Memorias Convención Internacional de Salud Pública. Cuba Salud 2012. La Habana 3-7 de diciembre de 2012 ISBN 978-959-212-811-8

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RISCOS PERCEBIDOS E VIVIDOS POR POLICIAIS CIVIS: ESTUDO COMPARATIVO EM DOIS MUNICÍPIOS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Autores: Patricia Constantino Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde/CLAVES/FIOCRUZ Email: paticons@claves.fiocruz.br Tel: (55 21) 3882-9056/(55 21) 94248916 Introdução O objeto deste trabalho é a representação social de risco pelos policiais civis do município de Campos dos Goytacazes- interior do Estado do Rio de Janeiro, comparada à dos policiais civis da capital do Estado do Rio de Janeiro. Fruto da tese de doutorado da autora também parte das discussões da linha temática Condições de Trabalho, Saúde e qualidade de vida dos profissionais de segurança pública do Centro Latino Americano de Estudos de Violência e Saúde/ CLAVES/FIOCRUZ (Minayo & Souza,2003; Minayo, Souza e Constantino, 2008). A Polícia do Rio de Janeiro pode ser configurada como uma das instituições em que o risco não é um mero acidente, mas desempenha um papel estruturante das condições laborais, ambientais e relacionais. A evidência das probabilidades vem das altas taxas de mortalidade por violência de que são vítimas os policiais, dentro e fora de seu ambiente de trabalho, taxas essas muito mais elevadas que as da população em geral (Minayo, Souza, Constantino, 2007) tornando esses profissionais um grupo vulnerável e uma das prioridades para ações de saúde pública. A falta de atenção à saúde do policial enquanto trabalhador e ainda a relação entre a organização do trabalho e a vitimização destes profissionais são temas importantes que merecem destaque no campo da saúde pública. O trabalho aqui apresentado privilegia a ótica da Saúde Pública. Por isso se distingue dos estudos que tratam os problemas relacionados à Segurança Pública no Brasil ora como uma questão de soberania nacional e segurança interna, ora como um assunto de competência exclusiva das corporações policiais. Ambos os enfoques privilegiam e reivindicam, unicamente, os recursos e as intervenções provenientes das esferas federal e estadual, uma vez que são essas as instâncias responsáveis pelas forças armadas, pelas policiais e pelo sistema criminal. O estudo comparativo das representações sociais da policia civil de dois municípios - interior e capital - se justifica, evidenciando que a configuração da cidade influencia sobremaneira a visão destes profissionais sobre o seu trabalho, seus riscos e sua saúde. O sentido de risco que aplicado à profissão policial combina a visão epidemiológica relacionada à magnitude das vitimizações e a visão social pautada pela percepção dos profissionais e o enfrentamento do risco. Metodologia Utilizou-se como metodologia a triangulação de métodos. A pesquisa quantitativa foi composta de um questionário aplicado aos policiais do Município de Campos dos Goytacazes, similar ao utilizado com os policiais do Rio de Janeiro (Minayo & Souza, 1999). O questionário é composto por questões relacionadas às condições de trabalho, saúde e qualidade de vida destes profissionais. Para fins comparativos estimou-se uma amostra de 533 policiais civis para a cidade do Rio de Janeiro e, para o município de Campos dos Goytacazes, foi realizado um censo dos policiais existentes na cidade, totalizando 100 profissionais. Entretanto, devido a recusas no preenchimento dos

