AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A AGROINDÚSTRIA FAMILIAR NO RIO GRANDE DO SUL Autores: Bruna Bresolin Roldan; Glauco Schultz Filiação: Universidade Federal do Rio Grande do Sul E-mail: brunabre@gmail.com; glauco.schultz@ufrgs.br Grupo de Pesquisa: Centro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios Resumo A agroindústria familiar é uma das atividades tidas como alternativa para permanência das famílias no campo. O Estado do Rio Grande do Sul, reconhecendo esta possibilidade, criou no ano de 2012 um conjunto de políticas públicas, proporcionando um ambiente institucional favorável para o fomento e legalização das agroindústrias familiares. O objetivo deste artigo é mostrar como foi construída, no Estado do Rio Grande do Sul, a política pública de agroindústria familiar e o ambiente institucional para a execução desta política. A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica e análise de documentos. O Programa Estadual de Agroindústria Familiar do Rio Grande do Sul possui mais de 900 agroindústrias inclusas e pretende legalizar mais 600 empreendimentos nos próximos quatro anos. Palavras-chave: produção artesanal; agricultura familiar; Programa Estadual de Agroindústria Familiar Abstract The family agroindustry is one of the activities considered as an alternative for the permanence of families in the field. The State of Rio Grande do Sul, recognizing this possibility, created in 2012 a set of public policies, providing a favorable institutional environment for the promotion and legalization of family agroindustries. The objective of this article is to show how the public policy of family agroindustry and the institutional environment for the execution of this policy were constructed in the State of Rio Grande do Sul. The methodology used was the bibliographic review and document analysis. The State Program of Family Agroindustry of Rio Grande do Sul has more than 900 agroindustries included and intends to legalize another 600 enterprises in the next four years. Key words: Handicraft production; family farming; State Program of Family Agroindustry 1. Introdução A industrialização de matérias-primas agropecuárias muitas vezes ocorre nas propriedades rurais para o autoconsumo das famílias e, na maioria das vezes, sob responsabilidade das mulheres, que permanecem em casa ou retornam antes dos homens da lavoura para preparar a refeição (Brasil, 2006). Com o passar do tempo, iniciaram-se as trocas de alimentos entre as famílias e posteriormente iniciaram-se as encomendas e as vendas. No Rio Grande do Sul, a vinda dos imigrantes europeus evidenciou ainda mais a produção de alimentos típicos da agricultura familiar, como queijos, embutidos e derivados da uva (Roldan et al., 2014).
Desde então, a agroindustrialização, com utilização de matéria-prima própria e mãode-obra familiar, tem se tornado uma importante fonte de geração e incremento na renda das famílias rurais. A diversificação das atividades dentro da propriedade rural tem se mostrado uma tentativa do próprio agricultor, que excluído dos mercados de cadeias longas, tenta permanecer na atividade rural e agregar valor ao seu trabalho (Junior, 2008). No entanto, quando a produção de alimentos não se destina ao consumo próprio e sim a comercialização, devido ao risco a saúde humana que um alimento contaminado pode causar, essa produção de alimentos necessita ser acompanhada pelo poder público, afim de assegurar sua qualidade sanitária, evitar que a atividade cause danos ao meio ambiente e ainda haja o recolhimento devido de impostos. Para isso existem legislações, sanitárias, ambientais e tributárias/fiscais que devem ser atendidas. O objetivo deste artigo é mostrar como foi construída, no Estado do Rio Grande do Sul, a política pública de agroindústria familiar e o ambiente institucional para a execução desta política. Agroindústria Familiar O termo agroindústria rural surgiu na década de 1980, na literatura relacionada a economia campesina, definindo a agroindústria essencialmente como um meio para reforçar o controle do campesinato latino-americano sobre a criação de valor agregado na cadeia de produção (Requier-Desjardins, 1999). Em 1989 foi criado o Programa Cooperativo para Desenvolvimento Agroindustrial Rural da América Latina e Caribe (PRODAR) em virtude das inquietudes de órgãos governamentais e não governamentais em articular esforços para fortalecer e promover a agroindústria rural no hemisfério. O PRODAR define agroindústria rural