Prova Escrita de Português



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EXAME FINAL NACIONAL DO ENSINO SECUNDÁRIO Prova Escrita de Português Alunos com deficiência auditiva de grau severo ou profundo 12.º Ano de Escolaridade Decreto-Lei n.º 139/2012, de 5 de julho Prova 239/2.ª Fase 8 Páginas Duração da Prova: 120 minutos. Tolerância: 30 minutos. 2015 Prova 239/2.ª F. Página 1/ 8

Página em branco Prova 239/2.ª F. Página 2/ 8

Utilize apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta. É permitida a consulta de dicionário de língua portuguesa. Não é permitido o uso de corretor. Deve riscar aquilo que pretende que não seja classificado. Para cada resposta, identifique o grupo e o item. Apresente as suas respostas de forma legível. Apresente apenas uma resposta para cada item. As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova. Prova 239/2.ª F. Página 3/ 8

GRUPO I Leia o texto. Se necessário, consulte as notas. 5 10 15 20 25 30 35 Sucedeu então que pela primeira vez vi Maria Eugénia, num baile. Foi num baile de Carnaval, em casa particular. Os donos da casa eram gente rica, mas de riqueza recente. Não tinham, pois, ensaiado grandes esforços para a esconder: Se o ambiente não demonstrava requintado gosto, era, porém, de luxo e facilidade. Algumas raparigas estavam fantasiadas 1. Lindamente vestida à moda dos bons tempos românticos, (ou assim me pareceu) Maria Eugénia brilhava como princesa da festa. Notei-a logo que entrei na sala. Como fora levado por um amigo, ou coisa parecida, muito popular entre a juventude feminina elegante, pedi-lhe que me apresentasse. Ele olhou-me nos olhos, sorriu-se, e disse-me, erguendo ameaçadoramente o dedo: Cautela... Há grande perigo? Encolheu um pouco os ombros, com um trejeito 2 da boca: Nunca se sabe. Mas tomou-me pelo braço e foi apresentar-me. Dancei com ela várias vezes, conversámos. Era um prazer levá-la nos braços, leve como uma pluma 3, sentindo, ao mesmo tempo, arfar o seu busto como o corpo duma pomba que se agarrou. Também era um prazer falar-lhe, ouvi-la falar. A sua conversa pareceu-me despretensiosa 4, viva, quase infantil. No fim da noite, (depois mo contaram) já várias pessoas presentes bordavam 5 maliciosos 6 comentários sobre as minhas atenções para com o meu par. Na verdade, ao reentrar essa noite no quarto, eu estava apaixonado. [...] E começou entre nós aquele período que chamam de namoro. Maria Eugénia era filha única dum oficial reformado e uma senhora que, parece, não recebera em solteira grande educação. A posição e as relações do marido lhe tinham dado certo verniz 7. Não era preciso muito mais para que D. Altina (tal era o nome de minha futura sogra) fizesse no meio burguês que se tornara seu a figura decente de qualquer outra. [ ] Não me fora preciso muito para cordialmente ser recebido em casa do coronel Valadares. Cada vez mais apaixonado, nada fazia eu para esconder a razão das minhas repetidas visitas. Dentro em pouco, era o noivo reconhecido da menina. [...] Tudo, na pessoa física de Maria Eugénia, exercia em mim uma atração de carácter secreto ou fatal. O ela ser pequenina, o ter o pescoço quase demasiado alto, o mostrar, quando ria, (e tantas vezes ria!) um dentinho meio sobreposto aos mais, bem podia eu entender que se tornassem defeitos para outro. Para mim, adquiriam qualquer coisa de íntimo e tocante 8, que me enternecia. Eram coisas dela, particularmente suas, faziam parte dela. E a macieza da sua pele, os brilhos doirados do seu cabelo, a gentileza e firmeza das suas formas, a luminosidade dos seus olhos variando entre o castanho-claro e o verde, faziam-me sonhar a posse dessa adorável criaturinha como uma felicidade que eu não merecia. A mim próprio me prometia tratá-la com requintes de amante poeta, e carinhosos cuidados de pai ou irmão mais velho; ainda que a diferença das nossas idades não fosse grande. Mas, a meu lado, Maria Eugénia parecia tão frágil, tão delicada, quase tão pueril 9...! José Régio, «O Vestido Cor de Fogo», Histórias de Mulheres, 5.ª ed., Porto, Brasília Editora, 1978, pp. 229-233 Prova 239/2.ª F. Página 4/ 8

NOTAS 1 fantasiadas (linha 5) mascaradas. 2 trejeito (linha 12) contração; movimento. 3 pluma (linha 16) pena. 4 despretensiosa (linha 18) simples; sem vaidade. 5 bordavam (linha 19) faziam. 6 maliciosos (linha 19) com sentido maldoso. 7 verniz (linha 23) boa educação; boas maneiras. 8 tocante (linha 33) comovente. 9 pueril (linha 39) infantil; ingénua. Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem. 1. Refira os traços principais da figura de Maria Eugénia na primeira noite em que o narrador a viu. 2. Explicite o sentido do diálogo entre o amigo e o narrador. 3. Releia o último parágrafo do texto. Apresente dois aspetos que provam que o narrador ficou, de facto, apaixonado. 4. Caracterize o meio social a que Maria Eugénia pertence. 5. Proponha um título adequado ao excerto que leu, fundamentando a sua proposta em elementos do texto. Prova 239/2.ª F. Página 5/ 8

