Curso de Protecção e Segurança Radiológica em Radiografia Industrial Campus Tecnológico e Nuclear



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Transcrição:

Campus Tecnológico e Nuclear 23-26 Novembro 2015

Medicina Nuclear Radiação solar Produtos de consumo Radiação cósmica Raios X Resíduos radioactivos Radiação terrestre Alimentação Energia nuclear

Produtos de consumo Representam cerca de 3-4% da exposição a radiação ionizante Água ( 222 Rn), alimentos - batata ( 40 K) e tabaco ( 218 Po e Pb) Em toda a dieta existe sempre uma radioactividade residual Este tipo de exposição torna-se particularmente preocupante após acidentes/explosões nucleares Na Europa, após o acidente de Chernobyl os alimentos têm vindo a ser monitorizados em termos de radionuclídeos presentes ( 137 Cs, 131 I) e/ou em termos de radioactividade Alguns alimentos de origem vegetal (couves, cereais, batatas, fruta) bem como de origem animal (leite de vaca, carne de rena) sofreram aumentos de radioactividade de várias ordens de grandeza

Radão Representa cerca de 55% da exposição a radiação ionizante Gás nobre (VIIIB da T.P.) Incolor, insípido, inodoro Ubiquitário Forma-se a partir do decaimento do 226 Ra Emissor de partículas, 218 Po, semi-vida 3,8 dias Afecta a qualidade do ar interior das casas EUA (EPA-Environmental Protection Agency) é considerado a 2ª causa mais frequente de cancro do pulmão

Radiobiologia Estudo da acção das radiações ionizantes em tecidos vivos 1ª experiência em radiobiologia - Henry Becquerel: 2 semanas Becquerel andou com um container de rádio no bolso eritema ulceração cicatrização 1901 Pierre Curie experiência semelhante com rádio, no seu antebraço produziu uma queimadura

Constatações sobre efeitos nocivos induzidos pela radiação ionizante 1902-1º cancro de pele induzido pela radiação ionizante 1911 - leucemia induzida por RI 1920 - cancro ósseo, pintores de relógios de parede 1930 - cancro de fígado e leucemia, administração de torotraste 1940- leucemia entre os primeiros radiologistas Estudos nos sobreviventes japoneses da bomba atómica (Agosto1945) Estudos após acidente de Chernobyl (Abril 1986) Estudos após o acidente de Fukushima Daiichi (Março 2011)

Tipos de radiação Radiação ionizante Energia suficiente para retirar electrões de um átomo, quebrando ligações químicas, causando ionização de átomos e produção de radicais livres que podem causar lesão biológica (mutações, aberrações cromossómicas, morte celular). Partículas carregadas: α, β, protões, electrões Partículas não carregadas: neutrões Radiação electromagnética - fotões: raios γ, raios X Radiação não ionizante Não possui energia suficiente para causar ionizações. A exposição a estes agentes não induz nem mutações, nem aberrações cromossómicas, contudo pode estar relacionada com alterações fisiológicas. Radiação UV Radiação infravermelha Laser Microondas Luz visível

Efeitos da radiação ionizante Absorção da radiação Ionização Alteração química Reparação ou Lesão Efeitos de alta dose Morte celular Efeitos em tecidos ou órgãos Efeitos corporais Efeitos de baixa dose Mutações Cancro Efeitos teratogénicos

Como a radiação actua nos organismos Átomo Molécula Célula Tecido Orgão Corpo

Cromossomas, genes e DNA

Mecanismos de acção da RI Acção directa ACÇÃO INDIRECTA Fotão Interacção directa com os átomos da molécula de DNA ACÇÃO DIRECTA Fotão Predominante para radiação de alta transferência linear de energia (LET) Corresponde a cerca de 30% dos efeitos biológicos da radiação de baixa LET raios X

Mecanismos de acção da RI ACÇÃO INDIRECTA Fotão Acção indirecta Interacção com as moléculas de água - radiólise da água ACÇÃO DIRECTA Fotão Produção de espécies reactivas de oxigénio Corresponde a cerca de 70% dos efeitos biológicos da radiação de baixa LET raios X

