SUSCETIBILIDADE DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO A Rhizoctonia solani E BENEFÍCIOS DO TRATAMENTO DE SEMENTES COM FUNGICIDAS (*)

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1 SUSCETIBILIDADE DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO A Rhizoctonia solani E BENEFÍCIOS DO TRATAMENTO DE SEMENTES COM FUNGICIDAS (*) Augusto César Pereira Goulart (Embrapa Agropecuária Oeste / goulart@cpao.embrapa.br) RESUMO O trabalho teve por objetivo avaliar o comportamento de algumas cultivares de algodoeiro ao fungo Rhizoctonia solani e os benefícios do tratamento de sementes com fungicidas em relação à densidade de inóculo desse patógeno. Seis cultivares de algodoeiro e quatro densidades populacionais de R. solani AG-4 foram testadas. Sementes não tratadas e tratadas com o fungicida tolylfluanid + pencycuron + triadimenol foram semeadas em areia contida em bandejas plásticas. A inoculação foi feita pela distribuição do inóculo de R. solani na superfície do substrato. O comportamento das cultivares foi significativamente influenciado pelas diferentes populações do patógeno, sendo que, menores índices de emergência e maiores índices de doença foram observados com o aumento da população do fungo. As melhores emergências e os menores índices de doença foram obtidos quando as sementes foram tratadas com. tolylfluanid + pencycuron + triadimenol. As populações do patógeno influenciaram significativamente nos benefícios do tratamento de sementes, demonstrando que a performance da mistura fungicida testada foi melhor na presença dos níveis mais baixos de inóculo do fungo. As cultivares CNPA ITA 90 II e BRS Aroeira, seguidas de BRS Cedro e BRS Ipê, demonstraram maior tolerância ao ataque de R. solani em comparação às demais. Palavras-chave: tombamento, nível de inóculo, Gossypium hirsutum. SUSCETIBILITY OF COTTON CULTIVARS TO Rhizoctonia solani AND BENEFITS OF FUNGICIDE SEED TREATMENT ABSTRACT The objective of this work was to evaluate the behavior of some cotton cultivars in relation to Rhizoctonia solani and the benefits of cotton seed treatments with fungicides in relation to inoculum densities of R. solani. Six cotton cultivars and four inoculum densities of R. solani AG-4 were tested. Treated and untreated seeds with the fungicide tolylfluanid + pencycuron + triadimenol were sowed in sand contained in plastic flats. The inoculation with R. solani was done by the distribution of the fungus inoculum onto the substrate. The cultivars behavior was significantly influenced by different populations of R. solani, with higher disease level and lower rates of emergence being obtained when inoculum densities were high. The best results in relation to emergence and disease level were obtained when the seeds were treated with the fungicide tolylfluanid + pencycuron + triadimenol. The pathogen population significantly influenced the benefits of seed treatment, once the performance of the tested fungicide was better when inoculum densities were low. The cultivars CNPA ITA 90 II and BRS Aroeira, followed by BRS Cedro and BRS Ipê, showed higher tolerance against R. solani than the others. Key words: damping-off, inoculum level, Gossypium hirsutum.

