Departamento de Química/UEPB. Fone: (83) 33153345. E-mail: jtdes@uol.com.br 3



Documentos relacionados
RECIRCULAÇÃO DE EFLUENTE AERÓBIO NITRIFICADO EM REATOR UASB VISANDO A REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA

REMOÇÃO DE NITROGÊNIO DE UM EFLUENTE ANAERÓBIO DE ORIGEM DOMÉSTICA POR MÉTODO DE IRRIGAÇÃO EM SULCOS RASOS

II FILTROS BIOLÓGICOS APLICADOS AO PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTES DE REATORES UASB

I EFICIÊNCIA NA REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA SOB A FORMA DE DBO E DQO TOTAL E SOLÚVEL NO SISTEMA TS-FAN

Mestrando em Engenharia do Meio Ambiente na EEC/UFG.

III-109 CO-DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

SISTEMA DE TRATAMENTO DE EFLUENTES DA INDÚSTRIA TEXTIL

Avaliação da Qualidade da Água do Rio Sergipe no Município de Laranjeiras, Sergipe- Brasil

Utilização da Fibra da Casca de Coco Verde como Suporte para Formação de Biofilme Visando o Tratamento de Efluentes

II DESEMPENHO DO REATOR UASB DA ETE LAGES APARECIDA DE GOIÂNIA EM SUA FASE INICIAL DE OPERAÇÃO

INATIVAÇÃO DE INDICADORES PATOGÊNICOS EM ÁGUAS CONTAMINADAS: USO DE SISTEMAS COMBINADOS DE TRATAMENTO E PRÉ-DESINFECÇÃO

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DO REAGENTE DE FENTON NO TRATAMENTO DO EFLUENTE DE LAVAGEM DE UMA RECICLADORA DE PLÁSTICOS PARA FINS DE REUSO

Lagoa aerada superficialmente: uma solução de baixo custo para o aumento de eficiência

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DA RECUPERAÇÃO DE UMA ÁREA DEGRADADA POR EFLUENTE INDUSTRIAL

AVALIAÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL DE AÇÃO ANTROPOGÊNICA SOBRE AS ÁGUAS DA CABECEIRA DO RIO SÃO FRANCISCO

Simone Cristina de Oliveira Núcleo Gestor de Araraquara DAAE CESCAR Coletivo Educador de São Carlos, Araraquara, Jaboticabal e Região HISTÓRICO

II IMPACTOS GERADOS EM UMA LAGOA FACULTATIVA PELO DERRAMAMENTO CLANDESTINO DE ÓLEOS E GRAXAS (ESTUDO DE CASO)

USO DA FOTÓLISE NA DESINFECCÃO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS

O EMPREGO DE WETLAND PARA O TRATAMENTO DE ESGOTOS DOMÉSTICOS BRUTO

Mostra de Projetos 2011

III-123 DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ATERROS DE RESÍDUOS SÓLIDOS A PARTIR DE ESTUDOS DE REFERÊNCIA

Introdução ao Tratamento de Esgoto. Prof. Dra Gersina Nobre da R.C.Junior

AVALIAÇÃO DO SISTEMA REATOR UASB E FILTRO BIOLÓGICO PERCOLADOR OPERANDO SOB DIFERENTES CONDIÇÕES HIDRÁULICAS

V ESTUDO TEMPORAL DA QUALIDADE DA ÁGUA DO RIO GUAMÁ. BELÉM-PA.

I TRATAMENTO DE EFLUENTES DE FÁBRICA DE PAPEL POR PROCESSOS FÍSICO-QUÍMICOS EMPREGANDO FLOTAÇÃO POR AR DISSOLVIDO E OZÔNIO

Aplicação de dejetos líquidos de suínos no sulco: maior rendimento de grãos e menor impacto ambiental. Comunicado Técnico

EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO DE EFLUENTE DE FECULARIA POR MEIO DE LAGOAS

AVALIAÇÃO FÍSICO-QUIMICA E MICROBIOLOGICA DA QUALIDADE DE ÁGUAS SUBTERRÂNEAS EM DIFERENTES LOCALIDADES NO ESTADO DA PARAÍBA