Espécies reactivas de oxigénio Radicais contendo oxigénio (têm pelo menos 1 electrão desemparelhado na orbital de valência): OH. radical hidroxilo O.- 2 radical superóxido (via Haber-Weiss: Fe 3+ OH. ) ROO. radical peroxilo RO. radical alcoxilo Espécies não radicalares que também contêm oxigénio: H 2 O 2 peróxido de hidrogénio (via Fenton: Fe 2+ OH. ) 1 O 2 oxigénio singleto

Tipos de lesões induzidas pela radiação nos mamíferos Nível do organismo Molecular Sub-celular Celular Tecido e órgão Organismo População Efeitos principais Lesões em macromoléculas, enzimas, DNA, RNA, interferência no processo metabólico Lesões em membrana celular, núcleo, cromossomas, etc. Agudo - inibição da divisão e morte celular Tardio - transformação maligna Falência ou lesão grave no SNC, medula óssea e tubo digestivo podendo levar à morte; indução de cancro Diminuição do tempo de vida Morte Alterações nas características genéticas (descendentes) Mutações (no indivíduo)

Tipos mais frequentes de lesões do DNA (DSB) Aducto (SSB)

Reparação do DNA A detecção de lesões do DNA, provoca a activação de sistemas de reparação enzimática que permitem identificar, suprimir ou reparar, muitas vezes em menos de uma dezena de minutos, as lesões provocadas por agentes mutagéneos. A actuação destes sistemas assegura, definitivamente, a reparação da maior parte das lesões do DNA, mantendo deste modo a estabilidade das informações por ele codificadas. T A desoxiribose Bases DNA G C

Mecanismo Básico de Reparação 1ª Etapa Excisão a lesão é eliminada por acção de nucleases, cada qual especializada no tipo de lesão. 2ª Etapa Re-síntese - a sequência original do DNA é restaurada pela DNA polimerase que preenche o vazio criado pela excisão. 3ª Etapa - Ligação a DNA ligase sela o nick deixado no açúcar/fosfato da cadeia reparada refazendo-se a ponte fosfodiéster entre os nucleótidos adjacentes. Lesão do DNA Remoção da lesão Síntese do DNA reparado

Reparação do DNA Tempo Lesão no DNA J.-P. Pouget, S. J. Mather, Eur J Nucl Med (2001) 28:541 561 Segundos Minutos Reconhecimento da lesão DNA Activação génica Paragem no ciclo celular Sem erros Reparação do DNA Com erros Sem reparação do DNA Apoptose Viabilidade celular Mutações, aberrações cromossómicas, etc. 1ª mitose Reparação do DNA Sem reparação do DNA n mitoses Sem erros Com erros Viabilidade celular Morte mitótica Fixação da mutação Instabilidade cromossómica Anos Cancro Morte celular, aberrações cromossómicas, etc.

Importância da reparação do DNA A molécula de DNA é uma das poucas moléculas na célula que é reparada; outras moléculas são substituídas. Existem mais de 130 genes relacionados com a reparação de DNA. Uma reparação inadequada ou errada dá lugar a: - Mutação - Transformação maligna cancro - Morte celular ou tecidular - Envelhecimento precoce

Radiosensibilidade A radiosensibilidade das espécies apresenta uma larga margem de variação. VIRUS MOLUSCOS PROTOZOÁRIOS BACTÉRIA INSECTOS MUSGOS, LÍQUENES, ALGAS CRUSTÁCEOS RÉPTEIS ANFÍBIOS PEIXES PLANTAS SUPERIORES AVES Adaptado de UNSCEAR, 1996 MAMÍFEROS 10 0 10 1 10 2 10 3 10 4 DOSE LETAL AGUDA (Gy) Valores aproximados das doses letais agudas para os vários grupos taxonómicos.

Radiosensibilidade Celular Lei de Bergonié e Tribondeau : A sensibilidade das células à radiação está na razão directa da sua actividade proliferativa e na razão inversa do seu grau de diferenciação. As células cancerosas, que se dividem rapidamente e não são especializadas, são bastante sensíveis à radiação (base da radioterapia). As células nervosas, que se dividem mais lentamente e são altamente especializadas, são mais resistentes à radiação.

