O ALÇAMENTO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA: RESSIGNIFICANDO O CONCEITO DE ERRO

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Transcrição:

#3537 O ALÇAMENTO NO PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM ESCRITA: RESSIGNIFICANDO O CONCEITO DE ERRO ALDENICE DA SILVA CAXIAS 1 Mestranda do Profletras 2 UFPB/CAMPUS IV A presente pesquisa tem o objetivo de analisar e descrever os erros /desvios relacionados à escrita das vogais pré-tônicas e pós-tônicas em produções textuais de crianças em processo de aquisição da linguagem escrita. Produções textuais de alunos entre 7 e 8 anos de idade, participaram do nosso corpus, sendo este coletado após a aplicação de atividades de escrita espontânea. A pesquisa foi realizada com alunos do 2º e 3º anos do ensino fundamental de duas escolas públicas do estado da Paraíba, uma no município de João Pessoa e a outra no município de Curral de Cima, sendo realizada a análise quantitativa e qualitativa dos dados. Os resultados mostraram que as produções escritas exibem o processo fonológico alçamento, revelando que as crianças de acordo com seu grau de consciência fonológica, imprimem em seus escritos, traços da oralidade. Este estudo contribuiu para a análise e descrição das características do alçamento das vogais pretônicas e pós-tônicas, fornecendonos subsídios para a compreensão dessa ocorrência e, consequentemente, para a ressignificação do conceito de erro em relação à escrita de palavras que passam por esse processo fonológico. Além disso, possibilita-nos a escolha de determinadas estratégias pedagógicas para o trabalho de desenvolvimento da consciência fonológica. Palavras-chave: Aquisição da linguagem escrita, alçamento, consciência fonológica. THE LIFTING DEVICE IN THE ACQUISITION OF WRITTEN LANGUAGE PROCESS: GIVING TO THE CONCEPT OF ERROR A NEW MEANING ABSTRACT: This research aims to analyze and describe the errors/deviations related to the writing of pre tonic and post-tonic vowels in textual productions of children in the process of acquisition of written language. Textual productions of 7 and 8 years old students took place in our corpus, which was collected after application of spontaneous writing activities. The survey was conducted with students from the 2nd and 3rd levels of primary education in two public schools in the state of Paraíba: one in João Pessoa and the other in Curral de Cima. Quantitative and qualitative data analysis were performed. The results showed that ¹Aldenice.caxias@gmail.com 2 Mestrado Profissional em Letras UFPB

#3538 the written productions shows phonological process "lifting device, revealing that the children, according to their degree of phonological awareness, print in his writings traces of orality. This study contributed to the analysis and description of the characteristics of pre tonic and post-tonic vowels lifting device, providing subsidies to the understanding of this phenomenon and, consequently, to the redefinition of the concept of error in relation to the writing of words that undergo this process phonological. Furthermore, it allows us to select certain pedagogical strategies to work for development of phonological awareness. Keywords: Acquisition of written language, lifting device, phonological awareness. 1 INTRODUÇÃO A língua não é heterogênea, sabemos. Constantemente, ela passa por mudanças, às vezes até imperceptíveis. Tais mudanças ocorrem nos mais diversos níveis da gramática de uma língua, na fonologia, na morfologia e na sintaxe. As mudanças também apresentam variantes coexistentes, ou seja, uma coisa passa a ter duas formas diferentes de dizer, com o mesmo valor de verdade, Essa variação está associada tanto a valores linguísticos quanto extralinguísticos, como localização geográfica, escolaridade, idade, sexo, entre outros. Estudos na literatura mostram que durante o processo de aquisição da linguagem escrita as crianças grafam inadequadamente as palavras por interferência da oralidade que é um traço muito forte nesta etapa. Este estudo refere-se a ocorrências de um processo fonológico bastante comum na escrita de crianças no processo inicial de alfabetização, o alçamento vocálico, caracterizado pela elevação do traço da altura das vogais médias altas [e] e [o] que se realizaram como as vogais altas [i] e [u], respectivamente, ex. saúd[e] - saúd[i]. Essa variação pode-se dá por fatores linguísticos, extralinguísticos, ou por fatores sociais. Trataremos, especificamente, neste estudo o alçamento nas grafias relativas às vogais pretônicas e pós tônicas, especialmente dos casos em que as vogais médias altas alçam, em decorrência das fortes marcas da oralidade, para isso adotamos a teoria geral proposta por Câmara Jr. (1997). Os erros ortográficos analisados neste estudo, a partir da escrita espontânea de crianças em processo de alfabetização, de acordo com Bagno (2011), doravante serão chamados de desvios. Chamaremos de desvios porque na escrita, os erros podem servir como ponto de partida para a aprendizagem da criança, eles são ótimas pistas para que o professor efetue um trabalho de intervenção e também porque revelam aspectos do conhecimento que a criança possui sobre a sua língua materna. Alguns desses desvios são motivados pela influência da oralidade, parâmetro a partir do qual os aprendizes usam para a construção da linguagem escrita, por isso, muitas vezes deixam na escrita essas marcas orais. Para tanto, é necessário considerar que a criança, ao se deparar com este novo conhecimento, a língua escrita, necessita compreender a estrutura própria deste sistema, a qual se difere da língua falada, por atender a convenções.

