Gestão Ambiental na construção civil: Proposta de reciclagem dos resíduos sólidos das construções civis para a reutilização em obras públicas



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Transcrição:

Gestão Ambiental na construção civil: Proposta de reciclagem dos resíduos sólidos das construções civis para a reutilização em obras públicas Resumo: O setor da economia que mais emprega no Brasil é o da construção civil. O desempenho da chamada indústria da construção é um forte indicador de crescimento do país, à medida que são necessários investimentos em infraestrutura e novas construções para que haja crescimento em consonância sinérgica com a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Este artigo tem como objetivo identificar como ocorre o manejo dos resíduos das construções públicas, e consequentemente apresentar estratégias para o reaproveitamento dos resíduos sólidos oriundos das construções civis em Paranaíba. A partir de diversas entrevistas e a observação do manejo dos resíduos, constatou-se que de maneira geral, a uma ausência de conscientização ambiental, logo propõe uma gestão efetiva de resíduos com a criação de uma usina de reciclagem de resíduos gerados pela construção civil, e um programa de conscientização ambiental com pessoas que lidam diretamente com o setor de construção. Vários autores consideram que a instalação de usinas de reciclagem deve ser estimulada pelas prefeituras, pois os custos de implantação e operação são compensados pela redução da necessidade de coleta, deposição do resíduo depositado ilegalmente e pela substituição de agregados naturais para consumo nas obras da municipalidade pelo agregado. Palavras-chave: Políticas públicas; Aterro sanitário; Gestão de resíduos. 1 Introdução Com a aceleração do desenvolvimento do Brasil nas últimas décadas e o aumento populacional, houve uma demanda maior na área de construção civil, e consequentemente, reformas e demolições acompanham o ritmo de desenvolvimento gerando resíduos das construções também conhecidos como entulhos (SINDUSCON, 2005). Dessa forma, a construção civil tem crescido de forma exponencial, esse desenvolvimento se intensifica após o surgimento do plano real que é justificado pela estabilização da moeda e a redução da taxa de juros para financiamentos de casas populares. Neste cenário, a construção civil ascendeu, em média, 19,6% durante o ano ao longo de mais de uma década compreendida entre os anos 1996 a 2007, e essa expansão acentuou a partir do ano 2002, fato explicado pelo regime de metas inflacionárias que já estava consolidado, outros fatores que contribuíram para o avanço das construções foram o crescimento da renda familiar e do emprego; aumento do crédito ao consumidor; maior oferta de créditos imobiliários e manutenção e redução de impostos de alguns produtos industrializados de insumos da construção (FOCHEZATTO, 2011). As usinas de beneficiamento têm sido implantadas no país nos últimos anos, objetivando otimizar o processo de reutilização dos resíduos da construção civil, reduzindo a

necessidade de criação de novos aterros sanitários e, por conseguinte, reduzindo também o impacto ambiental (MIRANDA et al., 2009). Isto posto, apesar dos impactos sociais ocasionados pelo crescimento da construção civil, há grandes impactos ambientais. Por exemplo, o acumulo de resíduos sólidos das construções civis podem provocar impactos ambientais, como degradação das áreas de mananciais e de proteção permanente, proliferação de agente transmissores de doenças, assoreamento de rios e córregos, obstrução de drenagens, ocupação de vias e logradouros públicos por resíduos com prejuízo da circulação das pessoas e veículos, degradação da paisagem urbana e existência e acúmulo de resíduos que podem gerar risco por sua periculosidade (SINDUSCON, 2005). Durante a Conferência Eco-92, houve um destaque nas questões ambientais em resíduos sólidos. Entre os benefícios de reciclar resíduos das construções civis, destaca a redução do consumo materiais naturais não renováveis, quando substituído pelos recicláveis; redução das áreas necessárias para aterro; redução do consumo de energia durante o processo de produção; e redução da poluição, por exemplo, em fábricas de cimento (JHON, 2013). A construção civil afeta o ambiente através de materiais não renováveis como areia, cal, ferro, alumínio, etc., contudo, a utilização racional pode proporcionar benefícios econômicos a partir do reaproveitamento de entulhos das construções civis, pois reduzira os gastos com compra de materiais como tijolos, pedras brita, areia que podem ser produtos oriundos da reciclagem de entulhos (RIBEIRO, 2005). Após essa problematizarão, surge a questão de pesquisa: como é a gestão de resíduos sólidos de obras públicas no município de Paranaíba? Assim, como objetivos espera-se identificar como ocorre o manejo dos resíduos das construções públicas, e consequentemente, apresentar estratégias para o reaproveitamento dos resíduos sólidos oriundos das construções civis. 2 Referencial teórico 2.1 A construção civil e as questões ambientais Na classificação nacional de atividades econômicas (CNAE), a construção civil pertence ao código 45, que abrange ampla atividade produtiva da construção, a dimensão ocupacional das atividades relacionadas a construção gerou ao setor 61,2 bilhões de valor adicionado ao Brasil que representa 4,9% do total produzido na economia nacional. Em afinidade ao emprego formal o setor geriu 1,92 milhões de postos de trabalho em 2008. Em

