ISSN EDIÇÃO ESPECIAL RUMO À CONAE 2014

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Transcrição:

ISSN 1982-0283 EDIÇÃO ESPECIAL RUMO À CONAE 2014 Ano XXIII - Março 2013

EDIÇÃO ESPECIAL: RUMO À CONAE 2014 A Conae e a construção de políticas de Estado: desafios e perspectivas... 3 Luiz Fernandes Dourado

Edição especial Rumo à Conae 2014 A Conae e a construção de políticas de Estado: desafios e perspectivas Luiz Fernandes Dourado 1 EDUCAÇÃO E POLÍTICAS EDUCACIONAIS: DESAFIOS ESTRUTURAIS E CONJUNTURAIS A educação é entendida como um direito social fundamental e sua efetivação se dá em um contexto caracterizado como um campo de disputas de concepções e projetos e, portanto, demarcado por posições políticas não apenas diferentes, mas substantivamente contraditórias. Isso significa dizer que a educação é um ato político que expressa diferentes concepções e, não por acaso, as políticas educacionais, na qualidade de políticas públicas, traduzem tais disputas. É fundamental, ainda, ressaltar que tais políticas expressam os limites e possibilidades resultantes das condições sociais mais amplas que configuram a sociabilidade capitalista (DOURADO, 2010). Assim, esse campo de disputas se constrói por meio de desafios aos limites estruturais e conjunturais que expressam a relação sociedade e educação. Nos últimos anos, temos vivenciado no Brasil alterações importantes na arena educacional. Nesse cenário, a efetivação de conferências de educação tem assumido um protagonismo importante, ao possibilitar debates, proposições e deliberações de setores da sociedade civil e política, com o desejo de construir políticas educacionais como políticas de Estado, com vistas à otimização e à melhoria dos processos de planejamento e de gestão envolvendo os diferentes níveis e modalidades da educação nacional, em busca de uma educação democrática e com qualidade como direito social para todos (DOURADO, 2011). As conferências na área educacional, com destaque para a I Conferência Nacional de Educação (Conae), realizada em 2010, bem como a instituição do Fórum Nacional de 3 1 Professor da Universidade Federal de Goiás. Consultor da edição especial.

Educação (FNE), cumprem, assim, um importante papel para a superação da tradição histórica brasileira, que indica que as políticas educacionais têm sido marcadas hegemonicamente pela lógica da descontinuidade/ continuidade, por carência de planejamento de longo prazo e por políticas de governo, em detrimento da construção coletiva, pela sociedade brasileira, de políticas de Estado. municipais, regionais, estaduais e distrital, ocorreu a I Conferência Nacional de Educação (Conae), resultante da articulação entre o Governo Federal, por meio do MEC, que efetivou o processo, e a sociedade civil. Essas conferências mobilizaram uma parcela da sociedade brasileira em vários municípios de todo o país, para discussão e deliberação sobre as políticas educacionais. Nesse cenário, marcado por desigualdades sociopolíticas, culturais e econômicas, alguns avanços na democratização das políticas educacionais têm sido propostos e, em alguns casos, efetivados. Tal perspectiva alerta-nos para a complexa relação entre proposição e materialização de políticas, seus limites e possibilidades históricas, bem como para a necessária efetivação de políticas de Estado que traduzam a participação ampla da sociedade brasileira. Portanto, na arena educacional devem ser consideradas as condições sociopolíticas e culturais, a legislação (regulamentação), o quadro complexo e desigual em que se efetivam as políticas e, ainda, as diferentes formas de regulação que interferem na materialização das políticas e que resultam da ação de vários atores, institucionais ou não (professores, estudantes, pais, gestores, sindicatos...). A CONAE COMO ESPAÇO DE MOBILIZAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E DELIBERAÇÃO COLETIVAS Em 2010, após a realização de conferências O documento final da Conae ressalta a abrangência da conferência, ao destacar que (...) a Conferência Nacional da Educação (Conae), realizada no período de 28 de março a 1º de abril de 2010, em Brasília- DF, constituiu-se num acontecimento ímpar na história das políticas públicas do setor educacional no Brasil e contou com intensa participação da sociedade civil, de agentes públicos, entidades de classe, estudantes, profissionais da educação e pais/mães (ou responsáveis) de estudantes. Ao todo foram credenciados/as 3.889 participantes, sendo 2.416 delegados/as e 1.473, entre observadores/as, palestrantes, imprensa, equipe de coordenação, apoio e cultura. As conferências municipais, intermunicipais, distrital e estaduais que a precederam reuniram também diferentes segmentos, setores e profissionais interessados na melhoria da qualidade da educação brasileira, a partir do tema central: Construindo o Sistema Nacional Articulado de Educação: o Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação 4