GRUPO II Leia o texto. Se necessário, consulte as notas. 5 10 15 A mulher que está sentada à minha frente é escritora. Tenho de lhe fazer uma entrevista, e quando a entrevista acaba ficamos a conversar. Sobre livros. Isto aconteceu-me uma porção de vezes, não muitas. Ficar a conversar depois do trabalho feito com alguém que gosta do que eu gosto, palavras. O amor aos livros é o amor às palavras. Tanta gente enche a boca com a palavra cultura, como se a cultura fosse o papão dos meninos ignorantes. A cultura é tudo o que temos quando a vida nos falha e tudo o que nos sustenta quando a vida nos faz feliz. Quando se está apaixonado, ouve-se música e lê-se poesia, quando se perde alguém, ouve-se música e lê-se biografia de génios infelizes. Ou vê-se um filme velho, amaciado pelos anos como um vinho. Ou vê-se uma peça de teatro. Ou vai-se ao Lago dos Cisnes 1. A cultura oferece tudo como nos bazares 2 do Oriente. Basta lá entrar. Ali estou eu, num quarto de hotel com a escritora Amy Tan 3, e percebo que não me apetece estar em mais nenhum lugar do mundo, quero discutir com ela as irmãs Brontë 4. Lembro me de mais conversas assim, com outros escritores, discutindo sobre os livros amados, e os que nos fizeram sofrer, e os que nos abandonaram, como quem abandona um amante. A cultura é um bilhete para uma viagem misteriosa, um bilhete barato. Eu viajei pelo mundo todo e até podia ter ido mais longe se apreciasse ficção científica. Clara Ferreira Alves, «A Cultura», A Pluma Caprichosa, Lisboa, Dom Quixote, 2001, pp. 216-218 (adaptado) NOTAS 11 Lago dos Cisnes (linhas 10-11) famoso bailado clássico. 12 bazares (linha 11) mercados públicos. 13 Amy Tan (linha 12) escritora de origem chinesa, nascida nos Estados Unidos da América. 14 irmãs Brontë (linha 13) três ilustres escritoras britânicas. 1. Para responder a cada um dos três itens que se seguem (1.1. a 1.3.), escolha a opção que permite obter uma afirmação adequada ao sentido do texto. Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a sua escolha. 1.1. Para a autora, a cultura é entendida como (A) uma atividade social destinada a intelectuais. (B) uma dimensão essencial para o ser humano. (C) uma atividade centrada no estudo da literatura. (D) um conjunto vasto de saberes enciclopédicos. Prova 239/2.ª F. Página 6/ 8

1.2. Tendo em conta o sentido global do texto, a expressão «o amor às palavras» (linha 5) refere-se (A) ao interesse pela comunicação. (B) ao talento para a escrita. (C) ao desejo de criar obras-primas. (D) ao gosto pela arte das palavras. 1.3. Nas linhas 9 e 10, a repetição da conjunção «Ou» realça a ideia de (A) oposição. (B) condição. (C) alternativa. (D) finalidade. 2. Transforme as duas frases simples numa única frase complexa, utilizando um conector com valor temporal. Proceda apenas às alterações necessárias. A escritora refugiava-se na casa de campo. Entregava-se à leitura dos seus poemas favoritos. 3. Identifique, em cada uma das frases seguintes, a forma verbal adequada, de entre as três opções apresentadas entre parênteses. Escreva, na folha de respostas, a alínea e a forma verbal que lhe corresponde. a) Quando chegava o verão, ela (percorre / percorria / percorrerá) muitas cidades e visitava muitos museus. b) Sempre que se encontram, os dois amigos (combinam / combinaram / combinarão) ir ver um filme ao cinema. c) Na próxima semana, o jornalista (assistia / assistiu / assistirá) à representação de uma peça muito apreciada pelo público. d) Pela forma maravilhosa como habitualmente (dança / dançou / dançará), a bailarina deslumbra o público. GRUPO III Através da Internet, divulgam-se obras artísticas a que, de outra forma, muitas pessoas não teriam acesso. Redija um texto de reflexão sobre este tema, com cerca de quinze linhas. Refira: a importância da Internet para a divulgação de conteúdos culturais; uma medida que possa contribuir para que os jovens participem, cada vez mais, em atividades culturais. FIM Prova 239/2.ª F. Página 7/ 8

COTAÇÕES GRUPO I 1.... 20 pontos 2.... 20 pontos 3.... 20 pontos 4.... 20 pontos 5.... 20 pontos 100 pontos 1. GRUPO II 1.1.... 5 pontos 1.2.... 5 pontos 1.3.... 5 pontos 2.... 15 pontos 3.... 20 pontos 50 pontos GRUPO III Estruturação temática e discursiva... 40 pontos Correção linguística... 10 pontos 50 pontos TOTAL... 200 pontos Prova 239/2.ª F. Página 8/ 8