CINÉTICA DA DEGRADAÇÃO BIOLÓGICA EM LODOS ATIVADOS: CFSTR X SBR

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA DE PROPRIEDADES RURAIS COM SISTEMA DE PRODUÇÃO DE LEITE

Método Alternativo de Tratamento de Esgotos

I AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DOS MACRONUTRIENTES SÓDIO, POTÁSSIO, CÁLCIO E MAGNÉSIO EM DISPOSIÇÃO CONTROLADA EM SOLO

11 Sistemas de lodos ativados

EFICIÊNCIA DE TRATAMENTO DE ÁGUA CINZA PELO BIOÁGUA FAMILIAR 1

SOBRE OS SISTEMAS LACUSTRES LITORÂNEOS DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

IMPERMEABILIZAÇÃO DE LAGOAS PARA TRATAMENTO DO ESGOTO DE LAGOA DA PRATA COM GEOMEMBRANA DE PEAD NEOPLASTIC LAGOA DA PRATA - MG

ANÁLISE DO POTENCIAL DE REÚSO DE EFLUENTES DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ESGOTO NO ENFRENTAMENTO DA SECA NO INTERIOR DO CEARÁ

COMPORTAMENTO DOS ÍNDICES DO ESTADO TRÓFICO DE CARLSON (IET) E MODIFICADO (IET M ) NO RESERVATÓRIO DA UHE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES, TOCANTINS BRASIL.

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA REÚSO: LEGISLAÇÕES DA AUSTRÁLIA, DO BRASIL, DE ISRAEL E DO MÉXICO

ANÁLISE DA EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DE DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIOE FÓSFORO TOTAL PELO FILTRO BIOLÓGICO DE ESPONJA VEGETAL

AVALIAÇÃO SANITÁRIA DO LÍQUIDO PERCOLADO EM ÁREA IRRIGADA COM EFLUENTE ANAERÓBICO

SISTEMA DE CAPTAÇÃO, ARMAZENAMENTO, TRATAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA Francisco Pereira de Sousa

II IMPACTO DE CARGAS TÓXICAS DE DERIVADOS DE PETRÓLEO EM REATORES UASB OPERANDO COM FLUXO INTERMITENTE EM ESCALA PILOTO

RELATÓRIO ANUAL DE QUALIDADE DAS ÁGUAS DE ABASTECIMENTO

INFLUÊNCIA DA APLICAÇÃO DE VÁCUO NA DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS SALOBRAS E SALINAS POR MEIO DE DESTILAÇÃO TÉRMICA

I SISTEMA DE BONIFICAÇÃO PELO USO DA ÁGUA NO BAIRRO JESUS DE NAZARETH - UMA PROPOSTA PILOTO PARA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA.

AVALIAÇÃO DA REMOÇÃO DE COMPOSTOS ORGÂNICOS NATURAIS NA ÁGUA DO RESERVATÓRIO DA BARRAGEM DO RIBEIRÃO JOÃO LEITE

PALAVRAS-CHAVE: Desafios operacionais, reator UASB, Filtro Biológico Percolador, geração de odor.

II-030 DESEMPENHO DE PRODUTOS QUÍMICOS NO PROCESSO CEPT: TESTE DE JARRO E ESCALA PILOTO

POTENCIALIDADES DO LODO DE ESGOTO COMO SUBSTRATO PARA PRODUÇÃO DE MUDAS

IMPACTO DE UM LIXÃO DESATIVADO NA QUALIDADE DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS LOCAIS

VALIDAÇÃO DO MODELO DE ELETROCOAGULAÇÃO FLOTAÇÃO NO TRATAMENTO DE EFLUENTE TÊXTIL VISANDO À REMOÇÃO DE DQO, UTILIZANDO REATOR EM BATELADA.

COAGULANTE QUÍMICO SULFATO DE ALUMÍNIO PARA O TRATAMENTO DO EFLUENTE ORIGINADO DA LAVAGEM DE VEÍCULOS

ESTRATÉGIAS PARA ADAPTAÇÃO DE LODO AERÓBIO MESOFÍLICO PARA TERMOFÍLICO UTILIZANDO EFLUENTE DE CELULOSE BRANQUEADA KRAFT

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental. 14 a 19 de Setembro Joinville - Santa Catarina

