O Desempenho Mecânico, Físico e de Durabilidade de Argamassas de Reparação de Elementos de Betão

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Transcrição:

O Desempenho Mecânico, Físico e de Durabilidade de Argamassas de Reparação de Elementos de Betão Resende Nsambu Doutorando Univ. Agostinho Neto Angola resende@civil.ist.utl.pt Augusto Gomes Prof, Associado IST/ ICIST Portugal augusto@civil.ist.utl.pt Resumo: Nesta comunicação apresentam-se os resultados da campanha experimental realizada no laboratório de Materiais de Construção do Instituto Superior Técnico, tendo como objectivo caracterizar a resistência mecânica, física e de durabilidade de argamassas pré-doseadas cimentícias e modificadas com adição de polímeros utilizadas na reparação estrutural de elementos de betão armado, comparando-as com as argamassas normais com e sem adição de polímeros, fabricadas em laboratório, utilizando cimento Portland do tipo CEM I 42,5R e CEM II/B-L32,5 N, respectivamente. Palavras-chave: argamassas de reparação, durabilidade, betão, módulo de elasticidade. 1. INTRODUÇÃO Na última década tem-se assistido em todo mundo, ao crescimento de diversas situações relacionadas com a degradação do betão que exige medidas urgentes para a sua reparação. Dos vários casos de degradação do betão podem referir-se a deterioração prematura do betão, devido aos efeitos da corrosão provocada pela presença de cloretos ou pela perda de alcalinidade do betão, a desintegração do betão causada pela reacção alcali-agregado e a perda da secção das armaduras por oxidação. A deterioração do betão pode ainda estar relacionada com a perda de coesão do betão devido ao ataque de sulfatos, erros de projecto e de construção, bem como de acções de acidentes, sismos, incêndios, explosões, entre outros. A retracção, a falta de aderência e de compatibilidade entre o material de reparação e o betão de suporte são também parâmetros importantes. Para fazer face aos problemas acima referidos, a indústria química tem vindo a desenvolver argamassas pré-doseadas para a reparação e reforço de elementos de betão armado, em particular as argamassas pré-doseadas cimentícias e cimenticias modificadas com adição de adjuvante polímérico.

2. MATERIAIS A campanha experimental envolveu o estudo de 21 composições, sendo cinco argamassas pré-doseadas comerciais, (três cimentícias e duas cimentícias modificadas com adição de adjuvante polímérico). As restantes são argamassas normais e outras modificadas com adição de adjuvantes tendo sido fabricadas em laboratório com várias dosagens de Cimento Portland CEM I 42,5R ou CEM II/B-L 32,5 N. Neste trabalho apresentam-se apenas os resultados de quatro argamassas pré-doseadas, duas cimentícias e duas cimentícias modificadas com polímeros, designadas por AC1, AC2, ACP1 e ACP2, respectivamente. As quatro argamassas são tixotrópicas, sendo referido na respectiva documentação técnica que têm retracção compensada [1,2]. Apresenta-se seguidamente a descrição destas argamassas que é incluida nas respectivas fichas técnicas. O material AC1 é uma argamassa à base de cimento, agregados seleccionados e aditivos especiais, de alto desempenho mecânico e de durabilidade. O material AC2 é uma argamassa à base de cimento e resinas especiais, resistente aos agentes agressivos. O material ACP1 é uma argamassa monocomponente à base de cimento, inertes seleccionados, sílica de fumo, resinas sintéticas e reforçada com fibras de poliamida. O material ACP2 é uma argamassa cimentícia bicomponente, reforçada com resinas sintéticas e cargas especiais. O estudo da granulometria das argamassas contribui para uma melhor compreensão do desempenho mecânico, físico e de durabilidade. As análises granulométricas foram realizadas de acordo com a norma Portuguesa NP 1379 [3]. Os valores dos módulos de finura e da máxima dimensão dos agregados são indicados na tabela 1, e as curvas granulométricas das argamassas são apresentadas nas figuras 1 e 2. Passado [%] 9 8 7 6 5 4,1,1 1 Malha [mm] AC1 AC2 Figura 1 - Curvas granulométricas das argamassas cimentícias AC1 e AC2. Quanto às restantes argamassas fabricadas em laboratório, consideraram-se cinco composições: uma argamassa normal de referência designada por AR, três argamassas modificadas com adição de adjuvante de um polímero, (designadas por AMP, AMP 4 e AMP 375, em que o número representa a dosagem em cimento), e a última modificada com um adjuvante expansivo comercial AME.