como uma atividade que permite aumentar e reter, nas zonas rurais, o valor agregado da produção das economias campesinas, através da execução de tarefas de pós-colheita em produtos provenientes de explorações silvo agropecuárias, tais como lavagem, seleção, classificação, armazenamento, conservação, transformação, empacotamento, transporte e comercialização (PRODAR, 2016). O desenvolvimento da atividade de agroindustrialização das matérias-primas agropecuárias acontece também devido a existência de um público consumidor ávido por alimentos com enraizamento histórico, mais naturais e saudáveis, criando um mercado cada vez maior para os produtos típicos da agricultura familiar. O consumidor criou um conjunto de valores ligados a tradição, ao artesanal, ao local, ao natural, que criam nichos de mercado que determinam novos padrões de qualidade (Ponte, 2003; Wilkinson, 2003). Assim, tendo na valorização da procedência dos alimentos, juntamente com a sua qualidade uma possibilidade para a inserção dos produtos em novos mercados, a valorização do saber-fazer passa a ser visto como uma das formas de inovação no sistema produtivo. A abertura desses mercados oferece novas alternativas para a inserção dos produtos da agricultura familiar, de maneira autônoma e independente, promovendo geração de renda e emprego (Junior, 2008). A produção de alimentos tem uma fonte própria de ativos específicos, proporcionada pela relação especial que une o consumidor com o alimento que ele irá consumir, ou seja, a proximidade do consumidor com o alimento, proporciona uma importância maior ao caráter local e as técnicas de produção utilizadas. Além disso, o consumidor se considera capaz de medir a qualidade do alimento através de suas experiências pessoais e conhecendo o modo como este alimento foi produzido (Requier-Desjardins, 1999). De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, 92% dos estabelecimentos rurais do Estado do Rio Grande do Sul são da agricultura familiar, e destes 22% declararam realizar o
processamento de alimentos na propriedade rural. Dos estabelecimentos que realizam o processamento de alimentos, 37% declararam obter renda com a comercialização destes produtos, movimentando um valor de R$ 95.664.000,00 (Brasil, 2006). O processamento de alimentos dentro da propriedade rural é denominado de diversas maneiras, não havendo um consenso entre pesquisadores e técnicos que trabalham na área: agroindústria familiar, agroindústria rural, agroindústria de pequeno porte, agroindústria artesanal são algumas terminologias utilizadas. Para Mior (2005), a agroindústria familiar precisa estar localizada no meio rural, utilizar equipamentos e máquinas de menor escala, utilizar matéria-prima própria ou adquirida de vizinhos, utilizar mão-de-obra familiar ou da vizinhança, remetendo a um produto artesanal. Para Prezotto (2005), a agroindústria valoriza o espaço rural, possibilita uma melhor utilização do espaço territorial e da busca da preservação e recuperação ambiental. No Rio Grande do Sul são definidos em lei os conceitos de agroindústria familiar e agroindústria familiar de pequeno porte de processamento artesanal. Ambos os conceitos consideram o empreendimento de posse ou propriedade de agricultores familiares, com gestão individual ou coletiva, localizado em área rural ou urbana, com a finalidade de beneficiar e/ou transformar matérias-primas provenientes de explorações agrícolas, pecuárias, aquícolas, extrativistas e florestais, abrangendo desde os processos mais simples até os mais complexos. A agroindústria familiar de pequeno porte de processamento artesanal ainda considera a produção que abranja desde o preparo da matéria-prima até o acabamento do produto, realizado com trabalho predominantemente manual e em pequena escala, agregando características peculiares aos produtos (Rio Grande do Sul, 2012a). 