O USO DA TERRA DA MESSORREGIÃO SUL GOIANO E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS



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Transcrição:

O USO DA TERRA DA MESSORREGIÃO SUL GOIANO E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS Divina Aparecida Leonel Lunas Lima Economista e Doutoranda em Desenvolvimento Econômico UNICAMP Professora da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Rio Verde FESURV. e-mail: divina@eco.unicamp.br Cínara Lopes de Moraes Economista e Mestre em Economia UFPB Professora da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Rio Verde FESURV. e-mail: cinara@fesurv.br RESUMO O estudo demonstrou que a ocupação agrícola na messorregião Sul Goiano é intensa, com destaque para a cultura da soja. Os dados indicam que a ocupação tem provocado a incorporação de áreas de preservação, com alto risco, para a região analisada, de extinção da vegetação nativa. Os novos sistemas agroindustriais instalados nesta região tendem a agravar este fato, caso do setor sucroalcooleiro que concentrou seus investimentos na mesma. Visando a sustentabilidade econômica e ambiental das atividades agroindustriais da região é necessário uma política de planejamento comandada pelo Estado, caso não ocorra uma regulamentação no uso da terra pode-se concluir pela extinção das matas nativas e o agravamento das questões ambientais nesta área. Palavras-chaves: ocupação agrícola preservação uso da terra 1

1. INTRODUÇÃO A produção agrícola do Estado de destacou-se pela incorporação de um alto padrão tecnológico nas suas principais culturas, caso da soja, milho e com maior intensidade a partir de 2000 da cana-de-açúcar. O uso da terra na Messorregião Sul Goiano é altamente intensivo na busca de ganhos de produtividade e aumento das áreas de produção agrícola, com isso tem-se um cenário de devastação ambiental que atinge as bacias hidrográficas da região e favorece um processo de desertificação em algumas áreas. O objetivo deste artigo é demonstrar a utilização do uso da terra na Messorregião Sul Goiano, destacando as principais lavouras e atividades agropecuárias da região e a distribuição do solo nesta área bem como, salientar resumidamente os impactos ambientais causados pelo modelo adotado no processo de incorporação das áreas na região. A metodologia utilizada foi uma análise dos dados disponíveis sobre as principais culturas da região analisada, participação na produção estadual e ocupação do solo. Os dados sobre as lavouras foram retirados do sistema SIDRA do IBGE. E da SEPLAN foram retirados os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2006. 2. METODOLOGIA Para a metodologia do estudo foi feito um levantamento dos dados secundários da Mesorregião Sul Goiano, analisando a evolução das principais culturas e o modelo de produção adotado com os conseqüentes impactos ambientais. As culturas selecionadas para a análise foram: algodão, arroz, feijão, cana-de-açúcar, milho, sorgo, tomate e soja. As variáveis coletadas sobre estas culturas foram confrontadas com os dados do Estado de, visando à identificação da importância desta região. Para a caracterização do uso da terra nesta área em estudo foram trabalhados os dados preliminares do Censo Agropecuário de 2006, disponibilizados pela SEPLAN. 3. CARACTERIZAÇÃO DO ESTADO DE GOIÁS A adoção do padrão agrícola brasileiro feito no modelo de desenvolvimento da década de 70 baseava-se na necessidade de incorporar um padrão tecnológico para elevar a produtividade da terra. O principal instrumento que viabilizou este processo foi a utilização do crédito rural garantindo capital para a compra de tecnologias e mesmo de terras em novas regiões de fronteiras. O Estado de teve sua ocupação marcada por este processo. A partir das correções feitas nos solos da região caracterizados como de Cerrado apresentou condições positivas para favorecer o avanço da modernização agrícola no país. Rapidamente a soja tornouse a principal cultura do Estado gerando efeitos positivos nas atividades industriais, através da entrada de empresas esmagadoras do grão no Estado. Com a consolidação do padrão agrícola goiano, baseado em grandes áreas com alta tecnologia, outras culturas foram sendo favorecidas, 2