Introdução ao Tratamento de Esgoto. Prof. Dra Gersina Nobre da R.C.Junior

DESENVOLVIMENTO DE UM APLICATIVO COMPUTACIONAL PARA O CONTROLE DO MANEJO DA IRRIGAÇÃO 1

PRODUÇÃO DE LODO EM UM REATOR ANAERÓBIO DE FLUXO ASCENDENTE E MANTA DE LODO. Oliva Barijan Francisco Paulo, Roberto Feijó de Figueiredo*

Kellison Lima Cavalcante 1 ; Magnus Dall Igna Deon 2 ; Hélida Karla Philippini da Silva 3 ; João Victor da Cunha Oliveira 4 INTRODUÇÃO

TRATAMENTO DE EFLUENTES LÍQUIDOS DE INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA ATRAVÉS DE REATOR UASB. Nascimento Rosilene Aparecida, Feijó De Figueiredo Roberto *

III DESAGUAMENTO DE LODO DE ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUAS ETAS POR LEITO DE DRENAGEM COM MANTAS GEOTÊXTEIS ESCALA REDUZIDA

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE ESTABILIDADE OPERACIONAL E REMOÇÃO DE MATÉRIA ORGÂNICA EM UM SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

Água e saúde pública. 1 Resumo. 2 Introdução. Érico Motter Braun

ESTUDO DO TEMPO DE DETENÇÃO HIDRÁULICO (TDH) EM REATORES UASB E SUA RELAÇÃO COM A EFICIÊNCIA DE REMOÇÃO DE DBO

RELATÓRIO ANUAL DO SISTEMA DE TRATAMENTO DE ESGOTOS

Aplicação de Nitrogênio em Cobertura no Feijoeiro Irrigado*

Otimização da eficiência de remoção de matéria orgânica no sistema de filtros anaeróbios

ENGENHARIA DE PROCESSOS EM PLANTAS DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL

IMPLANTAÇÃO DE ETE COMPACTA EM ARAGUARI-MG

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS CENTRO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA TECNOLOGIA EM SANEAMENTO AMBIENTAL. Filtros Biológicos

RELATÓRIO ANUAL DE QUALIDADE DA ÁGUA 2014

AVALIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DE REATOR UASB AO RECEBER LODO SÉPTICO

Saneamento Básico na Área Rural. Fontes dispersas com ênfase nos resíduos orgânicos

Qualidade sanitária e produção de alface irrigada com esgoto doméstico tratado 1

AVALIAÇÃO DO SISTEMA REATOR ANAERÓBIO COMPARTIMENTADO SEQUENCIAL E BACIA DE INFILTRAÇÃO RÁPIDA, NO TRATAMENTO DE ESGOTO SANITÁRIO

ESTUDO DE DISPOSITIVOS DE SEPARAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA COMO UNIDADES DE PRÉ-TRATAMENTO PARA EFLUENTE DE CURTUME

Eixo Temático ET Tratamento de Efluentes Sanitários e Industriais

Utilização de Lodo de Esgoto para Fins Agrícolas

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO USO DE CALES DE CONSTRUÇÃO E INDUSTRIAL EM SISTEMAS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES/ESTABILIZAÇÃO DE LODO

Inovação e Tecnologias Globais em Saneamento Concepção de ETEs nos Tempos Modernos

V AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA A MONTANTE E A JUSANTE DE RESERVATÓRIOS LOCALIZADOS NA BACIA DO RIO SANTA MARIA DA VITÓRIA

Avílio Antonio Franco

REMOÇÃO DE CARBONO ORGÂNICO E NITRIFICAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS DA INDUSTRIALIZAÇÃO DE ARROZ

REMOÇÃO DE NITROGÊNIO EM SISTEMAS BIOLÓGICOS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES

II-038 USO DE LAGOAS DE ESTABILIZAÇÃO PARA TRATAMENTO CONJUGADO DE PERCOLADO E ÁGUAS RESIDUÁRIAS DOMÉSTICAS

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL E AMBIENTAL DALILA DE SOUZA SANTOS

22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Uso de Materiais Recicláveis para Aquecimento de Piscinas

AVALIAÇÃO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO ANAERÓBIO DE DEJETOS SUÍNOS

Ciclo de vida de Aedes (Stegomyia) aegypti (Diptera, Culicidae) em águas com diferentes características

Missão do Grupo Cervantes. Missão da GCBRASIL Ambiental / Igiene

Eficiência de remoção de DBO dos principais processos de tratamento de esgotos adotados no Brasil

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE A PRECIPITAÇÃO REGISTRADA NOS PLUVIÔMETROS VILLE DE PARIS E MODELO DNAEE. Alice Silva de Castilho 1

XII-024 GERENCIAMENTO DE DADOS EM LABORATÓRIO POR PLANILHAS ELETRONICAS VISANDO A GESTÃO DE INFORMAÇÃO

PVIC/UEG, graduandos do Curso de Ciências Biológicas, UnU Iporá UEG. Orientador, docente do Curso de Ciências Biológicas, UnU Iporá UEG.

