RESPONSABILIDADE PENAL DO PROFISSIONAL DE CONTABILIDADE NA LEI FALIMENTAR



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Transcrição:

RESPONSABILIDADE PENAL DO PROFISSIONAL DE CONTABILIDADE NA LEI FALIMENTAR Celso Marcelo de Oliveira SUMÁRIO: Introdução - 1. Evolução histórica da contabilidade - 2. Noções gerais sobre responsabilidade - 3. Responsabilidade dos profissionais de contabilidade no direito de empresas - 4. Responsabilidade do contabilista pela escrituração contábil - 5. Responsabilidade penal do perito judicial e do contador - 6. Responsabilidade penal do contabilista na nova legislação falimentar brasileira: 6.1. Fraude a credores; 6.2. Contabilidade paralela; 6.3. Violação de sigilo empresarial; 6.4. Divulgação de Informações falsas; 6.5. Indução a erro; 6.6. Omissão dos documentos contábeis obrigatórios. INTRODUÇÃO O estudo da responsabilidade penal do profissional de contabilidade é assunto de crescente interesse no meio jurídico contábil e reclama mais atenção dos estudiosos. Este interesse advém da amplitude do tema da responsabilidade no âmbito do novo Código Civil brasileiro, no Direito do Consumidor e da Legislação Falimentar. 1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA CONTABILIDADE A Contabilidade existe desde os primórdios da civilização e, durante um longo período, foi tida como a arte da escrituração mercantil. Utilizava técnicas específicas, que se foram aperfeiçoando e especializando, sendo algumas delas aplicadas até hoje. Não obstante a origem milenar da 1

contabilidade, identificada por historiadores como praticada em tempos remotos da civilização, embora deforma rudimentar e não sistematizada. O homem enriquecia, e isso impunha o estabelecimento de técnicas para controlar e preservar os seus bens. Aí se inicia a história da contabilidade que, segundo historiadores e estudiosos se divide em quatro períodos. 2. NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE O problema da responsabilidade surge intrinsecamente a toda manifestação da atividade humana por se tratar aquela de fato social ou, como fez Savatier, 1 como a obrigação que pode incumbir a uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outrem por fato próprio, ou pelo fato das pessoas ou das coisas que dela dependam. A noção de responsabilidade advém da própria origem da palavra, que vem do latim respondere, responder alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos. Essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, por meio de integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de justiça existente no grupo social, donde se infere que a responsabilização é a tradução, para o sistema jurídico, do dever moral de não prejudicar a outrem, ou seja, o neminem laedere. Assim, na interpretação de Washington de Barros Monteiro, em que o "ato jurídico é ato de vontade, que produz efeitos de direito; ato ilícito é também ato de vontade, mas que produz efeitos jurídicos independentemente da vontade do agente. O ato jurídico, segundo o Código Civil, é ato lícito, fundado em direito, enquanto o ato ilícito constitui delito, civil ou criminal, e, pois, violação à lei". 2 1 SAVATIER. Traité de la responsabilité civile em droit français. v. I, p. 1. 2 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 12. ed. São Paulo: Saraiva, v. II, 1977. 2

3. RESPONSABILIDADE DOS PROFISSIONAIS DE CONTABILIDADE NO DIREITO DE EMPRESAS É importante expor que no direito de empresas no Código Civil brasileiro é ampla a responsabilidade dos profissionais de contabilidade. O novo Código Civil brasileiro (Lei nº 10.406/02), que entrou em vigor em janeiro de 2003, possui uma parte especial intitulada como Livro II Do Direito da Empresa. 3 Os artigos referentes ao livro que tratam sobre o direito de empresa que disciplina sobre a vida do empresário e das empresas, com nova estrutura aos diversos tipos de sociedades empresariais contidas no novo Código Civil, possui como paradigma o Código Civil italiano. Traz profundas modificações no direito pátrio como, por exemplo, o fim da bipartição das obrigações civis e comerciais. Entre os artigos do Código que norteiam o exercício contábil, um dos mais importantes para a área é o de número 1.177, que trata da responsabilidade civil do contador. Ao produzir balanços, por exemplo, caso o erro cometido tenha sido praticado por imperícia, o contador responderá diretamente a quem solicitou o serviço. A situação evolui para processo penal se ficar provado que o profissional tinha conhecimento do erro ao divulgar o balanço. Neste caso, ele responderá à Justiça, assim como a outras entidades envolvidas. 4. RESPONSABILIDADE DO CONTABILISTA PELA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL A responsabilidade pela escrituração é do contabilista legalmente habilitado, ou seja, o contador ou o técnico em contabilidade registrado no Conselho Regional de Contabilidade do Estado em que se localiza a 3 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Tratado de direito empresarial brasileiro. Teoria geral do direito empresarial. Campinas: LZ, v. 1, 2004. 3

