Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil 1



Documentos relacionados
Pesquisa epidemiológica retrospectiva no programa de prevenção de câncer cérvico-uterino no município de Sarandi -PR

Custo-efetividade no rastreamento do câncer cérvico-uterino no Brasil: Um Estudo Exploratório

Nomenclatura Brasileira. Norma Imperio DIPAT

Cancer de Colo do Útero

Citologia ou teste de HPV no rastreio primário?

Citologia não adequada para o rastreio o que fazer?

DIAGNÓSTICO MÉDICO DADOS EPIDEMIOLÓGICOS FATORES DE RISCO FATORES DE RISCO 01/05/2015

Papilomavírus Humano HPV

RASTREIO EM SITUAÇÕES ESPECIAIS

CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DE DEFESA DA SAÚDE CESAU

ABORDAGEM DO ADENOCARCINOMA IN SITU

SISCOLO RELATÓRIO PRÁ-SABER DIGITAL: Informações de Interesse à Saúde SISCOLO Porto Alegre 2008

OCÂNCER DE COLO UTERINO ÉOSEGUNDO TU-

RASTREIO COLOPOCITOLÓGICO: NOVAS RECOMENDAÇÕES

CITOLOGIA EM MEIO LÍQUIDO

Análise e discussão: O câncer do colo uterino é uma doença de evolução lenta. Na grande maioria dos casos, esta neoplasia é precedida por estágios

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil

CANCER DE COLO DE UTERO FERNANDO CAMILO MAGIONI ENFERMEIRO DO TRABALHO

PALAVRAS-CHAVE Sintoma. Neoplasias do Colo. Enfermagem. Introdução

Prevenção do Câncer do Colo do Útero. Profissionais de Saúde

Trocando Idéias XVI. 2 de agosto de 2012 RASTREIO DO CÂNCER DO COLO UTERINO. Novas tecnologias. Clique para editar o estilo do subtítulo mestre

O teste do HPV contribui na triagem para a colposcopia?

Câncer de Próstata. Fernando Magioni Enfermeiro do Trabalho

QUESTIONÁRIO SOBRE CONTROLE DO CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

ipea A EFETIVIDADE DO SALÁRIO MÍNIMO COMO UM INSTRUMENTO PARA REDUZIR A POBREZA NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO 2 METODOLOGIA 2.1 Natureza das simulações

Técnicas Moleculares

RASTREIO DO CANCRO DO COLO DO ÚTERO E VACINAÇÃO CONTRA O HPV. Pedro Vieira Baptista

XVI TROCANDO IDÉIAS CÂNCER DO COLO UTERINO

ATIPIAS DE SIGNIFICADO INDETERMINADO

Tratamento do câncer no SUS

Vacinas Bivalente e Quadrivalente: Prós e contras

CITOLOGIA ONCÓTICA CÂNCER

Humberto Brito R3 CCP

Citologia oncótica pela Colpocitologia

RESPOSTA RÁPIDA 43/2014. VACINA HPV em paciente com diagnóstico de HPV+ (neoplasia + intraepitelial grau I)

Azul. Novembro. cosbem. Mergulhe nessa onda! A cor da coragem é azul. Mês de Conscientização, Preveção e Combate ao Câncer De Próstata.

Últimas evidências da efetividade das vacinas contra o HPV. Perspectivas clínicas

AGC sem especificação e AGC favorece neoplasia O que fazer? Yara Furtado

Lesões Intraepiteliais de Alto Grau: Diagnóstico, conduta e seguimento.

Radiology: Volume 274: Number 2 February Amélia Estevão

Referências internas são os artefatos usados para ajudar na elaboração do PT tais como:

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Rastreio Citológico: Periodicidade e População-alvo UNICAMP. Agosto Luiz Carlos Zeferino Faculdade de Ciências Médicas - UNICAMP

Documento Explicativo

MINAS, IDEB E PROVA BRASIL

EXAME CITOPATOLÓGICO: A NÃO ADESÃO E A OCORRÊNCIA DE CÂNCER DE COLO UTERINO ENTRE AS MULHERES PERTENCENTES À TERCEIRA IDADE

O desafio feminino do câncer

PALAVRAS-CHAVE Adenocarcinoma. Neoplasia do Colo do Útero. Qualidade de Assistência à Saúde.

Atualização das Diretrizes Brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero

Saúde Informa Nº 02 Distrito Sanitário Centro DSCe

Registro Hospitalar de Câncer de São Paulo:

Ectopia cervical: relação com CA colo? predisposição para DST?

