As raízes e as antenas dos Memoriais do Ministério Público Brasileiro

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Transcrição:

Leandro Alves dos Santos * As raízes e as antenas dos Memoriais do Ministério Público Brasileiro A memória das organizações, do estado, das pessoas e das coisas já esteve associada ao passado de forma restrita e com pouca representatividade, como algo resolvido e quase passível de esquecimento. A relação da memória com o sentido de identidade, a qual carregamos em nossas interações sociais cotidianas, vem sendo construída e absorvida gradativamente pela sociedade. Situação semelhante aconteceu com a própria História, que se iniciou com pequenos relatos do cotidiano e evoluiu de uma prática social para uma ciência, modernamente definida por Le Goff (2012) como uma ciência da mutação e da explicação da mudança. Por uma perspectiva histórica, no século XVIII foram criados os depósitos centrais de arquivos pela Europa, com o objetivo de armazenar o patrimônio documental. A França instituiu o Archives Nacionales (Arquivo Nacional da França) em 7 de setembro de 1790, com o intuito de reunir importantes documentos para o que era considerado um período de transição ou de transformação de sua sociedade, em razão dos desdobramentos da Revolução Francesa. Logo, estabeleceu-se a percepção de que os mesmos seriam relevantes para a estruturação da memória do país, bem como para a consolidação de sua identidade nacional. Acerca disso, Indolfo (2007) abordou a importância dos registros documentais para a humanidade: O documento ou, ainda, a informação registrada, sempre foi o instrumento de base do registro das ações de todas as administrações, ao longo de sua produção e utilização, pelas mais diversas sociedades e civilizações, épocas e regimes. Entretanto, basta reconhecer que os documentos serviram e servem tanto para a comprovação dos direitos e para o exercício do poder, como para o registro da memória (INDOLFO, 2007, p. 29). * Arquivista e servidor do Ministério Público do Estado do Paraná. 393

Desde então, a relação estabelecida entre a História, a memória e os registros das atividades humanas existentes nos arquivos se tornou um importante instrumento para a formação das memórias individuais e coletivas. Estas, por sua vez, podem ser abordadas por diferentes perspectivas como a memória cognitiva, a memória tecnológica e a memória social. Para Pollak (1992, p.2), a memória é constituída por acontecimentos, por pessoas/personagens e por lugares: Existem lugares da memória, lugares particularmente ligados a uma lembrança, que pode ser uma lembrança pessoal, mas também pode não ter apoio no tempo cronológico. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 estabelece em seu Art.216: Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 1988, p. 123). Com isso, a Constituição Federal ressaltou a importância do patrimônio cultural brasileiro, estabelecendo conexões entre os variados meios de expressões imateriais e materiais, a exemplo dos acervos documentais, declarando-os como importantes insumos para a promoção da memória nacional. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) publicou a Resolução n 158, de 31 de janeiro de 2017, a qual estabelece o Plano Nacional de Gestão de Documentos e Memória do Ministério Público PLANAME, com a finalidade de fomentar as atividades de preservação, pesquisa e divulgação da trajetória histórica do Ministério Público (MP) e das informações de valor histórico constantes dos acervos da instituição. Ou seja, o reconhecimento de que a abordagem técnica e historiográfica dos atos e trajetórias do MP brasileiro, aliada à eficiente gestão e preservação de seu patrimônio documental, são importantes diretrizes para a construção e difusão da memória do MP, bem como para a consolidação de sua identidade perante a sociedade brasileira. 394