(BRASIL, 2010a, p. 10). O documento final da Conae assinala, ainda, que a mobilização social se constituía em demanda histórica da sociedade e que a conferência destacou cinco desafios a serem enfrentados na área educacional: A Conferência Nacional de Educação teve como objetivo maior a mobilização social em prol da educação demanda histórica da sociedade civil organizada, especialmente das entidades representativas do setor educacional. É a partir desse compromisso que os documentos produzidos durante o processo relacionam pelo menos cinco grandes desafios que o Estado e a sociedade brasileira precisam enfrentar: a) Construir o Sistema Nacional de Educação (SNE), responsável pela institucionalização da orientação política comum e do trabalho permanente do Estado e da sociedade para garantir o direito à educação. b) Promover de forma permanente o debate nacional, estimulando a mobilização em torno da qualidade e valorização da educação básica, superior e das modalidades de educação, em geral, apresentando pautas indicativas de referenciais e concepções que devem fazer parte da discussão de um projeto de Estado e de sociedade que efetivamente se responsabilize pela educação nacional, que tenha como princípio os valores da participação democrática dos diferentes segmentos sociais e como objetivo maior a consolidação de uma educação pautada nos direitos humanos e na democracia. c) Garantir que os acordos e consensos produzidos na Conae redundem em políticas públicas de educação, que se consolidarão em diretrizes, estratégias, planos, programas, projetos, ações e proposições pedagógicas e políticas, capazes de fazer avançar a educação brasileira de qualidade social. d) Propiciar condições para que as referidas políticas educacionais, concebidas e efetivadas de forma articulada entre os sistemas de ensino, promovam: o direito do/da estudante à formação integral com qualidade; o reconhecimento e valorização à diversidade; a definição de parâmetros e diretrizes para a qualificação dos/das profissionais da educação; o estabelecimento de condições salariais e profissionais adequadas e necessárias para o trabalho dos/das docentes e funcionários/as; a educação inclusiva; a gestão democrática e o desenvolvimento social; o regime de colaboração, de forma articulada, em todo o País; o financiamento, o acompanha- 5

mento e o controle social da educação; e a instituição de uma política nacional de avaliação no contexto de efetivação do SNE. e) Indicar, para o conjunto das políticas educacionais implantadas de forma articulada entre os sistemas de ensino, que seus fundamentos estão alicerçados na garantia da universalização e da qualidade social da educação em todos os seus níveis e modalidades, bem como da democratização de sua gestão (BRASIL, 2010a, p. 12-13). Após a realização da I Conae, foi criado o Fórum Nacional de Educação (FNE), congregando as diversas entidades que participaram da construção da conferência. O FNE, considerando a importância política das conferências de educação, aprovou a realização da II Conae para fevereiro de 2014, sendo esta precedida por conferências livres, municipais, intermunicipais, estaduais e distrital ao longo de 2013. O FNE, considerando a sua efetiva atuação na tramitação do Plano Nacional de Educação no Congresso Nacional, por meio de emendas e notas públicas, e as deliberações da I Conferência Nacional, com ênfase para a construção do sistema nacional de educação (SNE), aprovou para a II Conae a seguinte temática central: O PNE na Articulação do Sistema Nacional de Educação: Participação Popular, Cooperação Federativa e Regime de Colaboração. Esta temática central se desdobra no seguinte objetivo geral da conferência propor a Política Nacional de Educação, indicando responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições concorrentes, complementares e colaborativas entre os entes federados e 6 os sistemas de ensino (BRASIL, 2012, p. 3). Foram definidos pelo FNE como objetivos específicos para a II Conae: 1. Acompanhar e avaliar as deliberações da Conferência Nacional de Educação/2010, verificando seu impacto e procedendo às atualizações necessárias para a elaboração da Política Nacional de Educação. 2. Avaliar a tramitação e a implementação do PNE na articulação do Sistema Nacional

