III ENCONTRO DO GRUPO EÇA: O MANDARIM, A RELÍQUIA E SUAS FRICÇÕES

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Transcrição:

CADERNO DE RESUMOS

III ENCONTRO DO GRUPO EÇA: O MANDARIM, A RELÍQUIA E SUAS FRICÇÕES Comissão Organizadora Giuliano Ito Santos (USP) Orlando Grossegesse (Universidade do Minho) Ana Marcia Alves Siqueira (UFC) Hélder Garmes (USP) Carlos Reis (Universidade de Coimbra) Realização: Fundação Eça de Queiroz Universidade de São Paulo Universidade Federal do Ceará Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra Grupo Eça

SUMÁRIO Teodoro, pecador português 4 Ana Luísa Vilela (Univ. de Évora/ CLP/CEL/CIDEHUS) Entre dizer, desdizer e não dizer: as tramas Enunciativas de Teodoro e Teodorico 4 Ana Márcio Alves Siqueira (UFC) Onde está ali a verdade? O Mandarim e A Relíquia examinados pela crítica coeva 4 António Apolinário Lourenço (Universidade de Coimbra) Ecos mineiros: O mandarim e A relíquia no Suplemento Literário de Minas Gerais 5 Cristiane Navarrete Tolomei (UFMA) Herança, Viagem e Condição de Classe 5 Danilo Silvério (USP) A relíquia e a vocação polifônica ou um romance estranho 6 Giuliano Lellis Ito Santos (USP) Tudo o que tenho no saco... - Eça e os Maias 6 Isabel Pires de Lima (Universidade do Porto) O insólito Eça 7 Jean Carlos Carniel (UNESP/FAPESP) O Mandarim e o (não) diálogo entre Ocidente e Oriente 7 José Carvalho Vanzelli (USP) A recusa dos românticos e a adesão dos realistas: Camilo, Eça e o fantástico no século XIX português 7 Luciene Marie Pavanelo (UNESP) Teodorico em diálogo com o leitor: pactos de leitura e legitimação do discurso 8 Marcio Jean Fialho de Sousa (UNIMONTES) História de uma relíquia 8 Maria Eduarda Borges dos Santos (Instituto Politécnico de Castelo Branco) Teodorico Raposo e Outros 9 Maria Eduarda Vassallo Pereira (Universidade de Lisboa) A psicologia do protagonista em O Mandarim e em A Relíquia 9 Orlando Grossegesse (Universidade do Minho) O ceticismo de Eça n O Mandarim (1880) e em A Relíquia (1887) 10 Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL)

TEODORO, PECADOR PORTUGUÊS Ana Luísa Vilela (Univ. de Évora/ CLP/CEL/CIDEHUS) Grandes pecadores, os protagonistas queirosianos às vezes arrependem-se. Teodoro, narrador autodiegético do conto O Mandarim (1880), é um desses primeiros e raros arrependidos. Com ou sem arrependimento, o amanuense Teodoro, figura central de uma história exemplar de aprendizagem e cumprimento de um destino, é, provavelmente, o tipo dos tipos tanto da galeria das personagens de Eça de Queirós, como da dos pecadores humanos. Pretendo, nesta comunicação, abordar globalmente a personagem num duplo viés: como uma estrutura textual, integrada num contexto retórico-estilístico próprio e imersa num universo ficcional em que se misturam, quase inextricavelmente, as representações realista, estereotípica, irónica e fantástica; e como uma figura fortemente investida de valores simbólicos, sociais, filosóficos e antropológicos. ENTRE DIZER, DESDIZER E NÃO DIZER: AS TRAMAS ENUNCIATIVAS DE TEODORO E TEODORICO Ana Márcio Alves Siqueira (UFC) O presente trabalho busca analisar as estratégias de enunciação utilizadas pelos narradores-personagens de O mandarim e A relíquia Teodoro e Teodorico objetivando delinear de que modo os manejos discursivos presentes e a utilização de outros recursos estéticos, como a ironia e a paródia, contribuem para a ambiguidade dialógica das narrações. Pretendemos discutir também em que medida essas tramas enunciativas estão implicadas na construção dos perfis individualistas destes protagonistas sob o disfarce do discurso memorialista de intenção didática. ONDE ESTÁ ALI A VERDADE? O MANDARIM E A RELÍQUIA EXAMINADOS PELA CRÍTICA COEVA António Apolinário Lourenço (Universidade de Coimbra) Num texto publicado pouco depois da morte de Eça, Maria Amália Vaz de Carvalho classificou o autor de A Cidade e as Serras como um escritor submetido a «uma dualidade de influências mentais, que contrariou um pouco o voo livre e independente do seu génio». Via-o, no fundo, como um visionário e um fantasista doutrinariamente espartilhado, durante um período marcante da sua vida, pelo rigor analítico do realismo e 4