Passado [%] 9 8 7 6 5 4,1,1 1 Malha [mm] ACP1 ACP2 Figura 2 - Curvas granulométricas das argamassas cimentícias modificadas ACP1 e ACP2. Nas argamassas fabricadas em laboratório AR, AMP, AME e AMP 4 utilizouse cimento CEMI 42,5 R com 95 a % de clinquer e na argamassa AMP 375 o cimento CEMII/B-L 32,5N com 65 a 79% de clinquer. Na composição das argamassas foram utilizadas duas areias de diferentes granulometrias, uma fina e outra grossa. Na tabela 1 indicam-se os resultados dos ensaios de caracterização das areias. Tabela 1- Propriedades das areias utilizadas Propriedade Norma Areia fina Areia grossa Absorção de água (%) NP-954,4 1,1 Massa volúmica das partículas secas (kg/m 3 ) NP-954 2594 2526 Massa volúmica impermeável (kg/m 3 ) NP-954 2621 2529 Massa volúmica saturada superfície (kg/m 3 ) NP-954 264 2551 Teor em partículas finas (%) NP-954,51 1,71 Dimensão máxima (mm) NP-1379,59 2,38 Módulo de finura NP-1379 1,39 3,13 Nestas argamassas utilizaram-se três adjuvantes produzidos pelo mesmo fabricante. O primeiro, é um adjuvante à base de acrílico que se apresenta sob a forma de um líquido de cor branca, de dispersão aquosa de resinas modificadas que têm como função melhorar as características de resistência e aumentar a compacidade e impermeabilidade das argamassas. Este adjuvante tem um teor de 38,5% de sólidos secos,,1% de iões de cloretos e massa volúmica de kg/m 3. O segundo é um produto inorgânico fornecido em pó que é um agente expansivo para betão ou para argamassas com a função de compensar a retracção. Este adjuvante é utilizado conjuntamente com outro que se apresenta como um líquido de cor castanha solúvel em água à base de polímeros sulfonados, isento de cloretos, com 4% de resíduo seco e massa volúmica de kg/m 3. Este é formulado para reduzir a água de amassadura e acelerar de forma significativa as resistências nas primeiras idades. A sua utilização permite obter betões ou argamassas fluidas e sem segregação, de elevada resistência, impermeabilidade e durabilidade. Os três adjuvantes funcionam também como introdutores de ar. As características acima referidas constam na documentação técnica dos produtos[1].

