Ministério da Educação (MEC) Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)



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Transcrição:

Ministério da Educação (MEC) Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) Presidência Reynaldo Fernandes Diretoria de Estudos Educacionais (Dired) Elaine Toldo Pazello Diretoria de Estatísticas Educacionais (Deed) Maria Inês Pestana Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) Heliton Tavares Diretoria de Avaliação da Educação Superior (Daes) Iguatemy Lucena Diretoria de Tecnologia de Disseminação de Informações Educacionais (DTDIE) Bruno Adann Sagratzki Coura Diretoria de Gestão e Planejamento (DGP) Cláudio Salles O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia vinculada ao Ministério da Educação (MEC) e tem como principal atribuição coordenar os sistemas e projetos de avaliação educacional no País, assim como organizar o sistema de informações e estatísticas da educação brasileira. Expediente Na Medida é uma publicação eletrônica bimestral coordenada pela Dired/Inep e visa à qualificação do debate sobre a educação no País a partir da disseminação de análises técnicas a um público amplo. Coordenação geral Elaine Toldo Pazello (Dired) Coordenação técnica Gabriela Moriconi (Dired) Equipe técnica desta edição Rafaella Cabral (Dired); Alex da Silveira, Christyne da Silva, Cíntia Antônio, Patrícia Teixeira, Mariana dos Santos, Maruska de Almeida (Deed); Thiago Leitão (Diretoria de Políticas e Programa de Graduação/MEC) Edição Maria Fernanda Conti Assessoria de Comunicação Projeto gráfico/capa/diagramação Marcos Hartwich/Raphael Caron Freitas/Celi Rosalia Soares de Melo Assessoria Técnica de Editoração e Publicações Revisão Aline Ferreira de Souza e Josiane Cristina da Costa Silva Assessoria Técnica de Editoração e Publicações Distribuição Assessoria de Comunicação Contato: namedida@inep.gov.br É permitida a reprodução dos textos, desde que citada a fonte. Artigos desta edição Editorial... 3 1 Quem quer ser professor no Brasil? O que o Enem nos diz... 5 2 O que mudou no Censo Escolar da educação básica... 10 3 Avaliando o desempenho no Enade de bolsistas do ProUni... 15 4 Quais são os municípios brasileiros prioritários?... 19

Editorial Seja por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ou de outras entidades governamentais, o Brasil vem produzindo uma série de dados educacionais, os quais avançam em quantidade e em qualidade. Um dos estudos inseridos na 3ª edição do boletim Na Medida descreve as mudanças promovidas no Censo Escolar da Educação Básica, uma das principais fontes de dados educacionais do País. O estudo indica, inclusive, que, após essas mudanças, já é possível observar diversos avanços em termos da melhoria da qualidade da informação. Uma das funções da coleta e do tratamento dos dados educacionais é poder gerar indicadores para que estes subsidiem políticas públicas para melhoria da educação. Outro texto deste boletim apresenta uma visão geral sobre os chamados municípios prioritários. Foram definidos como prioritários os municípios de pior resultado no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que foram os primeiros a receber assistência do Ministério da Educação (MEC). O texto apresenta os critérios utilizados para essa seleção, quais são esses municípios e a evolução de seu Ideb entre 2005 e 2007. 3 Além disso, os dados produzidos permitem que sejam feitas análises de diversos aspectos das políticas educacionais em andamento no País. Um exemplo é o texto que busca verificar se alunos bolsistas do Programa Universidade para Todos (ProUni) teriam desempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) pior que os demais alunos dos cursos de ensino superior, o que indicaria uma possibilidade de queda na qualidade dos cursos, após a inclusão dos bolsistas. Outro exemplo é o estudo sobre o perfil de jovens de 17 a 20 anos atraídos para a carreira do magistério no País, baseado em informações que podem ser obtidas por meio do questionário socioeconômico respondido por eles ao participarem do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Esse estudo, assim como os demais contidos nessa 3ª edição do boletim Na Medida, não tem o propósito de ser conclusivo, mas sim de chamar a atenção e contribuir para o debate de uma questão de grande importância em nosso País: a capacidade das redes de ensino de atrair bons candidatos para a profissão docente, em especial para a educação básica.