questionários, apenas 89 policiais de Campos participaram do estudo. A abordagem qualitativa foi composta de 4 grupos focais com policiais das duas delegacias do Município estudado e 2 entrevistas com delegados, além da observação participante. Para os policiais de Campos dos Goytacazes foi construído o indicador de risco sofrido com base em 6 questões dicotômicas referentes à auto-avaliação reportadas pelos policiais civis, envolvendo as situações consideradas mais perigosas ao bem-estar físico em atividade operacional. Este indicador é baseado nas seguintes situações: (1) ferimento por projétil de arma de fogo, (2) ferimento por arma branca, (3) agressão física, (4) violência sexual, (5) tentativa de suicídio e (6) tentativa de homicídio. Na construção da variável risco sofrido, optei por trabalhar com a soma dos escores de respostas, sendo que o zero se refere ao menor grau de violência. Resultados A percepção em relação os riscos que sofrem nas duas cidades são similares em relação ao tipo de risco que correm (excetuando seqüestro e riscos de acidentes) e diferenciadas em relação à freqüência da exposição ao risco: os policiais da Capital, mais do que os de Campos, consideram que estão, assim como as suas famílias, constantemente expostos ao risco. Maiores proporções de policiais da Capital consideram que a sua família esteja em risco constante (40,5% e 22,5%) do que os do interior. Saindo da percepção do risco para a sua vivência, quando indagados se nos últimos 12 meses haviam sofrido perfuração por arma de fogo apenas 4,0% dos policiais da capital responderam afirmativamente e nenhum policial de Campos tinha sofrido agressão por tiros. O que leva a concluir que a percepção de risco é significativamente maior que a realidade vivenciada pelos profissionais. A ocorrência de agressões que afetaram à saúde durante o trabalho no último ano foram duas vezes maior entre os policiais da Capital do Rio (29,6%) em relação aos de Campos (14,8%, p.000). Nessa categoria se incluem os ferimentos causados por projétil de arma de fogo e branca, agressão física, violência sexual, tentativas de suicídio e homicídio. Em relação à saúde, houve menos declarações de doenças tanto física quanto mental pelos policiais desta cidade e também uma melhor qualidade de vida pode ser percebida neste grupo. A percepção do risco entre os policiais de Campos dos Goytacazes é menos intensa do que a dos policiais da capital assim como a sua vivência. Constatou-se que os policiais da cidade do interior percebem a exposição ao risco, pela via do confronto armado, como parte integrante da identidade e qualificação profissional. Tento a seguir, apresentar uma síntese quantitativa dos resultados sobre risco. Para isso apresento informações metodológicas e resultados de uma análise fatorial. Foi realizada uma análise múltipla com todas as variáveis, discriminadas em quatro passos: Modelo 1 - Modelo logístico para as três variáveis do nível de abordagem Perfil que resultou em apenas uma variável significativa (teste de Wald tipo III a 5% de significância): (1) escolaridade, sendo eleita para compor o modelo subseqüente; Modelo 2 - Modelo que inclui a variável selecionada no nível Perfil e todas às do nível lazer/ comunidade. Este modelo produziu as seguintes variáveis significativas: (1) escolaridade e (2) lazer domiciliar;

Modelo 3 - Nesta etapa, foi analisado um modelo que incluiu as variáveis significativas do modelo anterior e todas as do bloco Condições de Saúde, tendo como resultado novamente as variáveis (1) escolaridade e (2) lazer domiciliar; Modelo 4 - Finalmente, foi feito um quarto modelo para as variáveis significativas até o bloco Condições de Saúde mais todas as que compunham o nível Condições de trabalho, resultando em quatro variáveis: (1) escolaridade, (2) lazer domiciliar, (3) se exerce o trabalho para o qual foi treinado, e (4) se realiza outra tarefa imediatamente após o plantão. Com o intuito de aprimorar o modelo final, foi realizada uma nova análise múltipla incluindo desta vez, as quatro variáveis obtidas do modelo 4 mais aquelas também significativas da análise individual, mantendo-se a mesma lógica de inserção de variáveis segundo o nível de abordagem (origem). Essa nova configuração trouxe mudanças nas variáveis que compunham o modelo, resultando num modelo parcimonioso. A parcimônia foi concretizada pela análise da estatística de perda de ajuste, pela quantidade de variáveis no modelo e pela análise com os conceitos teóricos envolvidos. Esta configuração final resultou num modelo com as seguintes variáveis: (1) escolaridade, (2) se exerce o trabalho para o qual foi treinado e (3) se realiza outra tarefa imediatamente após o plantão. A partir deste modelo parcimonioso de efeitos principais, procurou-se identificar as três possíveis interações de ordem 2, separadamente em modelos isolados. Nenhuma interação mostrou-se significativa nesta etapa; sendo assim, o modelo final apresentado é composto apenas de efeitos principais, isto é, sem interações. A análise dos resultados foi efetuada através de razões de chance brutas (modelos individuais) e ajustadas (modelo final). Tais resultados estão dispostos no quadro a seguir. Variáveis associadas à Vivência de Risco. Variáveis explicativas para a variável risco sofrido (N = 416) Perfil ESCOLARIDADE Condições de Trabalho EXERCE O TRABALHO PARA O QUAL FOI TREINADO REALIZA OUTRA TAREFA IMEDIATAMENTE APÓS O PLANTÃO Razões Brutas Intervalo de Confiança Razão Ajustada Intervalo de Confiança Até 2 Grau Incompleto 1,95 (0,670 5,680) 1,91 (0,680 5,360) 2 Grau Comp./ Sup. Incomp 2,35 (1,520 3,650) 1,98 (1,250 3,140) Sup. Comp./ Pós Graduação 1,00-1,00 - Não 2,19 (1,37 3,51) 2,11 (1,280 3,480) Sim 1,00-1,00 - Sempre/ Mtas vezes 5,45 (2,72 10,93) 5,17 (2,530 10,530) As vezes/ Poucas vezes 2,33 (1,09 4,97) 2,16 (0,990 4,680) Nunca 1,00-1,00 - Podemos verificar uma ligeira redução nas chances de um policial civil do setor operacional sofrer situações de risco no exercício de sua profissão (razões brutas e razões ajustadas). Além disso, notou-se que apenas variáveis de Perfil e de Condições de Trabalho evidenciaram significância estatística na configuração final do modelo. Os riscos entre policiais que possuem 2º grau completo ou nível superior incompleto diminuíram pouco quando comparados àqueles que possuem diploma de nível superior. A chance de sofrer situações de risco passa de 2,35 para 1,98. Tal resultado corrobora a idéia de que policiais com menor escolaridade estão mais propensos a sofrerem situações de risco.

