JANEIRO
BRASP V ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS OBTENTORES VEGETAIS Apoio:
Aos sojicultores do Mato Grosso: ste documento foi elaborado em virtude da elaboração de um documento pela Aprosoja/MT que recomenda aos produtores que não realizem o plantio de sementes de soja em Dezembro, mas a partir de Fevereiro. Visa explicar a importância técnica de não alongar a janela de semeadura da soja em face aos desafios fitossanitários do momento, sob uma ótica diferente da apresentada pela Aprosoja/MT em entrevistas e documentos divulgados. É importante frisar o entendimento das entidades signatárias de que o conjunto de operações da cadeia produtiva é uma relação que envolve muitos elos, que não sobrevivem um sem o outro. Posicionamentos que colocam as entidades de pesquisa, as indústrias de insumos, os distribuidores e o governo contra o agricultor passam longe de serem munidos de verdade e em nada colaboram com o desenvolvimento da atividade agrícola. O momento, sob a ótica fitossanitária, é extremamente delicado, pela dificuldade de controle das pragas nos ambientes tropicais: as pragas estão presentes no ambiente, se adaptando às diferentes situações impostas pelos manejos adotados, sendo muitas delas presentes nas culturas de milho, soja e algodão; a resistência crescente a diferentes defensivos agrícolas já registrados (tanto fungicidas, como inseticidas e herbicidas) tem ocorrido; o número de lançamento de novos defensivos tem sido reduzido, bem como a descoberta de novos modos de ação; o tempo de registro de novos defensivos no Brasil é extremamente elevado em relação aos demais países de potencial agrícola e vizinhos ao País; o ciclo das pragas é mais rápido e não é interrompido por invernos rigorosos, mas favorecidos por cultivos sucessivos que hospedam pragas durante o ano todo.
Diferença entre redução da janela de semeadura (calendarização) e vazio sanitário ão duas técnicas de fundamental importância para o manejo de pragas (insetos praga, doenças e plantas daninhas). Se o vazio sanitário é sagrado, a redução da janela de semeadura também deveria ser. O vazio sanitário é um período que pressupõe a ausência de plantas vivas da cultura (caso haja planta voluntária, cabe ao proprietário da área controlar essas plantas) visando diminuir a população total da praga no próximo ciclo de cultivo ( começar a lavoura no limpo ). Já a redução da janela de semeadura (calendarização) significa limitar a data máxima de plantio (reduzir o tempo entre a primeira e a última semeadura) com os objetivos de diminuir o número de ciclos das pragas e de retardar o processo de evolução da resistência. A existência de uma área plantada com uso de defensivos, independentemente do tamanho, contribui para a manutenção da praga viva e sua reprodução, favorecendo uma evolução mais rápida para sobrevivência aos defensivos agrícolas, reduzindo assim a vida útil dos mesmos.
Por que foi adotado o vazio sanitário e somente agora se propõe a calendarização? s legislações que instituem o vazio sanitário nos estados foram criadas, em sua maioria, entre 2006 a 2008. Naquela época, a resistência das pragas aos defensivos agrícolas não era vista como um problema, por uma razão simples: havia grande oferta de novos ingredientes ativos. Em 2005, 27 novos ingredientes ativos foram registrados, ao passo em que em 2018 apenas um novo ingrediente ativo foi registrado (um nematicida). Dessa forma, se as legislações fossem propostas hoje, provavelmente a calendarização e o vazio seriam recomendados conjuntamente. O vazio sanitário seria suficiente para acabar com os problemas da ferrugem se ele eliminasse a totalidade dos patógenos pois alguns fungos patogênicos (principalmente o da ferrugem asiática) necessitam se hospedar em tecidos vivos da planta de soja. No entanto, é impossível controlar o sistema a fim de eliminar totalmente as plantas hospedeiras, principalmente devido a plantas de beira de rodovias, escape de controle, agricultores que não respeitam o vazio, estados que ainda não adotaram o vazio sanitário etc. No caso da ferrugem, apesar da soja ser a principal hospedeira, há várias outras leguminosas que hospedam o fungo na entressafra, embora nem todas sejam boas hospedeiras. Adicionalmente, há pragas que completam o ciclo todo em outras hospedeiras que não dependem de que haja plantas vivas de soja. Vale a pena lembrar que, no momento atual, além de buscar um sistema para que os registros de ingredientes ativos novos sejam acelerados, é fundamental proteger e manter a eficácia dos produtos que já estão no mercado e são fundamentais para manter a competitividade dos agricultores brasileiros.
