual de peixes marinhos do sudeste do Brasil. II. Teleostei (1). São Paulo: Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, 1978. 110 p.

77 MENEZES, Mariana Ferreira de, PAIVA, Melquíades Pinto. Notes on the biology of tarpon, Tarpon atlanticus (Cuvier & Valenciennes), from coastal waters of Ceará State, Brazil. Arq. Est. Biol. Mar. Univ. Fed. Ceará, Fortaleza, v.6, n.1, p.83-96, 1966. MENEZES, Mariana Ferreira de. Relação comprimento-pêso do camurupim, Tarpon atlanticus (Valenciennes), no nordeste brasileiro. Arq. Est. Biol. Mar. Univ. Fed. Ceará, Fortaleza, v.7, n.1, p.101-102, 1967. MENEZES, Mariana Ferreira de. Relação comprimento-pêso de jovens do camurupim, Tarpon atlanticus (Valenciennes), no nordeste brasileiro. Arq. Est. Biol. Mar. Univ. Fed. Ceará, Fortaleza, v.8, n.1, p.108-109, 1968a. MENEZES, Mariana Ferreira de. Sôbre a alimentação do camurupim, Tarpon atlanticus (Valenciennes), no Estado do Ceará. Arq. Est. Biol. Mar. Univ. Fed. Ceará, Fortaleza, v.8, n.2, p.145-149, 1968b. NELSON, Joseph S. Fishes of the world. New York: John Wiley & Sons, 1984. xv + 523p. PAIVA, Melquíades Pinto, MENEZES, Mariana Ferreira de. Estudo biométrico de alevinos do camurupim, Megalops atlanticus Val., 1846. Arq. Est. Biol. Mar. Univ. Ceará, Fortaleza, v.3, n.2, p.57-64, 1963. RANDALL, John E. Caribbean reef fishes. Neptune City: T. F. H. Publications, 1983. 350p. ROBINS, C. Richard, RAY, G. Carleton, DOUGLASS, John. A field guide to Atlantic coast fishes of North America. The Peterson Field Guide Series n.32. Boston: Houghton Mifflin Company, 1986. xi + 354p. VANZOLINI, P. E., PAPAVERO, N. Indice dos topônimos contidos na carta do Brasil do IBGE 1: 100000. São Paulo: Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, 1968, 201p. WHITEHEAD, P. J. P., VERGARA R., R. Megalopidae. In: FISCHER, W. (ed.). FAO species identification sheets for fishery purposes. Western Central Atlantic (fishing area 31). 7 vols. Rome: Food and Agriculture Organization of the United Nations, 1978.