3. FORMULAÇÃO DAS ARGAMASSAS Na formulação das argamassas fabricadas em laboratório utilizaram-se os seguintes traços em peso (cimento e areia): argamassa convencional traço 1:3 e uma relação água/cimento de,5; argamassa modificada com adjuvante polimérico traço 1:3, relação polímero/cimento de 15% e uma relação água total/cimento de,35. A argamassa designada por AME tem um traço de 1:3; uma relação água/cimento de,45; uma dosagem de kg/m 3 de adjuvante expansivo e 1,2 % do peso do cimento de adjuvante liquido. As argamassas fabricadas em laboratório, foram formuladas de acordo com a norma europeia NP EN 196-1 [4]. Nas tabelas 2 e 3 apresentam-se as composições das argamassas fabricadas em laboratório e pré-doseadas e as propriedades intrínsecas no estado fresco: consistência por espalhamento, massa volúmica, teor de ar e alcalinidade. Tabela 2 - Composições das argamassas fabricadas em laboratório Materiais (kg/m 3 ) AR AMP AMP 4 AME AMP 375 Cimento 4 375 Areia fina 279 279 372 279 349 Areia grossa 621 621 828 621 776 Água/cimento,5,35,35,45,35 Polímero/cimento (%) - 15 15-15 Água 15 33,1 44,2 135 41,4 Emulsão - 116,9 155,8-146,1 Rheomac - - - - Rheobuild - - - 3,6 - Espalhamento (%) 9,5 83,2 67,5 99, 88 Massa vol, no fresco 2383 1922 19 234 1918 Alcalinidade (ph) 12,5 12,1 13,4 12,4 12,4 Teor de ar (%) 4,8,5 12,5 11, 6,8 Tabela 3 - Mistura das argamassas pré-doseadas Argamassa AC1 AC2 ACP1 ACP2 Relação água/produto,15,13,144,16 Consistência (%) 9,3 68,3 54,3 76, Alcalinidade em fresco (%) 12,5 12,2 12,9 12,4 Massa volúmica em fresco (kg/m 3 ) 224 2184 25 86 Teor de ar (%) 2,5 2,5 4, 3, Dimensão máxima (mm) 1,19 4,76 2,38 2,38 Módulo de finura 1,35 2,87 1,71 1,56

4. CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA Para caracterizar o desempenho mecânico das argamassas de reparação realizaram-se ensaios de tracção por flexão, de compressão uniaxial, tracção por compressão diametral, determinando-se ainda o módulo de elasticidade e a capacidade de deformação à tracção. 4.1 Resistência à compressão e à tracção por flexão Nos ensaios de resistência à compressão e à tracção por flexão, utilizaram-se provetes prismáticos de 4 4 16 mm 3. Os provetes das argamassas fabricadas em laboratório foram curados de acordo com a norma europeia EN 196-1 [4] e os provetes das argamassas prédoseadas de acordo com as recomendações dos respectivos fabricantes [1,2]. Os ensaios de flexão e da compressão foram realizados aos 3, 7, 14, 28, 9 e 365 dias de idade. Na tabela 4 apresentam-se os valores da resistência à tracção por flexão e à compressão aos 28 dias de idade. Os valores de f ctm,s foram obtidos através da expressão definida no artigo 16.º do REBAP [5]. Nas figuras 3 e 4 apresentam-se as curvas de evolução da resistência à compressão das argamassas pré-doseadas e fabricadas em laboratório, respectivamente. Tabela 4 - Características mecânicas das argamassas f cm f ctm,fl f ctm, s Argamassa (MPa) (MPa) (MPa) AC1 65,5 8,5 5,7 AC2 41, 8,6 5,8 ACP1 42,9 7,6 5,1 ACP2 56,7 11,8 7,9 AR 52, 7,8 5,2 AMP 54,6 12,3 8,2 AMP 4 54,6 12, 8, AME 55,9 8,7 5,8 AMP 375 42,9,3 6,9 Resistência à compressão [MPa] 9 fc AC1 = 4,4523Lnt + 51,793 8 R 2 =,8382 7 fc ACP2 = 6,897Lnt +,731 6 R 2 =,9437 5 fc ACP1 = 5,3243Lnt + 27,154 4 R 2 =,9799 fc AC2 = 2,732Lnt +,619 R 2 =,3156 5 15 25 35 4 Idade [Dias] AC1 AC2 ACP1 ACP2 Figura 3 - Evolução da resistência à compressão das argamassas pré-doseadas.