Tecnologia em Gestão Pública Desenvolvimento de Projetos - Aula 9 Prof. Rafael Roesler

01 Nos casos de histerectomia é necessário fazer a citologia do colo do útero?

TÍTULO: "SE TOCA MULHER" CONHECIMENTO DAS UNIVERSITÁRIAS SOBRE O CÂNCER DE MAMA

RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA

XI Encontro do Câncer Ginecológico em Curitiba 17 de junho de Fábio Russomano

Rastreamento Populacional. Maria Isabel do Nascimento Instituto de Saúde Coletiva - UFF

CONDUTA APÓS CITOLOGIA LESÃO INTRA-EPITELIAL DE ALTO GRAU MARIA INES DE MIRANDA LIMA

PAPANICOLAOU COMO MÉTODO AUXILIAR DE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DAS VAGINITES

DIFICULDADES DE INTERPRETAÇÃO NO DIAGNÓSTICO CITOLÓGICO DE ATIPIAS ESCAMOSAS DE SIGNIFICADOS INDETERMINADO POSSIVELMENTE NÃO NEOPLÁSICA (ASC-US).

Sumário Executivo. Amanda Reis. Luiz Augusto Carneiro Superintendente Executivo

Exame de despiste de cancro do colo do útero: Explicação dos seus resultados. Orientações atualizadas

ipea A ESCOLARIDADE DOS PAIS E OS RETORNOS À EDUCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO 1 INTRODUÇÃO 2 DADOS


Atualização das Diretrizes para o rastreamento do câncer do colo do útero

O perfil do Citotecnologista em Angola

Perfil das mulheres brasileiras em idade fértil e seu acesso à serviços de saúde Dados da PNDS 2006

Gerenciamento de Problemas

A situação do câncer no Brasil 1

PREVINA O CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

25 de Abril Quinta-feira RASTREIO DO CANCRO DO COLO DO ÚTERO E IMUNOPROFILAXIA PARA O HPV. Joaquim Neves

Colposcopia na Gravidez

MONITORAMENTO DAS AÇÕES DE CONTROLE DOS CÂNCERES

RASTREAMENTO EM CÂNCER

Dados sobre Tabaco e Pobreza: um círculo vicioso

BOLETIM ELETRÔNICO DO GRUPO TÉCNICO DE AVALIAÇÃO E INFORMAÇÕES DE SAÚDE

PLANOS DE CONTINGÊNCIAS

Alexandre de Lima Farah

OF/AMUCC-043/ ADV Florianópolis, 02 de maio de 2013.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO MEDICINA SOCIAL ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA

PANORAMA DO CONTROLE DO CÂNCER DE COLO DE ÚTERO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO AVANÇOS E DIFICULDADES TROCANDO IDEIAS XVII 30/08/2013

HPV = human papillomavirus ou papillomavirus humano; É um tipo de vírus que ataca o tecido epitelial humano (Cutts et Al, 2007; Soper, 2006);

Prevenção em dobro. Eixo de Prevenção do Câncer ganha segunda Unidade Móvel CAPA

Vacinas contra HPV. Fábio Russomano

CAMPANHA PELA INCLUSÃO DA ANÁLISE MOLECULAR DO GENE RET EM PACIENTES COM CARCINOMA MEDULAR E SEUS FAMILIARES PELO SUS.

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

-Os Papiloma Vírus Humanos (HPV) são vírus da família Papovaviridae.

Saúde da mulher em idade fértil e de crianças com até 5 anos de idade dados da PNDS 2006

CONCURSO PÚBLICO ANALISTA DE SISTEMA ÊNFASE GOVERNANÇA DE TI ANALISTA DE GESTÃO RESPOSTAS ESPERADAS PRELIMINARES

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE DA FAMÍLIA BRUNO DE CARVALHO DORNELAS

PALAVRAS-CHAVE Exame Papanicolaou. Câncer do Colo do Útero. Resultados.

PNAD - Segurança Alimentar Insegurança alimentar diminui, mas ainda atinge 30,2% dos domicílios brasileiros

HPV Fatores relacionados à persistência da infecção

Podemos encontrar uma figura interessante no PMBOK (Capítulo 7) sobre a necessidade de organizarmos o fluxo de caixa em um projeto.

Avaliação do grau de implementação do programa de controle de transmissão vertical do HIV em maternidades do Projeto Nascer

BETHESDA 2001 Versão portuguesa

Transcrição:

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil 1 Cost-effectiveness of uterine cervical neoplasms screening in Brazil Rosângela Caetano 2, Cid Manso de Mello Vianna 3, Luiz Cláudio Santos Thuler 4 & Vania Reis Girianelli 5 RESUMO O objetivo do estudo foi estimar a custo-efetividade do versus as novas tecnologias de rastreamento do câncer cérvico-uterino. Foi utilizado um modelo analítico de decisão tendo como unidade de desfecho os casos detectados de câncer ou lesões precursoras de alta malignidade. A perspectiva adotada no estudo foi a do sistema de saúde, utilizando os valores propostos pela tabela da AMB, 2004. O teste de Papanicolaou revelou-se a opção mais custo-efetiva, com um custo por caso detectado de R$ 14.586,86, seguida do teste para HPV (R$ 47.805,30). As estimativas dos preços para o SUS foram: captura híbrida para HPV, R$ 19,12; associação do exame de Papanicolaou com teste para HPV, R$ 11,82; citologia em meio líquido, R$ 8,22. PALAVRAS-CHAVE: Diagnóstico Precoce; Câncer do Colo do Útero; Custo-efetividade; ; Papilomavirus humano. ABSTRACT Cost-effectiveness study that compares the Papanicolaou test to new screening technologies for uterine cer vical neoplasms. The decision-analytical model had as outcomes the detected cases of uterine cervical neoplasms or high-malignant precursor lesions. The study adopted the health system perspective, using values proposed by the Brazilian Medical Association (AMB) chart, 2004. The Papanicolaou smear was the most cost-effective option, with a cost per detected case of US$ 6,770, followed by the Papillomavirus (HPV) testing (US$ 22,190). The estimated prices for the Brazilian Public Health System (SUS) were: Hybrid Capture II HPV test collected by health professional, US$ 8.85; association of the Papanicolaou smear and the Hybrid Capture II HPV test, US$ 5.50; and liquid-based cytology, US$ 3.80. KEYWORDS: Early Diagnosis; Uterine Cervical Neoplasms; Cost-Effectiveness; Papanicolaou Smear; Human Papillomavirus. 1 Esta pesquisa foi subvencionada pela Fundação Ary Frauzino de Pesquisa e Controle do Câncer/INCa e pela Digene do Brasil. 2 Doutora em Saúde Coletiva; professora do Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). E-mail: caetano.r@globo.com 3 Doutor em Economia; professor do Instituto de Medicina Social, Uerj. E-mail: cmmv@ims.uerj.br 4 Doutor em Medicina; médico-epidemiologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca). E-mail: lthuler@inca.gov.br 5 Doutoranda em Epidemiologia, pesquisadora do Inca. E-mail: vaniarg@inca.gov.br

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil INTRODUÇÃO O carcinoma de colo uterino é uma das neoplasias mais comuns em mulheres em todo o mundo. No Brasil, é a quarta causa de morte por câncer em mulheres, sendo o tipo mais comum em algumas áreas menos desenvolvidas do país. Sua ocorrência se concentra principalmente em mulheres acima dos 35 anos de idade. De acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer, a taxa de mortalidade por essa neoplasia tem apresentado um contínuo e sustentado aumento desde 1979, passando de 3,44 casos/100.000 mulheres nesse ano, para 4,45/ 100.000 em 1998 (aumento de 23% em dez anos). Para 2005, as estimativas de incidência são de 20.690 novos casos, com um risco estimado de 22 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL/INCA, 2004). O prognóstico no câncer de colo uterino depende muito da extensão da doença no momento do diagnóstico, estando sua mortalidade fortemente associadas ao diagnóstico tardio e em fases avançadas. Segundo os Registros Hospitalares brasileiros, em média, a metade das pacientes com câncer de colo uterino tem um diagnóstico inicial em estádio III ou IV (BRASIL/INCA, 2003a). O teste de Papanicolaou é capaz de detectá-lo em fase pré-maligna ou incipiente, quando é curável com medidas relativamente simples. Grande proporção das reduções na incidência e mortalidade, observadas desde o início dos anos 1960 na maioria dos países desenvolvidos, tem sido atribuída à prática de rastreamento periódico com este teste. Ainda que seja um exame rápido, de baixo custo e efetivo para detecção precoce, sua técnica de realização é vulnerável a erros de coleta e de preparação da lâmina e a subjetividade na interpretação dos resultados. Diante disso, os estudos têm apresentado grande variabilidade CERCA DE ¼ DOS CÂNCERES DE COLO UTERINO OCORREM EM MULHERES REGULARMENTE EXAMINADAS nas estimativas de sensibilidade e especificidade do exame, com uma média de 58% (variação de 11% a 99%) e 68% (variação de 14% a 97%), respectivamente (FAHEY et al., 1995). Adicionalmente, em nosso meio, existe uma baixa cobertura nacional das ações de do rastreamento desta neoplasia: embora o Inquérito Domiciliar realizado pelo Ministério da Saúde tenha mostrado que, para as 16 localidades analisadas, a cobertura estimada do exame Pa- panicolaou variou entre 74% e 93%, o percentual destes exames que foi realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) variou entre 33% e 64% do total, o que em parte explica o diagnóstico tardio e a manutenção das taxas de mortalidade, bem como as altas taxas de incidência observadas no Brasil (BRASIL/INCA, 2003a). Quando displasias, lesões prémalignas ou malignas da cérvix deixam de ser detectadas (isto é, testes falso-negativos), o resultante retardo no diagnóstico pode se acompanhar de progressão da doença e necessidade de tratamento mais agressivo. HUTCHINSON et al. (2000) estimam que cerca de ¼ dos cânceres de colo uterino ocorrem em mulheres regularmente examinadas (pelo menos a cada três anos) e que foram perdidas devido à sensibilidade sub-ótima do teste de Papanicolaou. Isso tem motivado o desenvolvimento de um conjunto de novas técnicas, com o objetivo de superar os potenciais problemas mencionados e, conseqüentemente, melhorar a acurácia do exame citopatológico. Entre estas novas tecnologias, destacam-se a citologia em meio líquido e os testes para detecção do papilomavirus (HPV) por captura híbrida. A citologia em meio líquido é um método em que as células cervicais são imersas em um líquido conservante antes da fixação da lâmina, evitando-se o ressecamento do material, reduzindo-se a quantidade de

