IDENTIDADE DE POLÍTICOS E DESENVOLVIMENTO DE LONGO- PRAZO Aluno: Isabela Salgado Silva Pereira Orientador: Claudio Ferraz Introdução É de consentimento geral que o nível de desenvolvimento econômico de determinada região é diretamente dependente de uma boa qualidade e eficiência de seu governo (seja federal, estadual ou municipal). Dada essa relação, busca-se analisar hoje em dia a importância das instituições políticas e econômicas, nesse contexto, para que elas sejam consideradas de fato eficientes. Os eventos históricos são considerados fatores relevantes na determinação de efeitos de longo prazo sobre os níveis sociais de certa população. No entanto, não há muita concordância e nem mesmo conhecimento dos aspectos que justificam a permanência e a identidade dos políticos que fazem com que as instituições e políticas brasileiras permaneçam ineficientes no longo prazo. Outro aspecto chave na para explicar as diferenças de renda entre áreas ricas e pobres é o nível de capital humano. Acredita-se, portanto que, independente da eficiência das instituições políticas, a presença de imigrantes pode ter efeitos permanentes sobre o desenvolvimento regional, uma vez que sua maior escolaridade pode trazer benefícios para o crescimento das áreas onde se fizeram presentes. Alguns estudos econômicos atribuem a ineficiência de diversas causas, como no caso da América Latina, onde a permanência das elites em se manter no poder deve-se ao fato de existirem incentivos e ferramentas para proteger seus direitos de propriedade e bloquear o desenvolvimento econômico local através de barreiras, apesar de haverem mudanças institucionais. No que tange à análise dos efeitos de capital humano, torna-se essencial levar em conta os investimentos feitos em educação, como base de medida para tal variável. Objetivos Os estudos em questão têm como objetivo estudar a permanência das elites políticas e suas consequências sobre o desenvolvimento econômico local e a qualidade das instituições dos municípios brasileiros, além de determinar a relevância da persistência de capital humano no desenvolvimento de longo prazo dessas localidades. Com base nos dados do Censo Demográfico do IBGE e das eleições municipais, podemos analisar a permanência do poder politico e suas consequências no longo-prazo. Já para avaliar o papel do capital do humano nessa questão, foram analisados dados relativos à
Departamento de Economia escolaridade e outros fatores socioeconômicos. Nesse caso, foram considerados os dados do Censo para os anos de 1872, 1920, 1940 e 2000, do estado de São Paulo, sendo possível criar variáveis relativas à geografia, transporte e outras condições socioeconômicas, abrangendo todo o período do fim do século XIX e XX. Foram usadas também outras fontes históricas, como registros das oficialidades municipais e livros de estatísticas anuais do governo. Dessa forma, o trabalho busca observar e quantificar os efeitos de longo-prazo da continuidade de uma bancada politica no poder vis-à-vis os indicadores econômicos e sociais daquela região (como por exemplo, analfabetismo, renda per capita, acesso à água canalizada) e a qualidade das instituições políticas (incidência de corrupção). Além disso, faz-se possível avaliar o impacto do aumento exógeno de capital gerado pelo contingente de imigrantes, mais escolarizados que aqueles que já ocupavam o território, atraídos para determinadas regiões do Brasil por políticas governamentais adotadas ao longo dos séculos XIX e XX, e como isso levou a maiores níveis de qualidade dos indicadores sociais no longo prazo. Metodologia Em um primeiro momento, fez-se necessária a organização dos dados do Censo Demográfico do IBGE para o ano de 1960. Uma vez que esses dados encontravam-se disponíveis somente em versão PDF, para ser possível usá-los para os cálculos e estatísticas necessárias, era preciso digitaliza-los. Dando continuidade ao trabalho que já havia sido feito, em que foram digitalizados os dados para os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, restava realizar a digitalização para Minas Gerais. O trabalho consistiu basicamente em copiar as tabelas com informações sobre os municípios, como grupos de idade da população, ramos de atividade, situação dos domicílios,
para arquivos em Excel que seriam usados posteriormente em manuseios estatísticos com o programa Stata.
