Publicação: Construção Magazine Tipo: Revista Periocidade: Bimestral. Editor: Engenho e Media Tema: Engenharia Civil Tiragem: 6.



Documentos relacionados
TIJOLOS DO TIPO SOLO-CIMENTO INCORPORADOS COM RESIDUOS DE BORRA DE TINTA PROVENIENTE DO POLO MOVELEIRO DE UBA

A INFLUÊNCIA DO SISTEMA DE VÁCUO NAS PROPRIEDADES FÍSICAS DOS PRODUTOS DE CERÂMICA VERMELHA.

MF-1309.R-2 - MÉTODO DE LIXIVIAÇÃO DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS EM MEIO ÁCIDO - TESTE DE LABORATÓRIO

ESTUDO DE ARGAMASSAS FUNCIONAIS PARA UMA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

Reciclagem de resíduo proveniente da produção de papel em cerâmica vermelha. Recycling of waste from the paper production into red ceramic

Poluição atmosférica decorrente das emissões de material particulado na atividade de coprocessamento de resíduos industriais em fornos de cimento.

Materiais constituintes do Concreto. Prof. M.Sc. Ricardo Ferreira

Estudo da Viabilidade Técnica e Econômica do Calcário Britado na Substituição Parcial do Agregado Miúdo para Produção de Argamassas de Cimento

Casos de estudo de técnicas adoptadas pela indústria

(PPGEMA), pela Escola de Engenharia Civil (EEC);

Instituto de Pesquisas Enérgicas Nucleares IPEN-CNEN/SP

VENCENDO OS DESAFIOS DAS ARGAMASSAS PRODUZIDAS EM CENTRAIS DOSADORAS argamassa estabilizada e contrapiso autoadensável

Melhore o seu produto, otimizando matériasprimas. produtivos

PRODUÇÃO DE ZEÓLITAS A PARTIR DE CAULIM PARA ADSORÇÃO DE COBRE

O fluxograma da Figura 4 apresenta, de forma resumida, a metodologia adotada no desenvolvimento neste trabalho.

IX Congresso Brasileiro de Análise Térmica e Calorimetria 09 a 12 de novembro de 2014 Serra Negra SP - Brasil

TESTES REFERENTES A PARTE 1 DA APOSTILA FUNDAMENTOS DA CORROSÃO INDIQUE SE AS AFIRMAÇÕES A SEGUIR ESTÃO CERTAS OU ERRADAS

Resumo. 1. Introdução

8.5. Inter-relação entre os requisitos acústicos e as exigências de conforto higrotérmico e ventilação

EFEITO DA CONCENTRAÇÃO DO ÁCIDO CLORÍDRICO NA ATIVAÇÃO ÁCIDA DA ARGILA BENTONÍTICA BRASGEL

Resolução da Assembleia da República n.º 64/98 Convenção n.º 162 da Organização Internacional do Trabalho, sobre a segurança na utilização do amianto.

REAPROVEITAMENTO DE ARGILA CONTAMINADA COM HIDROCARBONETOS NA OBTENÇÃO DE MATERIAIS CERÂMICOS.

LISTA DE VERIFICAÇAO DO SISTEMA DE GESTAO DA QUALIDADE

Ensaios Mecânicos de Materiais. Aula 12 Ensaio de Impacto. Prof. MSc. Luiz Eduardo Miranda J. Rodrigues

Todos nossos cursos são preparados por mestres e profissionais reconhecidos no mercado, com larga e comprovada experiência em suas áreas de atuação.

ENERGIA DO HIDROGÊNIO - Célula de Combustível Alcalina

Propriedade Exame/Padrão Descrição. fosco (0-35) Ponto de fulgor ISO 3679 Method 1 14 C IED (2010/75/EU) (calculado)

ANÁLISE DA VIABILIDADE DE INCORPORAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DO BENEFICIAMENTO DE RESÍDUO CLASSE A NA PRODUÇÃO DE CONCRETOS C20 E C30

Propriedades Mecânicas. Prof. Hamilton M. Viana

UTILIZAÇÃO DO RESÍDUO PROVENIENTE DO DESDOBRAMENTO DE ROCHAS ORNAMENTAIS NA CONFECÇÃO DE TIJOLOS ECOLOGICOS DE SOLO-CIMENTO

REACH A legislação mais ambiciosa do mundo em matéria de produtos químicos

Índice Geral Índice Geral Pág.Pág.