Desempenho de sistemas de irrigação na produção ecológica de rabanete utilizando água residuária tratada em ambiente protegido

AVALIAÇÃO DE LODO ANAERÓBIO DA ETE DE JOÃO PESSOA - PB COMO POTENCIAL INÓCULO PARA PARTIDA DE DIGESTORES ANAERÓBIOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS ORGÂNICOS

III RESÍDUOS SÓLIDOS DE UMA ESCOLA - QUANTIFICAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E SOLUÇÕES

PÓS-TRATAMENTO DE EFLUENTE DE REATOR UASB UTILIZANDO SISTEMAS WETLANDS CONSTRUÍDOS

Transcrição:

186 V. F. da Silva et al. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.9, (Suplemento), p.186-190, 2005 Campina Grande, PB, DEAg/UFCG - http://www.agriambi.com.br Trat atament amento anaeróbio de esgoto doméstico para fertirrigação Vanessa F. da Silva 1 ; José T. de Sousa 2 ; Fernando F. Vieira 2 & Keliana D. Santos 3 1 Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente PRODEMA UFPB/UEPB. R.: Narciso Costa Figueiredo, 166. Catolé, CEP 58105-165, Campina Grande, PB. Fone: (83) 33311162. E-mail: belaatiria@hotmail.com (Foto) 2 Departamento de Química/UEPB. Fone: (83) 33153345. E-mail: jtdes@uol.com.br 3 Mestranda PRODEMA UFPB/UEPB. Fone: (83) 33352172. E-mail: kelianads@yahoo.com.br Protocolo 134 Resumo esumo: Utilizar esgoto tratado para as atividades agrícolas é proporcionar economia de fertilizante e de água de boa qualidade; podendo ser uma alternativa para convivência com a sua escassez. Diversas tecnologias de tratamento de esgotos já foram desenvolvidas na busca de produzir efluente adequado para fertirrigação evitando a contaminação do ambiente com bactérias, parasitas e vírus que criam graves problemas de saúde pública, propagando doenças bacterianas e virulentas, afetando trabalhadores e consumidores das culturas irrigadas. A presente pesquisa objetivou tratar esgotos domésticos utilizando reator UASB seguido de filtro biológico, visando à obtenção de efluente adequado ao reúso. O efluente do filtro continha macro e micronutrientes suficientes para o crescimento da maioria das culturas cultivadas na região semi-árida; no entanto, apresentou concentração de coliformes termotolerantes acima das recomendações da OMS, embora isento de ovos de helmintos. Desta forma, o efluente do filtro anaeróbio só deverá ser utilizado para fertirrigação de culturas restritas. Pala alavr vras- chave: reciclagem de nutrientes, filtro biológico, reúso de água Anaerobic treatment of the domestic sewer er for fertirrigation Abstract: The utilization of treated sewage for agricultural purposes means saving of fertilizer and water of good quality, therefore, it may seen as an alternative in its scarcity. Several treatment processes have been developed to produce an effluent with a suitable quality for fertirrigation, while avoiding contamination of the environment with pathogens that may cause serious public health problems and may affect workers consumers of and agricultural product. This research had as its objective to treat sewage in a UASB reactor followed by an anaerobic filter with the aim of obtaining an adequate effluent for agricultural reuse. The filter effluent contained sufficient macro and micro nutrients to grow most crops under the local conditions of the semi arid region. However the concentration of thermo tolerant Coliforms was above the recommend maximum by the WHO, while no helminth eggs were observed in the effluent. Hence the effluent could only be used for restricted irrigation. Key wor ords: nutrient recycling, anaerobic filter, water reuse INTRODUÇÃO A utilização de esgotos tratados na agricultura apresenta diversas vantagens; além de dar uma destinação final aos dejetos líquidos, impede que os mesmos sejam lançados no meio ambiente evitando, desta forma, a contaminação e poluição dos mananciais das águas de superfície e do solo, e portanto, a disseminação de doenças (Shuval et al, 1997). A Organização Mundial da Saúde assegura que o tratamento primário de esgotos domésticos já é suficiente para torná-los adequados à irrigação de culturas de consumo indireto. No entanto, recomendam-se tratamentos secundário e terciário quando estas águas forem utilizadas na irrigação das culturas para consumo direto (Metcalf & Eddy, 2003). Tratar esgotos utilizando reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) é uma opção positiva, sobretudo, para regiões de clima quente como no caso do Nordeste brasileiro (van Haandel & Lettinga, 1994). O efluente, produzido por este sistema apresenta grande quantidade de nutrientes, no entanto, não deve ser utilizado na agricultura, pois exige cuidados com relação