#3539 A metodologia do trabalho foi desenvolvida a partir de uma pesquisa descritiva através da análise das produções escritas de alunos do 2º e 3º anos de duas escolas públicas municipais do estado da Paraíba. Os resultados mostram que o processo do alçamento está presente na escrita de crianças em processo de alfabetização motivado pela oralidade e por fatores fonéticos e fonológicos, em maior ocorrência nas vogais médias pós-tônicas. 2 UM ESTUDO SOBRE AS VOGAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: BREVES CONSIDERAÇÕES A língua portuguesa é heterogênea, por isso, apresenta variações de diversos tipos: diacrônica (ao longo do tempo), diatópica (regional), diastrática (níveis econômicos), diamésica (diferenças entre fala e escrita), sincrônica (diferenças contextuais). Por exemplo, na variação diacrônica, temos a evolução do latim para o português. Os processos que são vistos diacronicamente são os mesmos que podem ser atestados ainda hoje nas mudanças que ocorrem sincronicamente. Essas mudanças podem alterar ou acrescentar traços articulatórios, eliminar ou inserir segmentos. São os chamados processos fonológicos, caracterizado por Shane (1975) como alterações sonoras sofridas nas formas básicas dos morfemas quando se combinam para formar palavras ou no início ou no final das palavras justapostas. Câmara Jr. (1980), caracteriza o sistema do Português Brasileiro, a partir do sistema triangular, da seguinte forma: a vogal baixa /a/, as vogais médias baixas /é/ e /ó/, as vogais médias altas /ê/ e /ô/ e as vogais altas /i/ e /u/.devido à alternância nas articulações da fala, percebemos algumas alternância nas posições pretônicas e pós-tônicas. Assim, o sistema vocálico do Português brasileiro passa, de acordo com o autor, por um processo de redução, identificando sete vogais sílaba tônica, sendo reduzidas para cinco na posição pretônica, posteriormente para quatro na posição pós-tônica não-final e para três na posição átona final. Câmara Jr. (1980, p. 41-44), distribui as vogais do PB da seguinte forma: Figura 1 Vogais orais em posição tônica altas /u/ /i/ médias /ô/ /ê/ (2º grau) médias /ò/ /è/ (1ª grau) baixas /a/ Anteriores Central Posteriores (CÂMARA JR. 1980, p 41)

#3540 Esse quadro de sete vogais pode ser reduzido para cinco, conforme mencionado, quando as vogais estão em posição pretônica. Câmara Jr.(1980) afirma que as vogais pretônicas tendem a perder a distinção quando estão entre as médias baixas /ó/ e /é/ bem como entre as médias altas /ô/ e /ê/. Quando essas vogais médias de primeiro e segundo grau, em posição pretônica, perdem o traço distintivo, ocorre um fenômeno que é chamado de neutralização pelo autor, ou seja, a perda do traço vocálico que faz com que passamos a distinguir um fonema do outro. O autor representa esse quadro da seguinte forma: Figura 2 Vogais orais em posição pretônica: altas /i/ /u/ médias /e/ /o/ (2º grau) baixa /a/ Anteriores Central Posteriores (CÂMARA JR. 1977, p 43) Em relação às regras de neutralização para as vogais pós tônicas não finais, apresenta o seguinte quadro: Figura 3 Vogais orais em posição pós-tônica não final altas /u/ /i/ média /../ /e/ baixa /a/ Anteriores Central Posteriores (CÂMARA JR. 1980, p 44) Já em relação às vogais orais postônicas finais, Câmara nos fornece o seguinte quadro: Figura 4 Vogais orais em posição pós-tônica final da palavra: altas /i/ /u/ baixa /a/ Anteriores Central Posteriores (CÂMARA JR. 1980, p 44)