CAETANO, Rosângela et al artefatos e produzindo uma menor taxa de exames insatisfatórios. Essa melhor qualidade dos resultados teria como conseqüência uma sensibilidade potencialmente maior que a do teste de Papanicolaou, possibilitando ainda que o material residual possa ser utilizado para o diagnóstico, por meio de métodos biomoleculares, de infecções sexualmente transmissíveis como clamídia, gonococcia e também para o HPV (SHERMAN et al., 1997; BOLICK & HELLMAN, 1998; ALVES et al., 2004). Estudos epidemiológicos têm mostrado que o maior fator de risco para o desenvolvimento de carcinomas do colo pré-invasivos e invasivos é a infecção pelo papilomavírus, com o agente sendo identificado em até 99,7% dos espécimes de câncer cervical (MUNOZ, 2000). A infecção por este agente apresenta uma prevalência em torno de 20 a 40% entre as mulheres jovens, estando a carcinogênese associada ao tipo viral (alto risco oncogênico), à sua persistência e integração no genoma da célula hospedeira, bem como à carga viral (SANTOS et al., 2003; MYERS et al., 2000). Como decorrência, testes para detecção do HPV têm sido propostos como estratégia complementar ou substitutiva da citologia oncótica na detecção precoce do câncer cérvico-uterino e de suas lesões precursoras, na triagem mais imediata de pacientes com células escamosas atípicas de significado in- determinado ou em mulheres de mais de 35 anos com neoplasia intra-epitelial escamosa de baixo grau. O teste de captura de híbridos (CH II) identifica 13 tipos de vírus considerados de alto risco oncogênico (subtipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68) e cinco tipos de vírus de baixo risco oncogênico (6, 11, 42, 43 e 44), com uma sensibilidade superior à do exame citopatológico convencional na identificação do cân- NA ATUALIDADE, APENAS O TESTE DE PAPANICOLAOU FAZ PARTE DO ROL DE PROCEDIMENTOS COBERTOS PELO SUS cer do colo do útero ou suas lesões precursoras (FLORES et al., 2003; MSCA, 2003). Além disso, o teste CH II também oferece a possibilidade de autocoleta, uma alternativa que permite aumentar a cobertura do exame em regiões de difícil acesso ou com características culturais que levem à resistência ao exame ginecológico. Na atualidade, apenas o teste de Papanicolaou faz parte do rol de procedimentos cobertos pelo SUS. Decisões acerca da cobertura e uso destes procedimentos podem ser em muito auxiliadas por estudos voltados para a eficiência comparativa destes métodos, em termos de sua custo-efetividade medido sob a perspectiva societal. O presente trabalho teve como objetivo principal avaliar a custo-efetividade comparativa das seguintes estratégias diagnósticas utilizadas na detecção precoce do câncer de colo uterino: a) citologia convencional/ ; b) citologia em meio líquido; c) teste de CH-HPV, com coleta por profissional de saúde; d) teste de CH-HPV, com autocoleta; e) combinação de citologia convencional com teste de CH-HPV, com coleta por profissional de saúde; f) combinação de citologia em meio líquido com teste de CH-HPV, com coleta por profissional de saúde. Um segundo objetivo foi a estimativa dos preços que as tecnologias de rastreamento não presentes na tabela de reembolso do SUS precisariam ter para que as relações de custo-efetividade fossem, no mínimo, equivalentes ao teste de Papanicolaou. MÉTODOS Um modelo analítico de decisão, tomando por base modelagens desenvolvidas pelo Medical Services Advisory Committee australiano (MSAC, 2003, 2002a, 2002b), foi usado para simular os impactos

