METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DE PERDAS DEVIDAS A DOENÇAS EM EXPERIMENTOS COM GENÓTIPOS DE ALGODOEIRO.

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Transcrição:

METODOLOGIA PARA ESTIMATIVA DE PERDAS DEVIDAS A DOENÇAS EM EXPERIMENTOS COM GENÓTIPOS DE ALGODOEIRO. Milton Geraldo Fuzatto (IAC / mfuzatto@iac.sp.gov.br), Edivaldo Cia (IAC), Reginaldo Roberto Lüders (IAC), Rafael Galbieri (Pós-Graduando, IAC, bolsista da FAPESP). RESUMO São apresentados dois métodos empíricos para estimar, em experimentos de campo com genótipos de algodoeiro, perdas na produção ou em outras características quantificáveis, devidas à incidência de doenças. Pela minimização de diferenças no potencial produtivo, devidas a outros fatores que não a resistência à doença considerada, estimativas de perdas no nível de genótipos podem ser efetuadas. Alternativamente, estimativas de perdas genéricas possíveis, pela ocorrência da doença nos genótipos mais suscetíveis, podem também ser realizadas. Por utilizar dados normalmente obtidos nos experimentos, e pela facilidade de aplicação, os métodos propostos mostram-se viáveis para estimativas mais consistentes de perdas dessa natureza. Palavras-chave: algodoeiro, doenças, perdas. INTRODUÇÃO Doenças são, comprovadamente, fatores limitantes da produção do algodoeiro, sobretudo quando estão envolvidos os patógenos mais agressivos que incidem nessa planta. Daí a importância de serem determinadas as perdas devidas à sua ocorrência, como fundamento para tomadas de decisão acerca de medidas para seu controle. São numerosos os procedimentos que vêm sendo adotados para isso, dentre eles os que compreendem o controle da presença do patógeno na planta (COSTA e CARVALHO, 1962; MICHELOTO e BUSOLI, 2006); os que têm como referência o controle químico do agente causal (SIQUERI e ARAUJO, 2001; SUASSUNA e IAMAMOTO, 2005); os que realizam o estudo em condições de campo, no nível de plantas de uma mesma cultivar, com diferentes graus de sintomas (FREIRE et al., 1999; CHIAVEGATO et al., 1994); os que fazem estimativas no nível de lavouras (BLASINGAME e PATEL, 2005); e os que são aplicados a resultados obtidos em experimentos de campo, com diferentes genótipos, onde ocorreram, naturalmente ou mediante inoculação, doenças diversas (CIA et al., 2005; ALMEIDA et al., 1999; FUZATTO et al., 1995). Estes últimos constituem valioso instrumento para essa finalidade, uma vez que experimentos dessa natureza são realizados em grande número, por várias entidades de pesquisa. No intuito de sistematizar procedimentos e tornar comparáveis resultados obtidos em estudos diversos, são propostos, neste trabalho, dois métodos para estimativas de perdas devidas a doenças, em experimentos de campo com genótipos de algodoeiro.