Resistência à compressão [MPa] 8 7 6 fc AME = 6,2888Lnt + 33,967 R 2 =,8538 fc AR = 6,4489Lnt + 29,132 R 2 =,9949 5 4 fc AMP375 = 7,8886Lnt + 7,663 R 2 =,8666 fc AMP4 = 6,4231Lnt+ 27,782 R 2 =,9383 fc AMP = 6,261Lnt + 28,353 R 2 =,931 5 15 25 35 4 Idade [dias] AR AMP AMP4 AME AMP375 Figura 4 - Evolução da resistência à compressão das argamassas cimentícias com e sem adição fabricadas em laboratório. 4.2 Resistência à tracção por compressão diametral A resistência à tracção por compressão diametral aos 28 dias foi determinada de acordo com a norma ASTM C496 [6] em três provetes não normalizados de 15 mm de diâmetro e de 5 mm de espessura segundo a metodologia de ensaio proposta por Rocco et al [7]. Segundo o Model Code 9, o valor da resistência à tracção simples foi considerado correspondendo a 9% da resistência à tracção por compressão diametral [8]. Os valores da resistência à tracção simples, f ctm, do módulo de elasticidade, E cm, e da capacidade de deformação à tracção, u, são indicados na tabela 5. 4.3 Módulo de elasticidade O módulo de elasticidade em compressão das argamassas foi determinado em provetes de 4 4 16mm 3, de acordo com a especificação do LNEC E 397 [9]. Nas figuras 5 e 6 apresentam-se os valores dos módulos de elasticidade aos 28 dias de idade. Módulo de Elasticidade [GPa] 25 15 5 26,4,3 23,9 22,4 Módulo de Elasticidade [GPa] 4 35 25 15 5 32,8 23,7 23,1 34,3 AC1 AC2 ACP1 ACP2 AR AMP AMP4 AME AMP375 Figura 5 - Valores do módulo de elasticidade das argamassas pré-doseadas. Figura 6 - Valores do módulo de elasticidade das argamassas fabricadas em laboratório. Os valores dos módulos de elasticidade obtidos experimentalmente para todas as argamassas garantem a estabilidade dimensional e não diferem em mais de GPa em relação aos betões de classes C/25 e C25/ de acordo com a investigação realizada por Emberson e Mays []. Esta condição não se verifica na argamassa AMP 375, não sendo assim recomendável para reparações estruturais.

A adição do polímero na argamassa AR contribuiu para reduzir em cerca de 71% o valor do módulo de elasticidade, o que corresponde na melhoria do comportamento face à fendilhação e da aderência ao betão de suporte. Na argamassa AME, a adição do adjuvante expansivo conduziu a um aumento de 4% do valor do módulo de elasticidade em relação à argamassa AR. Os valores de módulos de elasticidade obtidos experimentalmente nas argamassas AC1, ACP1 e ACP2 correspondem a 88%, 89% e 124% dos valores indicados pelos respectivos fabricantes [1,2]. 4.4 Capacidade de deformação à tracção A capacidade de deformação à tracção simples foi determinada de acordo o sugerido em 1976 por Houghton [11], que consiste em dividir o valor da resistência à tracção simples pelo módulo de elasticidade em compressão uma vez que este é aproximadamente igual ao módulo de elasticidade em tracção, Neville [12]. Argamassa Tabela 5 - Valores da resistência à tracção simples e da capacidade de deformação à tracção simples Tracção por compressão diametral [MPa] Tracção simples f ctm [MPa] Módulo de Elasticidade E cm [GPa] Deformação à tracção simples ε u [ -3 ] Relação f ctm /f cm AC1 3,16 2,84 26,4,8,4 AC2 3,54 3,19,3,157,8 ACP1 4,13 3,72 23,9,156,9 ACP2 4,47 4,2 22,4,179,7 AR 3,35 3,2 32,8,92,6 AMP 3,97 3,57 23,7,151,7 AMP 4 3,77 3,39 23,1,147,6 AME 2,51 2,26 34,,67,4 AMP 375 3,59 3,23,3,314,8 Da análise da tabela 5, verifica-se que o valor da tensão de rotura à tracção simples da argamassa AME é inferior ao valor mínimo (2,8 MPa) estipulado pela norma americana ASTM C496-96 [6], pois no contexto da reparação estrutural, a resistência de rotura à tracção simples do material de reparação deve superar a do betão de suporte []. Por outro lado, pode observar-se que a tensão de rotura à tracção simples aos 28 dias de idade, obtida através do ensaio de tracção por compressão diametral, corresponde em média a 8% e 6% da tensão de rotura à compressão das argamassas modificadas com adição de polímeros e das argamassas cimentícias, respectivamente. Pode assim concluir-se que as argamassas modificadas com polímeros resistem melhor à fendilhação. 5. CARACTERIZAÇÃO FÍSICA O sucesso duma reparação depende significativamente da resistência à fendilhação do material utilizado. Neste trabalho a resistência à fendilhação das argamassas de reparação foi determinada recorrendo aos ensaios de retracção livre e restringida comparando-se os valores da retracção simples com a do betão de suporte.