de Educação (SNE) e no desenvolvimento das políticas públicas educacionais (BRASIL. 2012, p. 4). Para atingir os objetivos previstos, as conferências terão sete eixos temáticos, a saber: Eixo I O Plano Nacional de Educação e o Sistema Nacional de Educação: organização e regulação. Eixo II Educação e Diversidade: justiça social, inclusão e direitos humanos. Eixo III Educação, Trabalho e Desenvolvimento Sustentável: cultura, ciência, tecnologia, saúde, meio ambiente. Eixo IV Qualidade da Educação: democratização do acesso, permanência, avaliação, condições de participação e aprendizagem. Eixo V Gestão Democrática, Participação Popular e Controle Social. Eixo VI Valorização dos Profissionais da Educação: formação, remuneração, carreira e 7 condições de trabalho. Eixo VII Financiamento da Educação: gestão, transparência e controle social dos recursos. As temáticas dos eixos se articulam e têm uma concepção comum de educação e, desse modo, sem perder princípios e concepções transversais, cada um dos eixos aprofunda políticas fundamentais para a área educacional, abordando aspectos relativos: 1) à organização e à regulação da educação, tendo por eixo uma concepção de regime federativo colaborativo, que possibilite a efetiva institucionalização do SNE e do PNE, como políticas de Estado; 2) a relação entre Educação e Diversidade, enfatizando, de maneira articulada, a necessária efetivação da justiça social, inclusão e garantia dos direitos humanos; 3) a relação entre Educação, Trabalho e Desenvolvimento Sustentável, cuja visão ampla articula-se ao estabelecimento de políticas intersetoriais envolvendo proposições, programas e ações em cultura, ciência, tecnologia, saúde e meio ambiente; 4) Qualidade da Educação socialmente referenciada, direcionada à democratização do acesso, à permanência, à avaliação, às condições de

participação e à aprendizagem nos diferentes níveis, etapas e modalidades da educação; 5) Concepção de Gestão Democrática, cuja base constitutiva assenta-se na efetiva garantia de participação popular, bem como na efetivação de mecanismos de controle social nas diferentes instâncias educativas; 6) concepção ampla de valorização dos profissionais, a partir da garantia articulada de formação inicial e continuada, remuneração adequada, carreira e condições efetivas de trabalho para todos os profissionais da educação; 7) discussão sobre o financiamento da educação, envolvendo questões como necessidade de ampliação dos recursos para a educação, bem como a melhoria nos processos de gestão, transparência e controle social dos recursos. Assim, segundo o Documento-Referência, tendo por diretriz a temática central, (...) os eixos buscam orientar a formulação de políticas de Estado para a educação nacional, nos diferentes níveis, etapas e modalidades, em consonância com as lutas históricas e debates democráticos, construídos pela sociedade civil organizada, pelos movimentos sociais e pelo governo, tomando como referência e ponto de partida as deliberações da I Conae/2010, na garantia da educação como bem público e direito social, resultado da participação popular, cooperação federativa e do regime de colaboração (BRASIL, 2012, p. 4). Nessa direção, é apresentada a indicação de proposições e estratégias, visando atingir os objetivos propostos. Assim, O documento apresenta, ainda, após cada eixo temático, um quadro com proposições e estratégias, indicando as responsabilidades, corresponsabilidades, atribuições concorrentes, complementares e colaborativas entre os entes federados (União, estados, DF e municípios), tendo por princípios a garantia da participação popular, a cooperação federativa e o regime de colaboração. Espera-se que essas indicações contribuam para o planejamento e organicidades das políticas, especialmente para a elaboração, acompanhamento e avaliação dos planos de educação pelos entes federados. É fundamental ressaltar que as proposições e estratégias relativas à ação da União foram subdivididas em duas dimensões: 1) proposições e estratégias da União em função das competências e do exercício da função normativa, redistributiva e supletiva em relação às demais instâncias educacionais e 2) aquelas relativas ao sistema federal. Essas competências aparecem no quadro com a ordem numérica onde 1) se refere à ação da União face ao conjunto dos sistemas de ensino e 2) às relativas ao sistema federal. Em alguns casos, 8