Tratamento anaeróbio de esgoto doméstico para fertirrigação 187 a patógenos e parasitas que podem contaminar os trabalhadores rurais e consumidores dos produtos. Logo, o efluente do UASB exige um pós-tratamento para produzir esgotos tratados com características de qualidade sanitária, recomendada pela WHO (1989) para irrigação irrestrita ( 1000 UFC por 100 ml e 1 ovo de helminto por litro) (Cavalcanti et al., 2000). Com este fim, foi utilizado um filtro anaeróbio compartimentado preenchido com material descartável (PET) como suporte para aderência de biofilme. Este biofilme, uma película de matéria orgânica com microrganismos agregados ao material suporte, é responsável pelo tratamento dos esgotos, promovendo a digestão da matéria orgânica. Quando os esgotos passam através dos interstícios do meio suporte, a matéria orgânica tende a se aderir devido às forças de Van der Waals; os microrganismos, encontrando um meio e disposição de alimento se fixam, proliferando-se, causando o crescimento do biofilme e, consequentemente, maior consumo de matéria orgânica (Iwai & Kitao, 1994). O sistema proposto busca contribuir com o tratamento dos esgotos sanitários, promovendo a digestão anaeróbia da matéria orgânica, resultando na redução dos parâmetros de DBO, DQO e sólidos suspensos, além da diminuição das quantidades de coliformes termotolerantes e manutenção dos nutrientes (principalmente N e P) produzido um efluente com padrões de qualidade para reúso na agricultura. MATERIAL E MÉTODOS Localização O sistema experimental em escala piloto foi instalado e monitorado em uma área pertencente à Companhia de Água e Esgoto da Paraíba (CAGEPA), localizado no bairro do Tambor, no município de Campina Grande, PB (latitude sul 7 13, longitude oeste 35 52, e 550 m de altitude). O sistema foi constituído de um reator UASB construído de fibra de vidro com capacidade de 5 m³ e um Filtro Anaeróbio de Chicanas (FAC), do mesmo material com duas divisórias de chicanas e capacidade aproximada de 1 m³, conforme o esquema apresentado na Figura 1. Características operacionais O reator UASB já se encontrava em funcionamento há 3 anos, com vazão de 20 m³ d -1, promovendo um Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) médio de 0,25 dia e 2,52 kg DQO m -3 d -1 1 - Tanque de equalização 2 - Reator UASB 3 - Tanque de alimentação 4 - Bomba 5 - FAC Figura 1. Esquema do sistema de tratamento utilizado no experimento de carga orgânica específica. O FAC continha material suporte constituído por garrafas de polietileno tereftalato (PET), material este utilizado pelo baixo custo, por se apresentar inerte química e biologicamente, ser leve e produzir um elevado volume de vazios (96%). Mantendo a carga superficial específica de 0,169 g DQO m -2 d -1. Alimentação do sistema UASB FAC O sistema tratava uma parcela do esgoto sanitário proveniente da rede coletora oriunda da zona urbana de Campina Grande, PB. O esgoto bruto passava, inicialmente, por um pré-tratamento, composto de um gradeamento e uma caixa de areia; em seguida, era bombeado ao tanque de equalização de onde alimentava, por gravidade, o reator UASB. O efluente era encaminhado diariamente, também por gravidade, a um tanque de alimentação, e então introduzido ao FAC através de uma bomba de pulso, com a variação da vazão média, de acordo com cada fase de operação. Monitoramento do sistema UASB FAC O experimento foi monitorado durante o período de onze meses, de agosto de 2004 a junho de 2005, tendo sido dividido em 3 fases, como descrito na Tabela 1, com o objetivo de averiguar melhor a influência do TDH na eficiência do FAC. Tabela 1. As três fases que compreenderam o experimento Etapas Período TDH médio (dia) Vazão (L h -1 ) 1º fase Ago a Nov de 2004 7 5,4 2º fase Dez de 2004 a Fev de 2005 9 4,2 3º fase Mar a Jun de 2005 11 3,77 Do ponto de vista sanitário, é necessário que o efluente se enquadre nas normas vigentes, com os limites de tolerância microbiológica ao tipo de cultura a ser irrigado, ( 1000 UFC por 100 ml e 1 ovo de helminto por litro) avaliado através do indicador de contaminação fecal: Coliformes Termotolerantes e parasitológico através da contagens de ovos de helmintos, com base no método de Bailenger (WHO, 1989). Todas as análises laboratoriais realizadas seguiram as recomendações do APHA (1995). RESULTADOS E DISCUSSÃO ph e condutividade elétrica Haja vista a utilização do efluente tratado para reúso na agricultura, faz-se indispensável a determinação de alguns parâmetros químicos, tais como: ph, sais dissolvidos, matéria orgânica e sólidos. A Tabela 2 apresenta a variação de ph durante as três fases de operação. Nota-se que o efluente do reator UASB se encontrava numa faixa de neutralidade e, após o tratamento no FAC, devido ao processo de amonificação, passou a ligeiramente alcalino; no entanto, ph máximo de 8,2 não compromete a perda do nitrogênio amoniacal pela volatilização da amônia (van Haandel & Lettinga, 1994). Alta concentração de sais contidos nos efluentes utilizados para irrigação, prejudica a absorção de água pelas plantas, por