5.1 Retracção livre Para avaliar a retracção das argamassas moldaram-se provetes prismáticos de 4 4 16 mm 3, de acordo com a Especificação LNEC E 398 [13]. Os provetes foram conservados em três condições de cura diferentes: câmara condicionada, ambiente natural e de laboratório. Foram considerados três tempos de cura: 24 horas nas condições de laboratório e 48 e 72 horas de cura húmida na câmara condicionada. Na figura 7 apresenta-se a evolução da retracção livre observada nas argamassas curadas durante 48 horas, comparando-a com a do betão de suporte. 1 Expansão / Retracção x [ - 6 ],8,6,4,2 -,2 -,4 -,6 7 14 21 28 35 42 49 56 Tempo [Dias] AC1 AC2 ACP1 ACP2 AMP AMP4 AME Betão 2 Figura 7 - Evolução da retracção nas argamassas e no betão. Da análise da figura 7 pode observar-se que as argamassas fabricadas em laboratório e a argamassa AC2 apresentam valores de retracção semelhantes à do betão e são inferiores à das restantes argamassas. Refira-se que noutro trabalho [14] foi recomendada a limitação da extensão da retracção livre a seis vezes o valor da extensão última à tracção simples aos 28 dias de idade, condição para que uma argamassa possa ser considerada adequada para reparação estrutural. 5.2 Retracção restringida A caracterização do comportamento à fendilhação de uma argamassa com base num simples ensaio de retracção livre tem sido muito questionada por vários investigadores, Emmons e outros consideram que as reparações são restringidas pelas suas fronteiras; nomeadamente as armaduras e o sistema de reparação [15]. 5.2.1 Ring test O ensaio consiste em lançar no interior do anel a argamassa, que depois de ser compactada é coberta com um plástico nas primeiras 24 horas. De seguida o material é removido do anel, sendo a superfície do topo impermeabilizada com uma tinta epoxídica. Os anéis utilizados têm 127 mm de diâmetro exterior, 9 mm de diâmetro interior e 4 mm de altura. Nas figuras 8 e 9 ilustram-se os anéis e os provetes de ensaio. O provete é depois colocado durante 48 horas num ambiente com ºC e % de humidade relativa. De acordo com Emmons et, al. [15] deve seguir-se uma cura num ambiente com ±2ºC de temperatura e 6±% de humidade relativa durante 6 dias. Durante este período são registados: a data da aparição da