A evolução da praga não volta atrás resistência é algo que não se elimina, se retarda resistência é um processo de evolução da praga em busca de sua sobrevivência. Na natureza, as evoluções já ocorreriam de qualquer forma, pois qualquer ser vivo evolui em busca de sua sobrevivência. Essa é a lei mais básica da natureza. Assim, a cada ciclo da praga, ocorrem mutações que conferem adaptação ao ambiente hostil para a praga. Quanto mais ciclos da praga, maior é a possibilidade de que ocorra a adaptação da espécie praga. Nos sistemas de cultivo agrícola há um agravante adicional: as pragas, além da própria seleção natural, enfrentam a pressão do controle efetuado pelo ser humano. O que para nós é um controle, para as pragas é uma ameaça à sobrevivência da espécie. E para sobreviver elas evoluem. Cada aplicação de defensivos seleciona indivíduos resistentes. A sobrevivência desses indivíduos para o próximo ano depende do custo adaptativo, que pode ser nulo em algumas situações. Reduzir a pressão de seleção desses novos indivíduos é de extrema importância, a fim de se minimizar a seleção de pragas resistentes, que em maior ou menor frequência ocorrerão nas próximas safras, em função do custo adaptativo. Por isso é importante reduzir a janela de semeadura, uma vez que em qualquer área plantada com soja no Brasil, atualmente, se faz uso de defensivos. Qualquer pequena área plantada fora da janela é capaz de manter as pragas vivas e perpetuar as possíveis pragas resistentes que causarão prejuízos às lavouras. É fundamental evitar a ponte verde, principalmente quando esta é composta por áreas de sementes, as quais exigem múltiplas aplicações de defensivos (maior que em áreas comerciais de grãos) em função do alto valor agregado ao produto final, aumentando ainda mais os riscos de evolução da resistência.
Não é só a ferrugem-asiática bviamente, pela agressividade e velocidade de evolução do fungo causador da ferrugem, o foco da discussão acaba caindo sempre sobre essa doença. Mas os problemas atuais de resistência não se resumem apenas à ferrugem asiática. Podemos citar resistência em percevejos, moscabranca, lagartas e plantas daninhas como capim-amargoso e buva, por exemplo. O vazio sanitário diminui a população das pragas e reduz o número de aplicações nas fases iniciais da cultura. Por sua vez, a redução da janela de semeadura diminui o número de ciclos das pragas, reduzindo a velocidade da resistência. Da mesma forma, a rotação de culturas consiste em uma técnica fundamental de manejo dessas pragas. Todas as pragas citadas têm um aspecto em comum: poucas opções de modos de ação nos produtos existentes e quase nenhum modo de ação novo a ser lançado nos próximos anos. E aqui cabe uma separação: novos ingredientes ativos nem sempre têm modos de ação diferentes. Por exemplo, os últimos fungicidas de sitio específico lançados foram do grupo das Carboxamidas (FRAC C2). Se uma indústria lança depois um novo produto também do Grupo C2, este novo produto provavelmente terá maior eficácia no momento do lançamento. Mas nesse caso, sob a ótica da resistência, não existe efetividade na rotação deste novo produto com as demais Carboxamidas que já estavam no mercado, pois haverá um processo de resistência cruzada.