ANÁLISE DAS PROPRIEDADES MECÂNICAS E TÉRMICAS DE TIJOLOS SOLO-CIMENTO COM E SEM ADIÇÃO DO PÓ DA FIBRA DE COCO.

Eixo Temático ET Gestão de Resíduos Sólidos

Eng Civil Washington Peres Núñez Dr. em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Massas cerâmicas para telhas: características e comportamento de queima (Ceramic bodies for roofing tiles: characteristics and firing behavior)

Reconhecimento e explicação da importância da evolução tecnológica no nosso conhecimento atual sobre o Universo.

Lubrificantes TECNOLOGIAS DE LUBRIFICAÇÃO PRODUTOS E PROGRAMAS. Correntes de Galle

Argamassa TIPOS. AC-I: Uso interno, com exceção de saunas, churrasqueiras, estufas e outros revestimentos especiais. AC-II: Uso interno e externo.

Shell Corena S4 P 100

DECANTAÇÃO DO RESÍDUO DA LAVAGEM DE BATATAS DA LINHA DE BATATAS-FRITAS

APROVEITAMENTO SUSTENTÁVEL DE RECURSOS NATURAIS E DE MATERIAIS RECICLÁVEIS NA INOVAÇÃO QUÍMICA DE COMPÓSITOS POLIMÉRICOS

Ficha Técnica de Produto Argamassa Biomassa Código: AB001

REGULAMENTO CONCURSO O CLIMA É CONNOSCO

PROJETO INDICADORES PARA NORMAS TÉCNICAS Desenvolvido pela Secretaria do CB-10, em agosto de 2006.

Dosagem de Concreto INTRODUÇÃO OBJETIVO. Materiais Naturais e Artificiais

Adesivos e Fitas Adesivas Industriais 3M 3M VHB. fitas de montagem. permanente. Alternativa comprovada a parafusos, rebites e soldaduras

O palácio de Belém Um exemplo pioneiro

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão do Meio Ambiente, da Saúde Pública e da Política do Consumidor

O FORNO A VÁCUO TIPOS E TENDÊNCIA 1

UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA Campus RECIFE. Curso: Engenharia de Produção Disciplina: Materiais para Produção Industrial

ESTUDO DE ATIVAÇÃO ÁCIDA DA ATAPULGITA DO PIAUÍ PARA USO NA CLARIFICAÇÃO DE ÓLEOS

ESTUDO DE INCORPORAÇÃO DO LODO CENTRIFUGADO DA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA PASSAÚNA EM MATRIZES DE CONCRETO, COM DOSAGEM DE 3%

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA EM CONCRETOS PRODUZIDOS COM AGREGADOS LEVES DE ARGILA CALCINADA. Bruno Carlos de Santis 1. João Adriano Rossignolo 2

1 Introdução. 2 Exemplo de aplicação

P4-MPS.BR - Prova de Conhecimento do Processo de Aquisição do MPS.BR

3.0 Resistência ao Cisalhamento dos Solos

Optima Para projetos únicos.

Óleo Combustível. Informações Técnicas

FEUP RELATÓRIO DE CONTAS BALANÇO

Imaginem o vinho de baixo carbono

Física. Questão 1. Questão 2. Avaliação: Aluno: Data: Ano: Turma: Professor:

Disciplina: Mineralogia e Tratamento de Minérios. Prof. Gustavo Baldi de Carvalho

DECLARAÇÃO DE RISCO DE INVESTIMENTO (OTC) De 15 de Fevereiro de 2012

bloco de vidro ficha técnica do produto

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO

Certificado Energético Pequeno Edifício de Comércio e Servicos IDENTIFICAÇÃO POSTAL

Estudo do Tratamento Mecanoquímico da Bauxita do Nordeste do Pará

PREDIAL AQUATHERM CATÁLOGO TÉCNICO

A.L. 1.1 AMONÍACO E COMPOSTOS DE AMÓNIO EM MATERIAIS DE USO COMUM

ARGAMASSAS MISTAS COM A UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Linha de Pesquisa: MATERIAIS, PROCESSOS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

AISI 420 Tratamento Térmico e Propriedades. InTec Introdução

Documento SGS. PLANO DE TRANSIÇÃO da SGS ICS ISO 9001:2008. PTD v Pág 1 de 6

Guia Prático do Certificado Energético da Habitação

Roteiro SENAC. Análise de Riscos. Planejamento do Gerenciamento de Riscos. Planejamento do Gerenciamento de Riscos

WORKSHOP SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE E SUA CERTIFICAÇÃO. Onde estão os Riscos?