caso do milho, sorgo e tomate. O Estado destaca-se, com esta conjuntura modernizadora do setor agropecuário, no cenário nacional como um importante produtor de grãos. O modelo de desenvolvimento do Estado de teve suas origens nas intensas políticas públicas desenvolvimentistas utilizadas na década de 60 e 70 para modernizar o setor agrícola e ocupar as terras de fronteiras brasileiras. Este modelo desenhou um espaço configurado por alta exploração da terra através da tecnificação e uso intensivo de tecnologias. Os ganhos de produtividade intensificaram e as instalações de vários complexos agroindustriais fizeram a ligação entre as cadeias produtivas e o capital industrial. Apesar, dos avanços produtivos e os indicadores de crescimento apresentarem variações positivas anuais, isto não significou menos problemas ambientais e sociais da herança do modelo adotado. Ao contrário, os impactos sociais e ambientais são intensivos e tem se agravado à medida que a exploração eleva-se nestas terras do cerrado, fragilizadas pelas suas características naturais. Outro fator é a disputa crescente pela ocupação do solo entre as culturas da região. Este fato é visualizado nitidamente em dois complexos em, a soja e a cana-de-açúcar. A soja em é considerada o produto responsável pela incorporação das principais regiões produtoras de grãos, além de ser o produto mais importante da pauta de exportações goianas. No entanto o processo de crise do setor agrícola, principalmente a partir de 2001 fez com que esta cultura perdesse o interesse para os grandes produtores da região, que perceberam na cana-deaçúcar a oportunidade de maior rentabilidade. Este sistema de competição pela terra, em, tem feito expandir o sistema de arrendo para as agroindústrias de cana-de-açúcar. Outro fato apresentado na região é que a produção comercial da cana-de-açúcar tem se tornado uma das opções dos produtores. Considerando a grande escala de produção das usinas de açúcar e álcool percebe-se que para que este complexo tenha sustentabilidade haverá uma mudança na estrutura produtiva, pois a expansão das agroindústrias devem elevar a competição pela matéria-prima. Esta competição entre estas duas culturas tem sido favorável para a soja, no entanto as mudanças e pressões pela utilização de alternativas de combustíveis, como o álcool, pode reverter este quadro. O setor sucroalcooleiro tem investido em sua expansão de industrialização no Brasil. Além da diversidade de produtos derivados da cana-de-açúcar que torna este produto ainda mais atrativo, A produção de grãos também beneficiou a entrada de outros sistemas agroindustriais na região. O sistema agroindustrial de aves e suínos tem avançado no Estado de à medida que consolida-se os investimentos da empresa Perdigão. Este sistema altamente dependente da soja e do milho foi atraído para, devido a dois fatores principais: a disponibilidade da matériaprima para a produção de rações e a capacidade empresarial dos produtores rurais do Estado 3