Sensibilidade das células à radiação Células muito radiosensíveis Células radiosensíveis Células pouco radiosensíveis

Radiosensibilidade relativa de células e tecidos Mais radiosensíveis Linfócitos Células germinais Células hematopoiéticas Epitélio intestinal Pele Células ósseas Células nervosas Tecido muscular Menos radiosensíveis

Radiação ionizante UNSCEAR: não existe uma dose segura de exposição a radiação sob o ponto de vista genético, sendo que qualquer exposição à radiação pode envolver um certo risco de indução de efeitos hereditários e somáticos UNSCEAR- United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation

Efeitos biológicos Efeitos estocásticos Efeitos determinísticos Podem ocorrer segundo uma lei probabilística. Tem de ser analisada uma população e não o indivíduo Efeitos que ocorrem com toda a certeza quando o indivíduo está exposto a uma dose de radiação acima de um certo limiar Exposição crónica (baixa dose) Exposição aguda (doses elevadas) A gravidade é independente da dose total, não existe um limiar de dose. A gravidade é dependente da dose total e existe um limiar de dose. Alterações no DNA: mutações podem ocorrer nas células germinais ou nas células somáticas Observam-se na pele, nos órgãos reprodutores, medula óssea, intestinos, etc

Efeitos estocásticos Podem resultar da exposição a baixas doses durante grandes períodos de tempo - exposição crónica. A gravidade é independente da dose total e não existe um limiar de dose. Exemplo típico destes efeitos são as mutações: alterações no DNA. Muitas vezes o organismo não consegue reparar estas mutações, ou então fá-lo de uma forma deficiente, criando novas mutações. As mutações podem ocorrer nas células germinais ou nas células somáticas: As mutações nas células somáticas afectam apenas o próprio indivíduo que foi exposto podem originar cancro. As mutações nas células germinais podem ser transmitidas para a descendência podem originar efeitos hereditários.

Efeitos determinísticos Surgem quando há exposição a elevadas doses de radiação, e tornamse mais graves à medida que a exposição aumenta. Pequenos períodos de tempo com altas doses de radiação são designados por - exposição aguda. Existe um limiar de dose, ou seja, para valores de exposição acima deste limiar observa-se necessariamente, para todos os indivíduos, uma lesão. É um efeito certo. Muitos dos efeitos não cancerígenos provocados pela radiação são não estocásticos. Os efeitos determinísticos observam-se pouco tempo após a exposição à radiação e observam-se na pele, nos órgãos reprodutores, na medula óssea, e nos intestinos. Contudo há efeitos que só vem a ser observados mais tardiamente, como é o caso das cataratas.

Principais efeitos tóxicos induzidos pela radiação ionizante Efeitos reprodutivos e no desenvolvimento fetal Efeitos na fertilidade Efeitos provocados por mutações somáticas e hereditárias

Mortalidadade Síndrome prodrómico 15 minutos Síndrome hematopoiético > 3 semanas Síndrome gastrointestinal ± 10 dias Síndrome cerebrovascular 24 48 horas Sintomas neuromusculares febre, fadiga, hipotensão Sintomas gastrointestinais anorexia, vómitos, diarreia Aplasia medular anemia grave, infecções (ausência de leucócitos) e hemorragias incontroláveis (ausência de plaquetas) Destruição das células de revestimento do epitélio intestinal: incapacidade de absorção de água e nutrientes, diarreia e consequente desidratação Náuseas, vómitos, diarreia, hipotensão. Desorientação, falta de coordenação muscular, falência respiratória, coma Morte

Efeitos cutâneos A pele é o maior órgão do corpo humano, possuidora de múltiplas funções biológicas. Como facilmente se compreende, é o primeiro órgão a sofrer danos resultantes de exposição a radiação externa. A gravidade das lesões cutâneas está dependente da dose recebida e do tempo de exposição.

