PRODUÇÃO DE AREIA ARTIFICIAL EM USINA PILOTO NA PEDRA SUL MINERAÇÃO



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Centro de Tecnologia Mineral Ministério da Ciência e Tecnologia Coordenação de Inovação Tecnológica CTEC Serviço de Processamento Mineral - SEPM PRODUÇÃO DE AREIA ARTIFICIAL EM USINA PILOTO NA PEDRA SUL MINERAÇÃO Salvador Luiz Matos de Almeida Engº. Metalúrgico, D. Sc. Thiago Aguiar David Emerson Reikdal da Cunha Luiz Marcelo M. Tavares Rio de Janeiro Junho / 2004 CT2004-021-00 Comunicação Técnica elaborada para o XX Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa. 15 a 18 de Junho de 2004 Florianópolis SC. Págs 105-112, Volume 1.

PRODUÇÃO DE AREIA ARTIFICIAL EM USINA PILOTO NA PEDRA SUL MINERAÇÃO David, T.A. 1, Almeida, S.L.M. 1, Cunha, E.R. 2, Tavares, L.M.M. 2 1 CETEM Centro de Tecnologia Mineral, Avenida Ipê, 900 - Cidade Universitária, CEP 21941-590, Rio de Janeiro RJ. salmeida@cetem.gov.br 2 Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais COPPE/UFRJ Cidade Universitária, Centro de Tecnologia, Bloco F, Sala 210 CEP 21945-970, Rio de Janeiro RJ. emerson@metalmat.ufrj.br, tavares@metalmat.ufrj.br A areia é empregada em razão 2:1 em relação à pedra britada, o que resulta em enorme demanda por esse material na construção civil. Somente em 2000, foram consumidos 141 milhões de m 3 de areia natural no Brasil. Em algumas localidades no país em particular nos maiores centros urbanos, onde a exploração de areias de rios e várzeas encontra crescentes restrições a areia natural não é facilmente disponível, sendo suprida por municípios que distam até 100 km desses. Isso tem resultado em elevações significativas do preço desses agregados nessas localidades, tendo em vista o relativamente baixo valor desse agregado e o elevado custo de transporte. Nesse caso, a produção de areia a partir de pedra britada se torna uma alternativa atraente, tendo em vista a abundância desse material a pequenas distâncias dos grandes centros. O presente trabalho descreve experimentos realizados com o objetivo avaliar a viabilidade técnica da produção de areia artificial por via seca, a partir material com tamanho 12,5 mm e 12,5 x 4,8 mm. Os experimentos foram realizados em uma usina piloto, localizada no município de Matias Barbosa (MG). O trabalho demonstrou que é viável tecnicamente a produção de areia que atende as especificações da NBR 7211 e que apresenta morfologia de partícula e comportamento reológico em argamassas comparáveis àqueles obtidos na areia natural com o uso de britador de impacto de eixo vertical e da classificação pneumática. Palavras-chave: britagem, areia artificial Área temática: cominuição

INTRODUÇÃO A construção civil é o segmento responsável pelo maior consumo de matérias-primas minerais. Somente no ano de 2002, esse segmento foi responsável pelo consumo de 156,4 milhões de m 3 de agregados naturais no Brasil, dos quais 229,6 milhões de m 3 corresponderam ao consumo de areia (DNPM, 2003). A elevada demanda por areia (utilizada aproximadamente em razão 2:1 em relação ao agregado graúdo em concreto), associada às crescentes restrições à sua exploração nos grandes centros urbanos (decorrentes da urbanização crescente e restrições ambientais à utilização de várzeas e leitos de rios para extração de areia), tem resultado no distanciamento de lavras de produção de areia dos grandes centros brasileiros de consumo. Por exemplo, estima-se que em torno de 90% da areia consumida na Região Metropolitana de São Paulo, seja proveniente de outros municípios, sendo suprida por areais localizados a distâncias de até 100 km da capital (Valverde, 2003). As maiores