do naturalismo literários. Serão, então, O Mandarim e A Relíquia obras mais espontâneas e mais intelectualmente sinceras do que O Crime do Padre Amaro e O Primo Basílio? O objetivo central desta comunicação é a exposição e o questionamento da perplexidade da crítica contemporânea de Eça de Queirós, quando esperava A Capital e lhe saiu O Mandarim e quando ansiava pelos Maias e se lhe antecipou A Relíquia. ECOS MINEIROS: O MANDARIM E A RELÍQUIA NO SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS Cristiane Navarrete Tolomei (UFMA) Este trabalho apresenta a análise das publicações acerca dos romances O mandarim (1880) e A relíquia (1887), do autor português Eça de Queirós, na seção Ensaio, do Suplemento Literário de Minas Gerais, entre os anos de 1966 e 2016, verificando de que forma a crítica literária jornalística mineira, a respeito das obras queirosianas supracitadas, dialogou ou rompeu com a crítica queirosiana já estabelecida no período. Para a realização deste estudo, visitamos a coleção literária e cultural da Secretaria Estadual de Cultura, de Minas Gerais; a coleção de obras raras da biblioteca da Faculdade de Letras, da Universidade Federal de Minas Gerais; e consultamos a coleção eletrônica do Suplemento Literário de Minas Gerais. HERANÇA, VIAGEM E CONDIÇÃO DE CLASSE Danilo Silvério (USP) No correr do século XIX, conforme o historiador Arno J. Mayer e o sociólogo Norbert Elias, a ascendente burguesia emulava e valorizava o éthos aristocrático, a fim de participar da boa sociedade. Nesse sentido, o intuito da presente análise é identificar como esse processo se dá entre as personagens d A Relíquia, sobretudo entre Teodorico e D. Patrocínio, para, então, estabelecer uma relação necessária entre condição de classe e instrumentalização da moral cristã. As implicações dessa relação serão necessariamente observadas não só no instituto da herança, mas também no processo da viagem de Raposão à Terra Santa. 5

A RELÍQUIA E A VOCAÇÃO POLIFÔNICA OU UM ROMANCE ESTRANHO Giuliano Lellis Ito Santos (USP) A Relíquia, romance de Eça de Queirós, apresenta uma narrativa que, desde seu início, promete ser um contradiscurso da história, mais especificamente, um contradiscurso da Jerusalém passeada e comentada, cujo autor é amigo de viagem do narrador, Topsius, intimado, no prefácio do livro, a incluir em uma nova versão de sua obra o recheio dos embrulhos de papel pardo, elemento crucial da trama do romance e fundamental para entendermos o destino do narrador. A forma como a narrativa está organizada e algumas alegações de Teodorico permite-nos refletir sobre a vocação polifônica desse romance. TUDO O QUE TENHO NO SACO - EÇA E OS MAIAS Isabel Pires de Lima (Universidade do Porto) Procurar-se-á apresentar a exposição - TUDO O QUE TENHO NO SACO - EÇA E OS MAIAS - a ser inaugurada na Fundação Calouste Gulbenkian (29.11.08), nascida de uma parceria entre aquela Fundação e a Fundação Eça de Queiroz, a qual visa assinalar a efeméride relativa à passagem dos 130 anos da publicação de Os Maias (1888). O romance constituirá o pivot central de cada um dos 7 núcleos que a exposição comportará, pese embora seja dada uma atenção cuidada ao conjunto da obra de Eça de Queirós, a partir de uma abordagem mais ou menos detalhada das várias obras ficcionais do autor (em especial as romanescas), as quais vão entrando pontualmente em diálogo com a obra cronística e com a vasta epistolografia. A exposição assume-se como uma exposição temática que visa uma aproximação a Os Maias enquanto romance charneira no que à interrogação do realismo diz respeito e à obra de Eça de Queirós a partir da singularidade da sua prática realista, na diversidade de facetas que comporta e no diálogo que não rejeita com um esteticismo de artiste. Será privilegiada esta temática em função da sua centralidade na abordagem que os estudantes do ensino secundário um dos públicos alvos da exposição são levados a fazer do romance. Será também dada atenção à biografia de Eça de Queirós, privilegiandose a iconografia e contemplando as geografias física e ficcional do escritor. Tratando-se de uma exposição que não pretende ter um carácter documental, será dada grande relevância à imagem fotografia, pintura escultura, fotogramas e excertos de filmes, caricaturas, lustrações, gravuras, reprodução de capas de livros, etc. Não se deixará, porém, de apresentar alguns documentos bibliográficos de relevo e documentos originais de natureza diversa nomeadamente epistolográfica. Uma larga atenção será 6