2. Metodologia O presente artigo utilizou-se de uma revisão bibliográfica e de análise de documentos para o levantamento de dados. Foi realizada uma pesquisa exploratória na literatura existente sobre agroindústria familiar e, posteriormente, uma análise sobre o tema. A pesquisa possui um caráter exploratório devido à necessidade de obter dados adicionais antes de permitir desenvolver uma proposta (Malhotra, 2006). O caráter exploratório da pesquisa é aplicável à medida que não se busca resultados conclusivos, mas apenas o levantamento de informações básicas que sirvam de suporte para outros estudos futuros (Gil, 1999). Desta forma, os resultados deste estudo exploratório servirão como ponto de partida para pesquisas futuras. Também é importante ressaltar que este artigo não exaure completamente o assunto, sendo necessários outros estudos complementares. A revisão bibliográfica foi realizada em artigos científicos publicados em periódicos e anais de congressos, além de livros relacionados aos temas. A análise de documentos baseouse no estudo das legislações relativas ao tema da agroindústria familiar, limitando-se ao Estado do Rio Grande do Sul. Também foram consultados documentos das Secretarias de Estado que trabalham com o tema. O estudo das legislações teve como objetivo construir uma ordem cronológica, para possibilitar o entendimento do ambiente institucional criado a partir destas publicações. 3. Análise e discussão de resultados Apesar dos números significativos demonstrados no Censo Agropecuário de 2006, até o ano 2000 o Estado do Rio Grande do Sul não contava com uma política pública específica para este setor. Foi no ano 2000 que houve a publicação do Decreto Lei n 40.079/2000 que
criou o Programa de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul. O Programa de Agroindústria Familiar possibilitou a formalização de agroindústrias familiares e sua inserção nos mercados formais, através de uma assistência técnica direcionada. O Programa também possibilitou que os microprodutores rurais pudessem vender seus produtos agroindustrializados no talão de produtor, diretamente ao consumidor final, sem perder sua condição de segurado especial da Previdência Social e com isenção de ICMS, de acordo com a lista publicada pela DRP n 045/1998 (Rio Grande do Sul, 2000). No entanto, o Programa era uma política de governo, e nas gestões seguintes, apesar de não ter sido extinto, o programa foi desestruturado e alguns serviços deixaram de ser oferecidos (como, por exemplo, licenciamento ambiental e uso do selo Sabor Gaúcho). Em janeiro de 2012 foi então publicado a Lei n 13.921 que criou a Política Estadual de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul, tornando-a uma política de Estado. A regulamentação foi dada pelo Decreto n 49.948, de 13 de dezembro de 2012 que definiu que a política estadual de agroindústria familiar seria executada por meio de programas (Rio Grande do Sul, 2012b). O Programa Sabor Gaúcho é o programa que executa a Política Estadual de Agroindústria Familiar, tendo como objetivo possibilitar a agregação de valor a produção primária, melhorando a renda e as condições gerais de vida de suas famílias, bem como contribuir para o desencadeamento de um processo de desenvolvimento socioeconômico em nível municipal, regional e estadual (Rio Grande do Sul, 2012a). O Programa Estadual de Agroindústria Familiar (PEAF) oferece diversos serviços ao seu público assistido, agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, indígenas e pescadores profissionais artesanais, que estejam cadastrados no Programa. Os serviços oferecidos são assistência técnica, financiamentos, material técnico, cursos de qualificação, concessão de uso do selo Sabor Gaúcho, comercialização no bloco de produtor, para microprodutores rurais, e apoio à comercialização (Rio Grande do Sul, 2012b). Nos anos de 2011 e 2012, foram criadas outras políticas públicas estaduais que de maneira conjunta criaram um ambiente institucional favorável para a execução do PEAF, como as leis de incentivo ao cooperativismo, compras governamentais da agricultura familiar e criação do SUSAF/RS (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte). A Figura 01 ilustra a cronologia do processo de construção da base legal para execução do PEAF: Decreto Lei n 40.079: Cria o Programa estadual da Agroindústria Familiar do Estado do Rio Grande do Sul Lei n 13.825: Dispõe sobre o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte SUSAF-RS, e dá outras providências. Lei n 13.839: Institui a Política Estadual de Fomento à Economia da Cooperação, cria o Programa de Cooperativismo, o Programa de Economia Popular e Solidária, o Programa Estadual de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos Produtivos Locais, o Programa Gaúcho de Microcrédito e o Programa de Redes de Cooperação, e dá outras providências. Lei 13.921: Institui a Política Estadual de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul Decreto Lei n 49.431: Cria o Programa de Agroindústria Familiar do Estado do Rio Grande do Sul, institui o selo de marca de certificação Sabor Gaúcho e dá outras providências.