1 Quem quer ser professor no Brasil? O que o Enem nos diz Se há um consenso na área de educação, este é o da relevância do papel do professor para o processo de ensino e para a aprendizagem dos alunos. Embora as políticas educacionais sejam, em sua maioria, formuladas no nível do Ministério e das Secretarias de Educação, a forma como essas políticas são implementadas e os seus resultados são influenciados diretamente pelos agentes que as efetivam nas salas de aula os professores. São eles que, com maior ou menor autonomia, decidem a metodologia a ser empregada, a forma como os materiais didáticos serão utilizados, com que tipo de atividades o tempo em sala de aula será ocupado, quais métodos de avaliação dos alunos serão empregados, entre outras questões de extrema importância. Nesse sentido, sabe-se que a forma como os professores tomam essas decisões e desenvolvem seu trabalho diariamente depende de diversos aspectos, que vão desde a sua motivação e o seu grau de adesão e comprometimento com essas políticas até os recursos que têm disponíveis, como infraestrutura, material de apoio, orientação e, principalmente, seus próprios conhecimentos e habilidades. Desse modo, cada vez mais tem sido ressaltada a necessidade de se atrair e selecionar profissionais com alto nível de conhecimentos e habilidades para a carreira docente. Em relatório divulgado pela consultoria McKinsey & Company, em 2007, chama a atenção o dado que indica que todos os dez países 1 com as melhores notas no Programme for International Student Assessment (Pisa) da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) selecionam os professores dentre os 30% melhores graduados. Na Finlândia, esse percentual se reduz para 10% e na Coréia do Sul, para 5% dos melhores graduados. 5 Será que no Brasil encontramos situação semelhante? O País consegue selecionar os professores dentre os melhores graduados? Qual o perfil de quem quer ser professor no País? O Enem e a escolha da profissão Os dados disponíveis não permitem responder exatamente se o Brasil também consegue selecionar os seus professores dentre os melhores graduados. Para tanto, seria necessário relacionar os resultados de exames de desempenho dos alunos ao final do curso de graduação como os resultados da prova do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) com os resultados das provas de concurso para as carreiras do magistério das redes de ensino, o que não é possível. 1 São eles: Canadá, Austrália, Bélgica, Finlândia, Hong Kong, Japão, Holanda, Nova Zelândia, Cingapura e Coréia do Sul. No entanto, uma análise do perfil dos potenciais candidatos ao magistério pode ser realizada a partir de dados do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao realizar o Enem, os candidatos respondem voluntariamente a um questionário que abrange tanto aspectos

socioeconômicos quanto relacionados a suas intenções e opiniões. Uma das perguntas é a seguinte: Que profissão escolheu seguir?. As possíveis respostas a essa questão são: (a) Ainda não escolhi; (b) Profissão ligada às Engenharias/Ciências Tecnológicas; (c) Profissão ligada às Ciências Humanas; (d) Profissão ligada às Artes; (e) Profissão ligada às Ciências Biológicas e de Saúde; (f) Professor do Ensino Fundamental e Médio; (g) Não vou seguir nenhuma profissão. Embora a partir dos dados do Enem não seja possível saber se de fato o candidato entrou em um curso superior de formação de professores e nem se um dia será selecionado para ingressar na carreira docente por meio de concurso público, 2 a resposta de candidatos que estão em uma faixa etária de escolha da profissão aqui definida entre 17 e 20 anos é um importante indicativo de sua intenção no momento da realização do Exame. Esses dados permitem que seja feita uma análise do perfil de alunos atraídos para o magistério no País, incluindo a nota que eles obtêm no Exame. 6 GRÁFICO 1 DISTRIBUIÇÃO DAS RESPOSTAS NO ENEM 2007 À QUESTÃO: QUE PROFISSÃO ESCOLHEU SEGUIR? Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007 2 A afirmação vale tanto para candidatos que disseram ter escolhido a profissão do magistério quanto para os demais candidatos. 3 Última edição do exame com microdados disponíveis para análise. 4 Foram excluídos da análise aqueles que afirmaram que ainda não escolheram uma profissão, que não vão seguir nenhuma profissão ou não responderam a questão. Dentre os jovens de 17 a 20 anos que fizeram a prova do Enem em 2007, 3 cerca de 25% ainda não haviam escolhido, até aquele momento, a profissão que pretendiam seguir. Dos que já haviam feito a escolha, a maioria optou por profissões da área de Ciências Biológicas e da Saúde, seguidas por profissões da área de Engenharias e Ciências Tecnológicas e da área de Ciências Humanas. Aqueles que escolheram a profissão de Professor de Ensino Fundamental e Médio correspondem a apenas 5,2% dos jovens. Dessa forma, já parece ser pouco provável que o Brasil consiga, assim como os dez melhores países no Pisa, selecionar os professores entre os 30% melhores graduados, pois isso pressuporia um percentual significativo de interessados na carreira do magistério, dos quais se poderia selecionar os melhores, posteriormente. Analisando o perfil de quem quer ser professor Para analisar o perfil dos candidatos que afirmam ter escolhido a profissão do magistério, em comparação com os alunos que escolheram as demais profissões, 4