primeira fenda, a soma da largura das fendas no final do ensaio e o correspondente valor da retracção. Ainda segundo Emmons et al., o critério de desempenho para seleccionar o material de reparação é baseado no valor da retracção restringida que deve ser nulo aos 14 dias e de,1 mm/m aos 365 dias [15]. Figura 8 - Ring test. Figura 9 - Provetes de ensaios. Na tabela 6, resumem-se os registos das leituras correspondentes ao ensaio de retracção restringida e aos valores da retracção livre aos 28 dias para curas de 24 e 48 horas. Argamassa Data da 1,ª fenda (dias) Tabela 6 - Valores da retracção restringida W cr ε sh, r ( -3 ) ε sh,fr ( -3 ) Cura de 48 horas ε sh,fr ( -3 ) Cura de 24 horas lab, (mm) AC1 7,18,528,86,89 AC2,,,42,64 ACP1 5,37 1,9,58 1, ACP2 57,13,381,81,46 AR 12,8,235,29,47 AMP,,11,41 AMP 4,,19,6 Da tabela 6 é possível observar a tendência à fendilhação das argamassas AC1 e ACP1 no Ring test. O bom desempenho das argamassas AC2, AMP e AMP 4 no Ring test pode ser explicado por um lado pela máxima dimensão de inertes na argamassa AC2 e pela adição do polímero nas argamassas AMP e AMP 4. 6. CARACTERIZAÇÃO DA DURABILIDADE Para caracterizar a durabilidade das argamassas pré-doseadas e das argamassas fabricadas em laboratório realizaram-se ensaios de absorção por capilaridade, resistividade eléctrica e resistência à penetração da carbonatação e de cloretos. 6.1 Absorção capilar Os ensaios de absorção capilar para diferentes argamassas foram realizados de acordo com a norma europeia EN 157, utilizando provetes de 5 25 mm 2 [16]. Os resultados de ensaios estão representados na figura. De acordo com a EN 1357, o valor do coeficiente de absorção capilar aos 28 dias de idade, deve ser inferior a,1 kg/m 2.h,5.

Coeficiente de absorção capilar [kg/m 2.h.5 ],9,8,7,6,5,4,3,2,1,85,59,34,11,12,7,6 AC1 AC2 ACP1 ACP2 AMP AME AR Figura - Valores do coefiente de absorção aos 28 dias de idade. 6.2 Resistividade eléctrica A resistividade eléctrica de materiais cimentícios depende da micro-estrutura da pasta de cimento, teor de humidade, relação água/cimento, temperatura, quantidade de aditivos (tais como cinzas e micro-sílica) e da geometria do provete. É um parâmetro que fornece uma valiosa informação dado que permite avaliar o tempo de propagação dos agentes agressivos em termos de cloretos [17]. Na figura 11 apresentam-se os valores da resistividade eléctrica das argamassas ensaiadas aos 28 dias de idade. Resistividade Eléctrica [ ohm.m ] 6 5 4 562 226 146,9 147,3 133 42,1 AC1 AC3 ACP1 ACP2 AR AMP Figura 11 - Valores de resistividade eléctrica. 6.3 Resistência à carbonatação A resistência à carbonatação foi determinada em três ambientes diferentes: ambiente natural (exterior), em câmara de envelhecimento acelerado e numa zona com ar marítimo (a m do mar), Os provetes têm 4 4 4 mm 3 de acordo com a especificação do LNEC E 391 [18]. Na figura 12 apresentam-se os resultados obtidos na câmara de envelhecimento acelerado.

Penetração à carbonatação: dk [mm] 45 4 35 25 15 5 6 1 18 24 36 4 48 Idade [dias] AC1 AC2 ACP1 ACP2 AR AM Figura 12 - Penetração de carbonatação no ambiente acelerado. 6.4 Resistência à penetração de cloretos A resistência à penetração de cloretos foi avaliada através de ensaios em regime não estacionário de acordo com a metodologia desenvolvida por Luping (CTH rapid method) [19]. Foram utilizados para cada argamassa 6 provetes cilíndricos com mm de diâmetro e 5 mm de espessura. Aplicou-se uma diferença de potencial de Volts e a duração do ensaio foi determinada em função da leitura inicial da intensidade de corrente. A medição da penetração de cloretos foi realizada pulverizando nitrato de prata nas duas faces fracturadas do provete. Na tabela 7 compara-se o desempenho das argamassas ensaiadas com o critério definido no NT Build 492 []. Argamassa Tabela 7 - Valores de coeficientes de difusão de cloretos Modelo de T, Luping [ 12 ] m 2 /s NT Build 492 D nsm ( -12 m 2 /s) Resistência requerida (para betão e argamassa) AC1,66 AC2 49,3 ACP1 1,24 > 15 Reduzida ACP2,49-15 Moderada AR 19,3 5 - Elevada AM 3,96 2,5-5 muito elevada AME 9,35 < 2,5 ultra elevada Da análise da tabela 7 verifica-se que as argamassas AC2 e AR apresentam uma resistência reduzida tal como observado nos ensaios de absorção capilar o que permite concluir que essas argamassas não são muito adequadas para estruturas marítimas. 7. CONCLUSÕES Os resultados apresentados neste artigo são importantes para caracterizar o desempenho mecânico, físico e de durabilidade de argamassas de reparação estrutural. Para as argamassas fabricadas em laboratório verificou-se que a introdução de polímeros contribuiu para o aumento das resistências mecânicas e para a redução da permeabilidade, verificando-se reduções nos resultados dos ensaios de absorção capilar e de penetração de cloretos e de carbonatação. Estas características potenciam o aumento do tempo de iniciação de penetração dos agentes agressivos. Os valores da retracção