#3541 De acordo com o autor, as vogais orais médias altas /ê/ e /ô/ foram suprimidas pelo processo da neutralização, e passaram a adquirir o traço de uma vogal alta, passando a ser pronunciada, respectivamente, como /i/ e /u/. Essa perca do traço que as distingui, segundo o autor, só é possível na fala, na escrita permanecem as vogais que as diferenciam. Essas vogais sofrem variações em posição pretônica e pós-tônicas, dependendo das regiões do país. Isso implica dizer que, nesta posição, as vogais podem estar envolvidas em processos fonológicos, como o alçamento vocálico, podendo alterar a configuração do sistema vocálico. Faremos referência a este fenômeno chamado alçamento sempre que uma vogal média pretônica ou pós-tônica se manifestar foneticamente como uma vogal alta, como por exemplo, as palavras [e]ntão e saúd[e] em que uma vogal média pretônica e pós tônica apresentam-se respectivamente como [i]ntão e saúd[i] tendo suas vogais, pré e pós tônicas altas, ou seja, alçadas. 2.1 O ALÇAMENTO: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES Entendemos, a partir de Câmara Jr (1980), como funciona o sistema vocálico do português brasileiro. No entanto, as análises variacionistas apontam que esse sistema não é tão simples assim. Sabemos que na variedade oral, o sistema vocálico é bem mais complexo, especialmente nas posições pretônicas. Em razão disso, é que os processos fonológicos passaram a se interpor. O desenvolvimento da nossa pesquisa deu-se justamente na investigação de ocorrências de elevação das vogais médias altas /e/ e /o/ na escrita de crianças em processo de alfabetização. O alçamento vocálico é um processo fonológico caracterizado pela elevação das vogais médias altas /e/ e /o/ para as altas /i/ e /u/. Desta forma, alçar significa erguer, levantar. Segundo Shane (1975) processos fonológicos são alterações sonoras sofridas nas formas básicas dos morfemas quando se combinam para formar palavras ou no início ou no final das palavras justapostas. Bisol (1981) afirma que a aplicação da regra do alçamento também é baseada na ocorrência do processo fonológico, denominado harmonização vocálica. Assim, para ocorrência desse processo, as vogais médias altas /e/ e /o/ assimilam o traço da altura das vogais altas /i/ e /u/, respectivamente, havendo assim uma harmonia entre os traços das vogais. 2.2 A PESQUISA O objetivo da pesquisa definiu-se pelo fato de presenciarmos constantemente o alçamento das vogais pretônicas e pós tônicas, tanto na fala (oralidade) quanto na escrita, nos textos produzidos pelas crianças em processo de alfabetização. Considerando-se a forte presença da variação linguística em todo Brasil, com suas infinitas particularidades em cada grupo social. Nesse sentido, podemos afirmar que o processo fonológico denominado alçamento não é um fato isolado na localidade em que foi pesquisado.