188 V. F. da Silva et al. Tabela 2. ph das três fases dos efluentes do UASB e do FAC Efluentes UASB FAC Valores Limites Mínimo Máximo Mínimo Máximo 6,8 7,5 7,8 8,2 7,0 7,3 7,6 8,0 6,7 7,9 8,1 8,2 se acumularem no solo. Por isso, há relevância da análise da condutividade elétrica, pois quantifica a concentração de sais dissolvidos no líquido. A Tabela 3 indica que a salinidade não sofreu modificação relevante quanto ao tratamento aplicado nas três fases, mantendo uma condutividade elétrica no efluente final em torno de 1,4 ds m -1 sem grandes variações. Uma concentração considerada alta quando se trata de culturas com classificação sensível a tolerância a sais como, por exemplo, gergelim, feijão, laranja, mas poderá ser utilizada em irrigação de outras culturas com maior tolerância, como arroz e algodão, de acordo com a classificação apresentada por Gheyi et al. (1997). Matéria orgânica (DBO 5 e DQO) e sólidos suspensos Conforme a Tabela 4, o efluente do FAC apresenta baixas concentrações de matéria orgânica, expressa em DBO 5 e DQO, mantendo uma eficiência de remoção de 64, 66 e 71% de DBO 5 nas três fases, respectivamente, além de uma remoção de 65, 73 e 75% para DQO. O efluente do FAC também apresentou baixa concentração de sólidos suspensos totais e voláteis, com eficiência de remoção de 81, 84 e 85% para os sólidos suspensos totais, respectivamente nas três fases do experimento, e 83, 86 e 86% para os voláteis. Apesar do aumento da eficiência estar aparentemente relacionado com a variação do TDH, a análise de variância apontou não haver diferença significativa para esses parâmetros, dentro das condições experimentais aplicadas; portanto, torna-se viável que o tratamento ocorra em menor tempo possível, possibilitando que quantidade maior de esgotos seja tratada, sem, contudo, aumentar os custos. Nutrientes A irrigação de culturas por meio dos esgotos domésticos se trata, na realidade, de uma fertirrigação, visto que estes já possuem os nutrientes necessários para o desenvolvimento da planta, porém os esgotos, quando tratados, tendem a apresentar as concentrações desses nutrientes reduzidas, fato que irá depender do tratamento recebido. Observam-se na Tabela 5, as concentrações médias dos efluentes do UASB e do FAC, assim como a variação dos mesmos através do desvio padrão e coeficiente de variação dos dados analisados dos parâmetros: nitrogênio total (NTK), nitrogênio amoniacal (N-NH 4+ ), fósforo total (PT) e ortofosfato (P-PO 4 3- ) durante as três fases do experimento. O efluente se caracteriza por apresentar elevadas concentrações de nitrogênio e fósforo, variando entre 25,6 a 44,9 mg NTK L -1 e 23,5 a 44,0 mg N-NH 4 + L -1 para nitrogênio total e amoniacal, respectivamente; o fósforo total oscilou de 3 a 6,2 mg P L -1 e o ortofosfato, de 1,9 a 5,3 mg P-PO 4 L -1. Como o processo aplicado é anaeróbio, verifica-se baixa remoção dos nutrientes. Havendo altas concentrações de nitrogênio e fósforo no efluente final, inclusive nas formas Tabela 3. Condutividade elétrica das três fases dos efluentes do UASB e FAC Análises Estatísticas UASB FAC UASB FAC UASB FAC Concentração (25 C) (ds m -1 ) 1,5 1,4 1,4 1,4 1,4 1,3 Desvio padrão (25 C) (ds m -1 ) 0,05 0,06 0,05 0,11 0,13 0,15 Coeficiente de variação (%) 4 4 3 8 9 12 Tabela 4. Valores médios de matéria orgânica e sólidos suspensos durante as 3 fases DBO 5 DQO SST SSV UASB FAC UASB FAC UASB FAC UASB FAC Concentração (mg L -1 ) 39 14 210 76 58 9 48 7 Desvio padrão (mg L -1 ) 2,6 4,1 45,7 22,9 27,8 5,2 24,0 3,9 Coeficiente de variação (%) 6,7 29,4 21,7 29,9 48,3 55,9 50,2 57,8 Concentração (mg L -1 ) 36 12 253 71 86 13 75 9 Desvio padrão (mg L -1 ) 4,0 3,3 44,0 32,0 27,0 7,0 27,0 4,0 Coeficiente de variação (%) 11 27 17 47 32 49 36 44 Concentração (mg L -1 ) 40 12 228 56 70 10 55 7 Desvio padrão (mg L -1 ) 4,9 3,1 70,0 19,0 22,0 3,0 17,0 2,0 Coeficiente de variação (%) 12 26 31 33 32 30 30 27 Fonte: Silva, 2005

