A NATUREZA CONSTITUCIONAL DA RECLAMAÇÃO PARA O STF. A reclamação para o STF possui natureza constitucional.

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Transcrição:

DAESCIO LOURENÇO BERNARDES DE OLIVEIRA A NATUREZA CONSTITUCIONAL DA RECLAMAÇÃO PARA O STF A reclamação para o STF possui natureza constitucional. Inicialmente, devemos entender o que define atividade jurisdicional. Pois bem, a jurisdição é uma das funções do Estado, executada por um órgão específico (Estado-juiz), que aplica a norma geral e abstrata em um caso concreto, a fim de que seja substituída a vontade do cidadão pela do Estado-juiz. Sabe-se que a jurisdição é formada pelos seguintes elementos: a) notio, que é a aptidão que o Estado confere ao magistrado para conhecer determinadas causas, que lhe sejam submetidas ao exame; b) vocatio, que consiste no poder de fazer vir a juízo qualquer cidadão que possa, de alguma forma, colaborar para firmar o convencimento do magistrado em relação a determinado processo; c) coertio, que é o poder de fazer respeitar como membro do poder judiciário e reprimir condutas ofensivas ao exercício da jurisdição e; d) judicium, que é o poder de julgar, de decidir a lide posta sob o seu exame. Assim como na geologia define-se uma rocha pela existência de seus elementos, através da sua estratificação, para definir a jurisdição há necessidade dos elementos mencionados (notio,

vocatio, coertio e judicium). Sem a existência desses elementos não há atividade jurisdicional. De qualquer forma, a principal característica da atividade jurisdicional é justamente é a atividade substitutiva, porque o Estado-juiz remove a situação-obstáculo que o cidadão não pode, por si só, remover. Estabelecidos os elementos que caracterizam a atividade jurisdicional, há necessidade fazer alguns comentários sobre a natureza jurídica da reclamação, que é o direito de petição. A reclamação não tem natureza de ação, recurso, nem incidente processual. Sua natureza jurídica é de direito constitucional de petição previsto no artigo 5º, inciso XXXIV da Constituição Federal, pelo qual o cidadão ou cidadã se dirige ao Poder Público visando à defesa de direito ou ao combate da ilegalidade ou abuso do poder. A reclamação não é ação, porque nela não se vai discutir a causa com um terceiro, não é recurso, porque a relação processual já está encerrada, nem se pretende reformar a decisão, mas antes garanti-la. Na reclamação postula-se perante o próprio órgão que proferiu uma decisão o seu exato e integral cumprimento, ou seja, ela preserva a competência do tribunal e garante a autoridade de suas decisões. O direito de petição pode assumir a forma de queixa, denúncia reclamação etc. Através da reclamação, comunica-se ao órgão prolator da decisão do descumprimento desta, para vir-se, coercitivamente, a tornar eficaz o que nela se contém. O instituto da reclamação foi uma construção jurisprudencial constitucionalizada pela Carta Magna de 1988, onde expressamente foi atribuída a competência para o STF e STJ para o seu processamento e julgamento. Tanto no STF como no STJ a reclamação visa preservar suas competências e garantir a autoridade de suas decisões, bem como preserva suas competências diante de eventual usurpação por parte de outros órgãos jurisdicionais. A diferença entre a reclamação no STF e a no STJ está apenas na matéria, pois seu conteúdo será aquele da competência de cada tribunal.

Sendo o STF o guardião da Constituição Federal, a reclamação proposta perante o STF terá um plus, que é a garantia de sua competência de guardião da Constituição e a garantia de suas decisões que visam a preservação e garantia da Constituição. Ou seja, a diferença entre a reclamação proposta perante o STF e os outros tribunais será apenas no tocante a matéria, pois o conteúdo da reclamação vai variar conforme varia a competência de cada tribunal. O STJ, sendo o guardião da legislação federal, por conseqüência, a reclamação proposta perante esse tribunal terá como conteúdo as matérias de sua competência, especialmente a preservação da legislação federal. Por sua vez, a reclamação proposta perante os Tribunais de Justiça perante como conteúdo a preservação da Constituição Estadual e de todas duas decisões de suas competência. Ou seja, a única diferença ente a reclamação proposta perante o STF e os outros tribunais será o seu conteúdo, que varia conforme a competência de cada tribunal. No mais, não há diferença entre elas. A natureza jurídica da reclamação é de direito de petição e não de ação, recurso ou incidente processual. Sendo assim, não há que se falar que a matéria é processual e que deve ser legislada apenas pela União. procedimento. Isso não descaracteriza sua natureza jurisdicional, mas apenas a de ação processo ou mero Conforme já foi dito, o direito de petição é aquele em que o cidadão se dirige ao Poder Público visando à defesa de direito ou ao combate de ilegalidade ou abuso de poder, seja através da queixa, denúncia ou da própria reclamação. Na reclamação, o objetivo é assegurar a autoridade da decisão do tribunal e garantir sua competência. Através da reclamação é possível comunicar o tribunal prolator de uma decisão do descumprimento desta, para que, de forma coercitiva, tornar eficaz o que nela contém. Apesar da Constituição Federal não prever expressamente a competência dos Tribunais de Justiça para processar e julgar a reclamação, ela diz no artigo 125 que os Estados organizarão sua Justiça, observando os princípios da Constituição Federa; no parágrafo primeiro ainda é dito que a competência dos tribunais estaduais será definida pelas Constituições Estaduais, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa dos tribunais de Justiça.

Se há previsão na Constituição Estadual da reclamação perante o Tribunal de Justiça, não se pode falar em inconstitucionalidade. Há no a aplicação do princípio da simetria entre a Constituição Federal e a Estadual na atribuição ao tribunal para processar e julgar a reclamação, bem como o princípio da efetividade das decisões judiciais. A final, a reclamação evita a ofensa à autoridade de um julgado, evitando o caminho tortuoso e demorado dos recursos previstos na legislação processual, quando já há uma decisão definitiva, além de preservar a competência do Tribunal de Justiça diante de eventual usurpação por parte de juízo ou outro Tribunal local. Repita-se, então, que a reclamação para o STF tem natureza jurisdicional, sendo mais específico, seria uma jurisdição constitucional, haja vista que nessa modalidade de direito de petição a Constituição confere ao STF a aptidão para conhecer causas submetidas a seu exame, fazendo vir a juízo qualquer cidadão que possa colaborar para a formação da convicção dos magistrados, além de fazer-se respeitar e reprimir condutas ofensivas ao exercício da jurisdição, bem como julga a questão posta a seu exame. Ou seja, observa-se a presença dos elementos da jurisdição na reclamação perante o STF. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Roberto Moreira de. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Método, 2009. ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. V1. 12 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. ALVIM, José Eduardo Carreira. Teoria Geral do Processo. 13 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. CALMON, Petrônio. Fundamentos da mediação e da conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2008 CAPPELLETTI, Mauro. GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução de Ellen Gracie Nortfleet. Porto Alegre: Julio Fabris, 1988. CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e Competência. 17 ed. São Paulo: Saraiva, 2010. DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil. 8 ed. V. 1. Salvador: Juspodivum, 2007 DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. V.3 São Paulo:

Malheiros, 2009b. MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Processo Civil: Teoria Geral do Processo. V.1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. SILVA, Ovídio Baptista da; GOMES, Fábio. Teoria Geral do Processo Civil. 3 ed. rev e atual.são Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.