#3542 A metodologia adotada focou em produções textuais espontâneas, em que os alunos eram incentivados a escrever. As produções textuais, que compõem o corpus desta pesquisa, foram coletadas em duas escolas públicas, uma do município de João Pessoa, a qual denominaremos de Escola Urbana e outra do município de Curral de cima P-B, denominada de Escola Rural. Ambas são escolas municipais, sendo a primeira situada em um grande centro da capital paraibana e a segunda no interior da Paraíba, portanto uma rural e outra urbana. A investigação envolveu 69 informantes, sendo todos alunos devidamente matriculados. Analisamos todas as produções escritas dos alunos tanto do 2º quanto do 3º ano do Ensino Fundamental, perfazendo um total de 69 produções. Da Escola Rural foram analisadas nove produções do 2º ano e 11 do 3º ano. Da Escola Urbana foram analisadas vinte produções do 2º e vinte nove do 3º, todas as atividades foram desenvolvidas entre 15 de maio até 14 de junho de 2013. Os textos destes alunos foram desenvolvidos a partir de uma proposta de escrita espontânea elaborada e aplicada, a partir de nossa intervenção, em aulas de português, junto a um professor da própria escola. 2.4 METODOLOGIA DE ANÁLISE Os desvios ortográficos, analisados neste estudo, serão tratados como aspectos relevantes do conhecimento que as crianças já possuem sobre a sua língua materna, manifestados na sua escrita. Sabemos que esses aprendizes buscam na oralidade subsídios para construírem esses conhecimentos sobre a linguagem escrita. É importante, que neste período em que a criança se depara com este novo conhecimento, a língua escrita, ela possa compreender a estrutura própria deste sistema com as suas convenções, e que perceba que a língua escrita, apesar da isomorfia, se difere da língua falada. No processo de aquisição da escrita o aprendiz irá, por vezes, infringir o sistema ortográfico da língua, motivado por suas primeiras tentativas de representar na escrita às formas que ele utiliza na fala. Esse tipo de desvio produzido pela atribuição de certo isomorfismo entre a escrita e a fala, deverá dar lugar à compreensão do sistema ortográfico, o que significa entender que raras vezes representamos na escrita exatamente a nossa fala. Nesse processo, a criança pode começar a estender algumas regras que posteriormente poderá representa-las em contextos de escrita. Como o objetivo deste trabalho é analisar a grafia das vogais médias altas /e/ e /u/, na escrita de alunos do 2º e 3º ano do ensino fundamental, selecionamos para análise do nosso corpus apenas as palavras com sílabas pretônicas pós-tônicas que contivessem tais vogais. Para isso, fizemos um levantamento quantitativo que considerasse o número de palavras com grafias inadequadas nas produções escritas. Esses dados foram analisados quantitativa e qualitativamente, de modo que quantitativamente fosse possível obter uma visão geral a respeito do comportamento das vogais pretônicas mediais na escrita e construir a partir dos dados encontrados, o imaginário da escrita desses alunos, procurando explicitar o processo fonológico denominado alçamento vocálico, a partir de propostas de explicação deste fenômeno na fala. A partir disso, evidenciar os conhecimentos dos alunos a respeito da escrita institucionalizada, com destaque aos conhecimentos adquiridos em contexto escolar.

#3543 Quanto a análise das ocorrências, o comportamento geral das grafias das vogais pretônicas e pós-tônicas, como mencionado no tópico anterior, foram analisadas todas as inadequações encontradas em nosso corpus, para que fosse possível verificar a frequência e os tipos de desvios que ocorrem nessas duas séries do Ensino Fundamental. Em relação aos desvios relativos à grafia das vogais pretônicas e pós-tônicas serão classificados, de acordo com Lamprecht (2008), os desvios fonéticos e fonológicos, quando a criança representa, na escrita, os sons da sua fala, conforme os exemplos a seguir: 1- Alçamento das vogais pretônica, quando a vogal média /e/ e /o/ alçam para /i/ e /u/.ex. inxada para enxada 2-Alçamento das vogais pós-tônica, quando a vogal média /e/ e /o/ alçam para /i/ e /u/.ex. peli para pele. 3-Alçamento em casos de hipossegmentação, quando a criança além de alçar a vogal, junta mais de uma palavra que não deveria, ou seja, não faz a segmentação convencional das palavras. Ex. ubolo para o bolo. 4- Alçamento por assimilação vocálica. Quando a vogal média assimila a altura da vogal posterior, ocasionando, de acordo com Bisol (1981) uma harmonia vocálica, ou seja, as duas vogais ficam na mesma altura. Exemplo: pipino para pepino. 2.5 ANÁLISE DOS DADOS O alçamento, como vimos anteriormente, é um processo fonológico decorrente da elevação das vogais médias /e/ e /o/ em posição pré ou pós-tônicas, bastante visível na oralidade. Para analisar a ocorrência da elevação dessas vogais na escrita dos alunos de 2º e 3º ano do ensino fundamental, observamos as causas mais comuns que levam o aluno alçar as vogais médias altas do português brasileiro. Na tabela (1), abaixo, mostramos ocorrências do alçamento das vogais médias altas na escrita das turmas de 2º ano do ensino fundamental. CASOS DE ALÇAMENTO NOS TEXTOS DE ALUNOS DO 2º ANO REGRAS ESCOLA RURAL ESCOLA URBANA Alçamento das vogais Ocorrências Percentual Ocorrências Percentual = Pretônicas 03/09 33,3% 09/20 45% = Pós-tônicas 08/09 88,8% 16/20 80% Casos de hipossegmentação 06/09 66,6% 14/20 70%

