IX Legislatura Número: 05 III Sessão Legislativa (2009/2010) Terça-feira, 27 de Outubro de 2009 REUNIÃO PLENÁRIA DE 27 DE OUTUBRO

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Transcrição:

Região Autónoma da Madeira Diário Assembleia Legislativa IX Legislatura Número: 05 III Sessão Legislativa (2009/2010) Terça-feira, 27 de Outubro de 2009 REUNIÃO PLENÁRIA DE 27 DE OUTUBRO Presidente: Exmo. Sr. José Paulo Baptista Fontes Secretários: Exmos. Srs. Sidónio Baptista Fernandes Ana Mafalda Figueira da Costa Sumário O Sr. Presidente declarou aberta a Sessão às 9 horas e 25 minutos. PERÍODO DE ANTES DA ORDEM DO DIA:- No âmbito da declaração política semanal usou da palavra, para produzir uma intervenção, o Sr. Deputado André Escórcio (PS). Foram solicitados pedidos de esclarecimento por parte dos Srs. Deputados Jorge Moreira (PSD) e Isabel Cardoso (PCP). - Para tratamento de assuntos de interesse político relevante para a Região intervieram os Srs. Deputados Lino Abreu (CDS/PP) e Jaime Silva (MPT), tendo o primeiro interveniente e segundo interveniente respondido a pedidos de esclarecimento do Sr. Deputado Jaime Leandro (PS). PERÍODO DA ORDEM DO DIA:- Iniciou-se a I Parte dos trabalhos com a apreciação e votação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Projecto da Quinta do Lorde, nos termos do regimento específico aprovado pela Conferência dos Presidentes dos grupos parlamentares. Participaram no debate os Srs. Deputados Rui Moisés (PSD), Baltasar Aguiar (PND), Leonel Nunes (PCP), Jacinto Serrão (PS), Jaime Silva (MPT), Lino Abreu (CDS/PP) e Jorge Moreira (PSD). Submetido à votação, este relatório foi aprovado. - Passou-se à II Parte dos trabalhos com discussão e votação na generalidade do projecto de decreto legislativo regional, da autoria do Partido Comunista Português, intitulado Comissão regional de defesa da floresta contra incêndios. Usaram da palavra na discussão, a Sra. Deputada Isabel Cardoso (PCP), na apresentação do diploma, bem como os Srs. Deputados Jacinto Serrão (PS), Vicente Pestana (PSD) e Martinho Câmara (CDS/PP). Este diploma foi rejeitado em votação. - Seguidamente, discutiu-se na generalidade o projecto de decreto legislativo regional, da autoria do Partido Comunista Português, intitulado Áreas habitacionais de génese ilegal. Participaram na discussão os Srs. Deputados Leonel Nunes (PCP), Jaime Leandro (PS), Gualberto Fernandes (PSD), Martinho Câmara (CDS/PP) e Jaime Silva (MPT). O diploma, submetido à votação, foi rejeitado. - Por fim a Câmara discutiu, na generalidade, do projecto de decreto legislativo regional, da autoria do Partido Comunista Português, que Define o regime de acesso a recursos didáctico-pedagógicos fundamentais para os alunos dos ensinos básico e secundário, garantindo a sua gratuitidade, tendo usado da palavra, a diverso título, os Srs. Deputados Isabel Cardoso (PCP), André Escórcio (PS), Jorge Moreira (PSD), Jaime Silva (MPT) e Martinho Câmara (CDS/PP). Este projecto, submetido à votação, foi rejeitado. O Sr. Presidente encerrou a Sessão às 12 horas e 35 minutos.

Pág. 2 O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito bom dia, Sras. e Srs. Deputados. Estavam presente os seguintes Srs. Deputados: PARTIDO SOCIAL DEMOCRATA (PSD) Agostinho Ramos Gouveia Ana Mafalda Figueira da Costa Élvio Manuel Vasconcelos Encarnação Gabriel Paulo Drumond Esmeraldo Gustavo Alonso de Gouveia Caires Ivo Sousa Nunes Jaime Ernesto Nunes Vieira Ramos Jaime Filipe Gil Ramos Jaime Pereira de Lima Lucas Jorge Moreira de Sousa José António Coito Pita José Gualberto Mendonça Fernandes José Jardim Mendonça Prada José Lino Tranquada Gomes José Luís Medeiros Gaspar José Miguel Jardim Olival Mendonça José Paulo Baptista Fontes José Savino dos Santos Correia Manuel Gregório Pestana Maria do Carmo Homem da Costa de Almeida Maria Rafaela Rodrigues Fernandes Miguel José Luís de Sousa Nivalda Silva Gonçalves Pedro Emanuel Abreu Coelho Rubina Alexandra Pereira de Gouveia Rui Miguel Moura Coelho Rui Moisés Fernandes Ascensão Rui Ramos Gouveia Sidónio Baptista Fernandes Sónia Maria de Faria Pereira Vasco Luís Lemos Vieira Vicente Estêvão Pestana PARTIDO SOCIALISTA (PS) Carlos João Pereira Jacinto Serrão de Freitas Jaime Manuel Simão Leandro João André Camacho Escórcio João Carlos Justino Mendes de Gouveia Lino Bernardo Calaça Martins Maria Luísa de Sousa Menezes Gonçalves Mendonça PARTIDO COMUNISTA PORTUGUÊS (PCP) Isabel Rute Duarte Rito da Silva Cardoso Leonel Martinho Gomes Nunes CENTRO DEMOCRÁTICO SOCIAL/PP (CDS/PP) Lino Ricardo Silva Abreu Martinho Gouveia Câmara BLOCO DE ESQUERDA (BE) Fernando Manuel Garcia da Silva Letra MOVIMENTO PARTIDO DA TERRA (MPT) Jaime Casimiro Nunes da Silva PARTIDO DA NOVA DEMOCRACIA (PND) Baltasar de Carvalho Machado Gonçalves de Aguiar Temos quórum, vamos iniciar os nossos trabalhos. Eram 9 horas e 25 minutos. E no período de antes da ordem para uma declaração política semanal, dou a palavra ao Sr. Deputado André

Escórcio, do Grupo Parlamentar do Partido Socialista. O Sr. Deputado dispõe de 7 minutos para a sua intervenção. O SR. ANDRÉ ESCÓRCIO (PS):- Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados, Estamos no início da terceira sessão legislativa. Mais do que uma intervenção de carácter político-partidário, pretendo aqui propor aos senhores deputados um momento de reflexão. Porque esta Assembleia do Povo pode produzir leis, pode elevar a voz em altos decibéis, numa discussão técnica e política sobre as propostas apresentadas, mas há uma questão tão simples de verbalizar quanto complexa no seu conteúdo, que pode ser enquadrada na seguinte pergunta: que sociedade estamos a construir? Trata-se, de facto, de uma questão política, mas é sobretudo uma questão de consciência individual que se repercute no plano das obrigações colectivas. Da discussão técnica e partidária que aqui acontece fica-nos muitas vezes a certeza que continua a existir uma dimensão que cada vez mais se distancia da realidade sociocultural. Referimo-nos aos problemas que derivam da mentalidade pouca aberta ao mundo e aos direitos e obrigações individuais, aos problemas que derivam da ausência de princípios, de valores, de responsabilidade, de rigor, de disciplina e de cultura, que condicionam o desenvolvimento da sociedade. Por mais que se discutam aqui as leis que orientam a sociedade, a pergunta que subsiste, depois de trinta e três anos de Autonomia, se é esta a sociedade que o primeiro órgão de governo próprio deseja ajudar a construir e deixar aos vindouros. Esta questão é central porque é esta Assembleia que deve marcar o rumo fiscalizando e corrigindo os actos do governo. Todos conhecemos as razões que subjazem ao facto da Região ter crescido na obra física, por vezes monumental mas não ter, proporcionalmente, crescido na formação do Homem. As razões são múltiplas mas, em síntese, diríamos que foi substancialmente descurada a família e, por extensão, a sociedade. Deixaram correr o marfim, desde logo, por uma inabilidade e ausência de visão sobre o processo educativo. Escolarizou-se mas não se educou para a responsabilidade e para a necessidade de uma aprendizagem permanente. Deixou-se passar ao lado e permitiu-se o substancial agravamento de preocupantes bolsas de pobreza, elas próprias que enclausuram as pessoas que nelas caiem. Actuaram sob a forma de pensos rápidos, disfarçando as feridas sociais profundas, mas nunca numa atitude humanista e libertadora do Homem. Caíram nos excessos, eu diria, na cilada da obra pública, majestosa ou não, pelo que dir-se-á que foram essencialmente políticos porque pensaram na eleição seguinte, não foram estadistas porque não pensaram na geração seguinte. E hoje somos confrontados Senhores Deputados com a necessidade de romper este círculo vicioso, para o qual há uma absoluta necessidade de coragem, determinação, vontade política, rompimento com este paradigma económico que escraviza, com esta organização social que flexibiliza sem qualquer pudor e desregula os direitos e os deveres do trabalho, o tempo de lazer e o tempo de repouso, numa avassaladora e trituradora onda que coloca o ter antes do ser, sem que o Povo perceba que está face a uma miragem. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, para não irmos muito longe na análise, tenhamos presente a Escola que temos, porque é nela que criamos futuro. Esta Escola de muitas actividades, de muitas coisas, mas vazia de significado para a vida. A Escola onde o acessório tomou conta do essencial. A Escola não apelativa, livresca, de manual, repetitiva, sem alma e, por imposição, não distintiva. A Escola que se tornou remediadora social quando metade dos seus membros recebem, por via da Acção Social, as migalhas do orçamento. A Escola onde catorze estabelecimentos de ensino básico estão entre o nongentésimo lugar e o milésimo, ducentésimo, trigésimo sexto lugar entre 1292. Isto obriga-nos a uma reflexão profunda e sistémica, simplesmente porque estes resultados, constituem um indicador de insucesso, cuja factura será penosamente paga no futuro. A factura da dívida e a factura do conhecimento. Senhores Deputados, isto tem muito de político mas sobretudo tem muito de consciência individual e colectiva sobre o que andamos aqui a fazer. A agulha do desenvolvimento tem de ser corrigida, em nome das gerações futuras, pois assiste-se a uma absoluta necessidade de um novo olhar sobre a palavra desenvolvimento jamais confundindo-a com a palavra crescimento. Há uma absoluta necessidade de um novo olhar sobre esta sociedade, hoje, genericamente despersonalizada, anestesiada, acomodada, infeliz, pobre, sem futuro e violenta, como nos apercebemos pela situação vivida, e este é apenas um dos casos, no Bairro da Nogueira. Há uma imperiosa necessidade de uma tomada de consciência que a melhor obra que os políticos poderão fazer é a da celebração do ser humano. Enquanto isso não acontecer, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, esta Assembleia continuará a funcionar mas muito distante da eficiência, da eficácia e da responsabilidade política que a todos nos incumbe enquanto eleitos pelo Povo. Muito obrigado. Transcrito do original. Aplausos do PS. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito obrigado, Sr. Deputado. Sr. Deputado Jorge Moreira, para um pedido de esclarecimento tem a palavra. O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado André Escórcio, mais uma vez o Sr. Deputado veio aqui discorrer sobre a educação e sobre uma leitura pessimista e derrotista da educação e da escola de hoje. Eu não comungo da sua visão, Sr. Deputado, apesar de considerar que nalguns aspectos tem razão. Logicamente que não conseguimos ultrapassar determinados obstáculos. Mas este é um processo lento. A educação não é um processo célere, a educação é um investimento a médio e a longo prazo e não se pode investir hoje para amanhã ter resultados. E não há dúvida que a Madeira mudou muito ao longo destes anos. O Sr. Deputado vem dizer que a escola é vazia, não lida para a vida, não tem alma, é repetitiva. Sr. Deputado, mais uma vez, já é a segunda vez que o Sr. Deputado vem aqui falar sobre esse aspecto. Sr. Deputado, não comungo da Pág. 3

sua visão pessimista e derrotista da escola. Acho que a escola tem defeitos, acho que a escola não acompanha de imediato a evolução do mundo de hoje, mas a escola tem dado alguns saltos e a escola é fundamental para a aprendizagem e para a formação para a vida. O Sr. Deputado se calhar a leitura que faz, que eu comungo, que eu concordo, aplica-se perfeitamente ao Governo da República que nada fez ou pouco fez pela educação, que bem pelo contrário apenas estigmatizou os professores, criou um clima de instabilidade, criou uma situação difícil de gerir e que hoje o Partido Socialista tem essa herança, a herança que a actual Ministra tem que gerir e tem que digerir. O. Deputado porventura conheceu a escola e as zonas rurais antes da Autonomia? O Sr. Deputado pode fazer uma comparação do que era há trinta anos uma zona rural?! O Sr. Deputado disse que não houve evolução, houve escolarização mas não houve educação?! Oh, Sr. Deputado, eu estou plenamente em desacordo consigo nesse aspecto, comungo de algumas preocupações que o Sr. Deputado realmente enuncia mas mais do que uma vez digo-lhe com toda a franqueza que não me revejo na escola derrotista, na escola pessimista que o Sr. Deputado procura dizer. Pág. 4 O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado André Escórcio. O SR. ANDRÉ ESCÓRCIO (PS):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jorge Moreira, primeiro aspecto, permitir-me-á que lhe diga mas V. Exa. não entendeu a minha intervenção. O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Entendi! O ORADOR:- E não entendeu a minha intervenção porque a minha intervenção foi muito para além da escola. O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Eu sei! O ORADOR:- A escola foi um parágrafo na minha intervenção, numa intervenção cujo objectivo foi muito mais reflexivo sobre a questão social que nós estamos a viver e a sociedade que estamos a construir relativamente ao futuro. E é essa sociedade que nos preocupa. O SR. JOÃO CARLOS GOUVEIA (PS):- Muito bem! O ORADOR:- Mas se V. Exa. vem aqui falar sobre a questão da escola, eu poderei e terei muito prazer em dialogar consigo sobre o que foi a escola ontem e o que é a escola hoje. E a escola hoje é a escola de múltiplas actividades, é a escola pintada de fresco, é a escola bonita por fora mas corroída por dentro O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- O Sr. Deputado não diz qual é a escola que pretende! O ORADOR:- é uma escola, Sr. Deputado, é uma escola onde V. Exa. fica extremamente preocupado quando verifica que tem vinte e uma escolas acima do septuagésimo lugar até entre mil duzentas e noventa e duas. E só temos uma escola, uma escola antes do lugar duzentos e quinze. Uma! E isso apenas como indicador. Porque eu não levo os rankings à risca O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- E no secundário? O ORADOR:- Sr. Deputado eu não levo os rankings à risca, agora sirvo-me dos indicadores para poder ter uma ideia de como é que nós estamos na nossa sociedade. E o que me preocupa neste momento, e que não preocupa o Sr. Deputado, é a sociedade que nós estamos a construir. É a indisciplina, é a violência! O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- E o que foi que o Governo de Sócrates fez? O ORADOR:- Ainda ontem tive uma reunião com um grupo de professores e eles diziam-me que há muitos professores aqui na nossa região O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Terminou o seu tempo, Sr. Deputado. O ORADOR:- Já termino, Sr. Presidente. muitos professores da nossa região que estão com baixa psiquiátrica porque não conseguem funcionar na escola de hoje. O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Lá é que metem baixa psiquiátrica! O ORADOR:- E é isso que V. Exa. devia ter em atenção. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito obrigado, Sr. Deputado. Sra. Deputada Isabel Cardoso, para um pedido de esclarecimento tem a palavra. A SRA. ISABEL CARDOSO (PCP):- Obrigada, Sr. Presidente.

Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado André Escórcio, subscrevo em tudo a sua intervenção, ao contrário do Sr. Deputado Jorge Moreira, porque percebi o alcance da sua intervenção. Chamou a atenção para as profundas contradições da realidade social madeirense que resultam das profundas contradições das políticas educativas sem rumo que a Madeira tem tomado ao longo dos 30 anos de Autonomia que temos. O que eu gostava que esclarecesse, e aliás a intervenção do Sr. Deputado Jorge Moreira vem provar que é necessário esclarecer, é no conceito muito interessante que chamou a atenção, sobre escolarização versus educação. Se calhar aqui reside o núcleo do debate e daqui devemos explorar o que está em causa na escola madeirense e naquilo que queremos para o futuro da escola madeirense. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado André Escórcio. O SR. ANDRÉ ESCÓRCIO (PS):- Muito obrigado, Sr. Presidente. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sra. Deputada Isabel Cardoso, preocupa-me muito a escola madeirense, preocupa-me muito a sociedade porque, Sra. Deputada, o que se está a passar na nossa sociedade é extremamente grave e penoso para nós continuarmos, como alguns o fazem, continuarmos a assobiar para o ar. O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Olhe para o seu partido! O ORADOR:- Sr. Deputado, vou olhar para si Sr. Deputado! Quando o Sr. Deputado fala eu tenho o respeito de o ouvir, quando falo eu tenho respeito pelas suas palavras O SR. JORGE MOREIRA (PSD):- Também tenho! O ORADOR:- Nós temos que olhar para esta sociedade e ter uma noção exacta do que está a acontecer. O que está a acontecer diariamente, Srs. Deputados, com as tentativas de suicídio que estão a acontecer na Madeira diariamente, o que está a acontecer com as tentativas de suicídio falhadas e as consumadas, temos que ter noção e deve ser feito um levantamento dos homicídios; devemos ter em atenção o que está a acontecer no foro psiquiátrico, temos que ter em atenção ao que está a acontecer na violência doméstica Protestos do PSD. temos que ter em atenção aos quinze mil que dependem do álcool, temos ter em atenção às quinhentas crianças que vivem institucionalizadas e muitas delas em casas de acolhimento, temos que ter em atenção aos quatro mil toxicodependentes, temos que ter em atenção aos 30% de pobres, temos que ter em atenção aos oitocentos que procuram um lar, temos que ter em atenção aos doze mil e seiscentos desempregados, temos que ter em atenção a tudo o que se está a passar de infelicidade nesta sociedade e que todos nós O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Terminou o seu tempo, Sr. Deputado. O ORADOR:- todos nós temos que ter responsabilidades políticas no sentido da correcção de todos os processos que estão aqui em causa. É isto o essencial da minha mensagem. O essencial da minha reflexão é esta, não é a escola só por si. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Para uma intervenção, dou a palavra ao Sr. Deputado Lino Abreu, do Grupo Parlamentar do CDS/PP. O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- 2010 - O Ano Europeu de Luta Contra a Pobreza A Região Autónoma da Madeira e o seu Governo, precisam de criar uma nova cultura social que assuma a sua coresponsabilidade, que perceba e entenda que a exclusão social é uma consequência do modelo económico, da prática, do consumo que escolhemos nas últimas três décadas. É urgente lutar contra a pobreza, lutar pelos mais básicos direitos humanos e é fundamental entender e ter como premissa, de uma vez por todas, que a pobreza, para além de não ser uma fatalidade, não é primariamente, uma responsabilidade apenas e tão só dos próprios pobres. Lutar contra a pobreza não deve ser um favor, uma benesse, uma boa vontade ou um alívio de consciências, mas sim uma obrigação de um Governo, que deve ter como prioridade principal nas suas linhas de orientação politica. Aceitar a pobreza é uma atitude nobre de um Governo que se preze, de um Governo que tem como prioridade a pessoa humana e pela integral idade desse mesmo ser humano. Este é o papel de um Governo e de toda a sociedade, enquanto interventores sociais, aos mais variados níveis e desde as mais diversas estruturas e formas de resposta, que devemos assumir e ter. Se formos capazes de contrariar o actual cenário, significa caminharmos para uma sociedade mais justa, mais próspera, com mais qualidade de vida e com mais progresso nos termos sociais e nos económicos. Para isso, será necessário, Srs. Deputados, que a região aceite a nossa realidade social, sem tabus, que aceite mas que actue, que aja, que crie um conjunto de medidas de uma forma concertada, com todas as instituições públicas e privadas, que trace uma estratégia de intervenção, envolvendo todas as esferas da vida social, económica, política e cultural, tendo sempre como prioridade sempre a inclusão dos excluídos, de forma a viver com dignidade nesta sociedade que temos. Direito que assiste a todas os Madeirenses e Portosantenses. Propomos quatro grandes objectivos transversais que devem ter prioridade neste actual Governo: Primeiro, reconhecer o direito fundamental das pessoas em situação de pobreza e de exclusão social a viveram com dignidade e a tomarem parte activa nesta sociedade; Pág. 5