2 INTRODUÇÃO Um dos principais problemas que os cotonicultores de Mato Grosso do Sul vem enfrentando atualmente tem sido o tombamento de plântulas causado por Rhizoctonia solani (GOULART, 2001; GOULART, 2002). Dentre as práticas recomendadas para o controle dessa doença, o tratamento de sementes é a tecnologia mais empregada e eficiente para este tipo de problema, o que a torna uma ferramenta estratégica dentro do contexto do manejo integrado de doenças, conforme relatos de Goulart e Melo Filho (2000), Garber et al. (1980) e Davis et al. (1997). Trabalhos desenvolvidos por Goulart (2002), Goulart et al. (2000), evidenciaram que a ação combinada de fungicidas sistêmicos com protetores, tem sido uma estratégia das mais eficazes no controle do tombamento de plântulas causado por R. solani, uma vez que o espectro de ação da mistura é ampliado pela ação de dois ou mais produtos. Atualmente, os programas de melhoramento que priorizam o desenvolvimento de cultivares a serem plantadas no Centro-Oeste do Brasil têm procurado desenvolver variedades com melhor nível de resistência às principais doenças do algodoeiro (FREIRE e FARIAS, 2001). Entretanto, em se tratando do tombamento de plântulas causado por R. solani, não se conhece nenhuma informação no Brasil que mostre o comportamento das cultivares disponíveis no mercado frente a ação desse patógeno. Por ser a resistência genética potencialmente o mais econômico e eficiente método de controle de doenças de plantas, julga-se fundamental o preenchimento desta lacuna, no sentido de gerar informações a esta respeito. O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de algumas cultivares de algodoeiro ao fungo Rhizoctonia solani e os benefícios do tratamento de sementes com fungicidas em relação à densidade de inóculo desse patógeno. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi conduzido na casa de vegetação da Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MS. O inóculo do patógeno foi composto de sementes de aveia preta colonizada por R. solani AG-4, isolado de lesões do coleto de plântulas de algodoeiro. Culturas puras do patógeno, foram mantidas em meio de cultura BDA por 48 horas. Após esse período, o fungo foi repicado para um substrato composto de 2kg de sementes de aveia preta e ½l de água, previamente autoclavado,, durante 30 minutos, por três dias consecutivos, a 127 o C (1,5 atm de pressão), sendo mantido em condições ambientes por 35 dias. Após este período a aveia colonizada pelo fungo foi seca à sombra por dez dias, triturada em um moinho (1mm), de modo a se obter o inóculo do patógeno, na forma de um pó. Sementes de algodoeiro, deslintadas com ácido sulfúrico, em número de 200/bandeja plástica, foram semeadas em areia lavada, previamente autoclavada. As sementes foram distribuídas em orifícios individuais, eqüidistantes e a 3cm de profundidade. Antes do fechamento dos orifícios, foi feita a inoculação com R. solani. Foram realizadas duas avaliações de emergência: a avaliação inicial (aos sete DAS) e a avaliação final (aos 26 DAS). A avaliação de tombamento foi realizada diariamente, a partir dos 7 DAS, computando-se o número de plântulas tombadas até os 26 DAS.. Seis cultivares de algodoeiro (BRS Aroeira, BRS Ipê, BRS Cedro, CNPA ITA 90 II, DeltaOpal e Fibermax ) foram avaliadas quanto à suscetibilidade a R. solani AG-4. Foram utilizadas quatro densidades populacionais do fungo (0; 1; 2 e 3g/bandeja plástica de 56x35x10cm). Os benefícios do tratamento de sementes de algodoeiro com fungicidas foram avaliados, utilizando a mistura triadimenol+pencycuron+tolylfluanid ( g do i.a./100kg de sementes). As avaliações foram realizadas com base no desenvolvimento de sintomas e sobrevivência das plântulas.