5. Soja safrinha não é só soja sobre soja requentemente cria-se uma confusão com o tema soja safrinha. Quando se fala sobre a soja safrinha, se fala sobre a soja que não é plantada na condição ideal, nas primeiras águas, na safra, e que por isso tende a produzir menos (safrinha). Dessa maneira, a soja considerada safrinha não depende da cultura plantada anteriormente, mas sim do momento da semeadura, ou seja, um plantio tardio, realizado já no final do ciclo natural da soja, é considerado uma soja safrinha. Por outro lado, é consenso que a soja na mesma área (soja sobre soja) é totalmente inviável devidos aos riscos com pragas e, por isso, não será discutido neste momento. Para fungos como o causador da ferrugem, que se disseminam pelo vento, não existe muita influência do cultivo anterior (se foi feijão ou milho) pois o fungo se dissemina a longas distâncias, vindo de áreas que já receberam aplicação e não necessariamente da mesma fazenda.
6. Recomendação da soja extemporânea (plantada fora do calendário) e a Limitação do plantio a 5% da área total ponto é que soja plantada fora de época extemporânea (como em fevereiro) cria ponte verde e aumenta o risco de resistência aos defensivos independentemente se a área estava anteriormente em pousio, se tinha outra cultura, se é pequena ou se foi tratada só com fungicidas multissítio. É importante lembrar que as pragas não se resumem só a ferrugem. Sob a ótica técnica: Como já dito, para a resistência, o problema é alongar a janela, criar a ponte verde que permite que a praga se mantenha viva. Em pragas de alta mobilidade, como os fungos que se multiplicam por esporos, a dispersão entre áreas é extremamente fácil. Um isolado que evolua para ser resistente já é o suficiente para gerar transtornos, uma vez o fungo da ferrugem completa seu ciclo reprodutivo em 7-10 dias, produzindo novos esporos na mesma lesão por até 3 semanas e milhões de novos indivíduos. Não há como garantir que medidas como não semear soja sobre soja ou limitar a 5% do total possam efetivamente reduzir a possibilidade de resistência.
Sob a ótica jurídica: A legislação do Mato Grosso proíbe a semeadura após 31 de dezembro. Não há salvaguardo jurídico a quem plantar fora de época, quer seja em áreas em que não estava plantada soja ou em área limitada. É uma infração plantar em fevereiro. Nenhuma assistência jurídica que possa ser oferecida por alguma entidade conseguirá livrar alguém de uma infração apurada e documentada. A prática de semeadura de soja tardia pode causar danos em curto prazo ao produtor em função de possíveis multas e da ordem para destruição da área cultivada. Mas também pode trazer um impacto irreparável ao País, colocando em risco toda a safra principal, passando a ser uma questão de segurança nacional com potenciais riscos à balança comercial, que tem parcela significativa na sustentabilidade da cadeia da soja. Cada agricultor é responsável pela manutenção da sustentabilidade da prática agrícola, seja fazendo o certo, seja denunciando quem não o faz. É importante frisar, também, que os impactos dessas ações não serão verificados de imediato, neste plantio ou talvez na próxima safra, mas com certeza a ampliação da janela terá uma consequência catastrófica nas safras subsequentes. Se novos mecanismos de ação não forem descobertos haverá uma perda significativa da performance dos produtos e, logo, nas produtividades, demandando aumento da necessidade no número de aplicações durante a safra. O Mato Grosso não é uma ilha isolada, qualquer medida tomada nesse estado poderá afetar os demais estados no caso da ferrugem, pela capacidade de disseminação do fungo pelo vento e mesmo de outras pragas com menor mobilidade, que com o passar do tempo acabam atingindo longas distâncias.