com disponibilidade de áreas e capital para o investimento inicial do projeto. Este projeto assentava-se em um modelo completamente diferenciado do utilizado no Sul do país pela empresa. Em temos uma escala de produção e um sistema produtivo que visa ganhos de escalas de produção, incompatíveis com a pequena propriedade. Outro movimento de investimentos produtivos no setor agroindustrial no Estado é a cultura da cana-de-açúcar que apresenta um boom de expansão a partir de 2000 com projeções de investimentos em várias áreas goianas. Os investimentos projetados indicam que a capacidade industrial de poderá duplicar em menos de cinco anos, para isso será necessário a incorporação de áreas para a produção de cana-de-açúcar. O Estado de caracteriza-se como uma região de produção de grãos, principalmente soja e milho, que consolidaram-se com o processo de modernização agrícola brasileiro adotado a partir da década de 70. De acordo com Shiki (1997) a agricultura intensiva com utilização de alto padrão tecnológico e através da mecanização tratorizada em extensas áreas, principalmente da cultura da soja, tomou impulso na década de 80. As bases deste processo foram alicerçadas na década de 70 com os programas públicos de crédito rural e ocupação de regiões de fronteiras agrícolas, mas apenas na década de 80 têm-se uma alteração de base produtiva e o processo de modernização altera toda a estrutura produtiva da região. Ressalta-se, contudo, que além das mudanças no processo de produção têm-se também uma alteração no que se é produzido. Conforme Ortega (1997, p. 325):... de uma produção primária de produtos agroalimentares básicos e de pouca transformação industrial até chegar ao mercado, como o arroz, feijão e milho, passou-se a uma priorização da produção mais integrada à agroindústria, como é o caso dos sucos de fruta, café, soja, e mesmo aqueles que já eram produzidos anteriormente, como a carne, o leite e o milho, passam agora por um maior processamento. Além disso, ressalta-se que boa parte desta produção tem na exportação um importante mercado. O que se tem na região é uma alteração completa de toda a economia do setor rural. A integração e a busca de mercados internacionais fizeram com que o setor agrícola se adaptasse às exigências e diretrizes da gestão do processo produtivo altamente tecnificado com capacidade de responder as mudanças de demandas mundiais. A elevação da demanda da soja na década de 80 e 90 fez do cerrado a região de expansão da cultura para atender a esta mudança na procura. Este modelo acaba por ser incorporado em todas as culturas da região. Contudo, o modelo adotado apresenta pouca preocupação social ou ambiental dos impactos causados e que se aceleram à medida que se expande a modernização na região. Ressaltando os efeitos nocivos do processo a Superintendência do desenvolvimento da 4

Região do Centro-Oeste - SUDECO (1986, p. 82) comenta que esse tipo de produção não constitui um sistema estável, o que vem proporcionando, dentre outros fatores, violento êxodo rural na sub-região (Rio Verde, Rondonópolis e a Vertente Goiana do Paraíba). O problema do êxodo rural já detectado no final da década de 80 na região analisada, agravou-se e intensificou um processo de urbanização desordenado que atraiu para as cidades os mesmos problemas enfrentados pelos habitantes da zona rural. A falta de infra-estrutura, de saneamento básico, moradia, educação e saúde passaram a ser problemas dos municípios da região. E os que apresentaram indicadores de crescimento mais acentuados enfrentavam a migração para sua região o que intensificava os problemas, casos dos municípios de Rio Verde, Itumbiara e Jataí. 4. DISCUSSÁO DOS RESULTADOS A Mesorregião Sul Goiana é formada pela união de 82 municípios, agrupados em seis microrregiões, são elas: Catalão, Meia Ponte, Pires do Rio, Quirinópolis, Sudoeste de e Vale do Rio dos Bois. Esta Mesorregião é a mais rica de, sendo que os municípios de maior PIB per capita estão localizados na mesma. Entre eles destacam-se São Simão com um PIB per capita de R$ 57.715, Chapadão do Céu com R$ 43.303 e Catalão com R$ 35.974. A área da Mesorregião Sul Goiano é de 131.579,001 Km 2, tendo uma população de 1.661.348 habitantes de acordo com estimativas de 2006. Com IDH classificado como médio de 0,807 (PNUD/2006). O PIB 15.404.396.527 (SEPLAN, 2008). Diante dos dados das várias culturas goianas, um importante componente de discussão é a utilização do uso do solo no Estado de. Pode-se indicar que houve uma concentração na Messorregião Sul Goiano responsável por 83% da área colhida de soja na safra 2006/2007. Na produção de cana-de-açúcar e sorgo a área desta messorregião representa respectivamente 54% e 83%, indicando uma grande concentração da produção nesta região favorecendo a competição pelo uso da terra e o agravamento dos efeitos ambientais, já que o sistema agroindustrial de aves e suínos também se localiza nesta região. A Figura 1 apresenta o mapa do Estado de e em destaque está a Mesorregião Sul Goiano. 5