dada à palavra do escritor que adensará constantemente a leitura da exposição pelos visitantes dispostos a uma visita mais alongada. O INSÓLITO EÇA Jean Carlos Carniel (UNESP/FAPESP) Proponho, nesta comunicação, lançar algumas reflexões sobre o insólito n O Mandarim (1880) e n A relíquia (1887), tendo em vista as produções iniciais de Eça de Queirós, publicadas na década de 1860 e reunidas postumamente em Prosas Bárbaras (1903). Pretendo mostrar que Eça faz uso de elementos do insólito, desde o início de sua carreira, e essa característica irá permanecer em obras posteriores, como nas duas em questão. Além disso, como procurarei defender, o insólito é um meio que Eça utiliza, tanto em seus textos iniciais quanto no restante de sua produção, para fazer a crítica social. O MANDARIM E O (NÃO) DIÁLOGO ENTRE OCIDENTE E ORIENTE José Carvalho Vanzelli (USP) Esta comunicação intenciona apresentar nossa leitura da novela O Mandarim (1880), em que buscamos evidenciar a originalidade deste texto queirosiano no que tange o debate das relações Ocidente-Oriente na Europa do final do século XIX. Embora não seja difícil identificar aspectos da renomada teoria de Edward Said na obra em questão, pretendemos indicar como a teoria do autor de Orientalism (1978), apesar de muito válida, não deve ser usada como único recurso para se entender o orientalismo queirosiano, uma vez que, cremos, o autor de O Primo Basílio (1878), em muitos momentos, vai além do que foi defendido por Said um século mais tarde. A RECUSA DOS ROMÂNTICOS E A ADESÃO DOS REALISTAS: CAMILO, EÇA E O FANTÁSTICO NO SÉCULO XIX PORTUGUÊS Luciene Marie Pavanelo (UNESP) Durante o chamado período romântico, vários autores lançaram mão da sátira às histórias de fantasmas, tais como António Feliciano de Castilho (Mil e um Mistérios, de 1845), Camilo Castelo Branco (O Lobisomem, de 1850) e Rebelo da Silva (A Casa dos Fantasmas, de 1865-1866). A obra de Camilo, cujas narrativas de horror se restringem a crimes e cadáveres, é um exemplo da recusa dos românticos em aceitar o sobrenatural. 7

Serão os chamados escritores realistas, por outro lado, que escreverão de fato narrativas fantásticas em Portugal, tais como Teófilo Braga (Contos Fantásticos, 1865) e Eça de Queirós (nos contos reunidos em Prosas Bárbaras), na década de 1860, e depois na década de 1880, Fialho de Almeida e Eça, com O Mandarim. É nosso objetivo, nesta comunicação, tecer algumas reflexões sobre o fantástico produzido em Portugal no século XIX, a fim de compreender a publicação de O Mandarim, mostrando que essa obra não estaria tão deslocada de seu momento histórico. TEODORICO EM DIÁLOGO COM O LEITOR: PACTOS DE LEITURA E LEGITIMAÇÃO DO DISCURSO Marcio Jean Fialho de Sousa (UNIMONTES) A caracterização do discurso literário tem como base, essencialmente, a ambiguidade e a ficcionalidade, porém quando esses elementos estão dispostos no discurso de Eça de Queirós e, além disso, estão na escrita cujo narrador se constrói em primeira pessoa, como em A Relíquia, estes elementos ganham novas formas, novos desafios de interpretação. Desse modo, o objetivo desta comunicação é analisar a construção do discurso memorialístico, buscando evidenciar aspectos importantes para o estabelecimento de contratos de leitura no binômio narrador-leitor, no qual o narrador busca legitimar as histórias por ele narradas. HISTÓRIA DE UMA RELÍQUIA Maria Eduarda Borges dos Santos (Instituto Politécnico de Castelo Branco) A relíquia, romance queirosiano de 1887, constituiu, para Eça, simultaneamente uma intermitência e um estímulo para a composição da sua obra maior que foram Os Maias. No atual estudo, propomo-nos mencionar episódios e reflexões que possam ter contribuído não apenas para a génese d A relíquia - que se destaca pela observação irónica, caldeada pela fantasia, do modus vivendi religioso e burguês na Lisboa do século XIX -, mas de igual modo para sobrevida da personagem. Que papel terão tido as Farpas escritas com Ramalho Ortigão, a correspondência trocada com familiares, amigos e editores ou a viagem ao Oriente para a conformação dos ideais éticos e estéticos do autor e para a fortuna crítica do romance? 8