empresa. Sobre esta responsabilidade o art. 1.182 faz referência à limitação de responsabilidade do preponente: "Art. 1.182. Sem prejuízo do disposto no art. 1.174, a escrituração ficará sob a responsabilidade de contabilista legalmente habilitado, salvo se nenhum houver na localidade". Já o art. 1.174 estabelece que as limitações contidas na outorga de poderes, para serem opostas a terceiros, dependem do arquivamento e averbação do instrumento no Registro Público de Empresas Mercantis, salvo se provado serem conhecidas da pessoa que tratou com o gerente. Complementa o seu parágrafo único que, para o mesmo efeito e com idêntica ressalva, deve a modificação ou revogação do mandato ser arquivada e averbada no Registro Público de Empresas Mercantis. A elaboração dos respectivos demonstrativos oriundos da contabilidade, só poderão ser elaborados sob a responsabilidade técnica de contabilista (contador ou técnico em contabilidade) legalmente registrado no Conselho Regional de Contabilidade do respectivo Estado, que assinará os livros e peças contábeis. Esta exigência só será dispensada na hipótese de não haver este profissional habilitado. No que tange à escrituração contábil, temos na normatização que regulamenta a profissão contábil - Decreto-Lei nº 9.295, de 27.05.1946, onde: São considerados trabalhos técnicos de contabilidade: a) organização e execução de serviços de contabilidade em geral; b) escrituração dos livros de contabilidade obrigatórios, bem como de todos os necessários no conjunto da organização contábil e levantamento dos respectivos balanços e demonstrações; c) perícias judiciais ou extrajudiciais, revisão de balanços e de contas em geral, verificação de haveres, revisão permanente ou periódica de escritas, regulações judiciais ou extrajudiciais de avarias grossas ou comuns, assistência aos Conselhos Fiscais de sociedades anônimas e quaisquer outras atribuições de natureza técnica conferidas por lei aos profissionais de contabilidade. 4

5. RESPONSABILIDADE PENAL DO PERITO JUDICIAL E DO CONTADOR Importante ressaltar que os arts. 342 e 343 do Código Penal estão delineando a responsabilidade do perito judicial e do contador. O Código Penal, a partir de 28.08.2001, passa a ser grafado por força da Lei nº 10.268/01, que veio a alterar dispositivos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Assim, para Wilson Alberto Zappa, onde o art. 342 do Código Penal, em relação aos peritos é perfeita, especialmente pelo tratamento de igualdade dado aos peritos, a responsabilidade é igual para todos, portanto constitucional. Mas para o contador, a lei é inconstitucional, contrário ao art. 5º da Constituição, pois atribui responsabilidade e pena criminal para o contador e não para o técnico em contabilidade, quando estes, por força da lei, desenvolvem atividades iguais, como a escrituração e a elaboração de balanço e demais peças, em empresas que não tenham ações negociadas na Bolsa; o tratamento é discriminatório, que torna profano o novo texto; por lógica, todas as análises jurídicas devem ser feitas da Constituição para as demais normas legais. Para o técnico em contabilidade, resta a eventual utilização do dispositivo penal, por analogia à responsabilidade criminal do Contador. 4 6. RESPONSABILIDADE PENAL DO CONTABILISTA NA NOVA LEGISLAÇÃO FALIMENTAR BRASILEIRA A Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, que trata da nova Lei Falimentar brasileira, ampliou a responsabilidade penal do profissional de contabilidade, que devemos apreciar na seqüência do nosso trabalho. 5 4 HOOG, Wilson Alberto Zappa; PETRENCO, Solange Aparecida. Aspectos fundamentais da prova pericial contábil. Paraná: Juruá, 2001. 5 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Comentários à nova Lei de Falências. São Paulo: IOB Thomson, 2000. 5