Segundo, responsabilidade partilhada e participada por todos nós; todos nós temos parte activa e também somos parte culpante daquilo que vivemos e daquilo que temos, eu inclusive também. Terceira, coesão: promover uma maior coesão na sociedade e assegurar que ninguém duvide das vantagens que resulta para todos de uma sociedade sem pobres; Por último, envolvendo uma acção concreta a todos os níveis de poder de uma forma concertada com o objectivo de atenuar, diminuir aqueles que mais sofrem e que aqueles que estão lá fora esperem uma atitude nova e uma resposta nova de todos nós. Pág. 6 O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito obrigado, Sr. Deputado. Sr. Deputado Jaime Leandro, para um pedido de esclarecimento tem a palavra. O SR. JAIME LEANDRO (PS):- Muito obrigado, Sr. Presidente. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Lino Abreu, na sua intervenção V. Exa. chamou a atenção para uma coisa que me parece essencial que é a de que não poderemos arranjar soluções para o actual estado de coisas se não enfrentarmos a verdade. E a verdade é que o desemprego está como está, cerca de 13 mil desempregados; a pobreza na Região Autónoma da Madeira está como está, fala-se em 60 mil pobres ou mais; as PME s estão como estão; os apoios que foram dados foram importantes mas foram também insuficientes; as falências continuam a insistir com um número considerável, e o Governo Regional continua também ele com a cabeça metida na areia fazendo de conta que nada disto existe. Mas os madeirenses, o comum trabalhador e os empresários, sejam eles médios empresários ou grandes empresários, estão a mãos com uma crise sem precedentes. E o que eu lhe queria perguntar, até porque V. Exa. tem uma experiência também no ponto de vista empresarial na direcção da associação a que preside, que medidas podem ser empreendidas no sentido de reverter este quadro pessimista, este quadro de grande preocupação para a Região Autónoma da Madeira, para os madeirenses e para os empresários em particular? O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Sr. Deputado Lino Abreu, para responder tem a palavra. O SR. LINO ABREU (CDS/PP):- Muito obrigado, Sr. Presidente. Sr. Presidente, Srs. Deputados, a sua pergunta é pertinente. E é pertinente porquê? Acho que chegou o momento de invertermos o actual ciclo que estamos a viver nos últimos 30 anos. Vivemos um ciclo de investimento de algumas infraestruturas que era necessário e que foi fundamental para o nosso desenvolvimento, que foi fundamental para desenvolver algumas necessidades básicas que nós tínhamos e que merecíamos e que fazia falta na nossa sociedade mas há muito que devíamos ter a capacidade e a visão para darmos um novo ciclo para darmos um salto no ciclo social e no ciclo empresarial. Não há dúvidas que aquilo que temos agora, como eu disse na minha intervenção, é a consequência e o resultado das políticas traçadas por este Governo nos últimos 30 anos. Mas chegou ao momento de aceitar a verdade e este momento de aceitar a verdade às vezes dói mas temos que aceitar porque se não aceitamos não temos as medidas necessárias para combatê-las. Isto acontece na vida empresarial. Se nós não queremos aceitar aquilo que devemos todos os dias, logicamente que não vamos ter a capacidade de inovar, de termos uma nova estratégia de termos uma acção concreta para combater o problema que nós temos. E o que passamos aqui é que muitas das vezes o Governo não quer olhar a realidade e a essa realidade assistimos todos os dias lá fora. Assistimos nas empresas que você disse e muito bem que estão a fechar, no aumento sistemático do número de pobres ainda no mês passado, de Agosto para Setembro, aumentamos mais trezentos e doze desempregados, estamos a aumentar a dez desempregados por dia, dez desempregados por dia! Olhem para estes números, actuem, tomem medidas! Temos que actuar, temos que actuar e já porque caso contrário estamos a somar e a somar diariamente o número de desempregados, o número de falências e o número de pobres que estamos a assistir nesta terra. E o que nós queremos O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Terminou o seu tempo, Sr. Deputado. O ORADOR:- é que o Governo actue e actue criando medidas concretas para atenuar o sacrifício e o drama que se vive no tecido empresarial, nas famílias e naqueles que mais precisam. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito obrigado, Sr. Deputado. Para uma intervenção tem a palavra o Sr. Deputado Jaime Silva, do MPT. Dispõe de 2 minutos. O SR. JAIME SILVA (MPT):- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, passado que está mais um acto eleitoral para as autárquicas temos que tirar as devidas elações sobre aquilo que o eleitorado depositou nas urnas. E mais do que tudo é urgente ver que a população da Madeira está cada vez mais esclarecida e cada vez mais, digamos, temos um eleitorado de qualidade. E para comprovar estas afirmações pode dizer-se que da parte do poder o PSD que tem estado comodamente instalado na sua cadeira, quer seja a nível governamental quer seja também a nível das várias câmaras da região, constatou-se aqui uma reacção enérgica de muito eleitoral, de uma base forte de eleitorado que está a mostrar a estes senhores que não é assim que se faz política. E por mais que ainda se esteja numa situação difícil, uma situação difícil da nossa democracia na região, se tivermos em conta também o papel que é aquele papel que deve ser desempenhado pelo maior partido da oposição. O maior partido da oposição também tem estado em constante guerra interna e isto em princípio deveria dificultar ainda mais a acção do partido do pode. E os outros partidos da oposição, os partidos mais pequenos estão a crescer

não com aquela margem de crescimento forte mas estão a crescer e isto mostra também que o eleitorado está esclarecido também relativamente a estas situações. Há aqui também implicitamente um castigo ao maior partido da oposição, que como já referi tem estado em guerrilhas constantes, e o eleitorado não perdeu a oportunidade de castigar também aqueles que se esquecem de contactar com as populações no dia-a-dia, esquecem-se de irem às câmaras, irem às localidades e denunciar os problemas das populações. E foi a isso que se assistiu nestas eleições O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Terminou o seu tempo, Sr. Deputado. O ORADOR:- castigo para o PSD e castigo para o maior partido da oposição que tem estado a ver navios. E é necessário, para terminar, Sr. Presidente, que no concelho de Santa Cruz, que foi aquele concelho onde houve um maior equilíbrio de forças, é necessário que o PSD aprenda com esta lição e não se meta na toca como se tem metido nos últimos dias, que em vez de mostrar preocupação para resolver este problema que está criado no concelho que não é um problema porque para as populações até é melhor haver um equilíbrio de forças O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Sr. Deputado, tem que terminar. O ORADOR:- e o PSD tem esquecido esta situação e não está a desempenhar o seu papel, que é exactamente procurar situações de convergência para o futuro do concelho. Tenho dito. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Sr. Deputado Jaime Leandro, para um pedido de esclarecimento ao Sr. Deputado Jaime Silva, tem a palavra. O SR. JAIME LEANDRO (PS):- Sr. Presidente, muito obrigado. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jaime Silva, V. Exa. não resiste à vontade de sistemática e reiteradamente atacar o Partido Socialista. É essa a forma de fazer oposição do seu partido: criticar a oposição, encostar-se ao partido do Governo. Mas isso, toda a gente já percebeu, toda a gente já viu. E deixe-me dizer-lhe o seguinte: V. Exa. está a cuspir no prato onde já comeu e quanto mais não seja o Partido Socialista, independentemente das personalidades que o integram merece, deveria merecer o seu respeito como merece o respeito de parte, de fatia substancial dos madeirenses. O partido a que V. Exa. se integra é um partido que come à mesa com o PSD e parasita o eleitorado do PS. É um partido parasita, é um partido que faz a campanha não com base em projectos próprios mas com base na difamação e com base na intervenção que tem sistematicamente feito no Partido Socialista. Ficar-lhe-ia muito melhor afirmar o seu partido com projectos próprios do que parasitar, repito, no Partido Socialista. O SR. AGOSTINHO GOUVEIA (PSD):- O que ele disse foi a verdade! O ORADOR:- Mas o eleitorado é sábio e V. Exa. disse-o. É sábio e é tão sábio que já se começou a ver esse resultado também nos seus números de votos e em vez de olhar para a casa dos outros, porque os outros estão atentos àquilo que está a acontecer, olhe para a sua porque ela está a arder. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Sr. Deputado Jaime Silva, para responder tem a palavra. O SR. JAIME SILVA (MPT):- Muito obrigado, Sr. Presidente. Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, Sr. Deputado Jaime Leandro, eu não lhe vou responder para já não me fez nenhuma pergunta mas não vou reagir às suas afirmações com tom enervado e odioso e rancoroso com que o Sr. Deputado se referiu à minha pessoa. Mas tenho de lhe dizer uma coisa, Sr. Deputado. O Sr. Deputado disse que o eleitorado é sábio, não foi? Ora bem, Sr. Deputado também acusou o Deputado Jaime Silva do Partido da Terra de cuspir no prato onde comeu. Pois, Sr. Deputado, eu vou-lhe responder da seguinte maneira O SR. JAIME LEANDRO (PS):- Diga! O ORADOR:- Se o eleitorado é sábio O SR. JAIME LEANDRO (PS):- Foi V. Exa. que o disse ali! O ORADOR:- Sr. Deputado, se o eleitorado é sábio também para si eu vou-lhe dizer o seguinte: se eu cuspi no prato onde comi, Sr. Deputado, o eleitorado que votou no PS também está a cuspir no prato onde comeu. Porque na Camacha, Sr. Deputado, de onde eu sou natural, posso-lhe dizer que nas últimas eleições anteriores às autárquicas e nos actos eleitorais em que o Partido da Terra entrou, o Partido da Terra ficou a 17% do PS e nestas eleições autárquicas o Partido da Terra está apenas a 7% do PS. Muito obrigado. O SR. PRESIDENTE (Paulo Fontes):- Muito obrigado, Sr. Deputado. Sras. e Srs. Deputados, não havendo mais intervenções vamos à nossa ordem de trabalhos. ORDEM DO DIA Pág. 7

Temos como I parte a apreciação e votação do relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Projecto da Quinta do Lorde, nos termos do regimento específico aprovado pela Conferência dos Presidentes dos Grupos Parlamentares. Temos que fazer a leitura do relatório. Sras. e Srs. Deputados, o relatório é um pouco extenso, foi distribuído a todos os deputados, não sei se dispensam a leitura pela Mesa do referido relatório Srs. Deputados, alguém se opõe à dispensa da leitura? Consta do seguinte: COMISSÃO DE INQUÉRITO SOBRE O PROJECTO DA QUINTA DO LORDE RELATÓRIO A presente Comissão de Inquérito foi constituída a requerimento dos deputados que pertencem aos Grupos Parlamentares do Partido Socialista (PS) e do Partido Comunista Português (PCP), e dos deputados representantes únicos do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido da Nova Democracia (PND), no qual solicitam a realização de Inquérito Parlamentar sobre o Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde com a finalidade de se proceder a uma análise do processo em causa, de modo a apurar-se: - da existência de decisões administrativas do Governo Regional entre si contraditórias, respeitantes ao processo de viabilização e licenciamento do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde, plasmadas nas Resoluções n.ºs 1943/99, de 29 de Dezembro e 272/2004, de 12 de Março; - da adequação do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde actualmente em execução, aos condicionalismos da Resolução de Governo n.º 272/2004, que aponta para a edificação de uma aldeia tipicamente madeirense; - da legalidade dos actos administrativos, praticados pelo Governo Regional, necessários à viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde e das obras de execução deste Projecto, face às imposições e condicionamentos contidos nos diversos instrumentos legais de ordenamento do território da Região Autónoma da Madeira, mormente, nos domínios da protecção ambiental e da natureza, da protecção da orla costeira e do uso privativo de bens do domínio público marítimo; e - da utilização, por parte do Governo Regional, no processo de viabilização e licenciamento do Projecto em causa, de uma dualidade de critérios, tendo em atenção as partes interessadas neste empreendimento turístico, de modo a favorecer uma delas. Aos vinte e cinco dias do mês de Junho de dois mil e nove, pelas onze horas, foi instalada a Comissão de Inquérito Parlamentar requerida, tendo sido eleitos os membros da Mesa, que ficou assim constituída: Presidente: Rui Moisés Fernandes Ascensão Vice-Presidente: Jorge Moreira de Sousa Secretário: Élvio Manuel Vasconcelos Encarnação Relator: Vasco Luís de Lemos Vieira Os restantes membros desta Comissão, indicados pelos respectivos Grupos Parlamentares com assento na Assembleia Legislativa da Madeira, são os seguintes: Vogal: José Jardim Mendonça Prada (PSD) Vogal: José Gualberto Mendonça Fernandes (PSD) Vogal: José Savino dos Santos Correia (PSD) Vogal: Victor Sérgio Spínola Freitas (PS) Vogal: Edgar Freitas Gomes Silva (PCP) Instalada a Comissão de Inquérito requerida, esta deu início aos seus trabalhos em reunião do dia sete de Julho de dois mil e nove, pelas catorze horas e trinta minutos, na qual se analisou os fundamentos aduzidos no Requerimento de constituição de Comissão de Inquérito Parlamentar, e estabeleceu a metodologia de trabalho a desenvolver no seu âmbito. Nesta reunião, os Grupos Parlamentares com representação na Comissão de Inquérito apresentaram requerimentos escritos destinados à recolha de documentos relacionados com a viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde, à audição de entidades públicas relacionadas directa ou indirectamente com o Processo em causa, bem como à prestação de depoimento por parte de especialistas na área do ambiente. Destes requerimentos, vinte (20) foram apresentados pelo Partido Socialista (PS), sendo cinco (5) para a obtenção de prova documental, e quinze (15) para produção de prova testemunhal, pelo Partido Social-Democrata (PSD) um (1) e pelo Partido Comunista Português (PCP) sete (7), os quais, por se tratarem propriamente de pedidos de informação sobre o empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde, formulados directamente a entidades públicas, não foram admitidos, pelo que os mesmos foram reformulados, tendo sido feitos oralmente e no sentido daquelas entidades prestarem depoimento perante a Comissão de Inquérito, tendo ainda o PCP apresentado oralmente mais dois (2) requerimentos, pedindo a audição da Senhora Secretária Regional do Turismo e Transportes e de Sua Excelência o Presidente do Governo Regional. Dos requerimentos apresentados, foram aprovados, por unanimidade, o requerimento do PSD para audição do Senhor Secretário Regional do Equipamento Social, e o requerimento do PS para audição do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico, tendo sido rejeitados, por maioria, todos os restantes requerimentos, que obtiveram os votos favoráveis dos representantes do PS e do PCP. Aos vinte dias do mês de Julho de dois mil e nove, pelas nove horas e trinta minutos, reuniu-se, novamente, a Comissão de Inquérito para proceder à Audição do Senhor Secretário Regional do Equipamento Social. Iniciada a reunião, o Senhor Presidente da Comissão informou os restantes membros da existência de um ofício da Procuradoria da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, que dava conhecimento do arquivamento dos Autos no Processo Administrativo n.º 06/2008, que teve por objecto a apreciação da legalidade dos actos administrativos do Município de Machico e de outras entidades, relativos ao Processo de Viabilização e Licenciamento do Empreendimento Turístico Resort Quinta do Lorde, remetido a esta Comissão por Sua Excelência o Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, para os efeitos tidos por convenientes, cuja fotocópia foi fornecida a Pág. 8