A segunda parte do trabalho foi relativa à identificação de dinastias políticas no poder dos municípios. Com o uso do Stata, foram analisados os dados sobre as eleições municipais para os anos de 1988 até 2012. De acordo com os nomes dos candidatos de cada município, foram identificados aqueles que se elegeram ou não (a dummie eleito recebia 0 caso negativo e 1 caso positivo) e se eram dinásticos ou não (atribui-se o valor 1 à dummie din caso fosse dinástico e 0 caso contrário). A identificação da existência de uma dinastia política foi feita através da análise do sobrenome dos candidatos. Caso candidatos de um determinado município, com o mesmo sobrenome, fossem eleitos em anos diferentes, esses seriam classificados como dinásticos. Além disso, foi possível determinar o intervalo de tempo entre a eleição dos candidatos que formavam uma dinastia. Para garantir a legitimidade dos resultados encontrados, era preciso assegurar-se de que não havia erros. Com esse intuito, os dados obtidos foram checados cuidadosamente, em busca daqueles nomes que poderiam ter sido considerados dinásticos quando, no entanto, era o caso somente de um erro de digitação do nome. Uma vez garantido o fato de que a quantidade de erros gerada pelo código não era significativa, os dados acerca da presença de dinastias políticas nos municípios brasileiros puderam ser aplicados em outras análises do trabalho. Posteriormente, para avaliar os efeitos da persistência de capital humano sobre os indicadores socioeconômicos dos municípios brasileiros, foram analisados dados referentes a escolaridade, níveis de renda, entre outros, comparando municípios que receberam terras subsidiadas para imigrantes e aqueles que não receberam, selecionadas de acordo com suas semelhanças no período pré-1920. Primeiro, foi documentado o fato de que e 1872, antes do estabelecimento das propriedades, as localidades destinadas a receber essas terras no futuro eram muito similares a outras áreas da região. Foi mostrado, portanto, que a criação dessas propriedades atraiu um maior número de cidadão escolarizados para as municipalidades. Para quantificar o aumento exógeno de capital humano nessas regiões do Brasil, foram analisados dados referentes à evolução dos gastos com educação e da estrutura de emprego. De modo a possibilitar a análise de dados de renda, ou seja, os PIBs municipais ao longo dos anos, era preciso ponderar os valores de acordo com a evolução histórica dos municípios. Isto é, para poder comparar a renda de uma região em 1872 e 1920, por exemplo, é preciso levar em conta que, ao longo dos anos, outros municípios vão surgindo a partir daqueles já existentes. Ou seja, um mesmo município em 2000 é uma média ponderada de todos aqueles que ele originou desde 1920. Era preciso, portanto, definir toda a linha de sucessão dos municípios, agrupando aqueles que se originaram do mesmo a partir de 1920, 1940 e 2000, assim como os dados populacionais do mesmo período. Comparando o processo de desmembramento dessas áreas, a ponderação foi feita da seguinte maneira: a partir de um município que surgiu em 1940, viase qual fora sua origem em 1920 e somava-se o seu PIB em 1940 àquele do município original no mesmo ano. O mesmo para 2000. Assim, em 2000, haviam sido somados todos os PIBs de municípios que tiveram a mesma origem em 1920. Para a população total o método era o mesmo.
Desse modo, tinha-se os PIBs e a população dos municípios para 1920, 1940 e 2000, como se fossem o mesmo município, sendo possível, portanto, calcular a evolução da renda per capita de cada um. Para garantir a legitimidade dos dados, mais uma vez, um código do Stata foi rodado de modo a excluir qualquer erro. Esses dados foram usados, posteriormente, para gerar as variáveis de análise relativas a renda e outros níveis socioeconômicos comparando os municípios que receberam assentamentos de imigrantes e os que não receberam. Conclusões Com base nas informações disponíveis no Censo Demográfico do IBGE, foi possível analisar e comparar os indicadores socioeconômicos dos municípios brasileiros antes e depois do início do processo de manutenção das dinastias políticas no poder. Além disso, usando os dados da eleições municipais após o ano de 1988, pode-se avaliar se houve verdadeiramente um rompimentos nesse processo de concentração de poder, como se acredita que ocorreu com o fim da ditadura militar. No que tange ao processo de desenvolvimento dos municípios brasileiros com base nos assentamentos de imigrantes, foi possível mostrar a relação direta entre maiores níveis de capital humano e maiores níveis de renda e desenvolvimento social, que têm efeitos persistentes no longo prazo. Os dados mostram que áreas que receberam imigrantes não se diferenciavam das outras em nenhum aspecto, porém, após o período de instalação desses habitantes, à partir de 1940, foi possível perceber que os níveis sócias mostravam-se muito mais elevados do que nas áreas onde esses não se fizeram presentes. Pode-se comprovar, portanto, a ideia de que a presença de pessoas com maior capital humano gera benefícios para o desenvolvimento no longo prazo. Os efeitos se fizeram notar não somente em 1940, mas persistiram até 2000. Vemos também que a persistência de maiores níveis de escolaridade entre os cidadão de certas localidades não se traduziu somente em indicadores sociais mais elevados, mas também em termos econômicos, acumulando maior renda para a região e, consequentemente, maior renda per capita. Essas diferenças se explicam, principalmente, pelas diferenças na estrutura do mercado de trabalho nas áreas que receberam assentamentos. Com base nos dados relativos à evolução dos gastos com educação e da estrutura de emprego, foi possível mostrar que as taxas de pessoal ocupado e o número de professores por escola eram maiores em localidades associadas a esses assentamentos. Os dados mostram também que, nessas mesmas localidades, a mão de obra imigrou da agricultura para a manufatura e, em menos quantidade, para o setor de serviços, entre 1920 e 1940. Esse padrão foi seguido até 2000, quando o setor de serviços mostrou-se mais significativo. Faz-se necessário notar que nenhuma dessas diferenças relativas à mão de obra e educação eram encontradas no período anterior aos assentamentos. As evidências mostram, portanto, que localidades que se desenvolveram através de assentamentos ocupados por
imigrantes demandavam maiores gastos educacionais e, com o tempo, sua estrutura de emprego teve sua força de trabalho transferida para setores intensivos em capital humano. Referências 1 - (IBGE, 1960) Censo Demográfico de 1960. 2 PIBs Municipais do Estado de São Paulo, 1920, 1940, 2000, Ipeadata