ESTUDO DO EFEITO DA QUANTIDADE DE FRITA MATE NA RESISTÊNCIA AO ATAQUE QUÍMICO DE ESMALTES MATES

1. Nome da Prática inovadora: Coleta Seletiva Uma Alternativa Para A Questão Socioambiental.

CADERNO DE EXERCÍCIOS 2F

PROPOSTA EXPERIMENTAL PARA SEPARAÇÃO MECÂNICA E ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DE MATERIAIS PARTICULADOS

FICHA TÉCNICA DO PRODUTO

Aula 17 Projetos de Melhorias

AVALIAÇÃO DA ABSORÇÃO DE ÁGUA DE TIJOLOS DE CONCRETO PRODUZIDOS PARCIALMENTE COM AGREGADOS RECICLADOS

Envia-se em anexo, à atenção das delegações, o documento COM(2014) 632 final.

MF-0440.R-3 - MÉTODO DE DETERMINAÇÃO DA DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO

TIJOLOS CRUS COM SOLO ESTABILIZADO

Jornal Oficial da União Europeia

Desenvolvimento Sustentável para controlo da população humana.

AQUECEDOR SOLAR A VÁCUO

ANEXO III DA PORTARIA Nº 0946, DE 26 DE SETEMBRO DE 2013 TERMO DE COMPROMISSO PARA ESTÁGIO OBRIGATÓRIO

Métodos normalizados para medição de resistência de aterramento Jobson Modena e Hélio Sueta *

Palavras-Chave: Tratamento de resíduos sólidos orgânicos; adubo orgânico, sustentabilidade.

Preparação de Soluções

GUIA DE PROJECTO INTEGRADO PARA O CLIENTE VERSÃO FINAL

1.º PERÍODO. n.º de aulas previstas DOMÍNIOS SUBDOMÍNIOS/CONTEÚDOS OBJETIVOS. De 36 a 41

Tecnologia nacional potencia sustentabilidade

Programa de Desenvolvimento Rural do Continente para

Transcrição:

Publicação: Construção Magazine Tipo: Revista Periocidade: Bimestral Editor: Engenho e Media Tema: Engenharia Civil Tiragem: 6.500 Edição: nº 52 Data: Nov, Dez 2012 Página: 29 à 33 www.solucoesparaconstrucao.com www.preceram.pt www.argex.pt www.soargilas.pt www.gyptec.eu