todos os membros da Comissão, acompanhada do respectivo anexo, contendo o teor do Despacho de Arquivamento, e do qual todos tomaram conhecimento. Após esta comunicação do Senhor Presidente da Comissão de Inquérito, passou-se à Audição do Senhor Secretário Regional do Equipamento Social, tendo a representação do Grupo Parlamentar do PSD referido, através do deputado Gualberto Fernandes, não ter quaisquer esclarecimentos a pedir ao Senhor Secretário Regional sobre a matéria em questão, uma vez que, tendo tomado conhecimento do teor do Despacho de Arquivamento proferido pelo Procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, não persistirem quaisquer dúvidas sobre a legalidade de todo o processo de viabilização e licenciamento do projecto turístico Resort Quinta do Lorde. Não partilhando da opinião expressa pelo PSD, o representante do Grupo Parlamentar do PS, deputado Victor Freitas, considerou necessário, para o apuramento dos factos, formular questões ao Senhor Secretário Regional, tendo-o inquirido no sentido de saber: - Se achava possível a Comissão de Inquérito poder realizar um bom trabalho e chegar a uma conclusão sobre a matéria objecto do Inquérito, quando foi negado aos seus membros o acesso a documentos que fazem parte integrante do processo de licenciamento do Projecto Quinta do Lorde. - Que razões determinaram, no passado mês de Abril, a visita do Senhor Secretário Regional ao local de construção do empreendimento turístico Quinta do Lorde, fazendo-se acompanhar pelo promotor do empreendimento e pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico. Face a estas questões que lhe foram postas, procurou o Senhor Secretário Regional do Equipamento Social prestar os necessários esclarecimentos, bem como achou necessário e útil fornecer mais dados aos membros da Comissão sobre o processo de viabilização e licenciamento do projecto turístico Resort Quinta do Lorde, embora não tenha sido questionado sobre os mesmos, tendo referido que: - Quanto à qualidade do trabalho a desenvolver pela Comissão de Inquérito, tendo em linha de conta o não acesso por parte dos seus membros aos documentos que integram o processo em causa, não era responsável por tal situação, encontrando-se presente nesta Comissão para prestar os necessários esclarecimentos sobre a matéria em apreciação e não para interferir e emitir opinião sobre a forma de funcionamento da mesma, nem sobre as decisões tomadas pelos seus membros; - no que respeita às razões que determinaram a sua visita ao local de construção do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde, prendem-se estas com a importância que o projecto turístico em causa tem para a Região Autónoma da Madeira (RAM) e insere-se no normal desempenho das suas atribuições e competência, sendo seu hábito acompanhar a concretização dos projectos que representam mais-valias para a Região Autónoma; - No que concerne propriamente ao processo de viabilização e licenciamento do projecto turístico Resort Quinta do Lorde, considera necessário e importante esclarecer, para que se dissipem as dúvidas sobre a legalidade dos actos administrativos praticados pelas entidades competentes em razão da matéria, que: A ocupação da zona de implantação deste empreendimento turístico está titulada por Alvará desde o ano de 1957; O Alvará concedido em 1957 sofreu alterações ao longo dos anos, conforme se foi também alterando o tipo de ocupação do empreendimento; O projecto turístico Resort Quinta do Lorde é uma mais-valia para a RAM e para o Município de Machico, sendo um empreendimento turístico classificado de interesse público; O Plano de Ordenamento Turístico (POT) constatou a existência de um défice de alojamento turístico no Município de Machico, consequência da demolição do Hotel Atlantis e da desactivação do Complexo da Matur, pelo que era do interesse público combater esse défice, representando o empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde um contributo para colmatar o défice de alojamento turístico verificado naquele Município; Foi introduzida, em 1997, no Plano de Ordenamento do Território da Região Autónoma da Madeira (POTRAM) uma regra específica que permitisse atrair empreendimentos turísticos de qualidade, tipo resort, para aquela zona do território regional; O Plano Director Municipal de Machico (PDMM) classifica a zona de implantação do empreendimento turístico em causa, como espaço urbano a consolidar e zona de desenvolvimento turístico; Admite a possibilidade de terem sido cometidas algumas irregularidades processuais, as quais foram sendo sanadas ao longo de todo o processo de licenciamento, não existindo actualmente quaisquer actos administrativos susceptíveis de nulidade ou anulabilidade, respeitando o processo de viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde as regras estabelecidas no POTRAM, POT, PDMM e demais legislação aplicável; O facto do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde estar parcialmente integrado na Rede Natura 2000, deve-se a que a cartografia, existente na altura, não ser a mais correcta, não permitindo concluir-se com toda a certeza e exactidão a efectiva área de ocupação do empreendimento, mas tal facto não é impeditivo de edificação dentro da zona do Parque Natural da Madeira, até porque mereceu parecer favorável do Parque Natural; O Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde foi objecto de Estudo de Impacte Ambiental e sujeito a discussão pública nos termos legalmente exigíveis; O empreendimento turístico em questão está localizado, na sua grande parte, em propriedade privada; As áreas de expansão do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde que ocupam espaço do domínio público marítimo estão tituladas mediante contrato de concessão, que foi evoluindo ao longo do tempo e adequando-se à legislação em vigor; Actualmente, este empreendimento turístico, estando em fase de construção, garante cerca de 400 postos de trabalho e com a sua entrada em funcionamento, irá criar, de forma directa, mais de 200 postos de trabalho; O empreendimento turístico, cuja legalidade do processo de viabilização e licenciamento é o objecto do Inquérito em curso, possui uma área total de 163.750,00 m 2, sendo 23.663,00 m 2 de área de implantação e cerca de 34.640,00 m 2 de espaços verdes, com um número máximo de 4 pisos por edifício; O processo de viabilização e de licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde foi objecto de averiguação promovida pelos Serviços do Ministério Público, a fim de determinar-se da legalidade dos actos administrativos praticados pelas entidades públicas com competência em razão da matéria, averiguação essa que foi bastante profunda, atingindo 3 volumes e 18 anexos, num total de 10.000 páginas, tendo o Procurador da República, Pág. 9

junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, chegado à conclusão de que o processo em causa não contem qualquer ilegalidade, pelo que proferiu despacho de arquivamento do respectivo Processo Administrativo, só podendo estar de má-fé quem pretenda mover, novamente, qualquer processo judicial que vise pôr em causa este empreendimento turístico. Aos vinte e um dias do mês de Julho de dois mil e nove, pelas nove horas e trinta minutos, voltou a reunir-se a Comissão de Inquérito para proceder à Audição do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico. Iniciada a reunião, a representação do Grupo Parlamentar do PSD na Comissão de Inquérito, através dos deputados Jorge Moreira e Savino Correia, expressou a opinião de que o objecto desta reunião estava totalmente esvaziado, na medida em que todas as questões levantadas no Requerimento de Constituição da presente Comissão de Inquérito e relacionadas com a prática de actos administrativos ilegais, por violarem disposições normativas do POTRAM, PDMM, PNM e Rede Natura 2000, tinham sido profunda e exaustivamente analisadas pelo Ministério Público. Como tal, estariam esgotados todos os aspectos de possível ilegalidade do processo de viabilização e licenciamento do Projecto Turístico em causa, tal como resulta do despacho de arquivamento proferido pelo Procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, que fez questão de dar conhecimento do mesmo a esta Comissão de Inquérito, não cabendo aos partidos políticos a apreciação da legalidade dos actos administrativos praticados no âmbito do Processo em causa, somente lhes competindo fazer uma apreciação e avaliação política da questão. Discordando da posição expressa pelo Grupo Parlamentar do PSD, os deputados representantes dos Grupos Parlamentares do PS e do PCP, presentes nesta reunião, Victor Freitas e Leonel Nunes, consideraram existirem razões objectivas para a continuidade dos trabalhos da Comissão de Inquérito, sendo importante, para a verificação da legalidade do processo de viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde, a Audição do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico e de outras individualidades directamente ligadas ao Processo, bem como a análise de documentos que dele são parte integrante, cujo fornecimento foi negado aos deputados que integram a Comissão de Inquérito, pelo que pretendem obter esclarecimentos do senhor Presidente da Câmara acerca dos seguintes factos: - A existência de um parecer emitido pelo Parque Natural da Madeira (PNM), no ano de 2009, a solicitação da Câmara Municipal de Machico, estando já o empreendimento turístico em construção, no qual não e feita qualquer referência expressa à necessária autorização do PNM, conforme exigência da lei; - O facto do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde, de acordo com a planta da Rede Natura 2000, ter a sua total implantação dentro da delimitação daquela zona legalmente protegida; - A desconformidade da obra que actualmente está a ser executada no local, com o que consta do Estudo de Impacte Ambiental realizado; - Face à cartografia constante do Plano Director Municipal de Machico, a ocupação turística da área geográfica em causa não tem acolhimento naquele instrumento legal de gestão do território municipal; - A existência de discrepância entre a área de construção autorizada, que é de 55.000,00 m 2, e a área de construção que está actualmente a ser executada, que é de 60.000,00 m 2 ; - Se o Presidente da Câmara Municipal de Machico dispensa tratamento igual, no que respeita à aprovação de projectos, a todos os investidores no seu Município; - Se a Câmara Municipal de Machico estaria disposta a fornecer à Comissão de Inquérito elementos do processo de licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde que assegurem aos deputados a legalidade de tal processo. Procurando esclarecer os membros da Comissão de Inquérito acerca das dúvidas que lhe foram suscitadas sobre o processo de licenciamento do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico referiu que: - Todos os investimentos no seu Concelho são bem-vindos, não podendo admitir qualquer insinuação no sentido de ter um tratamento diferenciado em função da pessoa do investidor ou do munícipe, pois todos são tratados de forma igual; - As dúvidas que são levantadas sobre a legalidade do processo de licenciamento do projecto turístico em causa, somente resultam da falta de preparação e desconhecimento dos condicionamentos legais que se impõem a este tipo de projecto e à área que visa ocupar, por parte de quem pretende atacar tal projecto, estando a legalidade dos actos administrativos praticados a ser investiga há mais de um ano pelos serviços do Ministério Público, e que só o desconhecimento de certos conceitos, tais como, Rede Natura 2000, Parque Natural da Madeira, reserva integral e reserva parcial, leva a uma série de equívocos na comunicação social e, consequentemente, na opinião pública; - A sua actuação, como Presidente da Câmara Municipal, quer neste, quer em todos os processos de licenciamento que envolvem o Município de Machico, têm-se pautado pelo cumprimento da legalidade de procedimentos; - O parecer solicitado ao Parque Natural da Madeira justificava-se, pois não havia sido feito no momento próprio e como tal importava sanar uma irregularidade processual; - O processo de licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde foi acompanhado de todos os pareceres técnico-jurídicos considerados necessários e adequados, tendo a Câmara Municipal de Machico, nos seus quadros, pessoal técnico de grande qualidade e capaz de analisar um projecto daquela dimensão, cumprindo com todas as exigências legais, o que é comprovado pelo despacho de arquivamento do Procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, emitido no Processo Administrativo que visava investigar a legalidade dos actos administrativos praticados no âmbito do processo de viabilização e licenciamento do empreendimento turístico em causa; - A Câmara Municipal de Machico colaborou activa e positivamente com o Ministério Público no processo administrativo de investigação da legalidade, fornecendo todos os elementos e documentos que lhe foram solicitados, os quais podem ser solicitados por qualquer cidadão, na medida em que o Processo de Licenciamento é público; - Todo o processo de licenciamento do projecto turístico em causa está dentro da legalidade, tendo sido sanadas de imediato quaisquer possíveis irregularidades processuais, tal como o confirma o despacho de arquivamento do Procurador da República, pelo que não poderia a Câmara deixar de licenciar um projecto que se encontra em conformidade com as disposições da lei aplicável; Pág. 10