estimamos uma equação da probabilidade de um candidato escolher a profissão docente em função de suas características pessoais e de sua nota na prova do Enem. 5 Isso nos permite ler o impacto de uma determinada variável sobre a probabilidade da escolha do magistério, livre do efeito das demais variáveis, visto que a estimativa fixa todas as demais variáveis e estima a probabilidade somente variando a característica de interesse. 6 Os resultados podem ser lidos da seguinte forma: um candidato tem, em média, 6,69% de probabilidade de escolher ser professor do ensino básico. Fixando todas as demais características e variando somente o gênero, por exemplo, observamos que a probabilidade do candidato querer ser professor, caso seja mulher, é de 7,21%, enquanto que, se o candidato for homem, a probabilidade cai para 5,60%. GRÁFICO 2 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM O GÊNERO Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados do Enem 2007 7 Também foi encontrada diferença entre as probabilidades de escolha do magistério, de acordo com a dependência administrativa das escolas em que os alunos estudaram: aqueles que estudaram a vida toda em escolas públicas têm maior probabilidade de optar pela docência do que aqueles que estudaram parte ou toda a vida em escolas privadas. 5 As variáveis testadas foram: a nota no Enem; o gênero; a cor/raça; o tipo de escola em que estudou (pública ou privada); a renda familiar; a escolaridade da mãe; se trabalha; o turno em que estudou; sua participação em organizações como grêmios estudantis, associações comunitárias, partidos políticos e Organizações não governamentais (ONGs); e seu interesse por questões relacionadas a política nacional, internacional e local, economia, meio ambiente, desigualdade social, cultura e serviços públicos como educação e saúde. 6 Foi realizada uma análise econométrica utilizando a metodologia de regressão logit. GRÁFICO 3 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM O TIPO DE ESCOLA EM QUE CURSOU O ENSINO BÁSICO Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados do Enem 2007

As diferenças maiores começam a aparecer quando se analisa variáveis diretamente relacionadas ao background familiar: a probabilidade de o candidato escolher a profissão do magistério é três vezes maior para aqueles com menor renda familiar em relação àqueles com maior renda familiar, e é quase duas vezes maior para aqueles com mães que nunca estudaram em relação aos candidatos com mães mais escolarizadas. GRÁFICO 4 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A RENDA FAMILIAR DO CANDIDATO Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007 * SM = Salários mínimos. 8 GRÁFICO 5 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A ESCOLARIDADE DA MÃE DO CANDIDATO Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007 Também é importante destacar os resultados em relação às notas dos candidatos no Enem: aqueles com piores notas têm probabilidade quase três vezes maior de escolherem a carreira do magistério do que aqueles com melhores notas. Ou seja, existem evidências de que a carreira do magistério não está conseguindo atrair os melhores candidatos, o que leva à reflexão de que é pouco provável que o País esteja selecionando os professores entre os melhores alunos, já que estes têm baixa probabilidade de quererem ser professores.

GRÁFICO 6 PROBABILIDADE DE ESCOLHER SER PROFESSOR, DE ACORDO COM A NOTA DO CANDIDATO NO ENEM 2007 Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enem 2007 Vale ressaltar que, ainda para as demais variáveis testadas como cor/raça do candidato, se o candidato trabalha e sua participação em organizações como grêmios estudantis, dentre outras, os resultados encontrados apontaram para diferenças de probabilidade bem pequenas de menos de um ponto percentual. Portanto, pelas evidências encontradas nesta análise, o indivíduo com maior probabilidade de escolher o magistério dentre aqueles com 17 a 20 anos que realizaram o Enem 2007 e declararam a opção por uma profissão tem o seguinte perfil: mulher, estudou sempre em escola pública, tem renda familiar de até dois salários mínimos, a mãe nunca estudou e tirou uma nota abaixo de 20 no Enem. 9