O fato de exercer o trabalho/tarefa para o qual foi treinado também se apresentou como estatisticamente significativo (p<0,05) no que se refere a sofrer situações de risco. Aqueles que afirmaram não exercer o trabalho/tarefa para o qual foram treinados apresentam uma chance 1,11 vezes maior de sofrer situações de risco em relação aos que exercem devidamente o trabalho/tarefa para o qual foram treinados (razão ajustada = 2,11). Realizar outra tarefa imediatamente após o plantão mostrou-se como um forte agravante sobre a variável de desfecho, quando comparada com policiais que nunca fizeram isto. Os policiais que afirmaram ter esta atitude sempre ou muitas vezes apresentaram chances 4,17 maiores de passarem por situações de risco, em relação aos que não nunca realizaram tarefas imediatamente após o plantão. Conclusão Pelo Conjunto de informações e reflexões aqui descritos posso inferir que risco é um dos componentes centrais do universo policial. Algumas outras pontuações também são possíveis considerando a ambigüidade que o conceito encerra: o risco é mais imaginado do que real, em ambas as cidades, principalmente em Campos dos Goytacazes; ele é temido, mas também desejado; causa sofrimento, mas também prazer; é um dificultador para o trabalho cotidiano, mas também é um motivador para a prática. No estudo da realidade da prática profissional nas duas cidades o risco é colocado como marco diferenciador entre os dois universos. Se por um lado os policiais campistas se vêem em vantagem em relação aos da capital por estarem menos expostos, estes se queixam e (sentem-se) menos valorizados por não estarem no confronto direto com a criminalidade, dificultando a introjeção da identidade policial. Os dois pólos - excesso e ausência de risco - configura-se como um entrave à realização profissional, por identificarem como função exclusiva da polícia apenas o confronto direto com a criminalidade. Uma maior atenção para esse grupo profissional no que tange a sua saúde física e mental se faz urgente. Por mais que tenhamos constatado que a percepção é maior que a vitimização, não podemos fechar os olhos para o número alarmante de vidas de policiais perdidas no exercício de seu ofício. Como apontam Minayo, Souza e Constantino É urgente que nos comovamos com as absurdas taxas de morte dos policiais, ressaltando que não existe fatalidade nessa imensa perda de vidas que tanto afeta as famílias e a sociedade como um todo. (2007) Referências CONSTANTINO, P. Riscos vividos e percebidos pelos Policiais Civis de Campos dos Goytacazes. Tese (Doutorado). Rio dejaneiro: Fiocruz/Ensp, 2006. MINAYO, MCS, SOUZA, ER, CONSTANTINO, P. Riscos percebidos e vitimização de policiais civis e militares na (in)segurança pública. Cad. Saúde Pública; 2007, 23(11): 2767-79. MINAYO MCS, SOUZA ER, CONSTANTINO P (Orgs.). Missão Prevenir e Proteger: condições de vida, trabalho e saúde dos policiais militares do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2008. 328p.

MINAYO MCS, Souza ER (Orgs.). Missão Investigar: entre o ideal e a realidade de ser policial. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. 352p.