Fonte: SEPLAN (2007) FIGURA 1 Mapa de e a Mesorregião Sul Goiano. A disputa pelas terras na região e a ausência de um marco regulatório para a utilização das mesmas e a expansão de cultura sobre determinadas áreas consolidadas tem motivado iniciativas isoladas do poder público municipal, caso de Rio Verde, que buscando garantir as áreas de culturas de grãos, como a soja e o milho, estipularam áreas de cultivo para a cana-de-açúcar dentro das propriedades rurais do município. Destaca-se que conforme alerta Rodrigues, E.; Rodrigues, S.; Pasqualetto (2003, s.p.) com o avanço tecnológico de análise do solo é possível verificar que para gerar um excedente agrícola não há necessidade de se ocupar toda a superfície, o que poderia provocar, além da extinção da fauna e flora, risco de degradação do solo com sua conseqüente erosão. Na Tabela 1 encontra-se dados preliminares do Censo Agropecuário de 2006 que demonstram a importância da região analisada para a produção agrícola do Estado de. Percebe-se que a região representa em 63,5% da área total do Estado utilizada para as lavouras temporárias e permanentes o que indica a intensa ocupação do solo da região. Destacando ainda 6

o alto padrão tecnológico da região, entende-se que os investimentos dos produtores têm sido feitos para a maximização dos rendimentos dentro da área agricultável disponível nesta área. TABELA 1 Área dos estabelecimentos agropecuários por utilização das terras em ha. Área geográfica Total Lavouras Pastagem Natural Matas e Florestas 24.983.002 3.590.579 15.524.699 5.239.876 Mesorregião Sul 10.448.455 2.279.808 6.058.128 1.861.578 Goiano % Participação 41,8 63,5 39 35,5 da Mesorrregião no Estado Fonte: SEPLAN (2008). Outro fator que deve ser destacado é que a área total da região corresponde a aproximadamente 13.157.900 ha, observando-se que 10.448.455 ha, ou seja, 79% da área são pertencentes a estabelecimentos agropecuários, o que já indica uma intensa utilização do solo da região para as práticas agropecuárias, com isso há uma necessidade crescente de utilizar de maneira mais eficiente estas terras. A própria disputa entre as culturas nesta região provocará uma organização também nas áreas de pastagens naturais. Na Tabela 1 esta área representa 58% da área total, com o aumento de tecnologia e a utilização de confinamento para a pecuária da região, pode-se ter uma liberação de terras para o aproveitamento na agricultura. Contudo não haveria uma melhoria da qualidade ambiental, já que tanto a pecuária intensiva, quanto a agricultura na região tem intensificado o desmatamento na região estudada. De acordo com Ferreira; Ferreira; Lobo (2007, p. 93) Devido à intensa ocupação do Cerrado goiano, houve também uma intensa fragmentação da vegetação nativa, resultando em uma grande quantidade de pequenos fragmentos que, por muitas vezes, estão localizados próximos de áreas já antropizadas, como é o caso das rodovias e das localidades de grande densidade populacional, elevado índice de desenvolvimento humano e alto produto interno bruto. Tais áreas podem ainda apresentar um relevo favorável às práticas agro-pastoris. Desta forma, 86% dos fragmentos de Cerrados remanescentes em estão correndo alto risco de serem desmatados. Isto equivale a uma área aproximada de 105.612,30 Km 2... Os dados do trabalho citado acima indicam que a Mesorregião Sul Goiana encontra-se entre as que apresentam os maiores riscos para o agravamento do desmatamento. Figura 2, retirada deste trabalho faz uma comparação entre as mesorregiões do estado e os riscos apresentados de conversão das áreas de cerrados. 7