- O empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde representa uma mais-valia para o Município de Machico, na medida em que vem compensar as perdas verificadas em oferta hoteleira do Concelho, com o desaparecimento do Complexo Turístico da Matur e do Hotel Atlantis, fruto da expansão do Aeroporto da Madeira; - A aprovação do local de implantação do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde teve lugar no ano de 1999, quando a Presidência do Município era da responsabilidade do Partido Socialista, partido maioritário no executivo camarário, tendo sido aprovado por unanimidade. Terminada a Audição do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico, deu-se continuidade aos trabalhos da Comissão de Inquérito, tendo o representante do Grupo Parlamentar do PS, deputado Victor Freitas, feito requerimento oral, no sentido de se oficiar os serviços do Ministério Público para prestar esclarecimentos acerca das diligências que efectuou quanto a saber da existência e eventuais violações do Plano Director Municipal, se está ou não a ser cumprido o projecto licenciado pela Câmara Municipal, e se na sua investigação verificou os mapas da Rede Natura 2000, ou se ficou apenas pelo teor das resoluções do Governo Regional, requerimento este que foi rejeitado por maioria, obtendo os votos favoráveis do PS e do PCP. Também foi requerido oralmente pelo Grupo Parlamentar do PSD, através do deputado Vasco Vieira, que o Despacho de Arquivamento emitido pelo Procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal, constituísse prova documental necessária à feitura do Relatório Final da Comissão de Inquérito, requerimento este que foi aprovado por maioria, com abstenção do PCP. Ainda, na reunião do dia vinte e um de Julho, foi proposto pelo Grupo Parlamentar do PSD, através do deputado Jorge Moreira, que o Relator da Comissão de Inquérito procedesse de imediato à elaboração do relatório final, por se encontrarem esgotadas todas as diligências que se impunham à Comissão para apreciação da legalidade do processo em causa, proposta que foi aprovada por maioria, com os votos contrários do PS e do PCP, tendo ficando também deliberado que a discussão e votação do Relatório Final teria lugar no dia sete de Setembro do corrente ano. Uma vez que ficou deliberado, pela Comissão de Inquérito, que o Despacho de Arquivamento proferido pelo Procurador da República junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Funchal constituiria elemento de prova a considerar na feitura do Relatório Final, pois tem por objecto a mesma matéria que constitui o fundamento da criação desta Comissão Parlamentar de Inquérito, importa que se proceda à análise do seu conteúdo e dos fundamentos que determinaram o arquivamento do Processo Administrativo instaurado para averiguação da legalidade do processo de viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde. Assim, importa referir, que da análise deste documento ressalta, desde logo, o facto do Ministério Público, através da abertura do Processo Administrativo n.º 06/08, ter promovido a investigação do processo em causa, com base em notícia publicada no jornal Garajau de 02/05/2008, e em denúncia feita pelo então deputado do Partido da Nova Democracia (PND) José Manuel da Mata Vieira Coelho e pela organização ambientalista Quercus/Madeira, que denunciaram: - Estar a construção do empreendimento turístico Resort Quinta do Lorde a ser feita em zona de reserva natural da Ponta de São Lourenço, área do Parque Natural da Madeira (PNM) e no perímetro da Rede Natura 2000 ; - Não terem sido efectuados estudos de impacte ambiental, nem auscultação pública no âmbito deste empreendimento turístico; - Ocupar, o empreendimento turístico em causa, uma extensa área do domínio público marítimo; - A ilegalidade dos pareceres emitidos pelas entidades competentes, na medida em que vão no sentido de se conceder usos privativos de áreas do domínio público marítimo, quando ainda não foi aprovado qualquer Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) da zona em questão. É de salientar que o Ministério Público, para apreciar da questão de fundo do Processo Administrativo instaurado, socorreu-se de informações e documentos fornecidos, a sua solicitação, pela Câmara Municipal de Machico e por outras entidades públicas relacionadas directamente com o processo de viabilização e licenciamento do Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde, nos quais se incluem, cópia do processo de licenciamento e respectivos pareceres, estudos, despachos, documentos, mapas e plantas, que justificaram a aprovação do mencionado Projecto Turístico, constituindo os Autos 3 volumes e 16 anexos, num total de 10.000 páginas, o que demonstra quão exaustiva e profunda foi a apreciação e investigação levada a cabo pelo Ministério Público em relação ao processo de viabilização e licenciamento daquele empreendimento turístico. Da análise feita ao despacho de arquivamento proferido pelo Procurador da República, ressalta o facto do Ministério Público ter tido a preocupação de apreciar as matérias que directa ou indirectamente se prendem com as dúvidas de legalidade suscitadas pelos denunciantes, assim como apreciar os actos e os factos que pudessem eventualmente constituir nulidades e/ou anulabilidades susceptíveis de conduzir à instauração de acção administrativa, não relevando as situações irregulares detectadas que, no decurso do próprio processo de licenciamento, foram corrigidas e sanadas, de modo a cumprir-se com as imposições legais, por as mesmas não terem interesse para a análise das questões fundamentais. Ora, foi com o objectivo de apreciar da legalidade dos actos administrativos praticados pelas entidades competentes para viabilizarem e licenciarem o Projecto Turístico Resort Quinta do Lorde que o Ministério Público, tendo por base as informações e documentos que lhe foram fornecidos pelas entidades intervenientes no Processo e os elementos que coligiu por iniciativa própria, estabeleceu como metodologia: a selecção dos factos considerados relevantes, cerca de 29 factos, para apreciação da questão de fundo; a determinação das questões essenciais a apreciar no âmbito do processo de viabilização e licenciamento do empreendimento turístico em causa; a análise dos factos relacionados com cada uma das questões consideradas essenciais e correspondente adequação às imposições resultantes da legislação aplicável; e conclusões retiradas da apreciação e investigação efectuadas ao mencionado Processo. No que respeita às questões consideradas essenciais para a apreciação da questão de fundo, o Ministério Público elegeu, como tais, as seguintes: - Existência ou não de violação dos condicionamentos impostos por lei; - Poder ou não conceder-se uso privativo de áreas do domínio público marítimo; - Ausência de estudos de impacte ambiental - Não realização de auscultação pública. Pág. 11