as proposições e estratégias se efetivam nas duas dimensões. No caso do Distrito Federal, há atribuições e competências correspondentes às de estado e município (BRASIL, 2012, p. 4). Ressalta, ainda, a necessidade de ampla divulgação, disseminação e debate do Documento-Referência, buscando assegurar participação efetiva na II Conae: A ampla divulgação, disseminação e debate deste Documento-Referência servirá de base e subsídio para o documento a ser objeto de discussão e deliberação coletiva pelos delegados da II Conae. Espera-se que o Documento levado à II Conae possa contribuir para o estabelecimento, consolidação e avanço das políticas de educação. O processo de mobilização da sociedade nos municípios, DF e estados, bem como em outras iniciativas democráticas, deve tomar como forma de organização as conferências livres, municipais, distrital e estaduais, buscando assegurar uma participação mais estruturada e a maior representatividade social na II Conae (BRASIL, 2012, p. 4). Assim, a participação ampla e as concepções de educação, inclusão e democratização são apresentadas como fundamentais para a efetivação do SNE, PNE e a instituição de novos marcos legais para a educação: É com base na participação das diversas etapas constitutivas da II Conae que este Documento-Referência expressa uma concepção ampla de educação, que busca articular a educação em seus níveis, etapas e modalidades com os processos educativos ocorridos fora do ambiente escolar, nos diversos espaços, momentos e dinâmicas da prática social. Espera-se que a garantia do acesso e permanência de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos nas instituições brasileiras se torne uma realidade; que o respeito e a valorização à diversidade prevaleçam, ampliando a democratização da gestão, e que se constituam em fundamentos para a criação e consolidação do SNE, do PNE e de novos marcos legais que melhor determinem a relação de cooperação e colaboração entre os entes federados (BRASIL, 2012, p. 4). O Documento-Referência e sua discussão, incluindo as proposições e as deliberações do texto aprovadas nas conferências estaduais e distrital, é fundamental para a construção de políticas de Estado na área educacional, (...) em que, de maneira articulada, níveis, etapas e modalidades da educação, em sintonia com os marcos legais e ordenamentos jurídicos (Constituição Federal de 1988, LDB/1996, PNE, dentre outros), expressem a materialização do direito social à educação, com qualida- 9

de social para todos/as. Esta perspectiva implica, ainda, a garantia de interfaces das políticas educacionais com outras políticas sociais, em um momento em que o Brasil avança na promoção do desenvolvimento com inclusão social e realiza sua inserção soberana no cenário mundial (BRASIL, 2012, p. 4). Outras concepções e políticas ratificadas no documento, como base para a garantia do direito à educação para todos, referem-se (...) a centralidade conferida à garantia e extensão do direito para todos, com especial realce para a educação obrigatória de quatro a 17 anos, a ser universalizada até 2016, se afirma na instituição do SNE como forma de organização da educação no âmbito do Estado brasileiro, e no PNE como forma de planejamento e de articulação das políticas e das ações correspondentes, tendo por princípio a garantia do direito à educação com qualidade social; do Estado Federativo por cooperação; da gestão democrática, do controle social, da participação social e popular, da valorização dos profissionais da educação, da avaliação e do regime de colaboração entre sistemas de ensino. A garantia do direito à educação para todos/as deve se afirmar nas diretrizes, medidas legislativas, metas e estratégias aprovadas no PNE e, sobretudo, nos princípios, finalidades, ordenamento jurídico-normativo, ações político-administrativas por meio do SNE, entendido como mecanismo articulador do regime de colaboração no pacto federativo, que preconiza a unidade nacional, respeitando a autonomia dos entes federados (BRASIL, 2012, p. 4). Todas essas questões e enfoques vão descortinando desafios no sentido de consolidação das conferências de educação e do Fórum Nacional de Educação como atores coletivos de grande importância no processo de participação e democratização da educação brasileira. CONSIDERAÇÕES FINAIS A II Conferência Nacional de Educação encontra-se em andamento, por meio das conferências que a antecedem em 2013. Nesse sentido, é fundamental garantir a participação ampla, bem como a discussão pormenorizada do Documento-Referência pelos interessados, participantes e delegados nos diversos momentos e espaços pois, só assim, com base nas deliberações das conferências estaduais e distrital, poder-se-á avançar na construção coletiva do documento final da II Conae a ser objeto de discussão e deliberação coletivas, na cidade de Brasília, em fevereiro de 2014. A expectativa é de que essa ampla participação resulte em ações político-pedagógicas 10