29_ 33 resíduos e materiais de construção reciclagem de lama residual de anodização e lacagem em tijolo caso de estudo em indústrias portuguesas As lamas de anodização e lacagem são o principal resíduo produzido na indústria de tratamento da superfície do alumínio. Após uma detalhada caracterização, que envolveu a composição química, o tamanho de partícula, a distribuição do tamanho de partícula, o fator de forma e a estrutura e superfície, a lama foi adicionada (5% m/m) à argila convencional utilizada para produzir tijolos na indústria cerâmica Preceram (Pombal). A fiabilidade do processo de reciclagem foi avaliada sob o ponto de vista tecnológico e ambiental. O scale up foi realizado na fábrica de tijolo, após uma simulação do processo em laboratório. As características das cerâmicas avaliadas incidiram sobre o teor de água total necessário para a extrudir, a retração após secagem e total, a absorção de água, a densidade aparente e real e o desempenho mecânico e térmico. As propriedades do tijolo final foram avaliadas de acordo com as normas técnicas e requisitos de mercado. Após extrusão da mistura argila/lama e cozedura, o novo tijolo apresentava uma melhoria do isolamento térmico de cerca de 30%. O uso de lama é tecnologicamente fiável, resultando em melhorias no desempenho térmico do tijolo sem afetar significativamente os parâmetros do processo de produção e as restantes propriedades do novo tijolo. Este trabalho tem o objetivo de implementar uma cooperação sustentável entre empresas e desenvolver um melhor produto a partir de resíduos, conseguindo-se assim atingir soluções ambientalmente corretas. Teve-se uma atenção especial ao impacto ambiental que pudesse ser causado durante a manipulação das lamas e durante a produção do novo tijolo, levando-se para isso a cabo uma avaliação da emissão de SO 2. A quantidade total de lama produzida pode ser inteiramente reciclada como aditivo no tijolo. vânia Marques*, Maria Teresa Vieira Centro de Engenharia Mecânica da Universidade de Coimbra (CEMUC) *imarques@ipn.pt NTRODUÇÃO A anodização e a lacagem de ligas de alumínio são técnicas geralmente utilizadas para proteger estes materiais metálicos da corrosão e que proporcionam alguns efeitos estéticos. Estes processos consomem grandes quantidades de água, não só em cada banho químico consecutivo, mas também na descontaminação das peças após cada banho. Como consequência direta, uma enorme quantidade de água residual é gerada, que após tratamento adequado, em água limpa, resulta numa enorme quantidade de um resíduo sólido, denominado lama de alumínio [1]. Atualmente, esta lama é classificada como não tóxica e inerte [2], no entanto, a sua elevada produção torna a sua deposição em aterro dispendiosa, especialmente devido ao elevado custo de transporte (40E para deposição e 15E para transporte). Assim, o setor de tratamentos de superfícies por via eletrolítica é reconhecido como muito poluente [1], onde uma fábrica de média produção gera 1000 ton/ano de lamas, normalmente depositadas em aterro. Ao longo dos últimos anos, e no âmbito da estratégia europeia para redução da poluição industrial, o conceito de ambiente alterou-se drasticamente passando de custo para oportunidade. Os resíduos são vistos como perda de matérias-primas e, como tal, devem ser recuperados [3,4]. A indústria de tijolo pode constituir uma alternativa interessante aos aterros. De facto, os níveis atuais de produção, que envolvem o consumo de elevadas quantidades de recursos (uma fábrica média produz cerca de 200 ton/dia de tijolo), associado ao caracter heterogéneo das matérias-primas e uso de diferentes formulações asseguram as condições desejadas para uma indústria recetora de resíduos. As lamas, se analisadas em detalhe, contêm características que podem ir para além de se comportarem no tijolo recetor como mero aditivo e contribuírem também para alterações significativas de comportamento em serviço. Após análise detalhada das características específicas das lamas, o presente estudo visa clarificar o efeito da adição de lama de alumino na resistência térmica do tijolo. Para a sua implementação ser viável a nível industrial, foram utilizados os mesmos parâmetros de produção da fábrica de tijolo e especial atenção foi dada aos custos da reciclagem, particularmente aos relacionados com os pré-tratamentos requeridos e transporte da lama. Assim, foi utilizado o ciclo de produção da empresa de tijolo (Preceram) e a matéria prima foi resultante da mistura dos constituintes convencionais do tijolo com adição de lamas. Assim, foram produzidas 10 toneladas de tijolo aditivado, cm_29