Efeitos cutâneos Radiodermite precoce: Aparece num curto espaço de tempo após a exposição Dose elevada (5 Gy) Reversível Radiodermite tardia: Aparece normalmente muito tempo após a exposição (meses a anos) Irreversível Profissões típicas (radiologistas)

Efeitos cutâneos Fotografia de dois sobreviventes de Nagasaki, 63 dias depois da explosão: Eritema cutâneo Queda de cabelo

Efeitos cutâneos Homem de 40 anos, submetido a 2 angiografias coronárias Maio de 1990, USA Controlo fluoroscópico. Dose total desconhecida (mas > 20 Gy) 16 18 Resolução 6 a 21 21 8 semanas: meses: da úlcera Necrose após após Úlcera da transplante as da pelede pele angiografias

Efeitos cutâneos Lesões cutâneas crónicas induzidas pela radiação (Dose superior a 10 Gy)

Efeitos cutâneos Incidente com uma fonte orfã Iridium-192 7.4 TBq (200 Ci) Pequeno cilindro metálico Inexistência de qualquer sinalização Usada para gamaradiografia numa empresa de construção

Efeitos cutâneos Mãos 24 horas após o acidente

Efeitos cutâneos Reacção ao fim de 17 dias após o incidente

Efeitos cutâneos 1139 dias depois do acidente

Efeitos oculares Catarata (opacificação) do cristalino induzida pela radiação Cristalino normal Catarata Doses acumuladas de 0,5 Gy (ICRP 2011)

Efeitos nos orgãos reprodutivos Esterilidade 3 Gy ± 40 anos permanente ± 20 anos temporária 8 Gy Permanente Esterilidade 0,25 Gy Alteração no número e qualidade dos espermatozóides 6 Gy Permanente

Efeitos na medula óssea A medula óssea é um órgão muito radiosensível Baixa dos glóbulos brancos Baixa dos glóbulos vermelhos Aplasia medular Leucemias

Efeitos gastrointestinais Exposição aguda a elevada dose de radiação: Náuseas e vómitos Período de latência Diarreia, cólicas intestinais Obstrução intestinal

Biomarcadores citogenéticos Dos diversos biomarcadores de exposição à radiação ionizante a utilização de ensaios citogenéticos tem revelado especial interesse Existem biomarcadores citogenéticos que podem ser utilizados para avaliação do risco de exposição à RI: Aberrações cromossómicas Cromossomas dicêntricos Translocações anéis Micronúcleos Outros biomarcadores: troca entre cromátides irmãs, Comet assay, -H2AX Aberrações cromossómicas alterações na estrutura normal dos cromossoma, ou no seu número, que podem ocorrer espontaneamente ou como resultado de exposição a agentes químicos e físicos.

Biomarcadores citogenéticos Aberrações cromossómicas estruturais podem ser induzidas por: quebra directa do DNA replicação num template alterado de DNA inibição da síntese de DNA Classificação das aberrações cromossómicas: cromatídicas cromossómicas Aberrações cromossómicas observadas em células em metafase

Aberrações cromossómicas

Aberrações cromossómicas Anel Fragmento Tetraradial

Aberrações cromossómicas dicêntricos em linfócitos Vantagens Eficaz para exposições recentes Específico de exposição a RI Boa correlação com dosimetria física Indicador bem estudado Desvantagens Técnica com necessidade de operadores especializadas Ineficaz para exposições passadas (anos)

Aberrações cromossómicas (dicêntricos) em linfócitos Exemplo: Uma pessoa exposta acidentalmente; Dose média ~5 Gy, distribuição não homogénea: Cabeça: 2 Gy Pé esquerdo: 50 Gy Dicêntricos: Imediatamente após exposição - 63/100 células Após 24 meses - 20/ 100 células Após 99 meses - 7/ 100 células Após 227 meses - <1/ 100 células Léonard et al., ICRS-RPS, 2004

Translocações Translocação - quando há transferência de uma porção de um cromossoma ou até um cromossoma inteiro, para outro não homólogo.

Translocações/FISH

Translocações/FISH

M - FISH

Translocações: M - FISH Translocações numa pessoa exposta a plutónio no complexo militar Russo em MAYAK, detectadas com FISH T(2) T(13) T(9) T(14) T(13) T(9) T(14) T(2) Hande et al., 2005

Translocações Vantagens Eficaz para exposições passadas Possibilita a análise de aberrações estáveis Permite uma análise dos mecanismos envolvidos De mais fácil visualização Desvantagens Técnica muito cara Necessita de pessoas com alguma experiência

Micronúcleos Micronúcleo - estruturas (pequenos núcleos) que se encontram no citoplasma de células em divisão que possuem características semelhantes às do núcleo principal e são formados por fragmentos acêntricos ou por cromossomas inteiros Observados em células em interfase