TEODORICO RAPOSO E OUTROS Maria Eduarda Vassallo Pereira (Universidade de Lisboa) Teodorico Raposo é a personagem que desempenha simultaneamente os papéis de herói e de narrador de um romance de Eça de Queiroz, A Relíquia. No exercício das suas funções como narrador, Teodorico assemelha-se a outros narradores queirosianos e particularmente àqueles que manifestam dificuldades de interpretação dos factos que apresentam, com a consequência de que fazem juízos de valor que se revelam erróneos sobre as personagens que por eles constroem. Como nota Óscar Lopes, «este romance autodiegético [A Relíquia] acaba por ganhar um certo jeito típico dos romances homodiegéticos ou testemunhais» que «desenvolvem-se, em geral, como paródia de um género clássico, o panegírico biográfico» (Lopes, 1994). É a semelhança apontada por Óscar Lopes que pretendo observar, considerando os narradores de «Memórias e Notas», texto introdutório de A Correspondência de Fradique Mendes, e A Cidade e as Serras. Fazê-lo permite-me ter em conta, com a questão do narrador, a da construção da personagem de Teodorico e a da inverosimilhança psicológica e narrativa do sonho sobre a Paixão de Cristo que lhe é atribuído. A PSICOLOGIA DO PROTAGONISTA EM O MANDARIM E EM A RELÍQUIA Orlando Grossegesse (Universidade do Minho) A autossatisfação egoísta imoral de Teodoro, quem através de um simples toque de campainha mata o mandarim para poder alcançar a vida luxuosa com que sempre sonhara, reaparece na romaria hipócrita de Teodorico, empreendida para ganhar a herança da tia despótica. O denominador comum entre os protagonistas subalternos e medíocres de O Mandarim (1880) e A Relíquia (1887), caracterizados pela inércia e frustração, é a sua decisão para uma ação que entra em conflito com a moralidade. Faremos uma abordagem desta semelhança a partir da discussão coeva da filosofia do inconsciente (Eduard von Hartmann) e do diletantismo, tendo em conta a leitura, por parte de Eça, de Essais de psychologie contemporaine (1883) de Paul Bourget que se reflete diretamente no segundo romance. 9

O CETICISMO DE EÇA N O MANDARIM (1880) E EM A RELÍQUIA (1887) Silvio Cesar dos Santos Alves (UEL) Em carta de 1878, Eça afirmava a Ramalho Ortigão estar passando por uma crise intelectual. A causa era o fato de não poder produzir por processo experimental. Em 1884, essa crise não estava resolvida e, em nova carta, agora dirigida a Oliveira Martins, Eça novamente reclamava de não poder criar por meio da observação, vendo, por isso, a sua probidade de artista ameaçada. Da primeira carta até A Relíquia (1887), passando pela publicação (1880), pela tradução francesa e pela famosa carta-prefácio de O Mandarim (1884), são quase dez anos em que Eça se vê à deriva no mar aberto do niilismo europeu finissecular. Para não naufragar, ele se agarraria à prancha do ceticismo. Essas duas novelas foram formas encontradas por Eça de representar a contradição e de suspender o juízo, mantendo-se, com isso, intelectualmente vivo, como tentarei demonstrar em meu trabalho. 10

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