Lei n 13.922: Estabelece a Política Estadual para Compras Governamentais da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais e da Economia Popular e Solidária Compra Coletiva/RS. Lei n 13.865: Institui o Programa de Revitalização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul- RECOOP/RS Decreto n 49.340: Regulamenta a Lei nº 13.825, de 4 de novembro de 2011, que dispõe sobre o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte - SUSAF-RS -, e dá outras providências. Lei n 14.880: Altera a Lei nº 13.921, de janeiro de 2012, que institui a Política Estadual de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul. Figura 01. Cronologia do processo de construção das legislações relativas a agroindústria familiar. O acesso ao programa Fonte: Elaborado pelo Autor (2017). O PEAF é composto por duas etapas: a primeira etapa é chamada de cadastramento, e é o momento onde o agricultor se apresenta ao poder público, demonstrando o seu interesse em acessar esta política pública. Nesta etapa ele preenche uma ficha de cadastramento e apresenta alguns documentos que são encaminhados ao Departamento de Agroindústria Familiar, Comercialização e Abastecimento (DACA), da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (SDR), através da EMATER/RS-Ascar. Após a aprovação dos documentos, a SDR emite um Atestado de Cadastramento, que possui um número, onde são relacionados todos os membros da família, e o tipo de produto a ser processado pela agroindústria. Este Atestado de Cadastramento possibilita o acesso a crédito, como FEAPER e Consulta Popular, solicitação de Alvará Sanitário e solicitação de licença ambiental e demais serviços oferecidos pelo Programa (Rio Grande do Sul, 2016c). A segunda etapa consiste na inclusão da agroindústria no Programa, onde são apresentados os licenciamentos sanitário e ambiental e o laudo de potabilidade de água. O encaminhamento também é feito através da EMATER/RS-Ascar e mediante a aprovação da documentação, a SDR emite um Certificação de inclusão que atesta a legalidade do empreendimento, além de permitir a participação da agroindústria em feiras organizadas pelo Estado (Rio Grande do Sul, 2016c).
A Figura 02 ilustra o fluxo de documentos para cadastramento e inclusão. Figura 02. Fluxo de documentos para cadastro e inclusão no PEAF. Solicitação de Cadastramento e solicitação de Inclusão Agricultor Escritório Municipal da EMATER/RS Escritório Regional da EMATER/RS Escritório Central da EMATER/RS SDR Atestado de Cadastramento e Certificado de Inclusão Fonte: Elaborado pelo Autor (2017). Hoje, o PEAF conta com 2858 famílias cadastradas e 986 agroindústrias inclusas. (Rio Grande do Sul, 2017a). O Gráfico 01 apresenta a relação entre número de cadastros e inclusões por região administrativa da EMATER/RS-Ascar. O trabalho da instituição é focado em formalizar as agroindústrias que estão cadastradas, possibilitando sua inclusão e diminuindo a diferença entre número de cadastros e inclusões. Gráfico 01. Número de cadastro e inclusão por região administrativa da EMATER/RS-Ascar. Fonte: DACA/SDR (2017). Diante da exclusão de agricultores familiares com pequenas propriedades de terra do processo de modernização da agricultura, que buscou o aumento da produção e produtividade de commodities voltados ao mercado externo, foi necessário buscar alternativas para fomentar
o desenvolvimento rural, sem se basear exclusivamente em atividades ligadas a agricultura e pecuária. Como exemplos temos políticas de incentivos as agroindústrias, artesanato, turismo, que além de promoverem ocupação e renda as famílias, geram baixos índices de poluição e preservam a cultura e tradição de cada local, permitindo a manutenção das pequenas propriedades (Junior, 2008). A agroindústria, assim como o turismo e o artesanato, são atividades complementares dentro da propriedade rural, que promovem trabalho e complementam a renda. Além disso, possibilitam a sucessão familiar e a valorização da mulher. Os dados do Programa Estadual de Agroindústria Familiar do Rio Grande do Sul demonstram isso, com mais de 900 agroindústrias familiares legalizadas, processando os mais diversos produtos. No entanto, há que se considerar que a agroindústria, que antes era atividade complementar, em muitas propriedades está se tornando a atividade principal, e a família, com poucos integrantes e com dificuldade de encontrar mão-de-obra, não