distâncias de transporte e o maior custo final do produto em grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, têm criado importantes desafios e oportunidades para a indústria de agregado no Brasil no sentido de buscar materiais alternativos à areia natural. Materiais candidatos a substituir a areia natural devem, no mínimo, atender as mesmas especificações com relação à distribuição de tamanhos, forma, textura, resistência, dureza, módulo de elasticidade, absorção de água e presença de contaminantes, entre outros (Mehta e Monteiro, 1994). Um material que pode atender essas especificações é a areia produzida a partir de processos de cominuição de rocha sã, também chamada de areia de brita ou areia artificial. Enquanto algumas dessas características estão unicamente associadas à composição da rocha de origem (como a dureza, absorção de água, presença de contaminantes, por exemplo), algumas outras podem ser controladas durante o processo produtivo. Esses são os casos da distribuição de tamanhos, forma, textura e, em menor magnitude, a resistência e o módulo de elasticidade. Isso faz com que a escolha adequada do processo de britagem/classificação determine o sucesso da geração de um produto que atenda as especificações necessárias. A produção de areia artificial como um substituto à areia natural já é uma realidade nos maiores centros urbanos brasileiros. Estima-se que aproximadamente 9% da areia consumida no Estado de São Paulo é artificial (Valverde, 2003). Alternativamente, estima-se que entrará em operação, pelo menos uma usina de produção de areia artificial por ano na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (Mello e Calaes, 2003). As mais diversas tecnologias de britagem e classificação têm sido utilizadas na produção de areia artificial. Com o intuito de fornecer subsídios à indústria de agregado no sentido de melhor adequar a tecnologia de produção de areia artificial às condições locais (como disponibilidade de água, tipo de rocha, etc) um projeto de pesquisa em cooperação entre o CETEM e a COPPE/UFRJ foi iniciado e encontra-se em andamento. O objetivo do presente estudo é demonstrar a viabilidade técnica da produção de areia artificial por via seca por meio de ensaios de britagem em usina piloto na Pedrasul Mineração S.A. EXPERIMENTAL Descrição da usina piloto A rocha utilizada nos ensaios é um charnokito (tipo de granito), proveniente da Pedrasul Mineração S.A. (Matias Barbosa, MG). Duas faixas de tamanhos foram alimentadas ao circuito de britagem: entre 12,5 e 4,8 mm

(brita 0) e entre 0 e 12,5 mm, sendo que esse último corresponde à mistura de brita 0 e pó-de-pedra. Os ensaios de britagem foram realizados em um circuito constituído por um silo (com capacidade de, aproximadamente, 2 m 3 ), alimentador de gaveta, britador de eixo vertical VSI (BARMAC, modelo 3000) com regulagem de abertura de fluxo por cascata, peneira vibratória com duplo deque e quatro transportadores de correia que operam a velocidades de 1,6 m/s. Um esquema do circuito é apresentado na Fig. 01. O britador apresenta rotor com diâmetro de 300 mm, sendo acionado por um motor de 20 HP que opera a 4880 rpm (a qual é a mesma freqüência do rotor). A peneira, com largura de 0,72 m e comprimento de 2,22 m e inclinação de 29 o, apresenta telas com aberturas de 6 e 3 mm e diâmetros dos fios (de aço) de, respectivamente, 4 e 3 mm. Nesse circuito fechado de britagem, o material retido nas telas com aberturas de 6 mm (alívio) e 3 mm é realimentado ao britador, junto à alimentação nova. Figura 01 - Diagrama esquemático do circuito de britagem em escala piloto O material passante no deque é depositado em