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil econômicos e em saúde das novas tecnologias de rastreamento. A estrutura do modelo está baseada na prática clínica compatível com as condutas clínicas preconizadas pelo Programa VIVA MULHER do Ministé- rio da Saúde (BRASIL/INCA, 2003b) para as citologias convencional e em meio líquido (Figura 1); no caso de teste de captura híbrida para papilomavirus (CH-HPV) e da associação entre as citologias e CH- HPV (Figuras 2 e 3, respectivamente), tomou-se por base diretrizes da American Câncer Society (SALOW et al., 2002) e do American College of Obstetricians and Gynecologists (WRIGHT et al., 2004). FIGURA 1 Árvore de decisão de condutas clínicas relacionadas com Citologia Convencional (Papanicolaou) ou Citologia Líquida Legenda: 1 espécimes que se mostraram inadequados à avaliação oncótica devido a material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) ou leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, intensa superposição celular ou outros. 2 Lesão intra-epitelial de baixo grau (efeito citopático pelo HPV e neoplasia intraepitelial cervical grau I NIC I) e células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) de origem possivelmente não neoplásica; 3 Células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) onde não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau, células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS), lesão intra-epitelial de alto grau (neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III NIC II e NIC III), carcinoma epidermóide invasor e adenocarcinoma); 4 normal, NIC I e HPV; 5 NIC II, III, e carcinoma escamoso ou adenocarcinoma invasor FIGURA 2 Árvore de decisão de condutas clínicas relacionadas com o teste de Captura Híbrida para Papilomavirus (CH-HPV) por auto-coleta ou coleta por profissional de Saúde Legenda: 1 baixo risco oncogênico (tipos virais 6, 11, 42, 43 e 44). 2 alto risco oncogênico (tipos virais de número 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68); 3 normal, NIC I e HPV; 4 NIC II, III, e carcinoma escamoso ou adenocarcinoma invasor.

CAETANO, Rosângela et al FIGURA 3 Árvore de decisão de condutas clínicas relacionadas com as associações da citologia (Convencional ou Citologia Líquida) e do teste de Captura Híbrida para Papilomavirus (CH-HPV) com coleta por profissional de Saúde Legenda: 1 citologia negativa, lesão intra-epitelial de baixo grau (efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I NIC I) e células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) de origem possivelmente não neoplásica e CH-HPV negativo (normal ou positividade para tipos virais de baixo risco oncogênicos); 2 espécimes que se mostraram inadequados à avaliação oncótica devido a material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) ou leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, intensa superposição celular ou outros. 3 citologia positiva células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS), células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS), lesão intra-epitelial de alto grau (neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III NIC II e NIC III), carcinoma epidermóide invasor e adenocarcinoma ou CH-HPV positivo (positividade para tipos virais de alto risco oncogênico); 4 normal, NIC I e HPV; 5 NIC II, III, e carcinoma escamoso ou adenocarcinoma invasor. As eficiências comparativas das estratégias foram medidas pela rela- ção incremental de custo-efetividade. O benefício em saúde foi expresso em número de casos detectados de lesões precursoras com alto grau de malig- nidade ou de câncer do colo do útero, calculados a partir da matriz de pro- babilidades derivadas do modelo. A população utilizada no modelo foi de coorte teórica de 10.000 mulhe- res representativas da população que poderia participar de tais programas e o horizonte de tempo trabalhado no modelo restringiu-se a um ano. TESTES DE RASTREAMENTO E MEDIDAS DE EFETIVIDADE As estimativas de efetividade dos métodos de rastreamento tomaram por base estudo de acurácia recentemente realizado pelo INCA (GIRIANELLI et al., 2003, 2004), além de pesquisa bibliográfica específica sobre o tema. O referido estudo incluiu 1.777 mulheres entre 25 e 59 anos de idade, que nunca haviam realizado o exame citopatológico (13,5%) ou o haviam realizado há mais de três anos. Em uma única visita, foi colhida uma amostra de esfregaço cérvico-vaginal para a realização de citologia convencional, seguida de uma amostra para a realização de citologia em base líquida e do teste de captura híbrida para HPV; uma terceira amostra para a realização do teste de DNA do HPV foi colhida pela própria paciente. Foram encaminhadas para colposcopia todas as mulheres que apresentaram pelo menos um exame alterado e uma amostra sistemática, com início aleatório, daquelas mulheres com todos os resultados negativos. Todos os exames citopatológicos e de captura híbrida para HPV foram realizados na Seção Integrada de Tecnologia em Citopatologia (SITEC) do INCA. Do total, 585 mulheres (33%) apresentaram alteração em pelo menos um dos exames realizados, com uma positividade para lesões igual ou maior que células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) de 9,6% para o teste de Papanicolaou e de 16,2% para a citologia em meio líquido. Já a positividade para ASCUS (onde não pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau), células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS)