consegue produzir sua matéria-prima própria, e acabará por comprar de terceiros. Por isso, o PEAF passa hoje por um processo de amadurecimento, passando por um processo de adequação a nova realidade que está emergindo. Cada vez mais, o pequeno agricultor está transformando a atividade de agroindustrialização em sua atividade principal dentro da propriedade rural, e junto a isso está buscando novos mercados de comercialização, além da venda direta ao consumidor, o que gera novas demandas, como a abertura de CNPJ, a compra de matéria-prima, necessidade de mais mão-de-obra. Em propriedades rurais na América Latina onde há agroindústria, percebe-se que ocorre a especialização da família no processamento da matéria-prima, uma vez que esta atividade torna-se a principal fonte de renda. Além disso, os agricultores, por mais que mantenham um cultivo e uma atividade agropecuária, acabarão se especializando não somente no processamento de suas matérias-primas, mas também em determinado momento comprarão matérias-primas de seus vizinhos, tornando estes últimos em provedores de suas agroindústrias (Requier-Desjardins, 1999). A agroindústria rural é vista como um sistema de produção localizado dentro de um processo de desenvolvimento rural de áreas específicas, onde deve estar presente instituições públicas e privadas comprometidas. O desenvolvimento está relacionado ao uso de tecnologia, que deve estar apoiado sobre o patrimônio tecnológico existente em cada zona rural específica (Junior, 2008). As mudanças institucionais promovidas pelas políticas públicas e pelos próprios arranjos criados pelos agricultores revelam como as sociedades evoluem e são a chave para entender as mudanças históricas. Por isso o Estado, como principal provedor das regras econômicas e da garantia de que as regras serão cumpridas, assume uma postura autônoma, capaz de moldar e ser moldado pelos agentes do sistema (Mendes). 4. Considerações finais A concepção de uma agroindústria até sua plena operação e comercialização de seus produtos é um longo processo de conhecimento e amadurecimento de ideias. O agricultor, antes acostumado a plantar/criar e vender, agora precisa aprender a seguir determinadas regras, cumprir legislações, fazer cursos e conquistar clientes. Para isso, é necessário uma assistência técnica qualificada e um setor público organizado, preparado para receber essa demanda. Além do Estado proporcionar uma política diferenciada para este público, muitos municípios já possuem seus próprios programas municipais de agroindústria familiar,
facilitando o acesso do agricultor aos serviços de licenciamento, uso de máquinas e isenção de taxas. A agroindústria deve ser mantida como política pública de permanência das famílias no campo, de geração de renda e emprego, de sucessão familiar, e como política pública de segurança alimentar, por processar alimentos com enraizamento cultural, mantendo tradições alimentares familiares e típicas de comunidades tradicionais, além de utilizar matérias-primas provenientes de sistemas de cultivos menos intensivos e evitar uso de conservantes durante o processamento dos alimentos, primando por alimentos saudáveis e naturais. A política pública de agroindústria familiar, apesar de contar um Comitê Gestor, formado por entidades representativas de agricultores, Secretarias de Estado e assistência técnica, poderia considerar aspectos relativos a tipicidades regionais, buscando indicações geográficas, além de questões que fortalecessem a produção de matéria-prima própria e comercialização. Além disso, a Programa precisa considerar a nova realidade emergente das propriedades rurais, onde a atividade de agroindustrialização deixa de ser complementar e torna-se a atividade principal, geando uma nova demanda de mão-de-obra, e compra de matéria-prima, uma vez que a família passa a não dar conta das atividades de produzir, transformar e comercializar. Este artigo limitou-se a análise bibliográfica e de documentos. Para um próximo trabalho sugere-se a realização de entrevistas com agricultores, proprietários de agroindústrias, técnicos que trabalham com o tema e especialistas da área para melhor entender como a política pública é vivenciada e como o ambiente institucional é influenciado pelo poder público, nas diferentes instâncias de poder, e também como é influenciado por aqueles que são os beneficiários da política pública.
