Avaliação da Voz e do Comportamento Vocal em Crianças com Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade



Documentos relacionados
ESTUDO COMPARATIVO DA APLICAÇÃO ISOLADA E SIMULTÂNEA DAS ANÁLISES ESPECTROGRÁFICA E PERCEPTIVO-AUDITIVA NA CONFIABILIDADE DA AVALIAÇÃO DA VOZ

XIII Encontro de Iniciação Científica IX Mostra de Pós-graduação 06 a 11 de outubro de 2008 BIODIVERSIDADE TECNOLOGIA DESENVOLVIMENTO

Discentes do curso de psicologia,centro Universitário de Maringá (CESUMAR), Maringá - Pr- Brasil, umbelinajusto@wnet.com.br 2

QUEIXAS E SINTOMAS VOCAIS PRÉ FONOTERAPIA EM GRUPO

A Problemática do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) :

Imagem Corporal de adolescentes estudantes do IF Sudeste MG Câmpus Barbacena

Palavras-chave: criança de rua; distúrbios da comunicação; voz profissional.

TEA Módulo 4 Aula 2. Comorbidades 1 TDAH

Palavras chave: voz, prevenção, criança

COMO AS CRIANÇAS ENFRENTAM SUAS ALTERAÇÕES DE FALA OU FLUÊNCIA?

ANEXO XI (Retificado no DOU de 18/07/2013, Seção 1, pág 25)

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

definido, cujas características são condições para a expressão prática da actividade profissional (GIMENO SACRISTAN, 1995, p. 66).

MÉDIA ARITMÉTICA MÉDIA PONDERADA MODA MEDIANA

A variação da velocidade de fala como estratégia comunicativa na expressão de atitudes

UM ESTUDO SOBRE AS SATISFAÇÕES NAS RELAÇÕES HOMOSSEXUAIS: ESTUDO DE CASOS

ESTUDO DE CASO PSICOPEDAGÓGICO

Identifique-se na parte inferior desta capa. Caso se identifique em qualquer outro local deste Caderno, você será excluído do Processo Seletivo.

AUTOR(ES): CAMILA QUINTELLA GONÇALVES, RAFAEL MONTEIRO BORGES, VANESSA FURTADO REIS

Folha 01/07 DATA: 27/10/2011 DATA:27/10/2011 REVISÕES DATA RESPONSÁVEL 1ª REVISÃO 2ª REVISÃO 3ª REVISÃO 3ª REVISÃO 5ª REVISÃO

Comorbidades que podem estar associadas a Dislexia (TDA/TDAH)

FRANCIELLE FERNANDA TONZA VASCONCELOS DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UMA PESQUISA COM NEUROPEDIATRAS E COM PROFESSORAS DE EDUCAÇÃO INFANTIL

ANÁLISE DE RELATOS DE PAIS E PROFESSORES DE ALUNOS COM DIAGNÓSTICO DE TDAH

Elaine Carneiro Jaciana Torre Karoliny Silva Orientador: Marcos Generoso Coorientadores: Eduardo Lima e Natalli Araújo

2. Objetivos 3. Método 3.1 Amostra 3.2 Coleta de dados

A expressão da atitude de CERTEZA em indivíduos com perda auditiva bilateral: análise prosódica.

Dr. Ailton Luis da Silva. Tel: (11)

AGES FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS DIRETORIA DE ENSINO CÁLCULOS PARA 100%

A Meta-Analytic Review of Psychosocial Interventions for Substance Use Disorders

Análise Acústica dos Formantes e das Medidas de Perturbação do Sinal Sonoro em Mulheres Sem Queixas Vocais, Não Fumantes e Não Etilista

INCIDÊNCIA DE TROMBOEMBOLISMO VENOSO NO PÓS-OPERATÓRIO DE PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA ORTOPÉDICA DE QUADRIL E JOELHO EM UM HOSPITAL DE GOIÂNIA.