Pressão de pragas em dezembro e em fevereiro s plantios realizados em fevereiro, independentemente do tamanho da área ou da cultura anterior, aceleram a resistência das pragas, conforme já exposto anteriormente. Também não importa se chove ou não chove, se o molhamento das folhas é longo, se a planta está fechada. Algumas das áreas de produção de semente própria são feitas sobre irrigação, podendo comprometer ainda mais a situação de risco, aumentando o período dos fungos sob pressão de seleção aos fungicidas em função de maior extensão das pontes verdes. Esta não é uma opção viável. Reiteradamente, têm sido divulgadas pela Aprosoja/MT as dificuldades do manejo fitossanitário da soja e o fato de que quase 100% dos plantios se encerram ainda no mês de novembro, raramente em dezembro, salvo alguns casos esporádicos ou por condições de precipitação insuficientes. Esta afirmação denota o senso comum de que é possível para quase todos os agricultores capacitados e tecnificados do Estado do Mato Grosso realizarem os plantios nas épocas mais adequadas ao cultivo. Ou seja, a soja de Dezembro não é necessária e, de acordo com a Aprosoja/MT, oferece muitos riscos. Em busca do bem comum, não há razão, assim, para alterar a legislação no intuito de beneficiar uma ínfima minoria em face ao risco a toda cadeia produtiva da soja no Estado. Não se trata de uma comparação da soja de fevereiro contra o plantio de dezembro. Estas duas épocas de semeadura representam sérios riscos. Porém, ao recomendar a semeadura ilegal em fevereiro, a proposta da Aprosoja/MT manterá os alegados riscos da soja de dezembro e adicionará os riscos da soja de fevereiro.
Falta de pesquisas para justificar a calendarização ão é verdadeira a afirmação de que a implantação da calendarização, que reduz a janela de semeadura, foi realizada sem pesquisas ou justificativas técnicas e serve a interesses comerciais. Desde de 2003/04, o Consórcio Antiferrugem realiza os ensaios de eficácia dos fungicidas, estes que permitiram acompanhar a queda de eficiência dos fungicidas. O Consórcio Antiferrugem é formado por diversos cientistas distribuídos em todo o País, inclusive no Mato Grosso. Esses dados de eficácia são complementados pelos bioensaios e análises moleculares do fungo realizados pelas empresas, e têm permitido acompanhar as mudanças do fungo ao longo dos anos. Quando o Consórcio propôs diversas medidas, entre elas a redução da janela de semeadura para reduzir o número de aplicações e também a pressão de seleção na reunião de 2013/14, foi em função da redução de eficiência das estrobilurinas e da entrada das carboxamidas no mercado. A redução do número de aplicações é uma estratégia antirresistência conhecida e recomendada em qualquer patossistema. Nem todos os Estados adotaram a redução da janela de semeadura conforme recomendado, e o fato dos primeiros isolados menos sensíveis a carboxamidas terem sido observados nos estados que não adotaram, ao invés do Cerrado que adotou de imediato, mostra que a estratégia foi eficiente. Mas, como as mutações tendem a se uniformizar pela disseminação do fungo pelo vento, nas safras seguintes, os mutantes menos sensíveis a carboxamidas, começaram a ser encontrados nos monitoramentos nas demais regiões. No Sul, onde a janela foi implantada por último, foi onde a mutação I86F foi detectada inicialmente em maior frequência. Existem mais de 23 mutações que ainda podem ocorrer para carboxamidas e, por isso, ainda se insiste na redução do número de aplicações ao longo da safra para reduzir pressão de seleção para resistência.
As pesquisas são claras ao mostrar a evolução do fungo, bem como a redução de eficiência do fungicidas. É para isso que medidas vêm sendo propostas. A janela de semeadura é uma delas. A força tarefa para a aprovação das misturas em tanque também fez parte das propostas dessa reunião do Consórcio, com moção encaminhada ao MAPA. É sabido que nenhuma dessas medidas vai frear a evolução, mas é uma tentativa de atrasar um processo que vem ocorrendo de forma muita rápida e, com isso, dar chance para que novas ferramentas cheguem ao mercado, com o objetivo de ajudar o produtor a manter a estabilidade de produção. Nunca houve objeções para realizar pesquisas que venham a beneficiar os agricultores. Investimentos vêm sendo feitos em variedades com genes de resistência, mas essas apresentam a mesma limitação dos fungicidas, sendo facilmente vencidas pelo fungo. O que não se pode concordar é com a pesquisa para o manejo da forma como está sendo proposta, aumentando o risco fitossanitário pelo mero de benefício de alguns poucos. Não é preciso realizar pesquisas específicas para apurar o que já é sabido: a ponte verde representa um problema.