#3544 Harmonização vocálica 01/09 11,1% 06/20 30% Observamos através da Tabela (1), exposta, com dados de ambas as escolas pesquisadas, que o alçamento das vogais pós-tônicas nas turmas de 2º ano é recorrente em ambas as escolas, sendo em maior quantidade na Escola Rural. No total de nove produções analisadas, tivemos a ocorrência de oito casos de alçamento das vogais pós-tônicas, ou seja, um percentual de 88,8% casos de alçamento. Tivemos também uma alta ocorrência do alçamento por hipossegmentação em ambas as escolas, sendo em maior número também na Escola rural. Em relação aos casos de harmonização vocálica, a Escola Urbana, apresenta um número mais elevado que a Escola Rural. Destacamos esse elevado percentual de alçamento das vogais médias altas póstônicas nas produções dos alunos do 2º ano, pelo fato de os alunos ainda estarem em processo medial de alfabetização, e, ainda, não possuírem um elevado nível de consciência fonológica, fato determinante para que a criança seja capaz de identificar palavras, sílabas e especialmente, fonemas. Além de se basearem na oralidade, ou seja, no modo como falam, na hora de escreverem. Na tabela (2), abaixo, mostra ocorrências do alçamento das vogais médias altas, na escrita, das turmas de 3º ano do ensino fundamental CASOS DE ALÇAMENTO NOS TEXTOS DE ALUNOS DO 3º ANO REGRAS Alçamento das vogais = Pretônicas ESCOLA RURAL ESCOLA URBANA Ocorrências Percentual Ocorrências Percentual 10,3% 01/11 9% 03/29 = Pós-tônicas 06/11 54,5% 10/29 34,4% Casos de hipossegmentação 04/11 36,3% 09/29 31,% Harmonização vocálica 01/11 9% 02/29 6,9% Na tabela 2 revela que o alçamento das vogais pós-tônicas é mais recorrente em ambas as escolas, sendo também em maior quantidade na Escola Rural. No entanto, percebemos uma redução de casos de alçamento das vogais pós-tônicas, nas turmas de 3ª ano, passando de 88,8% para 54,5% sendo um total de 11 produções analisadas. Assim, tivemos em 11 produções, 6 palavras que tiveram suas vogais alçadas. Tivemos também uma queda na ocorrência do alçamento por hipossegmentação em ambas as escolas. Esta

#3545 redução dos casos de alçamento deu-se, possivelmente, pelo desenvolvimento da consciência fonológica, especialmente dos fonemas, pois sabemos que o desenvolvimento da consciência fonológica contribui efetivamente no processo de alfabetização. Observamos a partir dos dados apresentados nas tabelas a cima expostas, que os desvios de ordem fonética e pela fonológica. Miranda (2008) ponta que esse é um erro ( denominados por nós, de desvio) motivado pela pronuncia das palavras ou por dificuldade de representar determinados sons, ou simplesmente pelo vazamento dos conhecimentos fonológicos já construídos pelas crianças. Vejamos alguns exemplos encontrados nas produções dos alunos. 1-Alçamento das vogais pretônicas- intão para então / discansar para descansar ; 2-Alçamento das vogais pós-tônicas- saudi para saúde / tomati para tomate ; 3-Alçamento em casos de hipossegmentação- siagente para se a gente / upeixe para o peixe 4- Harmonização vocálica- cumida para comuda / pipino para pepino. Nos exemplos a cima, percebemos, tanto na Tabela (1) quanto na Tabela (2), que o alçamento das vogais pretônicas é mais recorrente na escrita dos alunos da Escola Rural do que na escrita dos alunos da Escola Urbana. Já em relação à tabela 2 (3º ano) constatamos uma semelhança em relação ao alçamento das vogais pretônicas em ambas as escolas. Tanto o público da escola Moacir Fernandes Farias quanto da escola Augusto dos Anjos apresentaram semelhanças no percentual dos casos de alçamento sendo mais recorrente o alçamento das vogais pós-tônicas em ambas as escolas. Observamos nas produções dos alunos do 3ª ano, que segundo o PNAIC³ é a etapa final da educação básica, que os alunos apresentam um nível mais elevado de consciência fonológica, ou seja, eles já têm consciência de palavras, sílabas e fonemas, por isso a baixa ocorrência desse fenômeno na escrita. Percebemos que o comportamento da escrita em ambas as escola foi bastante semelhante, isso se deu porque a influência da oralidade é uma característica comum na escrita de crianças em processo de alfabetização. ³O PNAIC-Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa é um compromisso formal assumido pelos governos federal, do Distrito Federal, dos estados e municípios de assegurar que todas as crianças estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino fundamental.

