Alberto Jorge O baixo fala mais forte!!! Contra nunca!!! Sempre a favor do baixo, sobretudo de um grande baixo!!! Quatro gerações de músicos, os dois filhos com carreiras importantes e mais de vinte e sete anos com uma actividade diária nocturna e o seu método de baixo eléctrico iniciado em 74 e ainda à espera de edição, a orientar e a formar os seus alunos. O músico O avô foi músico militar e contribui para o espólio de composições e arranjos para banda filarmónica. A caixa do violino em cima do guarda-fato do pai ficou-lhe retida no olhar e na recordação. O piano da avó serviu para as primeiras sequências de blues. Os quinze anos foram iniciados nos Sonda, um grupo académico que só parava para os exames, onde os Stones como referência deram largas às suas primeiras linhas no baixo eléctrico. Nos dez anos que se seguiram foi o Rock quem ditou as leis. Primeiro a presença nos Psico, com os quais esteve no 1º Festival Vilar de Mouros em 1971, o Smoog surgiu com as experiências de cruzamentos estéticos de Miguel Graça Moura, e depois os Nirvana uma experiência ímpar de junção do rock com o teatro, Teatro Living (ensaio rock).os Nirvana com uma peculiar característica na assistência, uma larga maioria de agentes da PJ e da PIDE, que criavam um perfeito quadro, atendendo ao teor das mensagens e das críticas sociais das composições. Ainda com Miguel Graça Moura por perto, Alberto tocou ao lado de António Pinho Vargas que lhe veio a abrir outras portas. Billy Cobham, Herbie Hancock, Mahavisnhu Orchestra e Miles, foram alguns dos grupos que marcaram a viragem para outras músicas e para o Jazz. Depois do serviço militar obrigatório, o professor Norberto Nascimento foi o formador do contrabaixista durante seis anos, tendo vir a ser substituído por Adriano Aguiar, um músico e um amigo que lhe ensinou as chaves mestras do instrumento. Passou a reforçar o naipe de contrabaixistas da Orquestra Sinfónica do Porto e mais tarde colaborou com a Orquestra de Câmara de Aveiro e com a Orquestra do Conservatório de Braga. O Jazz veio com as Jam Sessions nas garagens dos amigos. Com o grupo Opiniões Públicas, de novo o jazz cruzando com o Funky e o Soul, e seis meses no programa da manhã, Às Dez. O violino eléctrico do Rogério Cria, e as gravações na Numérica foram a razão do nascimento do Triunvirato, um trio Piano,
Violino e Contrabaixo que permaneceu durante alguns anos e que ainda respira saúde ao fim de cerca de dez anos. Este grupo actua diariamente no Casino de Espinho e é composto pelo Arnaldo Fonseca no acordeão, Luís Trigo no violino e pelo Paulino Garcia no piano, um músico com quem toco há mais de vinte e três anos e que conseguiu incorporar no Conservatório de Música do Porto, a disciplina de jazz. A entrevista 1º instrumento: baixo eléctrico 1ª aula de música: aos vinte e dois anos 1º professor: Norberto Nascimento 1º concerto: Grupo Desportivo de Heróis da Maia 1º cachet: quinze escudos aos dezasseis anos 1º festival: Vilar de Mouros 1ª composição: Somebody New 1ª gravação: Com Assis Jones 1º disco: Com Assis Jones 1ª internacionalização: Suiça há meia dúzia de anos. 1º dia de cada ano: Vamos lá corrigir de feitos JJ Como foi o teu contacto com o jazz? AJ O meu contacto com o jazz vem de terna infância, com o programa TV Jazz de Manuel Jorge Veloso. O que mais me impressionava era a entrega dos músicos, como eles suavam e embora não entendesse musicalmente o processo, o certo é me prendia muita a atenção. JJ Lembras-te do primeiro disco de jazz ou do primeiro concerto ao vivo? AJ Foi-me mostrado pelo Moreira das Neves, um disco com Eddie Gomes que eu na altura não entendi bem. Mais tarde e através do Quinteto Académico tive oportunidade de escutar um trabalho do Pedro Osório em trio com Jean Sarbib e Villas Boas. O solo de baixo eléctrico do Sarbib no tema There Will Never Be Another You, tocou-me de tal forma que eu mais tarde consegui reproduzi-lo.