A indústria de defensivos não quer a soja de fevereiro porque ganha dinheiro com a soja plantada em dezembro na qual agricultor aplica bastante fungicida? ão é verdade que toda soja plantada em dezembro recebe dez aplicações de fungicidas e nem que as indústrias focam apenas no retorno financeiro consequente. Podem haver casos em que são necessárias dez aplicações de fungicidas nos plantios de dezembro. Mas não, isso não é regra. Tratam-se de casos em que se perdeu o controle, provavelmente pelo uso de produtos com baixa eficiência ou pela entrada atrasada devido à ocorrência de chuva, adoção de doses incorretas ou outros manejos incorretos. As pesquisas das indústrias apontam uma média de aproximadamente 3,5 aplicações de fungicidas nas sojas plantadas neste mesmo período. Os ensaios em rede são realizados em plantios de final de novembro e dezembro e o controle é feito com quatro aplicações de fungicida. Os plantios de dezembro não têm relevância em área total cultivada. No Mato Grosso, por exemplo, na safra 17/18, 95,5% das áreas de cultivo foram semeadas até o fim de outubro e outros 4,3% foram semeados em novembro. Somente 0,2% das áreas foram semeadas em dezembro. Não é de interesse das indústrias colocar em risco os princípios ativos que tiveram investimentos intelectuais e econômicos por volta de 12 anos e ao redor de US$ 286 milhões de dólares em pesquisas, somados a cerca de 8 anos para registro.
É balela que não há novos fungicidas para entrar no mercado? Logo as indústrias aparecem com um novo produto? lista de produtos na fila para registro é pública. Está no site do Ministério da Agricultura. Há 17 novos princípios ativos de fungicidas, dos quais seis são Carboxamidas (FRAC C2), três são Estrobirulinas (FRAC C3) e um é Triazol (FRAC G1), grupos que já estão em uso para o controle da ferrugem da soja atualmente. Do restante da fila de análise, só sete fungicidas são de Grupos que ainda não são utilizados para o controle da ferrugem da soja. Com um porém: estes sete restantes não devem ser direcionados para a ferrugem, pois nem todo fungicida tem ação no controle da ferrugem. Assim, é possível dizer que não existe neste momento na fila de registro nenhum produto com um novo mecanismo ou modo de ação contra a ferrugem. E, considerando que, em média, os registros de novos ingredientes ativos têm sido aprovados em oito anos, é notável que o período em que não haverá o lançamento de produtos com novos modos de ação não será curto. A rotação de modos de ação é um princípio de fundamental importância no manejo da resistência. Lembrando, ainda, que o problema da janela longa não se restringe aos fungos, mas também, envolve insetos praga e plantas daninhas resistentes, com relação aos quais também há problemas envolvendo a morosidade no registro de novos ingredientes ativos e falta de expectativa no que se refere a descobertas de novos modos de ação.
A resistência genética é o futuro? ez genes Rpp ou alelos já foram mapeados em seis lócus, nomeados Rpp1-Rpp7. Porém, como são genes de efeito dominante, apresentam a mesma limitação dos fungicidas sítio-específicos, podendo ser vencidos pela variabilidade do fungo. O número de cultivares com genes de resistência ainda é limitado e seu uso não dispensa a adoção de outras medidas de manejo, incluindo a pulverização com fungicidas. As cultivares resistentes não são imunes à ferrugem-asiática, pois o fungo ainda consegue causar lesões nas plantas e também podem se tornar suscetíveis caso ocorra quebra da resistência.