Referências bibliográficas Brasil. 2006, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário. Gil, A. C., 2008, Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas. Junior, V. J. W., 2008, Os reflexos das agroindústrias familiares para o desenvolvimento das áreas rurais no Brasil, in I. C. L. Trentin, ed., Mar Del Plata, Argentina, IV Congreso Internacional de la Red SIAL, p. 29. Malhotra, N. K.; Birks, D. F., 2007, Marketing Research: An Applied Approach. Welwyn Garden City: Prentice Hall/Financial Times, v. 3 Mendes, K., 2009, A nova economia institucional e sua aplicação no estudo do agronegócio brasileiro, in J. d. C. Figueiredo, ed., Revista de Economia e Agronegócio. Ponte, S., 2003, Quality conventions and the governance of global value chain, in P. Gibbon, ed., Paris, Conference conventions e institutions. Prezotto, L. L., 2005, A sustentabilidade da agricultura familiar: implicações e perspectivas da legislação sanitária para a pequena agroindústria, Ceará, Fundação Konrad-Adenauer-Stilfung e Instituto de Assessoria para o desenvolvimento humano, p. 167. Requier-Desjardins, D., 1999, Agro-industria rural y sistemas agroalimentarios localizados: cuáles puestas?, Quito, Equador, X Aniversario de PRODAR. Rio Grande do Sul. Secretaria da Fazenda (1998). Expede instruções relativas às receitas públicas estaduais. (Instrução Normativa DRP n 045/1998). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2016a). Agroindústrias familiares inclusas no PEAF. Disponível em:http://www.sdr.rs.gov.br/upload/20160613150056relacao_de_agroindustrias_inclusas_no _peaf_publicacao_agosto2016.pdf Rio Grande do Sul. Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2000). Institui o Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Decreto Estadual nº 40.079 de 09 de maio de 2000). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2011). Dispõe sobre o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte SUSAF-RS, e dá outras providências. (Lei n 13.825, de 04 de novembro de 2011). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2011). Institui a Política Estadual de Fomento à Economia da Cooperação, cria o Programa de
Cooperativismo, o Programa de Economia Popular e Solidária, o Programa Estadual de Fortalecimento das Cadeias e Arranjos Produtivos Locais, o Programa Gaúcho de Microcrédito e o Programa de Redes de Cooperação, e dá outras providências. (Lei n 13.839, de 05 de dezembro de 2011). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2012a). Institui a Política Estadual de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul. (Lei nº 13.921, de 17 de janeiro de 2012). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2012b). Cria o Programa de Agroindústria Familiar do Estado do Rio Grande do Sul, institui o selo de marca de certificação Sabor Gaúcho e dá outras providências. (Decreto Estadual nº 49.341, de 05 de julho de 2012). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2012c). Estabelece a Política Estadual para Compras Governamentais da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais e da Economia Popular e Solidária Compra Coletiva/RS. (Lei n 13.922, de 17 de janeiro de 2012). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2011). Institui o Programa de Revitalização das Cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul- RECOOP. (Lei n 13.865, de 04 de novembro de 2011). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2012d). Regulamenta a Lei nº 13.825, de 4 de novembro de 2011, que dispõe sobre o Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar, Artesanal e de Pequeno Porte - SUSAF-RS -, e dá outras providências. (Decreto n 49.340, de 05 de julho de 2012). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2016b). Altera a Lei nº 13.921, de janeiro de 2012, que institui a Política Estadual de Agroindústria Familiar no Estado do Rio Grande do Sul. (Lei n 14.880, de 20 de junho de 2016). Diário Oficial do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul. Secretaria de Desenvolvimento Rural, Pesca e Cooperativismo (2016c). Manual Operativo do Programa Estadual de Agroindústria Familiar. Requier-Desjardins, D., 1999, Agro-industria rural y sistemas agroalimentarios localizados: cuáles puestas?, Quito, Equador, X Aniversario de PRODAR. Roldan, B. B., L. Ghizzoni, and M. A. L. T. Tonial, 2014, As mulheres na agroindústria familiar no Rio Grande do Sul: participação e sustentabilidade, Porto Alegre, p. 52. Wilkinson, J., 2003, A pequena produção e sua relação com os sistemas de distribuição., Campinas. São Paulo., Seminario Politicas de Seguridad Alimentaria y Nutrición em America Latina.