NÚCLEO DE ORIENTAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE Luiz Henrique Pimenta Fernandes 1 Edson Gonçalves Filho 2 Gabriel Silveira Rocha 3 Patrícia Bhering Fialho 4 Lourdiane G. das Mercês Gonzaga 5 Felipe Sergio Bastos Jorge 6 Anderson Marques da Silva 7 Ana Cecília Estevão 8
PALAVRAS-CHAVE: habitação de interesse social; NOS; sustentabilidade. 1. INTRODUÇÃO O crescimento urbano desordenado das cidades brasileiras, somado ao histórico de baixo investimento público em habitação, resultou na construção de moradias através da autoconstrução. Entendese por autoconstrução aquela que se desenvolve por iniciativa do próprio morador que, na maioria das vezes, realiza a obra através de um mutirão de amigos e familiares. Esse processo construtivo, de um modo geral, resulta em edificações com baixa tecnologia e não apresenta qualidade (ESTEVÃO, CARVALHO, 2010, p. 28). Neste cenário, o governo promulgou, em 2008, a lei 11.888, conhecida como a Lei da Assistência Técnica, que assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social. A lei 11.888/2008 prevê que a assistência técnica pode ser realizada através do munícipio ou por extensão universitária (BRASIL, 2008). 157 Este trabalho é o relato de uma experiência de pesquisa e extensão intitulada Núcleo de Orientação para a Sustentabilidade (NOS). O NOS é um grupo que busca integrar a investigação sobre a engenharia sustentável no meio acadêmico e na sociedade. Atualmente, muitas pesquisas são direcionadas às técnicas construtivas e tecnologias sustentáveis, bem como ao uso da arquitetura vernacular como alternativa viável para o alcance da sustentabilidade. Este projeto pretende estabelecer um mecanismo de integralização que veicule para a comunidade tais estudos, buscando sua adaptação à realidade do município e da comunidade atendida. Através da implantação de um escritório público de práticas de engenharia, os alunos atendem à comunidade direcionando as soluções com vistas ao desenvolvimento sustentável em todos os seus aspectos: ambiental, econômico e social. O projeto tem como público-alvo a
população com renda entre 0 e 3 salários mínimos, conforme prevê a Lei 11.888/08. E a edificação deve ter uso residencial sendo permitidos pequenos comércios para geração de renda da família. No entanto, após análise pela equipe social, são também atendidas famílias com renda de até 6 salários mínimos, se comprovada a vulnerabilidade social, e associações que prestam serviços à comunidade de baixa renda no município. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada pode ser dividida em quatro etapas: Ações de capacitação da equipe: nesta etapa, os alunos realizam pesquisas que formam o referencial teórico para o projeto. Este referencial pode ser organizado em quatro eixos principais, sendo eles: certificações ambientais como estratégia para o projeto sustentável; preservação do patrimônio histórico como estratégia para sustentabilidade urbana; acessibilidade em edificações e espaços de uso público, segundo a NBR 9050/15; e assistência técnica para habitação de interesse social. Diagnóstico urbano do município: esta etapa ocorre através da leitura técnica e da leitura comunitária do município, utilizando como referência a metodologia adotada na elaboração dos planos diretores participativos, após a aprovação do Estatuto das Cidades. A leitura técnica é realizada através de pesquisas em material impresso e digital bem como por mio de pesquisas junto aos órgãos municipais. A leitura comunitária acontece através de entrevistas com a população e reuniões junto às associações comunitárias. 158 Organização do Banco de Tecnologias Sustentáveis: são realizadas pesquisas sobre técnicas construtivas e tecnologias sustentáveis de baixo custo desenvolvidas pelas universidades no Brasil e no mundo. Com a devida referência, estas pesquisas são organizadas em formato de cartilhas que facilitem a sua execução
e posterior divulgação entre a comunidade atendida pelo projeto. São realizados testes de execução das tecnologias antes que as mesmas sejam utilizadas nos atendimentos. Atendimentos do escritório público: o atendimento engloba projetos, memorial descritivo das tecnologias sustentáveis e suas respectivas cartilhas de execução e manutenção e acompanhamento da obra. 3. DISCUSSÃO E RESULTADOS A ação inicial do projeto foi a capacitação da equipe. Foram realizadas reuniões periódicas com a tutoria das professoras-orientadoras. Durante estas reuniões, foi elaborado um questionário a ser aplicado no início do atendimento. A partir dele é possível diagnosticar o perfil da família a ser atendida, a situação de regularidade do lote e o programa de necessidades do projeto. Foram desenvolvidos modelos para o Diário de Obra, documento através do qual os gerentes registram as visitas à obra e o relatório semanal, documento no qual são registradas todas as atividades realizadas semanalmente pelos gerentes e projetistas. Em adição, o grupo criou o esquema organizacional do escritório público. Foi definido o cargo de gerente geral e cinco cargos de gerentes, todos ocupados por estudantes da graduação em engenharia civil. Cada gerente é responsável por um atendimento, assessorado por três projetistas, cargos ocupados por estudantes do nível técnico, sendo um de cada área de conhecimento (edificações, meio ambiente e eletrotécnica). O gerente geral realiza as ações de organização, relações externas, fiscalização e suporte para os cinco gerentes. O projeto realizou uma parceria com o Programa de Educação Tutorial da Engenharia Civil (PET Engenharia civil) e a equipe foi acrescida de mais oito gerentes com seus respectivos projetistas. 159 O grupo organizou como atividades de capacitação para a própria