2 O que mudou no Censo Escolar da educação básica O Censo Escolar da educação básica O Censo Escolar é um levantamento anual de dados estatístico-educacionais de âmbito nacional. Trata-se do principal instrumento de coleta de informações da educação básica. É uma pesquisa declaratória, de participação obrigatória, que engloba toda a população em condição escolar matriculada em estabelecimentos públicos e privados do País, abrangendo todas as diferentes etapas e modalidades de ensino. As informações produzidas pelo Censo Escolar são úteis para a elaboração de diagnósticos, para a formulação, implantação e avaliação de políticas públicas, bem como para a tomada de decisões em educação. Atualmente, programas e ações governamentais dependem do fornecimento das informações coletadas, tais como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Os recursos financeiros do Fundeb, repassados a Estados, Distrito Federal e municípios em um determinado ano, são calculados com base no número de matrículas constantes no Censo Escolar do ano imediatamente anterior. O cálculo do Ideb, por sua vez, possui um componente de fluxo escolar obtido a partir de dados do Censo Escolar referentes à aprovação, à reprovação e ao abandono de alunos. 10 Breve histórico do Censo Escolar Censos que visam a obter informações educacionais não são novos no Brasil. Desde 1872, a preocupação com analfabetismo, por exemplo, estava posta nos censos demográficos. Todavia, foi em 1932 que se realizou, de fato, o primeiro censo com preocupação exclusivamente educacional. Em 1997, após um grande processo de redimensionamento do setor de levantamentos estatísticos do Ministério da Educação (MEC), ocorrido nos anos de 1995 e 1996, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) assumiu as atividades estatísticas e de avaliação, antes realizadas pelo MEC. No mesmo ano, recebeu a competência legal para organizar e manter o sistema de informações e estatísticas educacionais pela Lei nº 9.448, de 14 de março de 1997. A publicação da Lei nº 9.424, de 1996, que dispôs sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), definiu que os dados de matrículas do Censo Escolar, publicados no Diário Oficial da União, constituiriam a base para fixação da proporção dos valores repassados a Estados, Distrito Federal e municípios. Tal vinculação implicou o fortalecimento e maior prestígio do levantamento censitário, situação que se manteve com a substituição do Fundef pelo Fundeb.

Em meados de 2007, com o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), ações no sentido de inovar nos processos e nos conteúdos do Censo Escolar foram tomadas, a fim de ampliar o conhecimento da realidade escolar, bem como da educação brasileira. Mudanças no Censo Escolar Até 1995, o Censo Escolar apresentava deficiências de cobertura, defasagem no tempo de coleta e problemas de divulgação. Tais aspectos levavam a questionamentos principalmente sobre a dimensão do atendimento escolar e do fluxo dos discentes, o que gerava incertezas sobre a qualidade da informação e dificultava a utilização das bases de dados produzidas. Para solucionar tal situação, novos conceitos precisaram ser implantados, a começar pela definição, em 1995, de um Dia Nacional do Censo Educacional. Tratouse de um marco temporal para o informe dos dados escolares, definido como a última quarta-feira do mês de março. A partir de então, todas as escolas passaram a ter uma mesma data de referência para as informações, o que melhorou consideravelmente a qualidade dos dados. A mais significativa mudança no Censo, no entanto, deu-se a partir de 2007, com a alteração na unidade de informação. Até 2006, a menor unidade de informação era a escola. Cada escola recebia formulários em papel, nos quais informava os dados agregados referentes a suas turmas, matrículas, docentes e infraestrutura. Não havia a possibilidade de inserir informações sobre cada aluno, cada docente, cada disciplina ministrada ou a especificidade de cada turma. Os formulários preenchidos eram, então, encaminhados às secretarias estaduais e municipais para digitação no Sistema de Informações Educacionais (Sied). Como resultado, alunos e professores apareciam como quantitativos agregados por estabelecimento, etapa e modalidade de ensino. 11 Com a mudança metodológica realizada em 2007, passou-se a coletar dados individuais de alunos e docentes. Atualmente, são unidades de informação as escolas, os alunos, as turmas, os docentes e os auxiliares de educação infantil. Para cada uma dessas dimensões, há um cadastro específico no qual as escolas inserem informações individualizadas, como o nome, a data de nascimento, o endereço, entre outras. Para facilitar o procedimento e melhorar o controle da qualidade dos dados, a coleta e a transmissão deles passaram a ser realizadas por uma ferramenta on-line, o Sistema Educacenso. Embora alguns sistemas estaduais de ensino já utilizassem formulários eletrônicos, ainda não se tratava, todavia, de um sistema on-line e integrado, para melhorar a agilidade, a organização e a disseminação da informação. Adicionalmente, a Portaria nº 264, de 2007, modificou para Dia Nacional do Censo Escolar da Educação Básica a data de referência das informações declaradas ao Censo Escolar da educação básica. Com essa portaria, a data foi alterada para a última quarta-feira do mês de maio de cada ano. Nessa época, transferências de alunos, mudanças de docente, série, horários, entre outros, já não ocorrem de forma tão intensa como se dá no início do ano, garantindo que o Censo represente um momento em que as matrículas já estão razoavelmente estabilizadas nas escolas.