3 Foi utilizado o delineamento experimental em esquema fatorial com três fatores (cultivares x tratamento de sementes com fungicidas x níveis de inóculo), inteiramente casualizado, com quatro repetições. As médias foram comparadas pelo teste de Duncan para o fator cultivares, pelo teste de T para o fator tratamento de sementes com fungicidas e pela análise de regressão para o fator níveis de inóculo, ao nível de 5% de probabilidade. Para análise estatística os dados foram transformados para arc sen x / 100. RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se que a emergência inicial e final de plântulas de algodoeiro foram significativamente reduzidas em função do aumento dos níveis de inóculo de R. solani (Tab. 1). Foi observado comportamento diferenciado das cultivares em estudo em relação ao patógeno R. solani, sendo que os resultados demonstraram índices significativamente maiores de tombamento em função do aumento dos níveis de inóculo de R. solani, para as cultivares BRS Cedro e BRS Aroeira. Entre as cultivares onde não se observou efeito significativo, aquela que apresentou a menor média estimada de tombamento foi a CNPA ITA 90 II, seguida de BRS Ipê. Para aquelas onde este efeito foi observado, destacou-se a cultivar BRS Aroeira, seguida da BRS Cedro (Tab. 2). Com relação à percentagem de plântulas com sintomas de tombamento, observou-se um aumento significativo deste parâmetro em função do aumento dos níveis de inóculo de R. solani (Tab. 2), sendo que as cultivares que apresentaram as menores médias estimadas para plântulas lesionadas foram BRS Ipê, CNPA ITA 90 II, BRS Aroeira e BRS Cedro. Deste modo, considerando estes dois parâmetros avaliados, as cultivares que demonstraram maior tolerância ao ataque de R. solani foram CNPA ITA 90 II, BRS Aroeira, BRS Ipê e BRS Cedro. Foi observado efeito significativo do tratamento de sementes com fungicidas, para as diferentes cultivares em estudo, com relação á emergência inicial e final, bem como para o tombamento e para a percentagem de plântulas lesionadas. Maiores emergências e menores índices de doença foram obtidos quando as sementes foram tratadas com a mistura tolylfluanid + pencycuron + triadimenol (Tabs. 3 e 4). Os resultados referentes à relação entre níveis de inóculo e tratamento das sementes com fungicidas encontram-se na Tabela 5. Observou-se que, em função do tratamento das sementes com a mistura fungicida tolylfluanid + pencycuron + triadimenol, obtiveram-se maiores emergências iniciais e finais e menores índices de tombamento de plântulas lesionadas. As populações do patógeno influenciaram significativamente nos benefícios do tratamento de sementes, demonstrando que a performance da mistura fungicida testada foi melhor na presença dos níveis mais baixos de inóculo do fungo.

4 Tabela 1. Relação entre emergência inicial e final (y) e níveis de inóculo (x) para as diferentes cultivares em estudo. Emergência inicial Emergência Final Equação R 2 Equação R 2 Fibermax 966 y = 78,4-2,7x 0,77 y = 78,4-2,7x 0,77 * BRS IPÊ y = 92,1 1,7x 0,79 y = 92,1 1,7x 0,79 * BRS CEDRO y = 92,1 1,4x 0,80 y = 92,1 1,4x 0,80* BRS AROEIRA y = 85,8 5,6x + 1,3x 2 0,98 y = 85,8 5,6x + 1,3x 2 0,98* DeltaOpal y = 86,9 ns y = 86,9 ns CNPA ITA 90 II y = 91,2 ns y = 91,2 ns ns= não significativo Tabela 2. Relação entre tombamento de plântulas e plântulas com sintomas de tombamento (y) e níveis de inóculo (x) para as diferentes cultivares em estudo. Tombamento de plântulas Plântulas com sintomas de tombamento Equação R 2 Equação R 2 Fibermax 966 y = 5,47 ns y = - 0,8 + 4,0x 0,96 * BRS IPÊ y = 2,97 ns y = 0,2+0,3x 0,95 * BRS CEDRO y = - 0,72 + 2,3x 1,74 y = - 1,0+3,2x 0,78 * BRS AROEIRA y = - 0,66 + 1,5x 0,82 y = 0,2+2,7x 0,99 * DeltaOpal y = 5,12 ns y = - 1,3+5,8x 0,93 * CNPA ITA 90 II y = 1,50 ns y = - 0,3+2,6x 0,97 * ns= não significativo Tabela 3. Efeito de cultivares x tratamento de sementes com fungicidas na emergência inicial e final de plântulas de algodoeiro. Emergência inicial Emergência inicial Sementes tratadas Sementes não tratadas Sementes tratadas Sementes não tratadas DeltaOpal 90,0 b A 83,6 b B 89,6 b A 76,6 b B Fibermax ,6 d A 71,2 d B 77,2 d A 64,0 c B CNPA ITA 90 II 94,1 a A 88,2 a B 94,0 a A 85,6 a B BRS IPÊ 91,9 ab A 87,2 a B 91,5 ab A 83,4 a B BRS CEDRO 92,9 ab A 87,2 a B 92,5 ab A 82,9 a B BRS AROEIRA 86,2 c A 78,0 c B 86,0 c A 75,6 b B Média 88,8 A 82,6 88,5 78,2 C.V. (%) 2,47 2,44 2,21 2,86 Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas (Duncan, 5%) e maiúscula nas linhas (Teste de T, 5%) não diferem significativamente entre si.