uma pilha para posterior classificação a seco. Essa é realizada em um classificador Sturtevant, cujo rotor (que possui diâmetro de 253 mm) é equipado com 12 elementos de rejeição (palhetas) e opera a uma freqüência de 250 rpm. A sua alimentação é realizada com o auxílio de um alimentador vibratório. Os produtos do classificador são o filler (produto fino) e a areia artificial (produto grosso). Ensaios de britagem Um total de dezenove ensaios de britagem foram realizados, variando-se o tipo de alimentação (12,5 x 4,8 mm ou 12,5 mm), a abertura do regulador de fluxo (40 ou 80 mm) e a taxa de alimentação nova do circuito (de 0,4 a 5 t/h). Em cada um dos ensaios foram colhidas amostras cronometradas da alimentação nova, do produto do britador, da carga circulante e do produto final. A fim de minimizar flutuações dos resultados, amostras foram retiradas em triplicata. Após serem adequadamente acondicionadas, as amostras foram homogeneizadas para que

fossem retiradas, por quarteamento, as alíquotas necessárias para as análises granulométricas. Essas análises foram realizadas por peneiramento (a úmido/seco) em um peneirador Ro-Tap com uma série de peneiras de 12,5 até 0,037 mm, seguindo uma progressão geométrica com razão igual a 2. Dificuldades foram encontradas com relação ao controle da taxa de alimentação nova do circuito, devido à dificuldade de operação do alimentador de gaveta, que resultaram em significativas flutuações. Ensaios de classificação a seco Tendo em vista a elevada proporção de partículas menores que 0,075 mm no produto fino da peneira (Fig. 01) e com o objetivo de gerar um produto que atenda as especificações atuais da NBR 7211, ensaios de classificação a seco foram realizados. Considerando o grande número de ensaios de britagem realizados, foi escolhido com base no critério de trabalhabilidade aquele produto do ensaio de britagem na usina piloto com melhor desempenho. Ensaios de classificação foram realizados a diferentes taxas de alimentação de sólidos (43 a 202 kg/h), com as palhetas posicionadas a 30 o em relação à direção radial. A umidade da alimentação foi mantida abaixo de 0,1%. Análises de forma e trabalhabilidade das areias produzidas Uma das principais limitações ao emprego de finos de brita como um substituto da areia como agregado miúdo na construção civil está associada à forma irregular das partículas e à baixa trabalhabilidade e pobre reologia que conferem às suas argamassas e concretos no estado fresco. A fim de qualificar as areias produzidas, as suas características são comparadas tanto a finos produzidos no próprio circuito de britagem industrial da Pedrasul (que emprega britadores giratórios e cônicos Neves e Tavares, 2003), quanto a areias naturais. Tendo em vista o tamanho de partículas de interesse (3 x 0,075 mm), as análises de forma foram realizadas a partir de imagens bidimensionais obtidas em microscópio estereoscópico (lupa), seguido de análise de imagens em computador. Imagens de, no mínimo, 150 partículas contidas em intervalos estreitos de tamanhos foram coletadas, segmentadas e analisadas com relação ao perímetro, área, comprimento máximo e mínimo, com o auxílio do software SKIMPY. A partir desses, foram calculados os seguintes parâmetros indicativos de forma: 4 π Área Esfericidade = e 2 Perímetro Razão de aspecto = Largura Comprimento A esfericidade indica o quanto a partícula é semelhante à esfera e a razão de aspecto indica o quanto o comprimento e largura da partícula se aproximam. Em ambos os casos, os valores para uma partícula esférica são unitários. A avaliação da trabalhabilidade das argamassas produzidas a partir de diferentes