Mudanças nos resultados Em relação ao controle da qualidade de dados, a reestruturação de metodologia procurou aproximar-se das técnicas de pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que coleta informação individualizada. O monitoramento realizado pelo Inep mostra que, como resultado da mudança metodológica, o quantitativo de matrículas apurado pelo órgão foi ao encontro dos números levantados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, conforme o Gráfico 1. 12 GRÁFICO 1 COMPARATIVO DO NÚMERO DE MATRÍCULAS NO ENSINO REGULAR DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA REDE PÚBLICA CENSO ESCOLAR E PNAD (EM MIL) BRASIL Fonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar/Inep e da Pnad/IBGE O Gráfico 1 indica que houve uma significativa queda no número de matrículas entre 2006 e 2007, de acordo com o Censo Escolar. Essa queda deveu-se especialmente ao fato de que a informação por aluno, a partir da nova metodologia, passou a ser mais precisa, permitindo a identificação e a correção da duplicidade de alunos. 1 Esse fenômeno de diminuição do número de matrículas foi o indicativo de maior qualidade da informação, tanto no momento da coleta quanto no da realização das críticas e consistências dos dados. 1 Duplicidade de alunos é a contagem de um mesmo aluno em mais de uma escola, seja na mesma unidade federativa, seja em unidades distintas. Vale ressaltar que a individualização cadastral produziu resistências na participação de algumas instituições privadas que deixaram de responder ao Censo de 2007, o que também contribuiu para a queda de matrículas entre esses anos. Essas instituições, zelosas das informações pessoais de seus alunos, ofereceram questionamentos a essa metodologia. Todavia, a partir de uma campanha de conscientização sobre os procedimentos de segurança e de garantia do sigilo das pessoas, a confiança foi novamente fortalecida e a resistência superada. Assim, no ano de 2008, observou-se que diminuiu expressivamente o número de escolas privadas que não prestaram informações, com o consequente reflexo nas respectivas matrículas.

TABELA 1 NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE EDUCAÇÃO BÁSICA PARTICIPANTES DO CENSO, POR DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA 2006, 2007 E 2008 BRASIL Fonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar No caso dos professores, os dados também se restringiam ao total desses profissionais lotados em cada escola, por etapa e modalidade de ensino. Por consequência, a dupla contagem de um mesmo indivíduo tinha probabilidade muito maior de ocorrer do que entre alunos, pois um mesmo professor pode lecionar em mais de uma etapa ou modalidade de ensino e, ainda, em mais de um estabelecimento. Essas características do levantamento, presentes até o ano de 2006, limitavam o alcance das informações e obrigavam todos os usuários do Censo Escolar a utilizarem o conceito de função docente (que admite mais de uma contagem do mesmo indivíduo), sem responderem à pergunta sobre quantos docentes atuam na educação básica, informação fundamental para o planejamento e a definição de qualquer política pública afeta ao setor. Ao observar a quantidade de professores que lecionam em mais de um estabelecimento, em 2007, é possível ter uma noção de quantas vezes um mesmo professor pode ser contado, quando se utiliza a noção de função docente isso sem considerar as replicações por lecionar em mais de uma etapa ou modalidade de ensino. 13 TABELA 2 NÚMERO DE PROFESSORES DO ENSINO REGULAR, POR QUANTIDADE DE ESTABELECIMENTOS EM QUE LECIONAM, SEGUNDO AS ETAPAS DE ENSINO 2007 Fonte: Elaboração Deed/Inep, a partir de dados do Censo Escolar Com a nova metodologia, para registrar os dados do professor no Censo Escolar, tomou-se por base um código de identificação, gerado pelo próprio Educacenso para cada indivíduo. Dessa forma, é possível relacionar cada professor às demais variáveis coletadas, por exemplo, disciplinas ministradas, quantidade e tipo de escolas em que trabalha, número de turnos e de turmas, entre outras.

Assim, os dados individualizados, tanto de alunos como de professores, viabilizarão análises inéditas no País, como fazer cruzamentos entre as áreas de formação e de atuação do professor ou, ainda, estimar o déficit de professores em determinadas disciplinas. Com a constituição das séries históricas, será possível conhecer o fluxo real de alunos, além de acompanhar as trajetórias de alunos, docentes e escolas. 14