5 Tabela 4. Efeito de cultivares x tratamento de sementes com fungicidas em relação ao tombamento de plântulas e à percentagem de plântulas de algodoeiro com sintomas de tombamento. Tombamento de plântulas Plântulas com sintomas de tombamento Sementes tratadas Sementes não tratadas Sementes tratadas Sementes não tratadas DeltaOpal 0,4 ab A 9,8 a B 0,7 b A 14,0 a B Fibermax 966 0,5 a A 10,4 a B 1,0 a A 9,5 b B CNPA ITA 90 II 0,1 c A 3,0 c B 0,8 ab A 6,7 c B BRS IPÊ 0,3 b A 5,6 b B 0,8 ab A 7,4 c B BRS CEDRO 0,4 ab A 5,0 b B 1,0 a A 7,0 c B BRS AROEIRA 0,3 b A 2,8 c B 0,6 b A 6,4 c B Média 0,3 6,1 0,8 8,5 C.V. (%) 17,01 8,51 9,52 7,65 Médias seguidas pela mesma letra minúscula nas colunas (Duncan, 5%) e maiúscula nas linhas (Teste de T, 5%) não diferem significativamente entre si. Tabela 5. Relação entre níveis de inóculo (y) e tratamento das sementes de algodoeiro com fungicidas (x) para os diferentes parâmetros avaliados. Parâmetros Equação R 2 Emergência Inicial Emergência Final Tombamento Plântulas lesionadas ns= não significativo y = 1,27 0,027x y = 1,14 y = 1,22 y = 1,20 0,079x y = - 0,01 + 0,035x y = 0, ,14x y = 0, ,097x + 0,017x 2 y = 0, ,15x 0,85 * ns ns 0,73 * 0,80 * 0,84 * 0,99 * 0,96 * CONCLUSÃO Os resultados obtidos demonstraram claramente que não se deve dispensar o tratamento das sementes de algodoeiro com fungicidas, apesar de algumas cultivares terem apresentado certa tolerância ao patógeno. Entretanto, como a performance de um determinado fungicida está relacionada, dentre outros fatores, com a população do patógeno no solo (conforme foi comprovado neste ensaio) e com a resistência do material a ser utilizado, sugere-se, em áreas com histórico de altas populações de R. solani, dar preferência às cultivares que apresentarem melhor comportamento frente ao patógeno, visando otimizar a eficácia do fungicida aplicado às sementes de algodoeiro. (*) Trabalho financiado pela Fundect

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DAVIS, R. M.; NUNEZ, J. J.; SUBBARAO, K. V. Benefits of cotton seed treatments for the control of seedling diseases in relation to inoculum densities of Pythium species and Rhizoctonia solani. Plant Disease, v. 81, n. 7, p , FREIRE, E. C.; FARIAS, J. C. F. de algodoeiro para o Centro-Oeste. In: EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE. Algodoeiro: tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Campina Grande: Embrapa Algodão, p GARBER, R. H.; DEVAY, J. E.; WEINHOLD, A. R.; WAKEMAN, R. J. Pathogen inoculum a key factor in fungicide seed treatment efficiency. In: BELTWIDE COTTON PRODUCTION RESEARCH CONFERENCES, 1980, Memphis. Proceedings... Memphis: National Cotton Council, p.19. GOULART, A. C. P. Tratamento de sementes do algodoeiro com fungicidas. In: EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE. Algodoeiro: tecnologia de produção. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Campina Grande: Embrapa Algodão, p GOULART, A. C. P. Benefícios do tratamento de sementes de algodoeiro com fungicidas no controle do tombamento em relação à densidade de inóculo de Rhizoctonia solani. Fitopatologia Brasileira, v. 27,, p. 218, (Suplemento). GOULART, A. C. P.; ANDRADE, P. J. M.; BORGES, E. P. Controle do tombamento de plântulas do algodoeiro causado por Rhizoctonia solani pelo tratamento de sementes com fungicidas. Summa Phytopathologica, v. 26, n. 3, p , GOULART, A. C. P.; MELO FILHO, G. A. de. Quanto custa tratar as sementes de soja, milho e algodoeiro com fungicidas? Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p. (Boletim de Pesquisa, 7).