tipos de areias foi realizada a partir do ensaio na mesa de consistência, conforme a NBR 7215. O ensaio consiste em preparar a massa com traço fixo (relação água/cimento/areia constante) para todos os ensaios então a massa é envasada em um troco piramidal oco sobre uma mesa circular e essa sofre golpes constantes por 30 segundos, de maneira a tornar possível a verificação do comportamento reológico da areia na argamassa através da medida do espalhamento do material sobre a mesa. Nos ensaios foi usada uma relação água/cimento de 0,5 e areia/cimento de 1,5.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Ensaios de britagem Uma síntese dos resultados dos ensaios de britagem em escala piloto é apresentada na Tabela 01. Na Fig. 02a são apresentadas as curvas de distribuição granulométrica da alimentação, produto do britador VSI, bem como dos produtos retido e passante na peneira para um ensaio com alimentação de 12,5 x 4,8 mm. Pode-se observar que a distribuição granulométrica do material retido na peneira é muito próxima àquela da alimentação nova do britador. Tabela 01. Comparação dos resultados dos ensaios de britagem com alimentação 12,5 x 4,8 mm e 12,5 mm Intervalo de tamanhos da alimentação 12,5 x 4,8 mm - 12,5 mm Abertura do regulador de fluxo 40 mm 80 mm 40 mm 80 mm Taxa de alimentação nova (t/h) Média 1,8 3,6 0,4 1,3 3,5 5,1 2,7 3,9 2,8 4,3 Desvio padrão 0,29 0,43 - - 0,05-0,12 0,19 0,13 0,19 Carga circulante (%) Média 66,0 135,5 59,5 69,0 51,4 53,5 36,0 113,5 66,0 50,0 Taxa de alim. Britador (t/h) Média 2,9 8,5 0,7 2,3 5,3 7,8 3,7 8,3 4,6 6,4 Produto VSI d50 (mm) 1,8 4,0 2,5 1,3 1,4 1,5 0,9 3,0 1,3 1,5 d80 (mm) 6,5 7,7 6,8 5,9 5,4 5,2 4,7 7,3 5,9 6,1 % -75 µm 11,9 7,0 8,8 9,9 13,1 13,1 17,8 10,9 17,8 19,8 Passante peneira d50 (mm) 0,49 0,56 0,50 0,52 0,47 0,53 0,25 0,35 0,27 0,28 d80 (mm) 1,55 1,83 1,55 1,57 1,55 1,66 1,32 1,66 1,55 1,47 % -75 µm 14,1 15,6 12,6 7,9 17,1 15,8 26,4 23,3 24,9 25,3 Razão de redução VSI d50/d50 4,7 2,7 3,1 6,0 5,5 5,6 9,6 3,6 7,3 5,6 d80/d80 1,6 1,8 1,4 1,6 1,8 2,0 1,9 1,8 1,7 1,5 Consumo energético específico (kwh/t) 9,5 3,3 7,4 8,5 3,2 2,2 Não disponível A abertura do regulador de fluxo exerce uma importante influência na britagem no VSI. O seu aumento resulta em britagem mais intensa, conforme é observado pelo aumento da razão de redução d50/d50 na Tabela 01. Existe, entretanto, uma forte interrelação entre a abertura do regulador de fluxo e a taxa de alimentação de sólidos no britador. Baixas taxas de alimentação, particularmente associadas a pequenas aberturas do regulador de fluxo, resultam em limitada britagem no VSI e alto consumo energético específico. Isso se deve à baixa proporção de impactos secundários dentro da câmara de britagem. Por outro lado, a operação com elevadas taxas de alimentação de sólidos, com maiores aberturas do regulador de fluxo ao rotor, resultou em altas razões de redução do VSI, moderadas cargas circulantes e baixos consumos energéticos específicos. Isso sugere que a operação a altas taxas de alimentação é favorável tanto sob o ponto de vista de capacidade de produção do circuito quanto de consumo de energia. É importante destacar, entretanto, que observou-se a sobrecarga do britador a taxas de alimentação de aproximadamente 8 t/h. Observou-se ainda um aumento da proporção de finos (-75 µm) no produto passante da peneira (-3 mm) com o aumento da taxa de alimentação. Inclusive, é possível avaliar a ampla variação da distribuição granulométrica do produto passante da peneira com a abertura do regulador de fluxo e da taxa de alimentação, além, evidentemente, da distribuição granulométrica da alimentação (Fig. 2b).