100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 99% Centro Goiano Leste Goiano 91% 97% Noroeste Goiano 57% Norte Goiano 97% Sul Goiano Fonte: Ferreira; Ferreira; Lobo (2007, p. 93). FIGURA 2 Áreas de cerrado remanescente com alto risco de conversão em cada Mesorregião do Estado de. A Figura 2 indica que as áreas de cerrado remanescentes da Mesorregião Sul Goiano enfrentam uma alto risco de incorporação ao sistema produtivo agropecuário e as áreas urbanas. Fatores como o avanço de atividades do setor agroindustrial de soja, carnes (bovinos, suínos e aves) e do setor sucroalcooleiro tendem a intensificar a incorporação de áreas de cerrados antes não ocupadas. O próprio crescimento populacional da região também é mais um fator agravante para a intensificação do uso do solo na região analisada. No Quadro 1 apresentam-se as usinas e os municípios de localização de cada uma, bem como a denominação e municípios dos projetos de implantação ou recuperação deste segmento industrial. Este levantamento foi feito através dos dados disponibilizados pela Secretaria de Planejamento do Estado de SEPLAN no mês de janeiro de 2008. Percebe-se que o aumento do número de usinas é acentuado no Estado, com a entrada de vários grupos tradicionais de outras regiões, especificamente São Paulo e Nordeste. A implantação destas usinas concentra-se na Mesorregião Sul Goiana. No Quadro 1 identificou-se também a Microrregião e a Mesorregião que pertence cada empresa, comprovando a concentração acentuada na Mesorregião Sul Goiana. Dos indicativos de previsão de funcionamento das usinas pode-se destacar a elevada concentração dos grupos empresariais na região destacada. Dos 31 grupos registrados e previstos para entrar em atividade até a safra 2009/2010, 23 estão localizados nesta Mesorregião. 8

QUADRO 1 Usinas e destilarias do Estado de Nº Destilarias/Usinas Município Microrregião Mesorregião 1 Usina Canadá S/A (Prev. op. Em Acreúna Vale do Rio Sul Goiano 2008) dos Bois 2 Cotril Açúcar e Álcool Ltda (Prev. Acreúna Vale do Rio Sul Goiano op. em 2009) dos Bois 3 Anicus S/A Álcool e Derivados Anicuns Anicuns Centro Goiano 4 Nardini Agroindustrial Ltda (Prev. Aporé Sudoeste de Sul Goiano op. em 2010) 5 CRV Industrial Ltda Carmo do Rio Ceres Centro Goiano Verde 6 Usina Porto das Águas (Prev. op. Chapadão do Sudoeste de Sul Goiano em 2009) Céu 7 Jalles Machado S/A Goianésia Ceres Centro Goiano 8 Usina Goianésia S/A Goianésia Ceres Centro Goiano 9 GOIASA Goiatuba Álcool Ltda Goiatuba Meia Ponte Sul Goiano 10 Centroálcool S/A CENASA Inhumas Anápolis Centro Goiano 11 LASA Lago Azul S/A Ipameri Catalão Sul Goiano 12 Vale Verde Empreendimentos Itapaci Ceres Centro Goiano Agrícola Ltda 13 Energética do Cerrado Açúcar e Itarumã Quirinopólis Sul Goiano Álcool Ltda (Prev. op. em 2010) 14 Tropical Bionergia S/A (Prev. op. Itumbiara Meia Ponte Sul Goiano em 2008) 15 Vale do Verdão S/A Usina Itumbiara Meia Ponte Sul Goiano Panorama ((Prev. op. em 2007) 16 DENUSA Destilaria Nova União Jandaia Vale do Rio Sul Goiano S/A dos Bois 17 COSAN Centro-Oeste S/A Açúcar e Álcool (Prev. op. em 2009) Jataí Sudoeste de Sul Goiano 18 Destilaria Serra do Caiapó S/A (Prev. op. em 2008)) Montividiu Sudoeste de Sul Goiano 19 COSAN Centro-Oeste S/A Açúcar e Álcool (Prev. op. em 2009) 20 Usina CAMEM (Prev. op. em 2009) 21 COSAN Centro-Oeste S/A Açúcar e Álcool (Prev. op. em 2009) 22 Usina Quixabá Fab. de Açúcar e Álcool (Prev. op. em 2010) 23 Usina Boa Vista S/A (Prev. op. em 2009) Montividiu Sudoeste de Sul Goiano Morrinhos Meia Ponte Sul Goiano Paraúna Vale dos Rio dos Bois Sul Goiano Pontalina Meia Ponte Sul Goiano Quirinopólis Quirinopólis Sul Goiano 24 Usina São Francisco Quirinopólis Quirinopólis Sul Goiano 25 DECAL Destilaria Catanduva Rio Verde Sudoeste de Sul Goiano Ltda 26 COOPER RUBI Coop. Agroind. De Rubiataba Rubiataba Ceres Centro Goiano 9