teoria o aumento da renda, disponibilidade de crédito, e o próprio crescimento populacional provocam a expansão do setor de construção (FOCHEZATTO, 2011). O setor da Construção Civil é influenciado por normas técnicas, códigos de obra e planos diretores e ainda políticas públicas mais amplas, inclusive fiscais. O aumento da sustentabilidade do setor depende de soluções em todos os níveis, articuladas dentro de uma visão sistêmica. (AGOPYAN; JOHN, 2011, p.14) O impacto ambiental da Construção Civil depende de toda uma cadeia produtiva: extração de matérias-primas; produção e transporte de materiais e componentes; concepção e projetos; execução (construção), práticas de uso e manutenção e, ao final da vida útil, a demolição/desmontagem, além da destinação de resíduos gerados ao longo da vida útil. Na fase de execução das construções, ocorre a geração significativa de resíduos. O volume é agravado pelas perdas dos processos ainda não otimizados. Durante o uso e a manutenção, temos um constante consumo de energia e mais geração de resíduos. Por fim na etapa de demolição, são gerados grandes volumes de resíduos (AGOPYAN, 2011). 2.2 Gestão de resíduos Resíduos sólidos da construção são as sobras de materiais utilizados na construção ou demolição de obras públicas ou civis. Segundo a Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente CONAMA (2002, p.95) Os resíduos de construção civil são provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliças ou metralha. A Gestão dos resíduos abrange a desde a coleta passando pelo tratamento até a destinação final, de forma que garanta a redução da produção dos resíduos. Em países desenvolvidos, identificam três fases distintas de prioridades em gestão dos resíduos: A primeira fase que teve início na década de 70: garante apenas a disposição dos resíduos, durante esse período a maior parte dos resíduos sólidos era destinada a aterros. O processo de incineração que reduzia em até 75% a massa dos resíduos tinham em contrapartida a emissão de gases poluentes. Já na segunda fase de gestão de resíduos sólidos ocorreu em meados dos anos 80: onde a reciclagem de material passou a ser prioridade nesta fase. No final da década de 80 e início

dos anos 90, iniciou-se a terceira fase que prioriza a reutilização e redução dos resíduos já no inicio do processo produtivo (DEMAJOROVIC, 1995) A redução de resíduos pelos materiais de construção, embora necessário é limitado devido a impurezas que envolve custos e desenvolvimento tecnológicos, no entanto a redução da poluição, redução para áreas de aterros, redução de consumo recursos naturais não renováveis são algumas das vantagens da reciclagem de resíduos dos entulhos. A reciclagem ao ser adotada pela indústria de cimentos, por exemplo, estima-se que houve uma redução de 29% da geração de gases poluentes como o CO2 e uma economia de 28% em combustíveis (ÂNGULO, 2010). Outro aspecto relevante para a gestão de resíduos é a implantação de uma usina de reciclagem de entulhos nos municípios, que pode gerar benefícios sociais e para a cidade e ainda utilizar o material reciclado para gerar benefícios das construções publicas, por exemplo, blocos de concreto para vedação, cascalhamento para pavimentação de ruas, contrapiso e material para drenagens, contenção de encostas, banco e mesas para praças, guia e tampas para bueiros, tubo para esgotamento e uma série de detalhes fabricados com concreto e pedra virgens são também produzidos com agregado reciclado. Nesse sentido, pesquisadores da USP demonstram que os produtos fabricados com brita nova são mais caros que os reciclados, entretanto, os produtos reciclados tem qualidade igual ao produto convencional (ABRECON, 2013). Cidades como São Paulo já possuem obrigatoriedade da utilização de agregados reciclados em obras públicas. Existe exemplo de diversos municípios em todo o país que já reciclam um porcentual dos resíduos gerados, como Americana (SP), Guarulhos (SP), São Carlos (SP), Uberlândia (MG), Joinville (SC), Belo Horizonte (MG) e São José do Rio Preto (SP). De acordo com os autores nessas duas últimas cidades já estão em estágio bastante avançado e podem ser considerados exemplos a serem seguidos por todo o país (RIBEIRO;MORELLI, 2009). 2.3 Gestão Pública Ambiental Na década de 1970, no clube de Roma, foi previsto o esgotamento de recursos renováveis e não renováveis em face da demanda de desenvolvimento. Em 1994, com a criação da ISO (International Standard Organizations), diretrizes foram criadas possibilitando a aplicação de uma gestão de qualidade e posteriormente ambiental. Em 1999, o ministério do meio ambiente criou a agenda ambiental de administração pública que visa a conscientização