resíduos e materiais de construção > 1 > 2 Mistura manual Extrusão de Blocos maciços retangulares 100 mm x 60 mm x 25 mm (Extrusora: potência 400 W and capacidade 200 kg/h) Secagem (à temperatura atmosférica, 24h) Secagem (a 110ºC, 24h) Cozedura (3ºC/min, 2h de patamar à temp. máxima, 950ºC) > 3 > 4 > 5 testado o seu compor tamento térmico e avaliadas as suas propriedades. O transporte das lamas, que poderia representar o principal custo desta reciclagem, não contribui para o aumento de preço do produto, pois é garantido através de linhas transportadoras de tijolo. MATERAS E MÉTODOS A lama residual proveniente da empresa Lacoviana (Figura 1), de estrutura nanocristalina (<100 nm) e com um teor de água de cerca de 77%, foi adicionada à argila proveniente da linha de produção da empresa Preceram previamente misturada e homogeneizada na fábrica (Figura 2). Estes materiais foram caracterizados recorrendo à sua composição química (FRX), composição mineralógica (DRX), distribuição do tamanho de partículas (DLS) e comportamento térmico (DTA/TG e dilatometria). Na etapa do estudo em laboratório, a lama foi seca a 110ºC, durante 24h, e desaglomerada num almofariz automático (o mais próximo do moinho de galgas utilizado na fábrica). A distribuição do tamanho de partículas está apresentada na Tabela 1. As amostras foram preparadas de acordo com o esquema apresentado na Figura 3, aproximado, o melhor possível, com o processamento convencional dos tijolos. Os estágios verde, seco e cozido dos tijolos laboratoriais podem ser visualizados na Figura 4. Foram extrudidas amostras de argila simples (AS) e argila com uma adição de 5% de lama (m/m) (A+L). O teste em escala real consistiu na produção de 10 toneladas de tijolo nas instalações da empresa Preceram (geometria designada por térmica, Figura 5). A lama tal qual (5% (m/m)) foi previamente desaglomerada num agitador, e adicionada 40% (m/m) de água. De seguida, a lama foi acrescentada à argila, misturada e homogeneizada no moinho galgas e a mistura percorreu todas as restantes etapas do ciclo produtivo. Como referido, todos os parâmetros da produção foram mantidos inalterados. Os testes de caracterização do produto foram realizados no tijolo térmico convencional, produzido pela Preceram (Tijolo Real) e ao tijolo com %< d 10 d 50 d 90 Argila μm 2,33 15,56 124,70 Lama μm 0,93 4,87 25,99 Tabela 1 Distribuição do tamanho de partículas. incorporação de lama de alumínio (Novo Tijolo). Ao longo da fase em laboratório e do scale up em fábrica, as propriedades tecnológicas, físicas, mecânicas e térmicas foram determinadas de acordo com as normas aplicáveis: Retração durante a secagem e durante a cozedura; Absorção de água (PT EN 772-7) [5], porosidade aberta e densidade aberta (ASTM C373) [6]; Porosimetria (Porosimetria de ntrusão de Mercúrio); Densidade Real (Picnometria de Hélio); Resistência à Compressão (PT EN 772-1) [7]; Condutividade Térmica, k (somet 2104); Coeficiente de transmissão térmica, U (SO 8990) [8]. RESULTADOS E DSCUSSÃO Propriedades físicas e químicas das matérias- -primas (tijolo e lama) A lama era maioritariamente constituída por compostos de alumínio (sob a forma de hidróxidos e um menor teor em sulfatos) onde é visível a presença de alguns metais alcalinos > Figura 1: Lama de alumínio tal qual é produzida. > Figura 2: Argila misturada e homogeneizada. > Figura 3: Etapas do processo produtivo do tijolo. > Figura 4: Estágios verde, seco e cozido (da esquerda para a direita) das amostras de tijolo laboratoriais. > Figura 5: Geometria do tijolo térmico produzido pela Preceram. 30_cm