3 Avaliando o desempenho no Enade de bolsistas do ProUni O Programa O Programa Universidade para Todos (ProUni) foi criado em 2004 com a finalidade de conceder bolsas de estudo em cursos de ensino superior de instituições privadas. Em contrapartida, concede isenção de alguns tributos às instituições de ensino que aderem a ele. 1 Por meio do ProUni, o Governo Federal busca ampliar o acesso ao ensino superior no País e contribuir para o cumprimento de uma das metas do Plano Nacional de Educação, o qual prevê o atendimento em educação superior até 2010 para, pelo menos, 30% dos jovens de 18 a 24 anos. 2 Para candidatar-se a uma bolsa do ProUni, o estudante deve ter cursado o ensino médio na rede pública ou na rede particular na condição de bolsista integral e obter nota mínima de 45 pontos na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). 3 Para concorrer a uma bolsa integral, o candidato deve ter renda familiar per capita máxima de 1,5 salário mínimo, e para a bolsa parcial, deve estar entre 1,5 e 3 salários mínimos. O único caso em que não é necessário comprovar a renda é o de professores da rede pública de ensino básico, em efetivo exercício do magistério, que integrem o quadro permanente da instituição e estejam concorrendo a vagas em cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia. E o único caso em que o candidato pode ter cursado o ensino médio integral ou parcialmente em escolas privadas, sem bolsa, é o de portadores de necessidades especiais (PNEs). Adicionalmente, o Programa reserva cotas para PNEs e para os autodeclarados indígenas, pardos ou pretos 4 sendo que o cotista também deve se enquadrar nos demais critérios de seleção descritos. 15 1 Todas essas informações podem ser encontradas no site do ProUni: http://portal. mec.gov.br/prouni 2 De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), em 2007, apenas 15% dos jovens entre 18 e 24 anos cursavam ou haviam completado o ensino superior. 3 A nota utilizada é composta da média aritmética entre a nota da parte de conhecimentos gerais e a nota da redação. 4 O percentual de bolsas destinadas aos cotistas é igual àquele de cidadãos pretos, pardos e indígenas, em cada Estado, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda há outra exigência, desta vez referente ao comprometimento com o curso: os bolsistas devem ser aprovados em, no mínimo, 75% do total das disciplinas cursadas em cada período letivo. Caso contrário, o aluno perde a bolsa do ProUni. Adicionalmente, em 2006, o Programa instituiu uma bolsa permanência no valor de R$ 300,00, com o objetivo de auxiliar no custeio das despesas educacionais dos estudantes com bolsa integral em cursos presenciais com, no mínimo, seis semestres de duração e carga horária diária igual ou superior a seis horas. Segundo dados divulgados pelo Programa, desde a criação até o processo seletivo do segundo semestre de 2008, o ProUni já atendeu cerca de 430 mil estudantes, sendo 70% com bolsas integrais. A qualidade acadêmica dos alunos bolsistas Como acontece na implementação de grande parte das políticas de inclusão na área da educação, foram levantados questionamentos relativos a uma possível queda na qualidade do ensino nos cursos superiores, devido à entrada dos bolsistas do ProUni. Esses questionamentos estavam baseados no pressuposto de que os bolsistas do ProUni seriam academicamente mais fracos que os alunos pagantes e comprometeriam o nível

das turmas. Do outro lado, os responsáveis pelo Programa afirmavam que a exigência de que o candidato tire uma nota mínima no Enem, aliada aos demais critérios, teria justamente a intenção de conjugar a inclusão à qualidade e ao mérito dos estudantes com melhores desempenhos acadêmicos. Para obter evidências de que a qualidade do ensino teria piorado ou não a partir da criação do ProUni, seria necessária a existência de uma avaliação do ensino superior cujos resultados fossem comparáveis ao longo do tempo, como é o caso do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Desse modo, seria possível verificar qual a variação nas notas médias dos cursos com a inclusão de alunos bolsistas. No entanto, esse ainda não é o caso do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), cujos resultados somente são comparáveis entre alunos da mesma área, que tenham realizado o exame no mesmo ano. Apesar dessa limitação, o Enade permite que se compare o desempenho de alunos com bolsa integral ou parcial no ProUni com o desempenho de alunos pagantes de instituições privadas de ensino superior. Assim, é possível obter evidências que corroborem ou enfraqueçam a hipótese de que os bolsistas seriam academicamente mais fracos que seus colegas pagantes. Isso pode ser feito no momento em que iniciam o curso, por meio da comparação de notas do Enade entre ingressantes, e também no momento da conclusão do curso, mediante a comparação de notas dos concluintes. Comparando o desempenho de alunos no Enade 2007 Para evitar que a diferença de desempenho possa estar relacionada a diferenças nas instituições e nos cursos que os alunos frequentam como, por exemplo, acontecer de que somente as melhores (ou piores) instituições ofereçam vagas no ProUni, foram comparadas as notas dos alunos ingressantes de determinado curso de uma instituição, e o mesmo foi feito para alunos concluintes. 5 Por exemplo, foi comparada a média das notas dos estudantes bolsistas ingressantes do curso de Enfermagem da Universidade A com as notas dos não bolsistas ingressantes do mesmo curso. Portanto, só estão contidos nesta análise os cursos das instituições que possuem, no mínimo, um aluno ingressante ou concluinte com bolsa no ProUni. 16 TABELA 1 NÚMERO DE ALUNOS DA AMOSTRA UTILIZADA NA COMPARAÇÃO DE NOTA 5 A nota utilizada na análise é a nota geral do aluno no exame, composta de 25% da nota de formação geral e 75% da nota do componente específico. Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