Tratamento anaeróbio de esgoto doméstico para fertirrigação 189 Tabela 5. Valores médios da concentração de nutrientes nas três fases NTK N-NH 4 + PT P-PO 4 3- UASB FAC UASB FAC UASB FAC UASB FAC Concentração (mg L -1 ) 53,2 38,4 49 36,2 6,97 4,37 5,6 3,7 Desvio padrão (mg L -1 ) 5,5 4,6 4,4 3,8 0,5 1,1 0,6 0,9 Coeficiente de variação (%) 10,3 11,9 9 10,6 7,5 25,2 11,3 23,9 Concentração (mg L -1 ) 54,7 38 47,1 34,4 6,7 4,4 5,9 4,0 Desvio padrão (mg L -1 ) 3,0 4,6 3 6 0,6 0,6 0,4 0,7 Coeficiente de variação (%) 5 12 7 17 8 14 6 17 Concentração (mg L -1 ) 42,7 31,3 37,5 28,7 5,9 4,0 5,1 3,6 Desvio padrão (mg L -1 ) 4,0 4 4 4 0,7 0,6 0,9 0,6 Coeficiente de variação (%) 9 10 10 13 11 15 17 17 Fonte: Silva, 2005 iônicas, sua utilização na agricultura evitará a utilização de adubo mineral tornando o cultivo menos oneroso e, pela quantidade de nutrientes dissolvidos no efluente, facilitará sua absorção pela planta (Sousa & Leite, 2003). Qualidade sanitária do efluente produzido Decaimento bacteriano: A Figura 2 apresenta o comportamento dos efluentes do reator UASB e FAC, quanto aos coliformes termotolerantes durante as três fases de operação. Coliformes Termotolerantes (log UFC por 100 ml) 8 7 6 5 4 3 2 1 0 Efluente do UASB Efluente do FAC 1 6 11 16 21 26 31 Semanas de Operação nas 3 Fases Figura 2. Comportamento dos coliformes termotolerantes durante todo o experimento A concentração de coliformes termotolerantes presentes no efluente do reator UASB manteve-se na média geométrica de 2,72 10 6 UFC por 100 ml, com valores limites entre 1,85 10 5 a 2,09 10 7 UFC por 100 ml; após passar pelo FAC, apresentou uma média geométrica de 1,56 10 4 UFC por 100 ml, com valores limites entre 1,50 10 3 a 8,75 10 4 UFC por 100 ml. Mesmo com eficiência 99,48%, o efluente final não atende às condições sanitárias estabelecidas pela WHO (1989) para a irrigação de culturas consumidas cruas, porém para culturas de cereais e plantas arbóreas o efluente não apresenta nenhum risco de contaminação. Ovos de helmintos: Em todas as análises realizadas durante as três fases do experimento, não se encontraram ovos de helmintos no efluente do filtro anaeróbio de chicanas; segundo a WHO (1989) efluentes tratados sem a presença de helmintos são isentos também de organismos com cisto de protozoários, giárdias e crytosporidium. CONCLUSÕES 1. A eficiência de remoção de sólidos suspensos totais e voláteis no Filtro Anaeróbio de Chicanas, manteve-se na média de 85 e 86%, produzindo efluente com baixa concentração de sólidos, podendo ser aplicado numa irrigação por gotejamento; 2. O efluente produzido pelo filtro apresentou baixa concentração de matéria orgânica (DBO 5 12 mg L -1 ) e alta de macronutrientes (nitrogênio e fósforo), ph variando de 7,3 a 8,2; portanto, podendo ser utilizados na fertirrigação de uma variedade de culturas, como feijão e milho; 3. O Filtro Anaeróbio de Chicanas utilizado no póstratamento de efluente do reator UASB produziu efluente ausente de ovos de helminto e coliformes termotolerantes na ordem de 10 3 a 10 4 UFC por 100 ml; efluente com essas características só poderá ser utilizado na fertirrigação de culturas forrageiras e culturas não consumidas cruas. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem ao CT-HIDRO, ao CNPq, BNB, à Companhia de Água e Esgoto da Paraíba CAGEPA, à Estação de Tratamento Biológico de Esgotos EXTRABES e ao Programa de Pesquisa em Saneamento Básico PROSAB LITERATURA CITADA APHA.AWWA.WPCF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 15 ed. 1995, Washington, D. 1134p. Carvalho, O.J.; Povinelli, J. Biofiltro aeróbio submerso empregado no pós-tratamento do efluente de reator anaeróbio compartimentado. In: Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 2005, Campo Grande. Anais Campo Grande: ABES, 2005. CD Rom.