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil e neoplasias intra-epiteliais cervicais de grau maior ou igual a II (NIC II) foi de 5,4% no teste de Papanicolaou e de 7,7% para a citologia em meio líquido. Mostraram-se positivas para HPV de alto risco oncogênico, 11,4% e 14,0% das amostras, conforme tivessem sido colhidas por profissional de saúde ou pela própria paciente, respectivamente. A citologia convencional apresentou 2,2% de amostras insatisfatórias. Já a citologia em meio líquido apresentou um percentual de 3,4%, influenciado basicamente pela ocorrência de esfregaço hemorrágico (90,2% das amostras insatisfatórias). No entanto, quando foram excluídas as amostras que apresentaram sangramento após a primeira coleta, ocorreu uma queda significativa no percentual de amostras insatisfatórias, passando para 1,6% (p < 0,001), sugerindo que a citologia em meio líquido poderia ter apresentado melhor desempenho se fosse baseada na primeira coleta. Foram detectados 35 casos de lesões precursoras de alto grau/câncer cervical, ao exame anatomopatológico, assim distribuídos: Neoplasia Intra-epitelial Cervical (NIC) II 15 casos; NIC III 18 casos; adenocarcinoma in situ um caso; adenocarcinoma invasor um caso. Os resultados de sensibilidade e especificidade dos diferentes testes encontram-se sintetizados na Tabela 1 e as principais probabilidades utilizadas nas árvores de decisão encontram-se na Tabela 2. TABELA 1 Medidas de acurácia das estratégias de rastreamento do câncer cérvico-uterino Estratégia de rastreamento Citologia convencional Citologia em meio líquido CH-HPV colhido por profissional CH-HPV por autocoleta Citologia convencional + CH-HPV colhido por profissional* Citologia em meio líquido + CH-HPV colhido por profissional* Sensibilidade Especificidade (IC 95% ) (IC 95% ) 71,4% 91,6% (53,4-84,8) (90,2-92,8) 66,7% (48,1-81,4) 91,4% (75,8-97,8) 77,1% (59,4-89,0) 97,1% (83,4-99,9) 90,9% (74,5-97,6) Legenda: CH-HPV teste de captura híbrida para papilomavírus; IC 95% = Intervalo com 95% de confiança. 84,8% (83,0-86,5) 90,2% (88,7-91,5) 87,3% (85,6-88,8) 84,9% (83,1-86,5) 78,3% (76,3-80,2) *Critérios de positividade dos testes em paralelo: Citologia convencional e Citologia em meio líquido ASCUS e/ou CH-HPV positiva para subtipos com alto risco oncogênico. Fonte: GIRIANELLI et al., 2004. TABELA 2 Principais probabilidades de transição empregadas nos modelos de decisão, segundo tecnologia de rastreamento do câncer cérvico-uterino Resultados Papanicolaou (%) Citologia Líquida (%) Normal 90,37 83,84 Insatisfatório 1 2,20 4,05 Baixo grau 2 5,97 8,46 Alto grau 3 3,66 7,71 Colposcopia imediata sem lesão visível 1,30 4,46 Colposcopia imediata com lesão visível 2,37 3,24 Anatomopatologia negativa 4 1,18 2,20 Anatomopatologia positiva 5 1,18 1,04 Resultados CH-HPV coleta profissional (%) CH-HPV autocoleta(%) Normal 86,33 83,01 6 Baixo risco oncogênico 2,25 3,04 Alto risco oncogênico 7 11,42 13,96 Colposcopia imediata sem lesão visível 6,42 8,33 Colposcopia imediata com lesão visível 5,01 5,63 Anatomopatologia negativa 3,21 4,11 Anatomopatologia positiva 1,80 1,52