Em 10 das 16 áreas avaliadas em 2007, havia um número suficiente de alunos para comparação de notas entre bolsistas e não bolsistas. 6 O número de bolsistas ingressantes avaliados pelo Enade, em 2007, é bem mais expressivo que o de concluintes, devido ao fato de que, como os primeiros alunos passaram a receber bolsas em 2005, esses concluintes são alunos que conseguiram a bolsa quando já estavam cursando o ensino superior, estando da metade para o final do curso um número reduzido, se comparado aos alunos que solicitam a bolsa já desde o primeiro ano da graduação. A Tabela 2 mostra quantos cursos estão contidos na amostra utilizada neste estudo e quantos são os cursos de instituições privadas que participaram do Enade 2007, indicando que o número de cursos com alunos bolsistas do ProUni avaliados os quais foram utilizados nesta análise representam uma parcela significativa desses cursos. TABELA 2 NÚMERO DE CURSOS DA AMOSTRA UTILIZADA NA COMPARAÇÃO DE NOTAS E DE CURSOS DE INSTITUIÇÕES PRIVADAS AVALIADOS PELO ENADE 2007 17 Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007 Os resultados da comparação 7 mostram que, para os ingressantes, em todas as áreas analisadas os alunos com bolsa ProUni possuem média maior no Enade do que aqueles sem bolsa ProUni. Essa diferença positiva em favor dos bolsistas foi em torno de 5,5 pontos numa escala de 0 a 100 pontos. TABELA 3 COMPARAÇÃO DAS MÉDIAS DE ALUNOS INGRESSANTES NO ENADE 2007 6 As demais áreas avaliadas em 2007 foram: Educação Física, Fonoaudiologia, Nutrição, Tecnologia em Agroindústria, Terapia Ocupacional e Zootecnia. 7 Os resultados estatisticamente significativos a 1% estão destacados em negrito nas Tabelas 3 e 4. Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007

Já para os concluintes, os resultados mostraram que, na maioria das áreas avaliadas, não houve diferença estatisticamente significativa entre os alunos com bolsa ProUni e aqueles sem bolsa ProUni. TABELA 4 COMPARAÇÃO DAS MÉDIAS DE ALUNOS CONCLUINTES NO ENADE 2007 Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir de dados do Enade 2007 Desse modo, não há como atribuir conclusões sobre os resultados encontrados para os alunos concluintes dessas áreas. Apenas duas áreas apresentaram coeficientes estatisticamente significativos: Biomedicina e Tecnologia em Radiologia. E aqui sim, pode-se afirmar estatisticamente que os concluintes com bolsa ProUni possuem média maior que os alunos concluintes sem bolsa ProUni. 18 De uma maneira geral, os resultados indicam ser muito pouco provável que a inclusão dos alunos bolsistas tenha piorado a qualidade dos cursos de um modo geral, já que o desempenho deles parece ser igual ou superior ao de seus colegas de curso.

4 Quais são os municípios brasileiros prioritários? Indicadores de desempenho educacional podem ter diversas funções. Uma delas é identificar as redes de ensino com resultados aquém do desejado e propor medidas para solucionar os problemas encontrados. Após a primeira divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), uma das ações do Ministério da Educação (MEC) para ajudar os municípios que apresentaram os piores resultados foi designar especialistas para seu acompanhamento. Esses técnicos fizeram visitas aos municípios, procurando identificar os fatores responsáveis pelo baixo Ideb. A partir desse diagnóstico inicial e das orientações dos técnicos, cada município elaborou um Plano de Ação Articulada (PAR) que nada mais é do que um conjunto de ações com o objetivo de melhorar a qualidade da educação. Esses primeiros municípios selecionados receberam o nome de municípios prioritários. 1 A seleção dos municípios foi feita com base no Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental da rede municipal de ensino. Os seguintes critérios foram adotados: 19 1) inicialmente foram selecionados os 1000 municípios de mais baixo Ideb (os que empataram na milésima posição também foram selecionados); 1 De fato, a partir do lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), em 2007, todas as transferências voluntárias e assistência técnica do MEC aos municípios, Estados e Distrito Federal estão vinculadas à adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e à elaboração do Plano de Ações Articuladas (PAR). Atualmente, todos os 26 Estados, o Distrito Federal e os 5.564 Municípios assinaram o Termo de Adesão ao Plano de Metas do PDE. 2 Em 2005, foram selecionados 1.242 municípios brasileiros; em 2007, 1.412 municípios. Se considerarmos os municípios que foram selecionados em 2005 ou em 2007, temos 1.827 municípios. 2) em seguida, para evitar que algum Estado ficasse sem representação, foram selecionados os municípios de mais baixo Ideb dentro de cada Estado (até 20 municípios), incluindo os já selecionados no primeiro passo (novamente, os que empataram na vigésima posição também foram incluídos). Para um município ser incluído, no entanto, o respectivo Ideb deveria estar abaixo da média nacional. Assim, pode acontecer de um ou mais Estados ficarem com mais ou menos de 20 municípios na lista. Por exemplo: se um determinado Estado tem 30 municípios e todos estão entre os mil selecionados inicialmente, todos os 30 estão incluídos. Se outro Estado também com 30 municípios tem apenas 8 selecionados entre os mil, então serão selecionados mais 12 para completar os 20 municípios por Estado, respeitando as regras de o Ideb ser menor que a média nacional e de todos os empatados serem incluídos. Portanto, esse Estado pode, ao final, permanecer com 8 municípios ou até ter 20 ou mais na lista dos prioritários. A distribuição pelo País dos municípios dessa seleção, que ficou conhecida como a Lista dos Municípios Prioritários, 2 pode ser observada na Tabela 1 e nos Gráficos 1 e 2.