TÍTULO: DETERMINAÇÃO DO INTERVALO DE REFERÊNCIA DOS PRINCIPAIS PARÂMETROS DO HEMOGRAMA PARA HOMENS ADULTOS ATENDIDOS NO LAC-CCF-UNAERP

Aula 4 Conceitos Básicos de Estatística. Aula 4 Conceitos básicos de estatística

A VOZ NO TELEJORNALISMO LISTA DE REFERÊNCIAS ANTERIORES AO ANO DE Revisada e Ampliada

COMO ORIENTAR O PACIENTE QUE TEM COMPULSÃO/DISTÚRBIO ALIMENTAR E QUE DESEJA PARAR DE FUMAR. Nutricionista Fabricia Junqueira das Neves

PERFIL DOS CELÍACOS NO MUNICÍPIO DE FOZ DO IGUAÇU-PR. Curso de Enfermagem 1,2

TRABALHO INTEGRADO DE FONOAUDIOLOGIA, PSICOLOGIA E SERVIÇO SOCIAL PARA ATENDIMENTO AO PACIENTE LARINGECTOMIZADO

DORES SILENCIOSAS: o sintoma da automutilação como possível consequência de quadros de depressão

AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO PSICOMOTOR EM CRIANÇAS COM DISLEXIA DESENVOLVIMENTAL

PROFESSOR ESPECIALIZADO NA ÁREA DA DEFICIÊNCIA VISUAL: OS SENTIDOS DA VOZ

A INTERFERÊNCIA DA PRODUÇÃO VERBAL NA APLICAÇÃO DO AUTISM BEHAVIOR CHECKLIST EM CRIANÇAS AUTISTAS VERBAIS E NÃO VERBAIS

Implante Coclear e Meningite - estudo da percepção de fala com amostras pareadas

Título: Achados Clínicos da deglutição e do comportamento alimentar de idosos com demência avançada

Exp 8. Acústica da Fala

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA SEGUNDO A PERCEPÇÃO DE ESTUDANTES DA REDE PÚBLICA INCLUSOS NO PROJOVEM ADOLESCENTE

ANÁLISE DO EQUILÍBRIO DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE PRÉ E PÓS TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO

A Psiquiatria e seu olhar Marcus André Vieira Material preparado com auxílio de Cristiana Maranhão e Luisa Ferreira

9 Como o aluno (pré)adolescente vê o livro didático de inglês

TEA Módulo 4 Aula 4. Epilepsia e TDC

ASSOCIAÇÃO ENTRE SENSAÇÕES LARINGOFARINGEAS E CAUSAS AUTORREFERIDAS POR PROFESSORES.

AVALIAÇÃO AUDITIVA DE BOLSISTAS VINCULADOS A UM PROJETO EXTENSIONISTA SOBRE SAÚDE AUDITIVA DESENVOLVIDO NA CIDADE DE MACAÉ, RIO DE JANEIRO.

Laura Machado Barbosa Cangussu PERCEPÇÃO DOS PAIS COM RELAÇÃO À DISFONIA DE SEUS FILHOS

TDAH. Rosania Morales Morroni. Rosana Talarico Pereira. Cintia Souza Borges de Carvalho.

Transtornos Mentais diagnosticados na infância ou na adolescência

OTIMIZAÇÃO DA DOSE GLANDULAR MÉDIA NA MAMA E DA QUALIDADE DA IMAGEM NOS SISTEMAS DE MAMOGRAFIA DIGITAL

TEA Módulo 3 Aula 2. Processo diagnóstico do TEA

Comorbidade entre depressão e doenças clínicas em um ambulatório de geriatria.

A palavra Psiquiatria deriva do Grego e quer dizer "arte de curar a alma"

Resumo Aula 9- Psicofármacos e Transtornos de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na infância, na adolescência e na idade adulta

Perfil comunicativo de crianças de 2 a 24 meses atendidas na atenção primária à saúde

Disfunção Ocupacional no Transtorno Bipolar

A IMPORTÂNCIA DE SE TRABALHAR OS VALORES NA EDUCAÇÃO

TÍTULO: AUTORES: INSTITUIÇÃO ÁREA TEMÁTICA: INTRODUÇÃO

INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM. NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO

ANÁLISE DOS INDICADORES DE ASSISTÊNCIA AO PACIENTE CIRÚRGICO

Data: 27/03/2014. NTRR 54/2014 a. Medicamento x Material Procedimento Cobertura

Universidade Estadual de Londrina/Departamento de Ciência da Informação/Londrina, PR.