determinados nas argamassas fabricadas em laboratório a na argamassa AC2 são semelhantes aos do betão e são inferiores aos valores das restantes argamassas prédoseadas. 8. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem o apoio da Fundação para a Ciência e a Tecnologia assim como a colaboração da Bettor, Sika, Betecna através dos Engenheiros Filipe Dourado, Paulo Martins, Rui Monteiro, no fornecimento dos materiais. 9. REFERÊNCIAS [1] Fichas Técnicas - Construction Chemicals Bettor Degussa, Maio de 3. [2] Catálogo de fichas técnicas - Sika, Edição n,º 4. [3] LNEC NP 1379 - Análise granulométrica dos inertes. Lisboa 1979 [4] Norma Portuguesa NP EN 196-1 - Métodos de ensaio de cimentos - LNEC, Lisboa, 1996. [5] REBAP - Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado, Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa 1986. [6] ASTM C 496-96 - Standard Test Method for Splitting Tensile Strength of Cylindrical Concrete Specimens, vol.4.2, March 1996. [7] Rocco, C,; Guinea, V,; Planas, J,; Size effect and boundary conditions in the Brazilian test Experimental verification, Materials and Structures, Vol, 32, N,º 217, April 1999. [8] CEB-FIP, Model Code 199 - Bulletin 213/214, Switzerland 1993. [9] LNEC E 397 Determinação do módulo de Elasticidade em Compressão. LNEC, Lisboa, 1975. [] Emerson, N,; Mays, C,; Significance of property mismatch in the patch repair of structural concrete, Part,1-Properties of repair systems, Magazine of Concrete Research, Vol 42 N,º 152, September 199, pp 147-16. [11] Houghton - Concrete - Ensaios e Propriedades pp, 25, Editora Pini Ltda-São Paulo. [12] Neville, A,; Properties of Concrete Fourth Edition, pp 491, 1995. London, Longman, 1995. [13] LNEC E 398 Determinação da Retracção e Expansão, LNEC, Lisboa 1975, [14] Nsambu, R,; Gomes, A,; Caracterização da Retracção de Argamassas de Reparação de Elementos de Betão, 2,º Congresso Nacional da Construção, Porto, 13 a 15 de Dezembro de 4. [15] Emmons, H,; Vaysburd, M,; Performance criteria for concrete repair materials, Phase I, Technical Report REMER-CS-47, U.S.Army Engineer,1995 [16] Norma Europeia EN 157 Test Method - Determination of resistance of capillary, Brussels, May 2. [17] Polder, R; The influence of Blast Furnace Slag, Fly ash and silica fume on Corrosion of Reinforced Concrete Marine Environment, LNEC, Lisboa, 1997. [18] LNEC E 391 Betões - Determinação da Resistência à Carbonatação. LNEC, Lisboa, 1975. [19] Luping, T., Chloride Transport in Concrete - Measurement and Prediction, Tese de Doutoramento, Chalmers University of Technology, Gotemburgo, Suécia, 1996. [] Gj rv, E,; Performance and serviceability of concrete structures in the marine environment, Proceedings, Odd E, GjØrv Symposium on Concrete for Marine Structures, Ed, P,K, Mehta, CANMET/ACI, 1996, pp, 259-279.