O ambiente é actualmente um elemento estruturante do desenvolvimento da sociedade e do território, não sendo possível conceber políticas ou planos sem uma forte componente de ambiente e qualidade ambiental. No seu conceito mais amplo, o ambiente está intrinsecamente ligado à população globalmente e às cidades em particular, numa interferência biunívoca: a qualidade de vida e o bem-estar são desejados por todos, o que depende de um bom ambiente; mas é o cidadão, ou o seu conjunto, que pelas suas actividades degrada e polui o ambiente e delapida recursos naturais. Assim, para que uma proposta de intervenção do tipo da Agenda 21 seja consistente e consequente deve ser alicerçada na auscultação da população, na procura de mecanismos que permitam uma maior participação de toda a comunidade. É fundamental que sejam identificadas as verdadeiras, naturais e legítimas necessidades e aspirações de todos os cidadãos envolvidos no processo quer a nível individual, quer relativamente aos grupos de interesse organizados. O aspecto crítico no processo de desenvolvimento sustentável é a implementação da mudança, o que requer comunicação, compromisso, disseminação e partilha de resultados, bem como avaliação da eficácia da mudança. Assim, no âmbito da concepção, estruturação, definição, implementação e avaliação da Agenda 21 é indispensável a criação de condições que assegurem que toda a população fique devidamente representada, para poder exprimir opiniões, discutir valores, trocar informação, argumentar sobre necessidades e prioridades, ou seja, participar e cooperar efectivamente. É neste sentido que se propõe a criação de um Fórum de Desenvolvimento Sustentável, apontando-se desde já algumas orientações que se entende serem uma contribuição para instituir este pilar fundamental do edifício da Agenda 21 Local. 69
6.1. Missão O Fórum de Desenvolvimento Sustentável é a instância fundamental através da qual se opera a participação da comunidade na validação, implementação, acompanhamento e avaliação da Agenda 21 Local. 6.2. Fases Importantes A Criação do fórum O fórum deve ser criado no início deste processo para que todos se sintam comprometidos; O fórum deve ser criado de forma autónoma, espontânea e voluntária. O fórum deve ser completamente independente, designadamente das autoridades públicas locais, admitindo-se que na fase inicial de arranque a autarquia possa dar um impulso para a sua criação, providenciando meios humanos e instalações; serviços (correio, secretariado) e informação (meios de a produzir e divulgar), suporte financeiro; etc. B Objectivos É fundamental que os objectivos sejam definidos de forma clara e sem ambiguidades, para que todos saibam para que serve, o que se discute e o que se pretende. Deve haver portanto um mandato para o fórum que será o seu objectivo, ou seja, a razão da sua existência. Esse mandato deve ser proposto para aprovação formal na primeira reunião plenária do Fórum. Na definição do objectivo deve ter-se em atenção que se trata de um mecanismo e de um espaço de envolvimento de toda a comunidade local, no qual: sejam expostas todas as necessidades e aspirações; sejam discutidas as prioridades de desenvolvimento; 70
sejam discutidas as propostas concretas que sejam uma contribuição para a Agenda 21; seja promovida uma cooperação aos mais diversos níveis; seja acompanhada a evolução da Agenda 21 o que será mais proveitoso se o Fórum for envolvido desde o início da sua dinâmica. Para a concretização dos objectivos do Fórum é imprescindível haver consenso no sentido de que o Fórum é independente (não depende directamente de qualquer entidade ou instituição); autónomo (contribui directamente com sugestões); consultivo (não toma decisões); universal (todos podem participar); voluntário (a participação e o trabalho). C Composição e Constituição O Fórum deve envolver todos os cidadãos individualmente ou enquanto organizações ou agrupamentos existentes, abrangendo todos os sectores. É necessário seleccionar os membros a convidar mas, todo o cuidado é pouco, para não limitar ou impedir qualquer participação. Portanto, numa primeira abordagem deverão ser todos convidados para se ter uma ideia de dimensão : - Todos os cidadãos - Todos os grupos da mais diversa índole. Obviamente que desta forma se chega à conclusão que o grupo é grande e, portanto, passar-se-á a uma fase em A auscultação da população, na procura de mecanismos que a escolha dos membros que permitam a participação de toda a comunidade, é é feita pela sua representatividade em relação aos tipo da Agenda 21 seja consistente e fundamental para que uma proposta de intervenção do consequente. 71
diversos grupos de interesse e sectores constituídos. Nessa medida, a composição do fórum poderá basear-se em representantes de grupos que envolvam todos os sectores da sociedade. Instituições Autarquia (corpos dirigentes); Assembleia Municipal; Juntas de Freguesia; Forças de segurança e de protecção civil. População Local Grupos de cidadãos residentes ou naturais; Grupos específicos (jovens, mulheres, reformados, minorias, etc). Agentes Económicos Empresários; Proprietários Rurais; Associações de Pequenos Comerciantes / Industriais; Entidades públicas ou privadas ligadas ás actividades económicas de interesse estratégico. Agentes Sociais Grupos Culturais; Grupos Recreativos; Clubes Desportivos; Escolas; 72
Associações locais, nomeadamente a APROFLORA; I.P.S.S. (Misericórdias). Interesses Ligados ao Ambiente Associações de Protecção da Natureza e do Consumidor. 6.3. Contribuição para o Regulamento / Estatutos Face à necessidade de proceder à criação do Fórum numa fase precoce do processo, importa que exista dinamização para o seu início. Podendo esta função ser assumida pela autarquia, deve ser constituída por esta uma comissão organizadora, desde logo, com participação plurifacetada e propor a realização da primeira reunião plenária, sugerindo data, local e agenda. Esta proposta deve ser adequadamente estruturada para ter êxito, nomeadamente no que se refere a: a) forma como se elege o presidente do Fórum, qual o seu perfil e as suas características fundamentais; b) definição do mandato e das competências do presidente; c) regras de aceitação de todas as candidaturas voluntárias a presidente do Fórum; d) definição e a aprovação dos objectivos concretos do Fórum; e) definição da composição do Fórum (quem deve participar e em que condições de representatividade); f) elaboração de um regulamento - os Estatutos - o qual será aprovado pelo plenário. 73
Os Estatutos devem contemplar: - a forma de trabalhar; - quais as tarefas; - como se desenvolvem as reuniões; - como se convocam, qual a periodicidade; - qual o conteúdo das deliberações (decisões, recomendações, pareceres, etc.); - constituição de grupos de trabalho específicos (porquê, para quê, mandato, composição); - quais as condições de representatividade de um membro; - como se poderá convidar ou aceitar novo membro; - como chegar a consensos para votações importantes; - como manter isenção e neutralidade em cada assunto; - como colaborar com outras entidades (por exemplo: Autarquia) e como cooperar para além do concelho; - como se dinamiza e divulga o Fórum e a Agenda 21; - quais os papeis dos diversos actores e participantes; São, ainda, fundamentais nos Estatutos os aspectos relacionados com a organização administrativa, secretariado e logística (espaços e meios materiais, bem como, elaboração de actas e arquivo). Naturalmente todas estas questões e tarefas não são fáceis, requerem muito tempo e empenhamento, pelo que é possível que não seja suficiente uma só sessão para organizar, discutir e aprovar tudo o que foi apontado e que se considera o mínimo desejável. Portanto, é fundamental que se prepare convenientemente todo o trabalho, por exemplo, elaborando as primeiras versões dos documentos, e que sejam previstas várias reuniões plenárias se forem necessárias. 74