Comparação da força da musculatura respiratória em pacientes acometidos por acidente vascular encefálico (AVE) com os esperados para a idade e sexo

Apresenta: Apresentação: Thais F., Francine S. R. e Rita (acadêmicas) Orientação: Profa Dra.Patrícia A. Pinheiro Crenitte

Mara Behlau, Fabiana Zambon, Ana Cláudia Guerrieri, Nelson Roy e GVP(*) Instituições: Panorama epidemiológico sobre a voz do professor no Brasil

Áudio. GUIA DO PROFESSOR Síndrome de Down - Parte I

PLANO DE ENSINO PROJETO PEDAGÓCIO: Carga Horária Semestral: 40 h Semestre do Curso: 7º

O OLHAR DA TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E DA TEORIA DE BASE PSICANALÍTICA SOBRE PACIENTES HIPERTENSOS NO CONTEXTO HOSPITALAR

EDUCAÇÃO NUTRICIONAL PARA PRÉ-ESCOLARES DO CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL EM VIÇOSA-MG

PALAVRAS-CHAVE: avaliação antropométrica; oficina de culinária; Síndrome de Down.

CAPACIDADE PULMONAR E FORÇA MUSCULAR RESPIRATÓRIA EM OBESOS

RESPOSTA RÁPID 316/2014 Informações sobre Topiramato e Risperidona na Deficiencia mental e Transtorno hipercinético

Mortalidade neonatal precoce hospitalar em Minas Gerais: associação com variáveis assistenciais e a questão da subnotificação

ABA: uma intervenção comportamental eficaz em casos de autismo

SES CIAPS ADAUTO BOTELHO CAPS INFANTIL

Estatística na vida cotidiana: banco de exemplos em Bioestatística

Avaliação antropométrica de idosas participantes de grupos de atividades físicas para a terceira idade.

CONHECIMENTO DE PROFESSORES ACERCA DO DESENVOLVIMENTO DE FALA E AÇÕES

Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS DE 0 A 10 ANOS COM CÂNCER ASSISTIDAS EM UM HOSPITAL FILANTRÓPICO

Reconhecimento de Padrões Utilizando Filtros Casados

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

SIMPÓSIO: ESTUDOS PSICOLINGUÍSTICOS E NEUROLINGUÍSTICOS EM LEITURA

Título: Teste de fala filtrada em indivíduos com perda auditiva neurossensorial em freqüências altas associada à presença de zonas mortas na cóclea.

ANÁLISE DO PROGNÓSTICO DE PACIENTES INFECTADOS COM HIV DE LONDRINA E REGIÃO DE ACORDO COM PERFIL NUTRICIONAL

Especialização em SAÚDE DA FAMÍLIA. Caso complexo Wilson. Fundamentação teórica Transtornos mentais na infância

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA REABILITAÇÃO PROCESSO SELETIVO 2013 Nome: PARTE 1 BIOESTATÍSTICA, BIOÉTICA E METODOLOGIA

RELATÓRIO REALIZAÇÃO DO 3º SIMULADO DO ENADE DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO

TEA Módulo 4 Aula 5. Tics e Síndrome de Tourette

ESTUDO DA QUALIDADE DE VIDA EM INDIVÍDUOS COM PARALISIA FACIAL ADQUIRIDA CRÔNICA RESUMO

Objetivos. Introdução. Letras Português/Espanhol Prof.: Daniel A. Costa O. da Cruz. Libras: A primeira língua dos surdos brasileiros

DOCENTES DO CURSO DE JORNALISMO: CONHECIMENTO SOBRE SAÚDE VOCAL

RELATÓRIO ANUAL DE ATIVIDADES 2013

Transcrição:

Avaliação da Voz e do Comportamento Vocal em Crianças com Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade Palavras chaves: Transtorno de falta de atenção com hiperatividade; distúrbios da voz em criança; voz. O comportamento vocal desviante é típico na infância e é o principal agente causador de disfonia infantil. Ele é uma forma de interação, agressão, liderança e de se tornar aceita por um grupo, sendo resultante da interação de fatores anatômicos, fisiológicos, sociais, emocionais ou ambientais 1. O entendimento de fatores desencadeadores e mantenedores do comportamento vocal é fundamental para melhorar o tratamento deste distúrbio. A avaliação da associação entre o TDAH e a disfonia na população infantil poderá explicar fatores comportamentais associados aos hábitos vocais maléficos ao padrão fonatório destas crianças, além de auxiliar o tratamento fonoaudiológico para um enfoque terapêutico mais adequado e possibilitará um tratamento multidisciplinar, aumentando, conseqüentemente, a eficácia da reabilitação. A hipótese dessa pesquisa é que as crianças portadoras do TDAH apresentam disfonia e comportamentos vocais abusivos. O objetivo foi avaliar a voz e o comportamento vocal de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH). Foram investigadas 25 crianças com TDAH, com média etária de 8,6 ±1,1 anos, sendo 72% do gênero masculino, procedentes do Ambulatório de Déficit de Atenção do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Neste estudo cego, composto por 4 fonoaudiólogos, onde 1 foi excluída por baixa concordância intra-observador (<76,9%), o grupo controle foi composto por 25 escolares pareados por gênero, idade e padrão sócio-econômico. Para mensurar a presença e ausência de alteração vocal no parâmetro G da escala GRBAS, foi utilizada a escala analógica visual de 10 cm, sendo que a marcação da impressão transmitida pela voz maior que 3,55 cm significando disfonia 2. Foi considerado válido o diagnóstico da presença ou ausência de disfonia quando houve concordância mínima de dois dos três avaliadores selecionados. Além disso, foi realizada a graduação do desvio vocal pelas médias das marcações dos três avaliadores na escala analógica visual, de acordo com os parâmetros citados na literatura 2. A emissão utilizada para o julgamento perceptivo-auditiva da voz foi a vogal /a/ prolongada (vogal mais aberta) e amostra de fala automática (contagem de um a 10 e dias da semana). A análise acústica (média da freqüência fundamental (MFo), quociente de perturbação do freqüência (PPQ%), o quociente médio de perturbação de amplitude (APQ%) e proporção harmônico-ruído (PHR db) foi realizada pelo