MATERIAL E MÉTODOS Dois métodos foram elaborados, um para estimativa de perdas no nível específico de genótipos e outro para estimar perdas possíveis, levando em conta os genótipos mais e menos suscetíveis estudados. Para demonstração foram ambos aplicados em experimentos realizados pelo Instituto Agronômico (IAC) no ano agrícola de 2005/06. Esses experimentos compreenderam o estudo de 18 genótipos (Tab. 1), utilizando delineamento em blocos casualizado, com cinco repetições e parcelas experimentais constituídas por uma linha com 5 metros de comprimento, contendo, idealmente, 30 plantas. Como exemplo foram estimadas as perdas devidas á incidência de nematóides. MÉTODO I Da Testemunha de Referência. Considere-se um conjunto de experimentos com genótipos de algodoeiro, no qual podem ser identificados: a) ensaios com incidência de determinada doença, considerada para estudo; e b) um ou mais experimentos em que, a julgar por sintomas nas plantas, não tenha ocorrido nenhuma doença, ou outra anormalidade, com intensidade possível de provocar perdas diferenciadas na produção de qualquer dos genótipos em estudo. Nessas condições, sejam: MSi : a média do genótipo i no(s) experimento(s) considerado(s) sem ocorrência da doença; MCi: a média do genótipo i no experimento em que ocorreu a doença em estudo; MSTR: a média, sem doenças, de genótipo participante do experimento, adotado como Testemunha Resistente para a doença em estudo; MCTR: a média da Testemunha Resistente, conforme a definição anterior, no experimento com ocorrência da doença em questão; IRSi = MSi / MSTR: Índice relativo da produção obtida pelo genótipo i, em comparação com a obtida pela Testemunha Resistente, no(s) experimento(s) sem doenças; e IRCi = MCi / MCTR: Índice Relativo equivalente ao anterior, porém, calculado a partir das produções obtidas no experimento com ocorrência da doença em consideração. Estima-se, então, pela equação: IRCi Pi(%) = 1 x IRSi 100 a perda de produção, em termos percentuais, sofrida pelo genótipo considerado, atribuível à incidência da doença em questão. Em princípio, essa estimativa deve variar de 0 (zero) a 100, ou seja, de ausência de perdas a perda total. Todavia resultados negativos podem eventualmente ocorrer (IRCi > IRSi, relação esta possível no caso de genótipos com resistência próxima a da Testemunha), o que deve ser interpretado também como ausência de perdas e não, como seria despropositado, ganhos pela incidência da doença. Para verificar a ocorrência das estimativas, o método prevê avaliação dos genótipos mediante sintomas da doença nas plantas, e análise de correlação entre os dados da variável que exprime essa avaliação e as perdas estimadas de produção. MÉTODO II Do Contraste entre Genótipos Extremos Considere-se um experimento com genótipos de algodoeiro, ao qual ocorreu o doença em estudo, e, além da determinação das produções, tenha havido avaliação quantitativa baseada nos

sintomas exibidos pelas plantas. Nessas condições, sejam MS e MI as médias de produção, respectivamente, dos n genótipos superiores e dos n inferiores, sendo n estabelecido de forma a que esses extremos não sejam super ou subrepresentados, em virtude de produções exorbitantes de genótipos que os integram, devidos a fatores estranhos à doença. Sendo R 2 o coeficiente de determinação na análise de correlação entre os dados de produção e os de sintomas da doença, estima-se: P 2 MS MI = R x 100, MS como a perda passível na produção, expressa porcentualmente, atribuível à incidência da doença, nas condições e com os genótipos extremos estudados. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Tabela 1 encontram-se os dados necessários para o cálculo das perdas, e a estimativa destas, pelo MÉTODO I, para os genótipos estudados. Verifica-se que as perdas específicas variaram de aproximadamente 16 a 51 %. A correlação r = 0,84**, entre elas e as notas médias atribuídas segundo os sintomas da doença, em cada genótipos, revelam boa associação desses dados, e, por conseguinte, apreciável consistência do método. Para estimativa da perda possível, segundo o MÉTODO II, foram utilizadas as médias de produção dos dois primeiros e dos dois últimos genótipos, no ensaio com incid~encia da doença (coluna MCi, na Tabela 1). A razão para isso é que a diferença de notas, segundo os sintomas, entre os dois primeiros colocados (2,7%) não justifica a diferença na produção entre eles (17,6%), o que leva a crer que algo, além da doença, pode estar condicionando a produção destacada do melhor deles. Dessa forma, tendo sido r = 0,89**, a correlação produção X nota média, o cálculo, segundo esse método, leva a estimar perdas de até 42 % na produção, devidas a nematóides. Esse valor não difere muito do obtido com o MÉTODO I, para a média dos dois piores genótipos (50 %). Embora os dois métodos levem a resultados parecidos (se, indevidamente, o MÉTODO II fosse aplicado a todos os genótipos, tal como o MÉTODO I, a correlação entre as perdas nos dois casos seria r = 0,93) eles diferem em aspectos conceituais e quanto aos objetivos. No MÉTODO I busca-se eliminar as diferenças no potencial produtivo dos genótipos, devidas a outros fatores que não a resistência à doença considerada. Isso permite efetuar a estimativa de perdas para cada genótipo e até mesmo compará-las. No METODO II, uma vez que não são eliminadas as citadas diferenças, busca-se dimensionar a expectativa de riscos com a doença, e a expressão perdas de até deve ser usada, para expressar a estimativa de perda possível, com o emprego dos genótipos mais suscetíveis e nas condições de infestação observadas. Vale notar que os dois métodos podem ser empregados para estimativa de perdas também em outras características quantificáveis, além da produção. Nos dois métodos, a escolha dos genótipos considerados padrões de resistência encerra certo grau de subjetivismo e possível fonte de distorções. Ademais, dependendo do nível efetivo de resistência desses genótipos, as perdas podem ser subestimadas. Assim, escolhas criteriosas, no primeiro caso, e garantia da presença de genótipos efetivamente resistentes nos experimentos, são condições indispensáveis para a eficiência dos métodos. Finalmente, deve-se enfatizar que o grau de correlação entre dados de avaliação da doença pelos sintomas, e os de produção ou perdas, é fator decisivo para o julgamento da validade das estimativas realizadas. A esse respeito atenção especial deve ser dada à possibilidade da ocorrência, no mesmo experimento, de mais de uma doença e de outros fatores, bióticos ou abióticos, que possam afetar, desigualmente, os genótipos. Nesse caso, avaliações quantitativa também dessas outras