27 Usina Santa Helena de Açúcar e Santa Helena de Sudoeste de Sul Goiano Álcool S/A 28 Energética Serranópolis Ltda Serranópolis Sudoeste de Sul Goiano 29 Usina Ouro Verde S/A (Prev. op. Silvânia Pires do Rio Sul Goiano em 2009) 30 Vale do Verdão S/A Turvelândia Vale do Rio Sul Goiano dos Bois 31 Caçú Ind. e Comércio de Açúcar Vicentinopólis Meia Ponte Sul Goiano e Álcool Ltda (Prev. op. em 2010) Fonte: SEPLAN (2008). O setor sucroalcooleiro beneficiou-se no Estado de dos incentivos fiscais e do Programa Produzir que tem potencializado os investimentos. Beneficiam-se também de terras baratas e áreas propícias, principalmente da pecuária extensiva, que podem ter sua ocupação otimizada, além do preço de arrendamento ser considerado baixo em relação aos outros estados. Todos os fatores parecem indicar que este processo terá uma continuidade e tende a agravar a gestão do território em. A Mesorregião Sul Goiana com a implantação destes grupos consolidará-se como a região mais importante do setor sucroalcooleiro. Cabendo salientar que esta região já é a mais importante na produção de grãos. Na Tabela 2 apresenta-se o ranking das principais Microrregiões e a Mesorregião Sul Goiano produtoras de grãos no Estado de. Os dados da Tabela 2 indicam que a Mesorregião Sul Goiano representa 76% da produção estadual de grãos, pressupõe-se que com a entrada dos grupos do setor sucroalcooleiro na região poderá haver uma nova organização do espaço produtivo desta área. Com culturas anuais o processo de organização e decisão de produção é feito de acordo com as tendências de preços e do mercado nos períodos de entressafra. Por isso há uma mudança acentuada para culturas que tenham preços melhores. Na cultura da cana-de-açúcar esta mobilidade não existe. Com a entrada da cultura na Mesorregião Sul Goiano o processo produtivo tenderá a uma rigidez maior, pois o modelo adotado no setor é do fornecimento pela própria usina com a integração vertical, caracterizado pelo contrato de arrendamento por um período mínimo de cinco anos ou a compra de terras pelas usinas. Para maiores esclarecimentos sobre as relações deste complexo com a propriedade fundiária ver Ramos (1999). 10

TABELA 2 Ranking da produção de grãos no Estado de e regiões selecionadas, 2006. Estado/Microrregião/Mesorregião Produção de grãos Participação Ranking (t) (%) 10.581.453 100 - Mesorregião Sul Goiano 8.042.787 76 - Microrregiões Sudoeste de 4.551.015 43,01 1º Meia Ponte 1.360.972 12,86 2º Entorno de Brasília 1.308.179 12,36 3º Vale do Rio dos Bois 731.699 6,91 4º Catalão 709.328 6,70 5º Pires do Rio 499.058 4,72 6º Anápolis 282.625 2,67 7º Porangatu 215.025 2,03 8º Quirinópolis 190.715 1,80 9º Chapada dos Veadeiros 135.599 1,28 10º Fonte: IBGE Retirada: SEPLAN-GO/SEPIN/Gerência de Estatística Socioeconômica 2007 A análise dos dados sobre as culturas selecionadas (algodão, arroz, feijão, cana, milho, sorgo, tomate e soja) indica que houve uma mudança estrutural na produção agrícola da região. A cultura tradicional do cerrado, o arroz, perdeu áreas para serem substituídas por culturas como a soja, cana, algodão, feijão e tomate. Na safrinha o sorgo disputa espaço com o milho, que era a principal opção do produtor goiano. Esta disputa pode ser visualizada nitidamente na Figura 3 onde apresentam-se os dados sobre a área plantada do sorgo e milho, do período de 1990 a 2006. A entrada do sorgo na safrinha goiana pode indicar que o produtor rural do Estado tem uma preocupação acentuada com sua rentabilidade e diante da rusticidade da cultura e dos lucros que em alguns anos apresentou-se maior que a do milho, pode ser um indicativo de migração de áreas plantadas de milho para a de sorgo. Este fato poderá agravar a questão do fornecimento de matéria-prima para o principal complexo de carnes da região analisada, aves e suínos. No entanto, como é uma decisão de planejamento de curto prazo do produtor rural, uma reversão do 11