uartzo llite E Esmectite K Caulinite E K > 6 > 7 DTA (µv) Decomposição da ilite e esmectite Desidroxilação da caulinite Desidroxilação da caulinite DTA TG TG (%) DTA (µv) Decomposição do Hidróxido de Alumínio Transformação da Boemite em y-alumina (Al 2 O 3 ) DTA TG TG (%) Temperatura (ºC) > 8 > 9 Temperatura (ºC) (sódio, cálcio, magnésio). A sua densidade é de 2,17 g/cm 3. No entanto, a lama calcinada (1000ºC) tinha uma densidade de 2,80 g/cm 3. A presença de sulfatos e de metais alcalinos representam os aspetos sensíveis da incorporação da lama em produtos de base argilosa. sto quer dizer que a argila selecionada tinha um baixo teor em metais alcalinos para assegurar a inexistência de eflorescências no tijolo depois de cozido e que as emissões de sulfatos durante a cozedura devem ser avaliadas. A análise química (Tabela 2) evidencia que o alumínio é o composto maioritário nas lamas (cerca de 92% se não for considerada a perda ao rubro). De acordo com a análise de difração de Raios X, a lama revela a presença de boemite amorfa. Esta evolui para alumina γ durante o ciclo de cozedura dos tijolos, como se pode observar pelo aumento de intensidade dos picos correspondentes (> 600ºC) (Figura 6). Assim, a alumina γ é a principal fase cristalina presente na lama após a cozedura. No caso da argila, os picos identificados no difractograma (Figura 7) indicam que os minerais cristalinos presentes na argila são: quartzo, ilite, esmectite e caulinite. A sua densidade é 2.6 g/cm 3 (argila seca). A análise química mostra o baixo teor em metais alcalinos, tal como foi requerido. A análise do compor tamento térmico das matérias-primas permitiu identificar e estabelecer as reações que ocorrem durante o ciclo de cozedura do tijolo. As curvas DTA/TG da argila, até 1000ºC (Figura 8), mostram uma perda de massa (cerca de 8%) que ocorre principalmente em 3 estágios diferentes, correspondendo a diferentes cinéticas de formação de novas fase. Relativamente à lama (lama seca), observando as curvas DTA/ TG (Figura 9), é visível uma elevada perda de massa (cerca de 42%) ao longo de todo o ciclo térmico. A decomposição do hidróxido de alumínio (o principal constituinte da lama), que ocorre no início do ciclo de cozedura, e a transformação da boemite em alumina γ (como foi visto no DRX), que representa o real interesse deste resíduo, são os pontos principais desta análise. A dilatometria da lama e da argila (secas) está apresentada na Figura 10. Uma elevada e irre- Argila Lama SiO 2 71,39 0,95 Al 2 O 3 12,12 51,88 Fe 2 O 3 3,59 0,12 CaO 1,04 0,34 MgO 1,19 0,3 K 2 O 2,09 <0,03 Na 2 O <0,20 0,91 MnO 0,05 PR 7,49 45,92 S 1,9 Tabela 2 Composição química das matérias-primas (%). dl/l0 (%) > 10 Temperatura (ºC) Lama Argila > Figura 6: Difractograma da lama tal qual e após calcinação. > Figura 7: Difractograma da argila. > Figura 8: Curvas DTA/TG da argila. > Figura 9: Curvas DTA/TG da lama. > Figura 10: Curvas dilatométricas da argila e da lama, secas a 110ºC, 24h.

resíduos e materiais de construção dv/dlogd (ml/g) Diâmetro (µm) > 11 > 12 > 13 versível retração é visível na curva relativa à lama, que ocorre ao longo do ciclo de temperatura e até à temperatura máxima. Em contraste, a argila tem um baixo valor de retração. Este resultado põe em evidência a impossibilidade de adicionar uma elevada quantidade de lama à argila (no presente estudo foi limitada a 5%, depois de um estudo preliminar [12]). Propriedades físicas e técnicas do material cerâmico A introdução de lama na argila não induziu efeitos significativos nas propriedades físicas e tecnológicas do material cerâmico compósito, durante a simulação do processo de produção do tijolo em laboratório. Uma vez a lama adicionada, o teor de água necessário para extrudir aumentou devido ao aumento da porosidade total (6,4%), essencialmente porosidade aberta (6,2%). A adição de lama reduz a densidade do compósito cerâmico mas aumenta a sua absorção de água. No entanto, o valor continua de acordo com o máximo permitido para o tijolo (max ± 20 wt.%). A análise da porosidade (Figura 11) mostra um aumento no volume de poros, quando a lama é adicionada na argila. É de destacar que a presença de lama na matriz de argila promove principalmente a formação de poros submicrométricos, provavelmente devido à natureza nanocristalina das lamas. +A influência da adição de lama na argila é bem evidenciada pelos valores de condutividade térmica (Tabela 4), que sofrem uma redução de 26% no caso das amostras produzidas em laboratório e de 36% no caso do tijolo produzido em fábrica. De facto, é previsível que o aumento da porosidade submicrométrica influencie o desempenho térmico do compósito cerâmico. Os valores de condutividade térmica do tijolo foram utilizados para a modelação numérica do Coeficiente de Transmissão Térmica do produto final. Neste caso, os valores encontrados apontam para uma melhoria de 21%. No que concerne a resistência mecânica, a adição de lama reduz a resistência à compressão do material cerâmico. Apesar do pior desempenho mecânico, o valor de resistência à compressão continua a ser similar ao registado para para o tijolo convencional (furação horizontal). As propriedades estruturais do tijolo produzido em fábrica integram um outro trabalho que complementa este [9]. Avaliação da emissão de SO 2 A emissão de SO 2 foi avaliada recorrendo aos registos que a fábrica dispõe. Como se pode observar (Figura 14) não é visível qualquer alteração nos valores da concentração de SO2, emitidos pela fábrica, no período de cozedura dos tijolos aditivados com lamas (zona demarcada a vermelho). AS A+L Teor em lama (% m/m) 0 5 Teor de água total (%) 18,4 24,8 Retração na secagem (%) 5,2 5,6 Retração total (%) 5,0 5,8 Perda de massa (%) 3,1 5,3 Densidade aparente (g/cm 3 ) 2,0 1,7 Densidade real (g/cm 3 ) 2,5 2,6 Porosidade total (%) 28,0 35,9 Porosidade aberta (%) 26,8 33,0 Porosidade Fechada (%) 1,2 3,0 Absorção de água (%) 13,7 18,9 Teor de lama (m/m.%) k (W/mºC) U numerical method (W/m 2 ºC) Resistência à Compressão (MPa) AS A+L Tijolo real Novo tijolo 0 5 0 5 0,70 0,52 0,53 0,34 0,82 0,65 22 13 Tabela 3 Propriedades dos materiais. Tabela 4 Propriedades Térmicas e Mecânicas do tijolo. > Figura 11: Distribuição do tamanho de poros. > Figura 12: Ensaio de medição da Condutividade Térmica (k) > Figura 13: Ensaio de determinação da Resistência à Compressão 32_cm