Passante Acumulado (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 Tamanho das partículas (mm) Passante Acumulado (%) 100 50 0 0,01 0,10 1,00 10,00 Tamanho das partículas (mm) Figura 02a. Comparação da análise granulométrica da alimentação nova, carga circulante, produto do britador e passante da peneira (respectivamente da direita para esquerda) Figura 02b. Comparação das análises granulométricas do passante da peneira (-3mm). Ensaios de classificação A influência de diversas variáveis operacionais é analisada em maior detalhe em um outro trabalho dos autores (Reikdal et al., 2004), sendo apenas analisados alguns resultados mais significativos a seguir. Inicialmente, observa-se que a taxa de alimentação do classificador Sturtevant exerce uma influência relativamente limitada na separação (Fig. 03). A quantidade de finos gerada se mantém relativamente constante para as três taxas de alimentação utilizadas, de maneira que é recomendada a operação às maiores taxas possíveis. A fim de avaliar a adequação do material à NBR 7211, são comparadas as distribuições granulométricas obtidas àquelas especificadas na norma. A Fig. 03 mostra que as curvas para a areia artificial classificada atendem à norma existente para a areia natural. Entretanto, pode-se observar uma tendência das curvas se aproximarem do limite máximo da norma, sendo que para a areia produzida no classificador à taxa de 43,1 kg/h, esse limite é ultrapassado. Passante acumulado (%) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 TA = 44 TA = 85 TA = 183 Máximo ABNT Mínimo ABNT Material Inicial 0 0.01 0.10 1.00 10.00 Abertura (mm) Figura 03 Passante acumulado referente ao ensaio com areia artificial primária e haletas em posição de 30 o comparado à NBR 7211 para areia natural

Formato das partículas e reologia de argamassas A Tabela 02 apresenta os valores de esfericidade e razão de aspecto das partículas produzidas na usina piloto, comparndo-os àqueles obtidos para uma areia natural padrão (IPT) e ao pó-de-pedra produzido na própria mineradora. Observa-se que a areia artificial apresentou tanto esfericidade quanto razão de aspecto maiores que o pó-de-pedra, produzido usando britadores cônicos e giratórios, porém menores que aqueles associados à areia natural. Esses resultados são consistentes com observações de espalhamento de argamassas no ensaio com a mesa de consistência padrão (Tabela 02), nos quais a areia artificial (classificada) apresenta valores de espalhamentos que se aproximam àqueles obtidos para a areia natural. É importante destacar, entretanto, que o produto alimentado ao classificador (-3 mm), que contém elevada proporção de finos, apresenta trabalhabilidade próxima àquela obtida para a areia artificial. Estudos em andamento de outras propriedades de concretos e argamassas (Gonçalves, 2003) têm demonstrado que tanto a resistência quanto a rigidez de concretos produzidos a partir de areia artificial são mais altos que aqueles obtidos a partir de areia natural. Nesse caso, observa-se um aumento ainda mais significativo dessas propriedades para o caso do produto passante da peneira (-3 mm). Esses resultados são consistentes com conclusões de um estudo realizado na University of Texas (EUA), no qual é demonstrada a vialidade da utilização de areia artificial produzida no britador VSI na produção de argamassas e concretos de alta resistência, sem que seja necessária a remoção dos finos (Nam-Shik Ahn, 2000). Isso se deve à capacidade dos finos de preencherem os vazioas deixados entre as partículas grossas da areia, o que confere maior resistência mecânica ao produto, sem que seja necessário um aumento significativo da adição de água. Tabela 02 Comparação das características morfológicas e reológicas das areias e argamassas. Tipo de material Módulo de finura % finos (-75 µm) Fator de forma (médio) Razão de aspecto (médio) Espalhamento (mm) Areia natural (IPT) (3,0 x 0,075 mm) 2,91 0,0 0,723 0,710 260 Pó-de-pedra (-4,8 mm) 2,57 17,7 0,664 0,652 220 Passante da peneira (-3,0mm) 2,45 14,5 0,706 0,678 240 Areia artificial classificada (3,0 x 0,075 mm) 3,40 1,59 0,706 0,685 245 a) Areia padrão (IPT). b) Areia artificial. c) Pó de pedra. Figura 04 - Imagens segmentadas da areia natural padrão, do pó-de-pedra e da areia artificial produzida.