O atual contexto social e político percebido no Brasil tem demandado uma postura cada vez mais atuante e precisa por parte do estado e de suas instituições democráticas, indicando a tendência de conexão pragmática entre o papel institucional destas e os anseios da sociedade. E, desde então, o Ministério Público Brasileiro tem se destacado nacionalmente devido à sua atuação em questões sensíveis do país, de repercussão geral, o que revela um aumento do interesse dos cidadãos pela finalidade e pela imagem do Ministério Público. Não obstante, os Centros de Memória ou Memoriais do Ministério Público Brasileiro podem utilizar o citado contexto social para desempenharem papel de mediador ou de receptor no processo de aproximação com a sociedade. As práticas de difusão da memória destas instituições podem revelar uma promissora oportunidade de interação, dando-lhes contornos sociais e de impacto relevante na comunidade local mediante o estabelecimento de serviços nas áreas de difusão cultural, editorial e educativa. Projetam-se aos possíveis serviços de difusão dos Memoriais duas alternativas complementares de ação: uma que lança elementos da instituição e de sua memória para o público externo, buscando alcançar um campo mais amplo de pessoas; e outra que facilita um retorno consequente dessas práticas, tornando atrativo o espaço físico dos Memoriais. No campo de difusão cultural, os Memoriais podem promover eventos relacionados a temas vinculados à memória institucional, de interesse amplo ou regional como palestras, concursos, lançamento de obras, debates, exposições, etc. Pelo viés editorial, é possível estabelecer vínculos de comunicação com a sociedade, transportando ao seu público externo informações relacionadas ao conteúdo de seu acervo documental, publicações de seus instrumentos de pesquisa e de suas atividades institucionais. Outra vertente a ser explorada pela atuação dos memorais é a de serviços educacionais, pois são amplas as possibilidades de desenvolvimento de projetos e parcerias vinculados à rede de educação pública nas esferas municipal, estadual e federal, além de ao setor privado. A estruturação de espaços físicos dentro dos Memoriais para a realização de visitas, encontros, aulas temáticas e exposições constitui fundamental apoio para a prestação dos serviços educativos. O contato dos estudantes com informações e fatos da história do Ministério Público pode contribuir significativamente para a qualidade do processo de aprendizado dos alunos e, principalmente, para a constituição de cidadãos mais conscientes e conhecedores de seus direitos. 395

A sinergia entre conceitos e percepções referentes ao acervo arquivístico produzido pelo Ministério Público Brasileiro em seus diversos formatos e suportes, do papel aos documentos digitais, a sua história e valorização das memórias institucionais são condições positivas e fundamentais para a concretização das atividades e serviços dos Memoriais. Além disso, destaca-se a necessidade de estimulação do trabalho colaborativo e interdisciplinar entre profissionais especializados dos campos da Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia, Direito, História e Administração. Em contrapartida, a atuação dos Memoriais em processos de difusão cultural, editorial e educativa podem colaborar para reforçar a imagem do Ministério Público Brasileiro perante a sociedade, na medida em que os cidadãos tomam conhecimento e apreendem informações a respeito de fatos e personalidades que compõem a memória do MP. Ademais, outro fator relevante e de impacto social é a nobre possibilidade de contribuir horizontalmente com o desenvolvimento cultural e educacional do país. Por conseguinte, os Memoriais do Ministério Público podem dar visibilidade às raízes da instituição, conectores de sua memória essencial e orgânica, composta por fatos relevantes e personalidades vitais que ajudam a construir a identidade do Ministério Público Brasileiro. Tais unidades também podem direcionar suas antenas para o contexto social mais urgente e relevante do país, vislumbrando captar os sentidos, as expectativas e os movimentos de transformações da própria sociedade. 396

REFERÊNCIAS: BARROS, Dirlene Santos; AMÉLIA, Dulce. Arquivo e memória: uma relação indissociável. TransInformação, Campinas, v, 21, n. 1, p. 55-61, jan./abr. 2009. Disponível em: <http://periodicos.puccampinas. edu.br/seer/index. php/transinfo/article/view/518/498>. Acesso em: 19 set. 2017. BELLOTTO, Heloisa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 4. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2015. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso em: 1 set. 2017. LE GOFF, Jacques. História e memória. 5.ed. Campinas: Unicamp, 2003. 541 p. Tradução de: Irene Ferreira, Bernardo Leitão; Suzana Ferreira Borges. POLLACK, Michael. Memória e identidade social. Revista Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 5, n. 10, p. 200-212, 1992. LEITURAS ADICIONAIS EM NOSSA BIBLIOTECA MARTINELLI, Jaqueline Mara Lorenzetti. Os arquivos, o ministério público e a democracia. In: CONGRESSO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO, 14, 2001, Recife. Anais... Recife: Associação do Ministério Público de Pernambuco, 2001. v. 3, p. 267-275. MOURA, Rafael Soares Duarte de. A memória de um país: um conceito que perpassa pelas noções de arquivo e direito. In: VIEGAS, Carlos Athayde Valadares, et al. (Coord.) Ensaios críticos de direito público. Belo Horizonte : Arraes, 2015. p. 84-104. PAES, Marilena Leite. Arquivo: teoria e prática. 3. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2011. 225 p. 397