6.1. Fraude a Credores O art. 168 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, trata do crime de fraude a credores, ou seja, praticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência ou conceder a recuperação judicial, ato fraudulento de que resulte ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar vantagem indevida para si ou para outrem. Tipifica ainda uma pena de reclusão de 3 (três) a 6 (seis) anos e muita. A respeito do aumento, tem-se que a pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se o agente: I - elabora escrituração contábil ou balanço com dados inexatos; II - omite, na escrituração contábil ou no balanço, lançamento que deles deveria constar, ou altera escrituração ou balanço verdadeiros; III - destrói, apaga ou corrompe dados contábeis ou negociais armazenados em computador ou sistema informatizado; IV - simula a composição do capital social; V - destrói, oculta ou inutiliza, total ou parcialmente, os documentos de escrituração contábil obrigatórios. 6.2. Contabilidade Paralela No caso de contabilidade paralela, a pena é aumentada de um terço até metade se o devedor manteve ou movimentou recursos ou valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação. Existe ainda o concurso de pessoas. Nas mesmas penas, incidem os contadores, técnicos contábeis, auditores e outros profissionais que, de qualquer modo, concorrerem para as condutas criminosas descritas no art. 168 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, na medida de sua culpabilidade. Em se tratando de falência de microempresa ou de empresa de pequeno porte, e não se constatando prática habitual de condutas fraudulentas por parte do falido, poderá o juiz reduzir a pena de reclusão de um a dois terços ou substituí-la pelas penas restritivas de direitos de perda de bens e valores ou de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas. 6

6.3. Violação de Sigilo Empresarial O art. 169 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, trata do crime de violação de sigilo empresarial, ou seja, violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, sigilo empresarial ou dados confidenciais sobre operações ou serviços, contribuindo para a condução do devedor a estado de inviabilidade econômica ou financeira. Tipifica uma pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. No Brasil, após a edição da Lei nº 9.279/96, algumas deficiências foram supridas do Decreto-Lei nº 7.903, de 27 de agosto de 1945, punindo expressamente, na esfera penal, quem se utiliza do segredo violado, por meio dos incisos III, XI e XII de seu art. 195, incluindo o empregador, sócio ou administrador da empresa que incorrer nas tipificações estabelecidas nos mencionados dispositivos. Na esfera cível, o art. 209 da referida lei prevê o direito ao prejudicado de haver perdas e danos em ressarcimento de prejuízos causados por atos de violação de direitos de propriedade industrial e atos de concorrência desleal não previstos na Lei nº 9.279/96, que possam prejudicar a reputação ou os negócios alheios e criar confusão entre os estabelecimentos comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre produtos e serviços postos no comércio. 6.4. Divulgação de Informações Falsas O art. 170 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, trata do crime de divulgação de informações falsas, ou seja, divulgar ou propalar, por qualquer meio, informação falsa sobre devedor em recuperação judicial, com o fim de levá-lo à falência ou de obter vantagem. E tipifica uma pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e muita. É importante expor que os modernos meios de comunicação podem permitir assegurar uma maior eqüidade no acesso às informações, mas aumentam igualmente o risco de 7

divulgação de informações falsas ou enganadoras. Neste caso, se forem divulgadas informações falsas através de qualquer meio, inclusive a Internet, sobre o devedor em recuperação judicial, com a finalidade de levar o empresário à falência ou, ainda, objetivando uma vantagem, será considerado um crime de divulgação de informações falsas. 6.5. Indução a Erro O art. 171 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, trata do crime de indução a erro como o de sonegar ou omitir informações ou prestar informações falsas no processo de falência ou de recuperação judicial, com o fim de induzir a erro o juiz, o Ministério Público, a Assembléia-Geral de Credores, o comitê ou o administrador judicial. Tipifica uma pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. 6.6. Omissão dos Documentos Contábeis Obrigatórios O art. 178 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, define como crime falimentar a omissão dos documentos contábeis obrigatórios. Assim, deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência ou a recuperação judicial, os documentos de escrituração contábil obrigatórios. Tipifica uma pena de detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa, se o fato não constitui crime mais grave. 8