190 V. F. da Silva et al. Cavalcanti, P. F. F., van Haandel, A. C. and Lettinga, G. Polishing ponds for post treatment of digested sewage - part 1: flow through ponds. VI Oficina e Seminário Latino-Americano de Digestão Anaeróbia, Recife. Anais... Recife: ABES, 2002. p. 352-358. Gheyi, H.G.; Queiroz, J.E.; Medeiros, J.F. Manejo e controle da salinidade na agricultura irrigada in: Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 36, 1997. Campina Grande. Anais... Campina Grande: SBEA, 1997, 15p. Gonçalves, R. F., Araújo, V. L. Tratamento secundário de esgoto sanitário através da associação em série de reatores UASB e biofiltros aerados submersos. Engenharia, Ciência e Tecnologia, Vitória, n.3, p.14-19, 1998. Iwai, S.; Kitao, T. Wastewater treatment with microbial films. Technomic, Japão, 1994. Metcalf; Eddy, Wastewater enginneering: treatment, disposal, reuse. 4 ed. McGRAW-HILL. 2003, 1819p. Shuval, H. et al. Development of a Risk Assessment Approach for Evaluating Wastewater Reuse Standards for Agriculture. Water Science and Technology, Oxford. v. 35, n. 11-12, p. 15-20, 1997. Silva, V.F. Análise da viabilidade de filtro anaeróbio de chicanas no pós-tratamento de esgotos sanitários. Campina Grande: UFPB/UEPB, 2005, 85p. Dissertação Mestrado. Sousa, J.T.; Leite, V.D. Tratamento e utilização de esgotos domésticos na agricultura, 2 ed, Campina Grande: EDUEP, 2003, 135p.