Reclamações da qualidade da semente e atraso na entrega, justificam o plantio da soja de fevereiro? importância da qualidade da semente para buscar a máxima produtividade é indiscutível, portanto essa preocupação é justificável. Mas não justifica o não cumprimento de uma legislação vigente no tocante à realização do plantio em fevereiro. Em Agosto de 2018, a BRASPOV contratou a empresa SPARK para realizar uma pesquisa nacional com produtores de soja, a fim de identificar o percentual de agricultores que acham importante a prática de salvar sementes e os motivos que os levam a isso. A surpresa foi grande ao se notar que a qualidade ficou em sexto lugar no ranking de preocupação com apenas 5% das citações, e a não entrega da cultivar adquirida não foi citada, sendo que o principal motivo para se salvar sementes foi o desejo de economizar, com 33% das citações. Os dados, porém, mostram que a indústria sementeira fez um bom trabalho nos últimos anos, onde a qualidade deixou de ser a principal preocupação do agricultor, passando a ser a economia, que acontece principalmente pela não obrigatoriedade do pagamento de royalties para a empresa de germoplasma na semente salva. Ainda assim, caso o agricultor opte por salvar sementes, é perfeitamente possível produzir sua semente própria, na safra, como a própria Aprosoja/MT já manifestou em entrevistas. A indústria de sementes do Brasil é reconhecida como uma das mais avançadas e eficientes do mundo. O mercado brasileiro de sementes é o terceiro maior do mundo, extremamente competitivo e possui, aproximadamente, 800 empresas atuando e competindo. Somente no estado do Mato Grosso são cerca de 50 empresas, tradicionais, de excelente nível técnico e com capacidade para atender aos agricultores do Estado. Em um cenário tão competitivo, prezar pela qualidade, pela variedade no fornecimento de cultivares e pela assistência ao cliente, são preceitos fundamentais para se manter no mercado.
É sim possível ter sementes de boa qualidade obtidas na safra regular e guardadas até a próxima época de semeadura semente é um insumo fundamental para a produção agrícola. Sementes de qualidade são produtivas, têm alto percentual de germinação e vigor, são resistentes a doenças, contemplam assistência técnica (pré e pós plantio), por parte do sementeiro e, ainda, possuem Nota Fiscal e certificado de garantia. O produtor tem a quem recorrer caso ocorra algum problema. Porém, resguardados os direitos de propriedade intelectual cabíveis, e seguindo todas as diretrizes da legislação pertinente, não há impeditivo algum para o agricultor produzir sua própria semente. A produção de sementes de qualidade na safra regular e armazenadas até a próxima época de semeadura é possível. Tanto é possível que a qualidade aparece em apenas 5% das citações na pesquisa da BRASPOV junto a produtores de soja que salvam semente. As empresas produtoras de semente produzem na safra, o que se tornou possível pelo investimento em estrutura e desenvolvimento de tecnologias que permitiram a produção de semente de qualidade dentro da data limite legal, o que também é plenamente possível para os agricultores que queiram salvar sua semente sem pôr em risco a sustentabilidade da sojicultura. A própria Aprosoja/MT, através de seu consultor Wanderley Guerra, admitiu em entrevista ao portal Noticias Agrícolas que se o produtor quiser produzir semente, o ideal é que se faça na própria safra. Sobre a alegada necessidade do plantio em fevereiro, cabe uma reflexão: Se fosse verdade a afirmação de que é extremamente necessário realizar o plantio de fevereiro para ter boas sementes, não seria natural pensar que as empresas produtoras de semente fossem as primeiras a pleitear esta liberação do plantio fora de época? Mas a Aprosoja/MT tem afirmado que as pressões econômicas do setor sementeiro é que impedem a alteração da IN INDEA 02/2015, que implementa medidas de controle da ferrugem da soja afirmação que não faz sentido.
Agricultor: omos parceiros em sua luta diária de produzir e prosperar no negócio agrícola. Ainda que, em curto prazo, a soja de fevereiro possa parecer uma boa opção, em um prazo maior ela só trará riscos, reduzirá a eficácia das ferramentas de controle de pragas e aumentará os custos de produção. Diga não à soja de fevereiro!!! Denuncie qualquer plantio irregular ao INDEA/MT. O futuro da sojicultura está em suas mãos!