CONCLUSÕES A abertura do regulador de fluxo do britador VSI exerce uma importante influência no processo. O aumento da abertura do regulador de fluxo (para o rotor) resulta em aumento da razão de redução. As influências da abertura do regulador de fluxo e da taxa de alimentação nova mostraram-se intimamente relacionadas. Em geral, observou-se que a melhor condição de operação sob o ponto de vista de capacidade do circuito e consumo de energia é a operação a altas taxas de alimentação, desde que abaixo daquela responsável pela sobrecarga do equipamento. A classificação pneumática no separador Sturtevant se mostrou capaz de remover adequadamente os finos (- 75µm) contidos no passante da peneira de 3 mm na usina piloto, sendo modestamente influenciada pela taxa de alimentação no intervalo de 43 a 202 kg/h. Os parametros de forma (esfericidade e razão de aspecto) da areia artificial mostraram-se um pouco menores que aqueles observados para uma areia natural padrão, enquanto o pó-de-pedra apresentou valores inferiores a ambos. Analogamente, a argamassa produzida a partir do pó-de-pedra também apresentou menor trabalhabilidade que aquela produzida a partir da areia artificial, mesmo com módulo de finura e teor de finos muito semelhantes. Isso mostra que o processo de produção de areia artificial no VSI é capaz de produzir um agregado com adequada equidimensionalidade e distribuição granulométrica para utilização em concreto e argamassa. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à FINEP pelo auxílio financeiro para a realização desse projeto, através do Fundo Setorial Mineral (CT-MINERAL) e ao CNPq pela concessão das bolsas aos vários pesquisadores envolvidos. Os autores também agradecem ao Prof. Romildo D. Toledo e ao Eng. Jardel Gonçalves (LABEST/COPPE/UFRJ), pelo auxílio no planejamento e execução dos ensaios de trabalhabilidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CUNHA, E.R., DAVID. T.A., ALMEIDA, S.L., TAVARES, L.M.M. (2004), Desempenho do classificador pneumático Sturtevant na classificação de areia artificial, XX Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa, Florianópolis (submetido). GONÇALVES, J.P. (2003), Desenvolvimento e caracterização de concretos de baixo impacto ambiental, Proposta de Tese de Doutorado, PEC/COPPE/UFRJ, 62 p. MEHTA, P.K., MONTEIRO, P.J.M., (1994) Concreto: estrutura, propriedades e materiais, São Paulo: Editora Pini. NAM-SHIK AHN (2000), An experimental study on the guidelines for using higher contents of aggregate micro fines in portland cement concrete, dissertation, The University of Texas at Austin. NAPIER-MUNN, T.J.; MORREL, S.; MORRISON, R.D.;KOJOVIC, T. (1996). Mineral Comminution Circuits: Their Operation and Optimization, vol. 2, the University of Queensland. NEVES, P.B., TAVARES, L.M.M, (2003), Racionalização do uso da energia na britagem com o auxílio da simulação computacional, 58º Congresso Anual da ABM, Rio de Janeiro, vol. 1, pp. 209-219. MELLO, E.F., CALAES, G.D. (2003), Estudo do parque produtor de brita da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Relatório Final de Projeto CT-Mineral/CNPq, Geologia, UFRJ.

VALVERDE, F.M. (2003), Sumário Mineral 2003. Agregados para construção civil, pp. 32-33. www.dnpm.gov.br. Acesso em novembro/2003.

Rio de Janeiro, 30 de junho de 2004. Salvador de Almeida Chefe Substituto do Serviço de Processamento Mineral - SEPM Adão Benvindo da Luz Chefe Substituto da Coordenação de Inovação Tecnológica - CTEC Fernando A. Freitas Lins Diretor em Exercício