dos servidores para a otimização dos recursos para o combate do desperdício, entre os procedimentos esta o de reduzir, reciclar e reutilizar a quantidade de resíduos gerados (BARATA, 2007). No Brasil e em outros países, a poluição era sinônimo de progresso, quando perceberam que problemas ambientais poderiam atingir diretamente o ser humano com seus efeitos catastróficos (YEMAL, 2011). O setor público tem dupla função no que tange a política do meio ambiente, além de normatizar e fiscalizar cabe ao setor público servir de exemplo. A agenda 21 e a lei 6938/91 impõem que é dever do estado preservar e defender o meio ambiente (DADICO, 2013). O decreto 7.404 de 23 de dezembro de 2010, estabeleceu normas para execução da políticas nacional de resíduos sólidos, que é articulada e regulamentada pela lei 9.795 de 27 de abril de 1999. Em seu artigo 7 diz que O Poder Público [...] são responsáveis pela efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos Sólidos [...]. Já no artigo 38 [...] Os geradores de resíduos sólidos deverão adotar medidas que promovam a redução da geração dos resíduos [...]. artigo 41 Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos definirão programas e ações[...]. (Brasil, 2010). 3 Procedimentos Metodológicos Quanto aos objetivos a pesquisa foi do tipo exploratória, que segundo Gil (2008) a pesquisa exploratória proporciona uma familiarização com o problema, que pode abranger entrevistas e levantamento bibliográfico. A Abordagem utilizada nesta pesquisa foi qualitativa que segundo Goldenberg (1997) a pesquisa qualitativa deve se preocupar com o aprofundamento da compreensão de uma organização ou grupo social, assim busca-se explicar o porquê das coisas mais não quantificam os valores nem submetem a prova de fatos. O método abordado na pesquisa é estudo de caso que segundo Yin (2010) é uma investigação empírica de um fenômeno contemporâneo em profundidade e em seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre fenômeno e o contexto não são claramente evidentes. A técnica de coleta de dados utilizada foi entrevista e observação. Segundo Cooper e Schindler (2011), entrevista é uma técnica básica de coleta de dados em uma metodologia de pesquisa qualitativa, elas oscilam com relação a número de pessoas, estrutura, e número de entrevista conduzida durante a pesquisa. Já a observação se qualifica como investigação