adversidades, e análises de regressão múltipla e correlação parcial são necessárias para convalidar as estimativas de perdas efetuadas. CONCLUSÃO Por utilizar dados normalmente obtidos nos experimentos, e pela facilidade de aplicação, os métodos propostos podem contribuir para obtenção de informações mais consistentes acerca de perdas devidas a doenças. (*) Trabalho realizado com apoio financeiro da FAPESP e do FIALGO. IMPORTÂNCIA PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Estimativas adequadas de perdas devidas a doenças são indispensáveis para avaliar riscos com ocorrência dos patógenos, e para tomadas de decisões acerca de medidas para seu controle. Tabela 1. Produção médias de algodão em caroço, em Kg/parcela, índices relativos e estimativas de perdas devidas à incidência de nematóides, observados em experimentos com genótipos de algodoeiro realizados em 2005/06. GENÓTIPO MSi (1) IRSi MCi( 2) IRCi Nota média (3) Perdas (%) PR 0277 1,72-2,27-1,44 - IAC 24 1,68 0,977 1,87 0,824 1,48 15,7 IAC 03-2281 1,78 1,035 1,74 0,767 1,80 26,0 PR 0136 1,76 1,023 1,71 0,753 1,80 26,4 CNPA CO 01-54472 1,76 1,024 1,48 0,652 1,94 36,4 COODETEC 409 1,80 1,046 1,44 0,634 2,18 39,3 FMT 702 1,52 0,885 1,40 0,617 2,42 30,3 DELTAPENTA 1,67 0,971 1,36 0,599 3,02 38,3 DELTAOPAL 1,75 1,021 1,33 0,586 2,62 42,6 FMT 701 1,76 1,023 1,22 0,537 3,00 47,5 COODETEC 410 1,47 0,856 1,19 0,524 2,54 38,8 FIBERMAX 977 1,69 0,982 1,15 0,507 3,56 48,4 MAKINA 1,57 0,914 1,02 0,449 3,64 50,8 DESTAK 1,58 0,918 1,02 0,449 3,68 51,1 CNPA CO 00-337 1,86 1,081 1,04 0,458 2,68 57,6 STONEVILLE 474 1,50 0,873 1,01 0,445 3,52 49,0 EPAMIG-HCD-24-5-78 1,50 0,872 0,99 0,436 3,26 50,0 FIBERMAX 966 1,49 0,865 0,96 0,423 3,82 51,1 (1) Médias de produção em ensaios sem doenças; (2) médias de produção no ensaio com nematóides; (3) média de notas atribuídas aos sintomas, em escala de 1 a 5, crescentes com a gravidade da doença. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, W.P.; PIRES, J.R.; RUANO, O.; TURKIEWICZ, L. Comportamento de cultivares e linhagens de algodoeiro no Estado do Paraná em 1998/99. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 2., 1999, Ribeirão Preto-SP. Anais... Campina Grande,PB: Embrapa Algodão, 1999. p. 569-571.

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