#3546 CONSIDERAÇÕES FINAIS Percebemos nesta pesquisa que o processo de alçamento das vogais médias pretônicas e pós-tônicas se dá por influência da oralidade e pelo baixo nível de consciência fonológica dos alunos, especialmente do 2º ano, etapa medial da alfabetização. Também houve casos em que o alçamento se deu através de outros processos fonológicos, pautado pela forte marca da oralidade que as crianças possuem. Houve outros casos em que o alçamento se deu através assimilação das vogais médias para altas, assim a altura das vogais se assimilou havendo um processo denominado por Bisol (1981) de harmonização vocálica. Constatamos também que, embora o alçamento das vogais médias pretônicas seja bastante comum, houve mais casos de alçamento das vogais médias pós-tônicas e ambas as escolas pesquisadas, sendo que na Escola Rural, o percentual foi bastante elevado, com 88,8% de ocorrências. Dos fatores linguísticos apontados, os casos de harmonização vocálica, foi o menos apresentado na escrita dos alunos, tendo maior incidência nas turmas do 2º. A pesquisa trouxe a reflexão de que apesar de ser uma característica do oral, o alçamento acontece na escrita em decorrência justamente do seu uso social na fala. E que os erros funcionam como pistas sobre o conhecimento que os alunos possuem da sua língua materna. Sendo assim, o professor deve ressignificar o conceito de erro, junto ao aluno, partindo da reflexão, traçando e apontando caminhos para que o aluno construa seu conhecimento sobre a língua escrita. De acordo com Ferreiro (2007) as crianças aprendem muito mais produzindo do que repetindo. Assim, na escrita, nenhum processo de construção pode ser proibido e sim incentivado, mesmo que neste período suas hipóteses não sejam próprias da escrita, mas quando chegam à escola elas já tem certa consciência das normas e convenções da linguagem escrita, que de agora em diante passarão a usá-las em um processo de construção de um novo sistema linguístico. Assim, caberá ao professor usar essas hipóteses para ampliar seu conhecimento a cerca do sistema linguístico para que no decorrer do processo as crianças possam ir sistematizando o que aprenderam. Esse processo exige acesso à informação e períodos de organização para que a criança possa enfrentar desafios intelectuais e entender as regras de construção e funcionamento da escrita. Esse olhar sobre o processo de ensino aprendizagem dos alunos da Educação Básica em suma, efetivou-se em nossa pesquisa, a partir da recorrente ocorrência do alçamento vocálico nas produções escritas. Percebemos que esse processo fonológico, detectado em nosso estudo com alunos em processo de alfabetização, é muito comum tanto na oralidade quanto na escrita do português do brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Gramática Pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola Editorial,2011.

#3547 BISOL, Leda. Harmonização vocálica: uma regra variável. Tese (Doutorado). Rio de Janeiro: UFRJ, 1981. CÂMARA Jr., J. Matoso. Estrutura da língua portuguesa. Petrópolis: Vozes, 12. ed. 1980. FERREIRO, Emília. Com Todas as Letras. 14ª ed.-são Paulo: Cortez, 2007. LAMPRECHT, Regina. Aquisição da Linguagem: estudos recentes no Brasil, Porto Alegre: EDIPUCRS. 2008. SHANE, Sanford. Fonologia gerativa. Rio de Janeiro. Zahar Editores, 1975. Disponível em <http://pacto.mec.gov.br/o-pacto> Acesso em 28 de março de 2014.