científica quando é utilizada para responder uma questão de pesquisa ela fornece informações confiáveis e válidas sobre o que aconteceu. Operacionalmente, para a coleta de dados realizou-se diversas entrevistas e observação. No dia 02 de outubro de 2013, os pesquisadores visitaram oito construções, sendo três obras públicas e cinco construções privadas, na qual entrevistaram os pedreiros e mestres de obras na cidade de Paranaíba. Além disso, realizou-se uma entrevista com a assessora do departamento de projetos da Secretária do meio ambiente da Prefeitura de Paranaíba, com a finalidade de identificar a destinação e os projetos relacionados aos resíduos sólidos. Também foi entrevistado um empresário que atua na coleta de resíduos da construção civil em Paranaíba. Na observação, os pesquisadores foram a campo a fim de conhecer como ocorre o manejo os resíduos das construções, nas quais foram registradas imagens do local de disposição dos resíduos, por meio de máquinas fotográficas. 4 Apresentação dos Resultados e Discussão A agenda ambiental de administração pública, entre as diversas prioridades, deve buscar a conscientização dos servidores efetivos ou terceirizados para uma efetiva utilização dos recursos e a redução do desperdício, pois constatou-se por meio desta pesquisa, após trabalhadores da construção civil, sejam de obras públicas ou privadas, evidencia que não há uma preocupação e consenso na redução do consumo de material de construção, além trazer benefícios diretos econômicos (RIBEIRO, 2005). Nas obras privadas, três disseram que utilizam o material sempre buscando evitar o desperdício e os outros dois não se preocupam. Quando os trabalhadores das obras públicas foram questionados, um se manifestou afirmando que trabalha sempre buscando a redução do desperdício: É claro que sim aqui em Paranaíba geralmente se desperdiça muito material. O aterro de resíduos das construções não é a melhor forma de se livrar destes entulhos, existe outras opções como a reciclagem dos entulhos que além de reduzir os impactos ambientais, causam impactos econômicos, pois a reutilização dos materiais reciclados no setor público reduziria o gasto com a compra de materiais para construção. O poder público é responsável pelas ações voltadas a gestão ambiental de resíduos, e os geradores de detritos deverão adotar medidas que promovam a redução dos resíduos, já os municípios devem definir programas e ações para reduzir a produção de resíduos e oferecer um tratamento adequado ou destinar corretamente os entulhos, no entanto esta pesquisa

mostra que quanto à destinação dos resíduos das construções, os trabalhadores tanto das obras públicas e privadas foram unânimes, afirmando que eram depositados na caçamba popularmente conhecida como papa-entulho. Quanto à destinação, vale à pena transcrever as informações, que demonstram a falta de preocupação ambiental. É colocado na caçamba. E depois vai para o lixão ; É jogado em terrenos baldios na beira de córregos Do papa-entulho adiante a gente não sabe né ; É jogado fora, e nestes entulhos vai pedaço de cano plástico, mangueira de plástico ; A gente não sabe, vai pra caçamba e de lá a gente não sabe pra onde vai. Apesar de muitos trabalhadores tanto de obras públicas e privadas se mostrarem preocupados com os resíduos ocasionados pelas obras, evidencia-se uma falta de conhecimento e capacitação para uma efetiva conscientização ambiental, como redução do consumo de recursos naturais, de matérias primas e reaproveitamento de materiais, pois alguns, por exemplo, quebram um tijolo para colocar em um arremate de parede, e descartam a outra metade, e quando precisam de outro pedaço, se não encontram, logo quebram outro. Na outra ponta do processo produtivo da construção civil encontram-se empresas que realizam a coleta e reciclagem dos resíduos sólidos. Contudo, em Paranaíba as empresa locais não realizam a reciclagem dos restos de materiais de construção. Os resíduos são coletados por uma empresa proprietária das caçambas e depositados em uma área determinada pela Prefeitura Municipal. Segundo o proprietário da empresa, eventualmente, a Prefeitura Municipal utiliza entulhos para tampar buracos em ruas e arrumar barrancos na cidade ao recebe orientações os órgãos públicos quanto ao manejo e disposição dos resíduos das mais de 300 caçambas coletadas por mês, isto é, estima-se que as caçambas contem de 3m 3 a 5m 3, ou seja, com capacidade de 3 a 5 toneladas, portanto a produção mensal fica entre 900 a 1500 toneladas a cada 30 dias ou ainda uma produção de 10.800 a 18000 toneladas por ano de resíduos oriundo das construções civis e públicas de Paranaíba. Apesar de não atuar com reciclagem, a partir das sugestões dos pesquisadores, o empresário se mostrou interessado na fabricação de britas ecológicas. A outra parte entrevistada, foi uma representante da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Paranaíba, que informou que os resíduos são depositados em um aterro próximo a BR 158.