programa MULTI-SPEECH MODEL 3700 da KAY ELEMETRICS. Os cuidadores e pacientes responderam o questionário de comportamento vocal e a anamnese. O diagnóstico do TDAH foi baseado no DSM-IV. Encontramos a presença de disfonia em 28% das crianças com TDAH e 12% nas crianças sem TDAH, sendo a diferença entre os grupos não significativa. Os resultados mostram que nas crianças com e sem TDAH, a disfonia foi mais prevalente nos meninos, porém a diferença entre os sexos não foi significativa (Tabela 1). Crianças que apresentam TDAH possuem comportamentos vocais abusivos de gritar e imitar sons e vozes estranhas, com diferença estatística das crianças sem o distúrbio. O mesmo não pode ser afirmado para os comportamentos de falar rápido e rir alto. Não encontramos na literatura dados para comparar com estes resultados. Encontramos desvio vocal mais grave nas crianças com TDAH, como pode ser observado na tabela 2, porém a diferença entre os grupos não obteve significância estatística. Desta forma, esses resultados não corroboram com outro estudo 3 ao afirmar que crianças com TDAH são mais disfônicas. Os resultados de maior ocorrência de disfonia em crianças com TDAH mostram uma tendência de associação entre estes dois distúrbios. Para refutar ou confirmar essa associação faz-se necessário estudo com maior número de crianças. Como pode ser observado na Tabela 3, o valor da MFo do grupo de estudo foi próxima ao valor encontrado na análise de crianças com TDAH subtipo combinado 3 e à média dos falantes do português de São Paulo de 8 a 12 anos 4, e o valor da MFo do grupo de crianças sem o distúrbio foi mais próximo ao encontrado na análise de crianças sem alteração vocal 5. O quociente de perturbação da freqüência (PPQ%) foi menor no grupo controle, Os valores encontrados de APQ% e de PHR db foram maiores no grupo com TDAH, confirmando o maior comprometimento vocal neste grupo (Tabela 3). As crianças disfônicas são caracterizadas na literatura, dentre outros, por comportamentos semelhantes aos do TDAH, como: impulsivas, hiperativas, agitadas, distraídas, enérgicas, inquietas (6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17). Autores 18 apontam que esses comportamentos podem ser sintomas que permanecem por curtos períodos (dois a três meses) e que se iniciam claramente após um desencadeante psicossocial, como por exemplo, a separação dos pais ou apenas sintoma de uma situação familiar caótica ou de um sistema de ensino inadequado. A maioria dos sintomas de TDAH é manifestado ocasionalmente por todas as crianças 19. De acordo com os resultados encontrados nesta pesquisa, não se pode afirmar que há relação entre TDAH e disfonia infantil. Porém, é importante avaliar os comportamentos vocais da criança disfônica dentro do seu quadro de comportamentos globais, com o intuído de melhorar o tratamento e o prognóstico da reabilitação vocal. Esta pesquisa trouxe,

provavelmente, contribuições para a compreensão da correlação entre disfonia e TDAH. No entanto, investigações futuras se fazem necessárias para confirmar e complementar os dados descritos. Concluímos que: a) ter TDAH não é um fator de risco para a disfonia infantil; b) não houve diferença entre os desvios vocais de crianças com e sem TDAH; c) o grito e a emissão de sons e vozes estranhas caracterizam o comportamento vocal abusivo de meninos com TDAH; d) os parâmetros de média de freqüência fundamental, PPQ, APQ e PHR da análise acústica vocal das crianças foram iguais; e) o gênero não foi um fator de risco para a disfonia, em crianças com TDAH. Tabela 1 - Comparação da freqüência de disfonia segundo gênero nos pacientes com TDAH (n=25) e sem TDAH (n=25). Grupo Masculino Feminino TDAH disfônico 5 2 Não TDAH disfônico 2 1 אּ 2 fisher= 0,70; p>0,05 Tabela 2 - Comparação entre as freqüências do desvio vocal de variabilidade normal, leve a moderado, moderado a intenso e intenso nas crianças com TDAH (n=25) e sem TDAH (n=25). Desvio vocal Com TDAH Sem TDAH Variabilidade Normal 18 22 Leve a Moderado 3 2 Moderado a Intenso 3 1 Intenso 1 0 p>0,05 Tabela 3 - Comparação entre médias dos parâmetros da análise acústica dos grupos com TDAH (n=25) e sem TDAH (n=25). Parâmetro Com TDAH Sem TDAH M dp M dp T student p x MFo 237,94Hz 38,88 248,86 26,73 0,29 >0,05 xx PPQ% 1,239 1,239 0,538 0,312 0,027 >0,05 xxx APQ% 6,154 4,10 2,378 1,21 0,0006 >0,05 xxxx PHR db 0,272 0 0,125 0,01 0,019 >0,05