JJ Qual o teu primeiro concerto de jazz como músico? AJ Eu tinha dezoito anos e tocava no clube nocturno ao lado do Orfeu, ao final da tarde. JJ Lembras-te dos músicos de jazz mais importantes dessa altura? AJ Os contrabaixista Jean Sarbib, Artur Guedes e Bernardo Moreira (Pai), o baterista Manuel Jorge Veloso e o pianista Canelhas. JJ Lembras-te da tua primeira participação num festival de jazz? AJ Nunca participei num festival de jazz. A minha actividade diária impossibilita-me de puder dar continuidade aos concertos. JJ Qual o músico de jazz que mais te marcou? AJ Steve Swallow, conheci-o há cerca de quinze anos, passei uma tarde com ele o que foi de extrema utilidade para todo o meu processo de continua aprendizagem. JJ O que achas do ensino da música em Portugal? AJ O Hot Clube de Portugal é o exemplo de uma escola séria. Era importante que outras sucursais pudessem abrir noutros pontos do país. O trabalho realizado na Escola de Jazz do Porto, embora com menos recursos humanos, também é de realçar. Há ainda escolas em Viseu, em Almada, no Barreiro o que só vem testemunhar a evolução que o jazz tem vindo a ter no nosso país. Dentro de poucos anos vamos ver pessoas com alguma capacidade cultural e até atlética, digamos assim, para puderem falar de jazz com alguma verdade. JJ E do tratamento dado ao Jazz, mais especificamente? AJ Aqui no Porto há dois exemplos sintomáticos. O curso de Jazz no Conservatório do Porto, ministrado pelo Paulino há cerca de três anos, um curso com profundidade onde é analisada a história do jazz, a harmonia e a improvisação e uma Big Band de Jazz orientada pelo Carlos Azevedo, na Escola Superior de Música do Porto.
JJ O que pensas da evolução dos músicos de jazz portugueses? AJ Há músicos de jazz portugueses fantásticos. Ou seja, eu posso dizer que todos os músicos de jazz são fantásticos à partida, porque quase todos são autodidactas. Até há poucos anos quem quisesse estudar jazz tinha que se fechar em casa rodeado de uma pilha de discos. A música erudita e o jazz mantiveram sempre um percurso paralelo, nesta viragem do século estamos a assistir a algum cruzamento de estéticas. O jazz europeu já tem muito de música contemporânea, por sua vez a música contemporânea já vai beber muito ao jazz. JJ Quais os músicos portugueses que mais destacas? AJ Paulo Gomes, Carlos Azevedo no Porto, Mário Laginha, Bernardo Sassetti e João Paulo Esteves da Silva em Lisboa. JJ É difícil fazer concertos de jazz em Portugal? AJ Estão a começar a proliferar os festivais de jazz, e será muito importante que as pessoas que estão ligadas à organização não se esqueçam dos músicos portugueses. Depois da fase do trabalho em grupo é necessário sair-se à rua e os festivais acabam por ser o melhor veículo para dar a conhecer os trabalhos com valor que são produzidos em Portugal. Se houver alguma inteligência da parte dos organizadores que não queiram ser elitistas e petulantes de dar a oportunidade aos músicos que tenham qualidade, como é evidente, na música tem que haver um emissor e um receptor, se como em alguns casos que nós conhecemos os músicos se limitarem a tocar jazz em casa, socialmente é muito pouco aproveitável. Aqui há uns anos atrás havia uma série de bares que abriam por vezes as portas ao jazz, infelizmente a maior parte deles já não faz música ao vivo, restando-nos apenas o B Flat em Matosinhos. JJ Se fosses vereador da cultura de uma autarquia, como tratarias o jazz e as outras músicas? AJ Ao mesmo nível. Penso que não há culturas grandes nem pequenas. Optaria por uma programação regular ao longo do ano
em prol de uma concentração num festival. Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura, e nós do jazz que trabalhamos durante tantos anos no apuramento técnico e estético desta música, queremos que as pessoas se sentem e nos ouçam. Terá que haver um trabalho de disseminação. Temos uma televisão cada vez mais decrépita que se afasta a olhos vistos da qualidade e da cultura. JJ Qual a pergunta que faltou nesta entrevista? AJ Há tantas que faltaram que eu tenho que escolher uma... Quem vive nos meios mais afastados dos centros urbanos e que não tem um acesso tão fácil às escolas como poderá evoluir e aperfeiçoar o jazz? No meu entender deve escolher o instrumento que mais gosta e trabalhá-lo classicamente, seja qualquer que seja o destino musical.