equipe e alunos do CEFET-MG de um modo geral: palestra visando discutir a inclusão da pessoa surda no espaço construído; minicurso sobre Inspeção Predial e Gerenciamento do Risco em Habitações de Interesse Social e o I Fórum de Pesquisa e Extensão: acessibilidade um direito de todos. Foram iniciadas as revisões teóricas sobre os eixos temáticos propostos na metodologia do projeto. Estas revisões proporcionaram a produção de artigos com comunicação oral em sete eventos científicos e a aprovação de dois projetos de iniciação científica em edital interno do CEFET-MG. O diagnóstico urbano do município de Curvelo foi iniciado pela leitura técnica. Foram utilizadas como fontes de pesquisa o Censo do IBGE 2010 e uma base de dados de Curvelo e Microrregião disponibilizada pelas secretarias municipais de Administração, Políticas Sociais e Desenvolvimento Sustentável. Foram sintetizados dados referentes à história e destaques regionais, geografia, vegetação e clima, além de dados populacionais. Foram realizadas parcerias com um escritório de práticas jurídicas de uma faculdade da região e com uma equipe organizada pelo assistente social, técnico administrativo do CEFET, que conta com a adesão voluntária de uma assistente social. Buscou-se a parceria com a prefeitura municipal e CREA-MG para regularização das edificações com taxas diferenciadas por se tratarem de habitações de interesse social. Os responsáveis técnicos são os alunos que possuem formação de técnico em edificações ou o coorientador do projeto, que tem formação como arquiteto e urbanista. 4. CONCLUSÃO 160 O contato com a assistência técnica para habitação de interesse social contribui com a formação humana prevista do projeto político pedagógico do curso de engenharia civil. Os alunos relatam a satisfação profissional obtida através do atendimento às famílias que
necessitam de forma urgente da intervenção técnica para melhoria da qualidade de vida. E demonstram compreender os conceitos de moradia digna, sustentabilidade e construção sustentável, além de entender a importância do engenheiro na construção de cidades sustentáveis, especialmente em seu aspecto social. O escritório público NOS finaliza o ano de 2016 com nove atendimentos em andamento. Atualmente, a equipe conta com quinze alunos ocupando as funções de gerentes e estão em fase de seleção os projetistas para compor as novas equipes a serem formadas. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Lei 11.888, de 24 de dezembro de 2008. Assegura as famílias de baixa renda assistência técnica publica e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social e altera a Lei no. 11.124, de 16 de junho de 2005. Disponível em: < http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11888.htm >. Acesso em 05 de dezembro de 2016. ESTEVÃO, A. C.; CARVALHO, M. C. R. Assistência técnica para habitação de interesse social: o direito à moradia digna. In: Anais 54th IFHP World Congress 2010. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010. p. 28-28. NOTAS 1 Graduando em Engenharia Civil, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. luique_pf@hotmail.com. 2 Graduando em Engenharia Civil, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. edimcvo@gmail.com. 161 3 Graduando em Engenharia Civil, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. gabriel88rocha@hotmail.com.
4 Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Doutora, Professora do Curso Técnico de Edificações e do Curso Superior de Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente, CEFET- MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. patricia@curvelo.cefetmg.br (coorientadora). 5 Graduação em Engenharia Civil, Doutora, Professora do Curso Técnico de Edificações e do Curso Superior de Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. lourdiane@curvelo.cefetmg.br (coorientadora). 6 Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Técnico Administrativo, Departamento de Engenharia Civil e Meio Ambiente, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. felipebjorge@curvelo.cefetmg.br (coorientadora). 7 Graduação em Serviço Social, Mestre, Coordenador de Política Estudantil, Assistência Estudantil, CEFET-MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. andersonmarques@curvelo.cefetmg.br (coorientadora). 8 Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Mestre, Professora do Curso Técnico de Edificações e do Curso Superior de Engenharia Civil, Departamento de engenharia Civil e Meio Ambiente, CEFET- MG, Curvelo, Minas Gerais, Brasil. anacestevao@yahoo.com.br (coorientadora) AGRADECIMENTOS CEFET-MG, Diretoria de Extensão e Desenvolvimento Comunitário. 162