x MFo Freqüência Fundamental Média; xx PPQ%- Quociente de Perturbação de Freqüência em porcentagem; xxx APQ%- Quociente Médio de Perturbação de Amplitude; xxxx PHR Proporção Harmônico Ruído. Referências Bibliográficas 1. HERSAN, R. C. G. P. Avaliação de Voz em Crianças. Pró-Fono Revista de Atualização Científica. 1991; 3 (1): 3-9. 2. YAMASAKI, R.; LEÃO, S.; PADOVANI, M.; MADAZIO, G.; AZEVEDO, R.; BEHLAU, M. Correspondência entre escala analógico-visual e a escala numérica na avaliação perceptivo-auditiva de vozes. In: Anais 16º congresso brasileiro de fonoaudiologia; 2008; Campos do Jordão. 3. HAMDAN, A.-L.; DEEB, R.; SIBAI, A.; RAMEH, C.; RIFAI, H.; FAYYAD, J. Vocal Characteristics in Children With Attention Deficit Hyperactivity Disorder. Journal of Voice. 2007; v. -, n. - (In press). 4. BEHLAU, M. Considerações sobre a análise acústica em laboratórios computadorizados de voz. In: ARAÚJO, R.; PRACOWNIK, A.; SOARES, L. S. D. Fonoaudiologia Atual. Rio de Janeiro: Revinter; 1997. p. 93-115. 5. NICOLLAS, R.; GARREL, R.; OUAKNINE, M.; GIOVANNI, A.; NAZARIAN, B.; TRIGLIA, J- M. Normal voice in children between 6 and 12 years of age: database and nonlinear analysis. Journal of Voice. 2007; v.-, n.- (In press). 6. WILSON, F.; LAMB, M. Comparison of personality characteristics of children with and without vocal nodules based on Rorschach Protocol Interpretation. Acta Symbol. 1974; 43 55. 7. DEJONCKERE, P. Pathogenesis of voice disorders in childhood. Otorhinolaryngol Bel. 1984; 38(3), 307-314. 8. BEHLAU, M.; GONÇALVES, M. I. R. Considerações sobre a disfonia infantil. In: FERREIRA, L. P. (org.). Trabalhando a voz. São Paulo: Summus Editorial; 1987. p. 101-102. 9. GREEN G. Psycho-Behavioral Characteristics of Children with Nodules: WPBIC Ratings. Journal of Speech and Hearing Disorders. 1989; 54, 306-312. 10. WILSON, D. K. Problemas de voz em crianças. 3rd ed. São Paulo: Manole LTDA; 1993. 11. FREITAS, M. R.; WECK, L. L. M.; PONTES, P. A. L. Disfonia na infância. Rev. Brasileira de Otorrinolaringologia. 2000; 66 (3), 257-265. 12. ROY, N.; BLESS, D. M.; HEISEY, D. Personality and voice disorders: a multitritmultidisorder analysis. Journal of voice. 2000; 14 (4), 521-548. 13. MELO, E. C. M.; MATTIOLI, F. M.; BRASIL, O. C. O.; BEHLAU, M.; PITALUGA, A. C. A.; MELO, D. M. Disfonia infantil: aspectos epidemiológicos. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2001; 67 (6), 804-7.

14. MARTINS, R. H. G.; TRINDADE, S. H. K. A criança disfônica: diagnóstico, tratamento e evolução clínica. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2003; 69 (6), 801-806. 15. MANSO, J. M. M. Características de la personalidad y alteraciones del lenguaje em educación infantil y primaria. Rev. Iberoamericana de educación. 2004; 34 (1). 16. LE HUCHE, F.; ALLALI, A. A Voz: Patologia vocal de origem funcional. 2rd ed. Porto Aegre: Artmed Editora. v. 2; 2005. 17. MAIA, A. A.; GAMA, A. C. C.; MICHALICK-TRIGINELLI, M. F. Reação entre transtorno do déficit de atenção/hiperatividade, dinâmica familiar, disfonia e nódulo vocal em crianças. Rev. Ciências Médicas. 2006; 15 (5), 379-89. 18. ROHDE, L. A.; FILHO, E. C. M.; BENETTI, L.; et al. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade na infância e na adolescência: considerações clínicas. Rev. Psiq. Clin. 2004; 31 (3), 124-131. 19. WEISS G. Transtorno de déficit de Atenção por Hiperatividade. In: LEWIS, M. Tratado de psiquiatria da Infância e Adolescência. Porto Alegre: Artes Médicas Sul; 1995. Cap. 47.