que interfiram, ainda mais, na cultura dominante nas políticas educacionais, ainda predominantemente restritas à dimensão governamental, visando à instituição de políticas de Estado que traduzam as lutas da sociedade brasileira por uma educação inclusiva, democrática, de qualidade social para todos na educação básica e superior, bem como nas diferentes modalidades educativas. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Construindo o sistema nacional articulado de educação: o Plano Nacional de Educação, diretrizes e estratégias de ação. Documento final da CONAE 2010. Brasília, DF: MEC, 2010a. Disponível em: <http://conae.mec.gov.br/images/stories/pdf/ pdf/documentos/documento_final.pdf>. Acesso em: mar. 2013.. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 8.035, de 20 de dezembro de 2010. Aprova o Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 e dá outras providências. Câmara dos Deputados, Atividade Legislativa, Projetos de Lei e Outras Proposições, 2010b. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesweb/ fichadetramitacao?idproposicao=490116>. Acesso em: mar. 2013.. Ministério da Educação. Portaria nº 1.407, de 14 de dezembro de 2010. Institui o Fórum Nacional de Educação FNE. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 16 dez. 2011.. Ministério da Educação. O PNE na articulação do sistema nacional de educação: participação popular, cooperação federativa e regime de colaboração. Documentoreferência da CONAE 2014. Brasília, DF: MEC, 2012. Disponível em: <http://fne.mec.gov.br/images/pdf/documentoreferenciaconae2014versaofinal.pdf>. Acesso em: mar. 2013. DOURADO, Luiz Fernandes. Avaliação do Plano Nacional de Educação 2001-2009: questões estruturais e conjunturais de uma política. Educação e Sociedade, Campinas, v. 31, n. 112, p. 677-705, jul./set. 2010. 11

(Org.). Plano Nacional de Educação (2011-2020): avaliação e perspectivas. 2. ed. Goiânia: UFG; Belo Horizonte: Autêntica, 2011. A edição especial Rumo à Conae 2014 que acontecerá no programa Salto para o Futuro/ TV Escola no dia 20 de março de 2013, às 19 horas, tem como proposta apresentar um debate especial, ao vivo, sobre a II Conferência Nacional de Educação a Conae, evento que será realizado em Brasília, entre os dias 17 e 21 de fevereiro de 2014. Desde novembro de 2012 já ocorrem encontros regionais preparatórios, que vão se estender durante todo o ano de 2013. Os eventos têm mobilizado profissionais de educação e organizações da sociedade civil em todos os estados do país. A Conae é um espaço aberto pelo Poder Público para que todos possam participar dos debates em torno do desenvolvimento da educação nacional. São discutidos temas e traçadas ações para todos os segmentos do Ensino Fundamental, além do ensino superior e da pós-graduação. 12

Presidência da República Ministério da Educação Secretaria de Educação Básica TV ESCOLA/ SALTO PARA O FUTURO Supervisão Pedagógica Rosa Helena Mendonça Acompanhamento pedagógico Grazielle Avellar Bragança Coordenação de Utilização e Avaliação Mônica Mufarrej Fernanda Braga Copidesque e Revisão Magda Frediani Martins Diagramação e Editoração Equipe do Núcleo de Produção Gráfica de Mídia Impressa TV Brasil Gerência de Criação e Produção de Arte 13 Consultor especialmente convidado Luiz Fernandes Dourado E-mail: salto@mec.gov.br Home page: www.tvbrasil.org.br/salto Rua da Relação, 18, 4o andar Centro. CEP: 20231-110 Rio de Janeiro (RJ) Março 2013