TABELA 1 NÚMERO E PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS POR ESTADO QUE COMPUSERAM A LISTA DOS MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS 2005/2007 Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb * O Distrito Federal não possui rede municipal de ensino. A Bahia é o Estado com a maior participação, com 15% dos municípios prioritários. Em seguida, estão os Estados da Paraíba e do Piauí, com 8% cada. Essa maior participação dos Estados do Nordeste também pode ser visualizada nos Gráficos 1 e 2. As áreas vermelhas representam os municípios prioritários, que estão claramente concentrados nas regiões Nordeste e Norte. 20 GRÁFICO 1 DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS PELOS ESTADOS EM 2005 Fonte: Elaborado por MEC/Inep/Dired

GRÁFICO 2 DISTRIBUIÇÃO DOS MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS PELOS ESTADOS EM 2007 Fonte: Elaborado por MEC/Inep/Dired Para cada um dos Estados brasileiros, foi calculada a razão entre o número de municípios prioritários e o total de municípios do Estado apresentada no Gráfico 3. Para o Brasil como um todo, dos 5.564 municípios brasileiros, 22,3% e 25,4% entraram na lista de prioritários em 2005 e em 2007, respectivamente. 21 GRÁFICO 3 PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS EM CADA ESTADO 2005/2007 Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb

Em 2007, nos Estados do Acre e do Amapá, mais de 90% dos municípios são prioritários. No Acre, esse número é constante nos dois anos, mas, no Estado do Amapá, essa proporção aumentou significativamente de 70% para 94% entre 2005 e 2007. Por outro lado, nos Estados da Região Sul do País, em São Paulo e em Minas Gerais, a porcentagem de municípios prioritários é bem pequena. Quantos atingiram ou superaram suas metas? No Gráfico 4, observamos o percentual dos municípios prioritários por Estado que alcançaram ou superaram as metas do Ideb estipuladas para eles em 2007 e 2021. 22 GRÁFICO 4 PERCENTUAL DE MUNICÍPIOS PRIORITÁRIOS QUE ATINGIRAM OU SUPERARAM SUAS METAS DE 2007/2021, POR ESTADO Fonte: Elaboração Dired/Inep, a partir dos dados de resultados do Ideb Dos 1.827 municípios brasileiros prioritários, 1.493 (82%) atingiram ou superaram a meta estipulada para 2007 e 196 (11%) chegaram a alcançar ou até mesmo a superar a meta de 2021. Em Roraima, todos os municípios prioritários atingiram o Ideb estipulado para 2007. Do total de municípios prioritários, 415 apareceram exclusivamente em 2005 e, destes, 5 chegaram a superar a meta estipulada para 2021. Esses municípios são: São João do Sabugi/RN, Boa Vista do Tapim/BA, Santa Rita do Trivelato/MT, Cachoeira Grande/MA e São Bento/SP. Este último município, inclusive, superou a meta do Brasil para 2021 lembrando que a meta do Brasil para 2021 é alcançar um Ideb igual a 6, equivalente ao Ideb estimado na atualidade para os países desenvolvidos. Calculando a diferença entre a meta do Brasil de 2021 e o Ideb de 2007 dos municípios prioritários, é possível ter uma ideia do tamanho do percurso que eles

ainda têm que percorrer para alcançar o Ideb de países desenvolvidos. Em média, esses municípios têm que aumentar o Ideb em quase 3 pontos para alcançar o valor 6. Esses aumentos não são pequenos: conciliar melhora de fluxo escolar com melhora no aprendizado demanda um real comprometimento com a qualidade da educação. 23