CAETANO, Rosângela et al TABELA 2 Principais probabilidades de transição empregadas nos modelos de decisão, segundo tecnologia de rastreamento do câncer cérvico-uterino (continuação) Resultados Papanicolaou + CH-HPV coleta profissional (%) Citologia Líquida + CH-HPV coleta profissional (%) Todos os testes negativos 83,27 77,00 Insatisfatório 2,19 4,05 Qualquer teste positivo 8 16,73 23,00 Colposcopia imediata sem lesão visível 9,63 14,77 Colposcopia imediata com lesão visível 7,10 8,23 Anatomopatologia negativa 5,18 6,49 Anatomopatologia positiva 1,92 1,74 Legenda: CH-HPV Captura híbrida para papilomavirus; 1 espécimes que se mostraram inadequados à avaliação oncótica devido a material acelular ou hipocelular (< 10% do esfregaço) ou leitura prejudicada (> 75% do esfregaço) por presença de sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos, intensa superposição celular ou outros. 2 Lesão intra-epitelial de baixo grau (efeito citopático pelo HPV e neoplasia intra-epitelial cervical grau I - NIC I) e células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) de origem possivelmente não neoplásica; 3 Células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) quando não se pode afastar lesão intra- epitelial de alto grau, células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS), lesão intra-epitelial de alto grau (neoplasias intra- epiteliais cervicais graus II e III - NIC II e NIC III), carcinoma epidermóide invasor e adenocarcinoma); 4 normal, NIC I e HPV; 5 NIC II, III, e carcinoma escamoso ou adenocarcinoma invasor; 6 - baixo risco oncogênico (tipos virais 6, 11, 42, 43 e 44); 7 alto risco oncogênico (tipos virais de número 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68); 8 - citologia positiva - células escamosas atípicas de significado indeterminado (ASCUS) onde não se pode afastar lesão intra-epitelial de alto grau, células glandulares atípicas de significado indeterminado (AGUS), lesão intra-epitelial de alto grau (neoplasias intra-epiteliais cervicais graus II e III - NIC II e NIC III), carcinoma epidermóide invasor e adenocarcinoma - e/ou CH-HPV positivo (positividade para tipos virais de alto risco oncogênico) Fonte: Girianelli et al. 2003. do; colposcopia; biópsia de colo uterino e anatomopatologia (Tabela 3). A citologia em meio líquido e captura híbrida para HPV não se encontram dentro dos procedimentos aprovados para reembolso no SUS, impedindo que se possa comparar as várias estratégias de rastreamento sob a perspectiva do sistema público de saúde brasileiro. Procedeu-se a uma estimativa de qual deveria ser o preço máximo destes testes de rastreamento para o SUS, de modo a garantir a equivalência em custo-efetividade ao teste de Papanicolaou. Para este cálculo, utilizaram-se os valores dos itens de custo presentes na tabela de reembolso do SUS (BRASIL/ MS, 2004) (Tabela 3). RESULTADOS CUSTOS DAS ESTRATÉGIAS DE RASTREAMENTO A perspectiva de análise utiliza- da foi a do Sistema de Saúde, sen- do apenas considerados aqueles custos diretamente envolvidos na detecção e confirmação dos casos. Dada a opção por utilizar como unidade de análise o número de casos detectados, não foram consi- derados os custos envolvidos com o tratamento das lesões ou dos ca- sos de câncer detectados. Utilizou-se, como medida de va- loração dos custos, os valores reembolso constantes na Classifica- de ção Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (AMB, 2004), elaborada pela Associação Médica Brasileira, Sociedades de Especialidades e Conselho Federal de Medicina. Esta tabela apresenta diferenças entre os vários estados da federação, de modo que se admite uma banda de 20%, para mais ou para menos, para fins de regionalização, com estas variações sendo testadas na análise de sensibilidade. Os seguintes itens foram utilizados para estimar os custos das estratégias de rastreamento: consulta; exame Papanicolaou; revisão de lâminas; exame CH-HPV; citologia em meio líqui- O teste de Papanicolaou foi aquele que apresentou a melhor razão incremental de custo-efetividade entre todas as estratégias de rastreamento analisadas. As estratégias de CH-HPV por autocoleta, citologia em meio líquido e a combinação desta com o teste de HPV são dominadas pelo teste de Papanicolaou. Tomando este último como base, os valores para o teste de Papanicolaou, combinação do teste de Papanicolaou com teste de CH- HPV com coleta por profissional e teste de HPV com coleta por profissional aplicado de forma isolada foram, respectivamente, de R$ 14.586,86, R$ 73.556,84 e R$ 146.638,86 por caso adicional detectado (Tabela 4).