preço do milho com a melhora da rentabilidade desta cultura poderá levar a retomada das áreas plantadas desta cultura na região pesquisada. 700 600 500 400 569 565 491 462 658 625 574 587 417 617 566 554 472 469 442 382 453 300 200 100 0 4 7 5 20 43 32 46 92 288 267 135 160 168 180 222 195 123 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Milhares Sorgo Milho Fonte: IBGE (2008). FIGURA 3 Área plantada em mil ha de sorgo e milho na Mesorregião Sul Goiano, 1990 a 2006. As demais culturas analisadas apresentaram dados semelhantes de crescimento em proporções diferenciadas. O algodão perde área plantada, a partir de 1998, de forma acentuada, o que pode indicar a saída desta cultura da região. A cana-de-açúcar teve um crescimento persistente, contudo sem taxas que pudessem indicar uma expulsão de outras culturas. O arroz nitidamente é uma cultura secundária na região com perdas acentuadas. O feijão apresenta um crescimento instável de áreas, com alguns anos de elevação e outros de redução. O tomate obteve indicadores de crescimento e a soja tem uma redução de sua área na safra 2005 para 2006 de 165.003 ha o que pode ser devido a crise agrícola de grãos vivenciada a partir de 2001 ou a mudança para outras culturas com maior rentabilidade. Na Tabela 3 optou-se por apresentar os dados da área plantada destas culturas, excluindo o sorgo e o milho, para uma melhor visualização do movimento de expansão e retração entre as culturas analisadas. 12

TABELA 3 Área plantada em ha de culturas selecionadas para a Mesorregião Sul Goiano, 1990 a 2006. Ano Soja Cana Algodão Arroz Feijão Tomate 1990 802.120 60.335 35.421 140.516 22.121 788 1991 647.528 60.962 43.105 129.826 21.934 1.334 1992 674.465 60.641 53.756 182.163 20.401 678 1993 824.067 68.770 37.855 137.372 25.141 756 1994 919.810 69.432 53.754 131.760 29.261 1.572 1995 951.329 73.287 69.361 121.747 30.166 1.202 1996 756.697 70.638 81.257 76.539 27.516 1.787 1997 905.335 65.275 82.976 61.423 40.897 2.372 1998 1.219.895 88.656 185.948 50.171 41.606 1.969 1999 1.196.957 94.096 115.708 103.214 67.159 5.703 2000 1.341.432 87.155 91.023 66.246 30.153 4.679 2001 1.385.524 77.566 94.936 41.166 55.895 4.356 2002 1.694.935 126.574 92.466 37.217 45.912 5.212 2003 1.894.284 92.206 89.597 35.262 48.983 4.594 2004 2.204.330 92.084 131.254 59.117 35.705 4.714 2005 2.223.166 106.411 139.333 81.279 24.905 4.231 2006 2.058.163 127.671 60.149 34.455 35.149 4.615 Fonte: IBGE (2008). Outra questão que emerge da ocupação do solo com estas culturas apresentadas na Tabela 3 é que o somatório das áreas indica que a ocupação atinge 2.320.202 ha, acima inclusive da área de lavouras detectadas nos dados preliminares do Censo Agropecuário de 2006. Isto pode indicar que o avanço das áreas plantadas de lavouras na região é contínuo e poderá se estender sobre áreas da pecuária extensiva. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se pela necessidade urgente de uma política ambiental comandada pelo poder público estatal para garantir a sustentabilidade do sistema econômico da Messorregião Sul Goiano. Os dados indicam que o avanço produtivo tem prejudicado as áreas de cerrado da região, que encontram-se quase extintas e o problema atinge de forma acentuada as áreas de reservas legais e as matas ciliares. Ressaltando-se que ações isoladas são insuficientes pela magnitude dos problemas apresentados e considerando que os investimentos em diversos setores, especificamente o da cana-de-açúcar que também se concentra na região é necessário que haja um planejamento da utilização do solo nesta área da Messoregião Sul Goiano. Outro fator que tem demonstrado a importância de uma política ambiental na região é que esta concentração tem esgotado o solo e a água da mesma. Alguns municípios da região enfrentam o abastecimento por caminhões do poder público estatal para ter garantido o fornecimento de água. Outra conseqüência é a incorporação de áreas de matas ciliares e a reserva legal para a 13