Radiação ionizante origina quebras de DNA Radiação Ionizante A Formação de micronúcleos B Quebras de DNA não reparadas originam quebras de cromátide e de cromossoma e respectivos fragmentos acêntricos nas células em metafase D Os fragmentos /cromossomas inteiros foram envolvidos por uma membrana semelhante à membrana nuclear, formando pequenos núcleos micronúcleos, os quais são visíveis em células binucleadas se for bloqueada a citocinese com citocalasina B. D Citocalasina B C Oliveira N., 2003 C Os fragmentos, por serem acêntricos, não migraram para os pólos do fuso mitótico durante a anafase seguinte (efeito clastogénico seta vermelha); cromossomas em que ocorreu alguma anomalia no processo de migração também não se deslocaram para os pólos do fuso mitótico (efeito aneugénico seta verde)

Micronúcleos

Micronúcleos Vantagens Eficaz para exposições recentes Boa correlação com dosimetria física Não é especifico de RI Indicador bem estudado Técnica mais barata Fácil visualização Desvantagens Variabilidade de resposta Ineficaz para exposições passadas (anos) Idade influência o seu aparecimento

Dosimetria Biológica É importante correlacionar os efeitos genéticos observados do biomarcador estudado com a dose de radiação ionizante recebida. O cálculo desta dose é sempre aproximado e poderá dar uma ideia da ordem de grandeza da exposição a que a população foi sujeita. Várias curvas dose-resposta, obtidas em condições experimentais usualmente standard, são descritas para o ensaio citogenético escolhido (dicêntricos, micronúcleos, etc.). Em relação a exposição a RI o biomarcador de excelência que é mais comummente utilizado, é a formação de cromossomas dicêntricos nos linfócitos do sangue periférico. Limitação extrapolação para situações que ocorreram in vivo (exposição aguda ou crónica) doses obtidas através de parâmetros matemáticos resultantes de estudos de genotoxicidade elaborados in vitro

Dosimetria Biológica Modelo linear-quadrático Linfócitos humanos Radiação gama 60 Co y = D + D 2 Quadrática Y=B + D + βd 2 Aberrações por célula Linear Y Efeito observado B Background parâmetro linear β parâmetro quadrático Dose absorvida (Gy) Curva dose-resposta para aberrações cromossómicas em linfócitos humanos produzida pela radiação gama (baixa LET) (adaptado de Hall, 1994).

Preparação de Amostras

Dosimetria Biológica Curva dose-resposta para a população portuguesa usando como bioindicador o número de cromossomas dicêntricos. Y=B + D + βd 2 16 dadores 11 200 metafases completas (46 cromossomas) Martins et al. (2013) Mutat Res 750 (1-2),50-54

Micronuclei/cell 0.7 Dosimetria Biológica Curva dose-resposta para a população portuguesa usando como bioindicador o número de células binucleadas com micronúcleo. 0.6 0.5 0.4 y = 0.0193x 2 + 0.0241x + 0.0122 R² = 1 Y=B + D + βd 2 0.3 0.2 0.1 0.0 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 5.5 Dose (Gy) 16 dadores 128 000 células binucleadas Antunes et al. (2014) Mutat Res 760 (Jan), 17 22

MNCB ( ) Indução de micronúcleos in vivo em linfócitos do sangue periférico 12 10 8 6 4 2 0 0 5 10 15 20 25 Aumento significativo e persistente da frequência linfócitos micronucleados ( MNCB) por um período até 24 meses.

Indução aberrações cromossómicas in vivo em linfócitos do sangue periférico 5 4 % CAEG 3 2 1 0 0 5 10 15 20 25 Aumento significativo e persistente da frequência de células aberrantes (%CAEG) até 24 meses.

Dicentrics/cell Exposição acidental a radiação ionizante Recolha de sangue periférico Cultura + Técnica das Aberrações Cromossómicas Análise de células em metafase: microscópio óptico Estimativa da Dose de exposição através de uma curva doseresposta 0.6 0.5 0.4 y = 0.048x 2 + 0.0105x + 0.0011 R² = 1 0.3 0.2 0.1 0.0 0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5 3.0 3.5 Dose (Gy)

100 metafases analisadas 7 cromossomas dicêntricos Dose estimada: 1.094 Gy

Muito obrigada!!