Concentração (mg/m3) Tempo (horas) > Figura 14: Medição da concentração de SO2 nas emissões gasosas da fábrica de tijolo CONCLUSÕES REFERÊNCAS A lama de alumínio pode ser usada como aditivo para melhorar o isolamento térmico do tijolo, como ficou comprovado pelos testes em escala real. De facto, a adição de lama nanométrica de Al2O 3 reduz a condutividade térmica do material cerâmico e a transmissão térmica do tijolo (20 a 30%), sem aumentar o custo de produção, levando a uma clara melhoria do conforto térmico dos edifícios. Este é um excelente resultado, principalmente se se tiver em conta que as restantes propriedades físicas e tecnológicas não são significativamente alteradas e se mantêm de acordo com os valores permitidos pelas normas aplicáveis. [1] BREF - Reference Document on Best Available Techniques for the Surface Treatment of Metals and Plastics (2006). [2] J. M. MAGALHÃES, J. E. SLVA, F. P. CASTRO, J. A. LABRNCHA, Physical and chemical characterization of metal finishing industrial wastes, Journal Environmental Management, 75, 157-166, (2005). [3] Guia Técnico Sectorial. Setor dos Tratamentos de Superfície, Elaborado no Âmbito do Plano Nacional de Prevenção dos Resíduos ndustriais (PNAPR), NET, Lisboa, Novembro, 2000. [4] Toward an mproved Policy on ndustrial Emissions, Communication from the Commission to the Council, the European Parliament, the Economic and Social Committee and the Committee of the Regions, Brussels, 21/12/2007. [5] Norma PT EN 772-7. Methods of test for masonry units. Part 7: Determination of water absorption of clay masonry damp proof course units by boiling in water; (2000). [6] American society for testing and materials: ASTM C. C373 88. Standard Test Method for Water Absorption, Bulk Density, Apparent Porosity, and Apparent Specific Gravity of Fired Whiteware Products (2006); [7] Norma PT EN 772-1. Methods of test for masonry units. Part 1: Determination of compressive strength (2002); [8] nternational Organization for Standardization (EN SO 8990). Thermal insulation. Determination of steadystate thermal transmission properties. Calibrated and guarded hot box; (1996). [9] GRLO,., SANTOS, P., GOUVEA, J., JÚLO, E., Melhoramento do Comportamento Mecânico e Térmico de Tijolos de Alvenaria Cerâmica Aditivada com Resíduos da ndústria do Alumínio, Construção Magazine N.º 52, Novembro - Dezembro 2012. PUB AF AD Search_19x13cm.pdf C M Y CM MY CY CMY K 1 23/11/12 18:03