Não existe nenhum tratamento ou reciclagem em Paranaíba e que os resíduos são armazenados na área de aterro. Contudo, destaca a importância da reciclagem dos resíduos. É muito importante porque os resíduos sólidos hoje são um grande problema para todos os municípios e futuramente ainda vai ser maior... são muitos que não tem um sistema de tratamento adequado, então quanto mais podermos reaproveitar esses resíduos de alguma forma, pois aumentaria a vida útil dos aterros. A gestão efetiva dos resíduos é fundamental, isto é, proporcionaria a redução da poluição, redução para áreas de aterros, redução de consumo recursos naturais (ÂNGULO, 2010). 5 Considerações Finais Com o objetivo de identificar como ocorre o manejo dos resíduos das construções públicas este trabalho mostrou que os entulhos são despejados no aterro municipal, assim sugere-se a reciclagem dos entulhos e reaproveitamento dos produtos oriundos das reciclagens nas obras públicas. Avaliando os cuidados com os resíduos sólidos das construções civis, esta pesquisa mostra que não há uma preocupação ambiental com o destino dos resíduos das construções, nem mesmo os mestres de obras e pedreiros sabem o destino dos resíduos. Considerando que os resíduos sólidos das construções têm como destino final o aterro da prefeitura e a quantidade de entulhos gerados em Paranaíba é significativa, propõe-se neste trabalho a construção de um centro de reciclagem de material de construção em Paranaíba que beneficiaria toda região do bolsão sul mato-grossense, onde os materiais produzidos através da reciclagem seriam usados em obras públicas, em cascalhamento para pavimentação de ruas, contra piso e materiais para drenagem, podendo ainda ser usados em contenção de encostas, reduzindo assim os gastos com materiais de construção convencionais. Este tema torna oportuno ao governo federal, estadual, estimular as prefeituras municipais, pois os custos de implantação e operação são compensados pela redução da necessidade de coleta, deposição do resíduo depositado ilegalmente e pela substituição de agregados naturais para consumo nas obras da municipalidade pelo agregado. Haja vista que parcerias com iniciativas provadas, propiciem a instalação de usinas em locais estratégicos e com maiores capacidades de produção.

Além disso, contribuiria para a redução dos impactos ambientais como a diminuição de consumo recursos naturais não renováveis e matéria prima virgem. Outro aspecto são os danos sociais que os resíduos causam como, ocupação de vias e logradouros públicos por entulhos com prejuízo da circulação das pessoas e veículos, degradação da paisagem urbana, existência e acúmulo de resíduos que podem gerar risco por sua periculosidade, conforme evidencia a SINDUSCON (2005), isto é, o setor público tem dupla função no que tange a política do meio ambiente, além de normatizar e fiscalizar cabe ao setor público servir de exemplo (DADICO, 2013). Considerando todos esses agravos citados, fica evidente a importância da implantação de um centro de reciclagem de resíduos das construções na região de Paranaíba. Referências: ABRECON - Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição. Disponível em: <http://www.abrecon.com.br/>. Acesso em: 22 set. 2013. AGOPYAN, Vahan; JOHN, Vanderley M.; GOLDEMBERG, José Coordenador. O Desafio da Sustentabilidade na Construção Civil: V. 5. São Paulo: Blucher, 2011. ÂNGULO, Sérgio Cirelli; ZORDAN, Sérgio Edurado; JOHN, Vanderley Moacyr Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de resíduos na construção civil. São Paulo: EPUSP. 2010 Disponível em: <http://www.pedrasul.com.br/artigos/sustentabilidade.pdf >. Acesso em 25 de agosto de 2013. BARATA, Martha M. L.; KLIGERMAN, Débora C.; GOMES, Carlos M. Gestão ambiental no setor público: uma questão de relevância social e econômica. Rio de Janeiro: Ciências & saúde coletiva, v. 12, n. 1, 2007. CONAMA, Conselho nacional do meio ambiente. Resolução n o 307. Publicada no DOU nº 136. 2002. p. 95-96. DADICO, Claudia M. Levando a gestão ambiental a sério. São Paulo: TRF.2013. Disponível em: <http://www2.trf4.jus.br/trf4/upload/editor/apg_claudiamariadadico.pdf>. Acesso em: 30 de setembro de 2013. DEMAJOROVIC, J. Da política tradicional de tratamento de lixo à política de gestão de resíduos sólidos: as novas prioridades. São Paulo: RAE, v. 35, n.3, 1995. FOCHEZATTO, A. ; GHINIS, C. P. Determinantes do crescimento da construção civil no Brasil e no Rio Grande do Sul: evidencias da analise de dados em painel. Porto Alegre: Ensaios FEE. 2011. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997

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