O Sr. OSVALDO REIS (PMDB-TO) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, sempre vale a pena insistir, nesta tribuna, na priorização das hidrovias e na instalação de uma verdadeira estrutura de transporte multimodal no Brasil. Como ocorre, de resto, em todos os países desenvolvidos, o transporte fluvial interno deveria ser objeto de investimento maciço, pelo que representa, alternativamente, em termos da relação custo/benefício. Considerando os custos de construção e manutenção de rodovias, que hoje constituem a principal modalidade de transporte no País, e considerando, especialmente, a imensa rede hidrográfica brasileira, a pequena utilização das vias navegáveis internas é uma realidade injustificável, que em nada aproveita ao projeto de desenvolvimento integrado e sustentável que se pretende para o Brasil.
2 Quando pensamos no paulatino movimento de interiorização das últimas décadas, que levou ao atual momento da agricultura brasileira e seus índices extraordinários de produção e exportação, não podemos deixar de lamentar o atraso na instalação da estrutura hidroviária. Essa é, sem sombra de dúvida, a melhor alternativa ao escoamento por rodovia, já saturado pelo custo de manutenção das estradas e pelo congestionamento dos portos que recebem o predominante fluxo norte-sul. Além de diminuir os custos, criar alternativas mais rápidas e gerar novos empregos, a utilização de hidrovias implicaria a inversão do sentido de escoamento, a produção sendo levada diretamente para os portos da região Norte, evidentemente mais próximos dos principais mercados importadores dos produtos nacionais. Todos esses benefícios, Senhor Presidente, são do conhecimento de todos, e já foram exaustivamente
3 discutidos nas instâncias governamentais. Não obstante, obras de grande porte, como a necessária à efetiva implantação da hidrovia Tocantins/Araguaia, permanecem paralisadas, com incalculável prejuízo para o País. Iniciada há mais de 20 anos, ainda na década de 80, a construção das eclusas da barragem de Tucuruí tornouse um dos mais gritantes exemplos de desperdício dos recursos públicos e da falta de visão de nossos administradores. As obras permanecem inacabadas, enquanto sucessivos governos mantêm-se omissos, sempre adiando a sua conclusão. Trata-se de uma inaceitável indiferença em face dos indicativos econômicos, que apontam para uma espetacular economia nos custos da produção nacional. Diversos estudos já comprovaram que, mesmo em um cenário totalmente desfavorável, a economia gerada pela implantação da hidrovia Tocantins/Araguaia estaria
4 na razão de três para um, isto é, para cada real investido, o ganho corresponderia a três reais. Já na perspectiva mais favorável, consideradas as variáveis conjunturais, essa relação poderia chegar a 18,3, isto é, para cada real investido, os lucros chegariam a mais de dezoito reais. Basta dizer, Senhor Presidente, que considerados apenas os custos do percurso Belém-Goiânia, seriam economizados anualmente cerca de 147 milhões de dólares. Do mesmo modo, no roteiro São Luís-Goiânia, a economia chegaria a 141 milhões de dólares anuais. Trata-se, incontestavelmente, do mais econômico meio de transporte para a região, superando inclusive o transporte ferroviário. De todo modo, estudos provenientes da Companhia Vale do Rio Doce já comprovaram que a implantação do sistema hidroviário na região tornaria extremamente competitivo o chamado Corredor de Transporte Multimodal do Centro-Oeste, com benefícios incalculáveis para o País.
5 Vale lembrar, nesse contexto, que, além da racionalização do escoamento, o projeto da hidrovia Tocantins/Araguaia, garantindo alta navegabilidade o ano todo, proporcionaria um grande incentivo à ocupação agrícola para produção de grãos, com salutar diminuição dos investimentos em pecuária. Isso significaria, a curto prazo, maior preservação e melhor aproveitamento do solo, e importante valorização das terras da região. De todo modo, sabe-se que é justamente a produção de grãos, de grandes cargas e baixo valor agregado, a que melhor se presta ao transporte hidroviário, em termos da relação custo/benefício. Gostaríamos de salientar, finalmente, que também já foram examinados os custos ambientais da implantação da hidrovia. Não há dúvida de que, comparativamente, as outras alternativas de transporte são consideradas mais agressivas e mais impactantes,
6 mesmo com absoluta observância dos procedimentos legais pertinentes. Senhor Presidente, nobres colegas, é por todas essas razões que voltamos a insistir no incremento da política de transporte multimodal, com prioridade para a implantação da hidrovia Tocantins/Araguaia, já iniciada, tendo em vista seu imenso potencial de integração nacional e internacional. País de dimensões continentais, privilegiado pela maior rede hidrográfica do planeta, o Brasil precisa acordar para as promessas acenadas pela malha hidroviária, a compor, no ritmo crescente de nossas exportações e de nosso desenvolvimento, um excelente panorama de transporte multimodal para o País. Muito obrigado. 2006_1760_Osvaldo Reis_128