produção agropecuária, agravando o desmatamento e a possibilidade de desertificação na área analisada. Uma política ambiental, numa área de intensa ocupação agrícola e urbana como a da Mesorregião Sul Goiano, pressupõe a capacidade do Estado de organizar interesses econômicos conflitantes entre diversas cadeias produtivas e estímulo a políticas ambientais de recuperação das áreas devastadas. Entende-se que a partir de uma política ambiental orientada pelo Estado as iniciativas privadas poderão ser incentivadas a implantar um planejamento agropecuário que insira a organização do espaço produtivo de forma a aproveitar as áreas de preservação estipuladas por lei. Outra questão que deve ser salientada é que diante da fragilidade do bioma Cerrado, caso não haja uma política de longo prazo, possivelmente o quadro não possa ser revestido diante da devastação apresentada, não só pela ocupação agropecuária, mas também devido a densidade populacional da região analisada. Como a região apresenta um dos melhores índices de desenvolvimento humano do Estado e é uma das maiores receptoras de pessoas, isto pressiona ainda mais o agravamento das questões ambientais. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FERREIRA, Nilson Clementino; FERREIRA, Manuel Eduardo; LOBO, Fábio Carneiro. Riscos de desmatamentos e potencial de regeneração da vegetação nativa: definindo prioridades e estratégias territoriais. UFG, Goiânia,, Boletim Goiano de Geografia, v. 27, n. 1, p.83-96, 2007. (Edição Especial). IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Produção agrícola Municipal, Sistema IBGE de Recuperação Automática SIDRA. Disponível em <http://www.sidra.ibge.gov.br/>. Acesso em: 28 jun. 2007, 20 jan. 2008. ORTEGA, Antonio César. Meio ambiente e representação de interesses na agricultura do cerrado mineiro. In: SHIKI, Shigeo; SILVA, José Graziano da; ORTEGA, Antonio César (Orgs.). Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do cerrado brasileiro. Uberlândia: UFU, 1997. 372p. SEPLAN. Dados e mapas disponíveis em <http://www.seplan.go.gov.br/>acessado entre os períodos de: 15 de dezembro de 2007 a 20 de janeiro de 2008. SHIKI, Shigeo. Sistema agroindustrial nos cerrados brasileiros: caminhando para o caos? In: SHIKI, Shigeo; SILVA, José Graziano da; ORTEGA, Antonio César (Orgs.). Agricultura, meio ambiente e sustentabilidade do cerrado brasileiro. Uberlândia: UFU, 1997. 372p. SUDECO - SUPERITENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO CENTRO-OESTE. Plano de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste. Brasília: SUDECO, 1986. 263p. RAMOS, Pedro. Agroindústria canavieira e propriedade fundiária no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1999. 245p. (Economia e Planejamento; 36; Série Teses e Pesquisas; 21). 14

RODRIGUES, Elyne; RODRIGUES, Simone; PASQUALETTO, Antônio. O desmatamento legal em para atividade de agricultura e pecuária de 2000 a 2002. UCG, Goiânia, GO. 2003. Disponível em <http://agata.ucg.br/formularios/ucg/docentes/eng/pasqualeto/artigos/pdf/artigo_19.pdf> Acessado em 20 de abril de 2008 15