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil TABELA 3 Item de Custo, códigos e respectivos valores em reais nas Tabelas da CBHPM-AMB e de Reembolso de Procedimentos do SUS Item de Custo Código CBHPM Valor CBHPM Código SUS Valor SUS Consulta Exame Papanicolaou Coleta Papanicolaou Revisão de lâminas Exame DNA do HPV Citologia em meio líquido Colposcopia Biópsia de colo uterino Anatomopatologia Obs: = Item não existente na tabela. Fontes: AMB, 2004 e BRASIL/MS, 2004. 1.01.01.001-0 4.06.01.013-7 4.06.01.015-3 4.06.01.029-3 4.06.01.032-3 4.13.01.010-4 3.13.03.002-2 4.06.01.019-6 42,00 27,85 166,50 228,13 44,75 24,00 368,00 120,75 02.012.06-5 12.011.01-0 07.051.01-8 12.011.02-9 17.051.01-0 08.031.01-0 12.012.03-3 TABELA 4 Custo-efetividade das estratégias usadas no rastreamento do câncer cérvico-uterino Procedimento Custo Efetividade CH-HPV autocoleta Citologia em Meio Líquido Citologia em Meio Líquido + CH-HPV coleta por profissional CH-HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + CH-HPV coleta por profissional 2.888.846,43 3.133.408,29 4.127.641,37 2.552.628,79 3.285.823,07 3.803.094,99 Comparação entre as alternativas mais custo-efetivas Teste Papanicolaou + CH-HPV coleta por profissional 2.552.628,79 3.803.094,99 0,0152 0,0162 0,0174 0,0175 0,0 0,0 0,0175 0,0 CEI = Custo / caso; HPV teste de captura híbrida para papilomavírus. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE Com vistas testar a robustez dos resultados, foi realizada uma aná- lise de sensibilidade que incluiu mudanças em alguns dos parâme- Casos / 10.000 mulheres 152 162 174 175 175 Custo por caso detectado 19.005,57 19.315,22 23.722,08 14.586,45 18.254,57 19.807,79 14.586,45 19.807,79 2,04 5,37 1,00 5,37 1,69 14,66 20,87 CEI 19.005,57 23.918,50 84.434,48-1.575.012,58 146.638,86 43.105,99 14.586,45 73.556,84 tros que pudessem influenciar as re- lações de custo-efetividade calcula- das para as várias opções de rastre- amento. A tabela da Classificação Brasileira Hierarquizada de Proce- dimentos Médicos (AMB, 2004) ad- mite que existem variações regionais nos valores de reembolso praticado, assumindo variações de 20% para mais ou menos. Além disso, os valores de sensibilidade dos testes de rastreamento têm implicações diretas tanto na efetividade número de casos detectados de lesões precursoras ou câncer como nos custos, dado que algumas categorias de resultados serão reexaminados dentro dos intervalos de tempo previstos nas condutas clínicas nacionais e internacionais tomadas por base para a construção do modelo (BRASIL/INCA, 2003b; SALOW et al., 2002; WRIGHT et al., 2004). Por fim, também a taxa de exames insatisfatórios pode alterar a relação custo-efetividade das estratégias de rastreamento em questão porque implica em nova coleta e reexame dos casos. Desse modo, as seguintes situações foram consideradas nas análises de sensibilidade: a) redução em 20% dos itens de custo relacionados às outras estratégias de rastreamento, mantendo o valor da estratégia do teste de Papanicolaou inalterada; b) redução em 20% dos itens de custo relacionados às outras estratégias de rastreamento, com o valor da estratégia do teste de Papanicolaou elevada também em 20%; c) sensibilidade do teste de Papanicolaou no limite inferior do intervalo de confiança encontrado para essa medida de acurácia no estudo do INCA (GIRIA- NELLI et al., 2003, 2004), qual seja, sensibilidade igual a 53,4%; d) sen-

CAETANO, Rosângela et al sibilidade da citologia em meio líquido no limite superior do mencionado intervalo de confiança (81,4%); e) redução na taxa de exames insatisfatórios relacionados com a citologia em meio líquido para um valor de 1,6% (média nas taxas de insatisfatórios presentes na literatura). As simulações levando em consideração as mudanças aqui mencionadas não mostraram influência significativa sobre o resultado inicial. A redução na sensibilidade do teste de Papanicolaou (Tabela 5) não alterou seu papel como opção mais custo-efetiva: ainda que a efetividade tenha se reduzido de 175 para 152 casos detectados em 10 mil mulheres, o impacto nos custos é pouco significativo, com a razão incremental se elevando de R$ 14.586,45 para R$ 16.757,06, permanecendo melhor que a da segunda alternativa mais custo-efetiva (R$ 26.383,94). O aumento na efetividade da citologia em meio líquido também não altera o resultado inicialmente encontrado: o teste de Papanicolaou ainda se mantém, com preços normais, como a tecnologia de rastreamento mais custo efetiva (Tabela 6). Por fim, redução na proporção de exames insatisfatórios também não modifica significativamente os resultados finais. Os preços dos itens de custo agregados a cada estratégia, contudo, se revelaram uma variável com impacto nos resultados iniciais. A estratégia de captura híbrida para HPV colhida por profissional de saúde, com TABELA 5 Custo-efetividade das tecnologias de rastreamento do câncer cérvico-uterino com teste de Papanicolaou apresentando sensibilidade reduzida para 53,4% Procedimento Custo Efetividade HPV auto-coleta Citologia em Meio Líquido Citologia em Meio Líquido + HPV HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + HPV 2.888.846,43 2.547.072,72 3.292.367,10 4.127.641,37 3.285.823,07 3.803.094,99 Comparação entre alternativas mais custo-efetivas HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + HPV 2.547.072,72 3.285.823,07 3.803.094,99 0,0152 0,0152 0,0162 0,0174 0,0 0,0 0,0158 0,0 0,0 CEI = Custo / caso; HPV teste de captura híbrida para papilomavírus. Casos / 10.000 mulheres 152 152 162 174 152 Custo caso detectado 19.005,57 16.757,06 20.323,25 23.722,08 18.254,57 19.807,79 16.757,06 18.254,57 19.807,79 CEI 19.005,57 16.757,06 74.529,44 69.606,19-140.303,05 43.105,99 16.757,06 26.383,94 43.105,99 TABELA 6 Custo-efetividade das tecnologias de rastreamento do câncer cérvico-uterino com citologia em meio líquido apresentando sensibilidade aumentada para 81,4% Procedimento Custo Efetividade HPV autocoleta Citologia em Meio Líquido + HPV HPV coleta por profissional Citologia em Meio Líquido Teste Papanicolaou + HPV 2.888.846,43 4.127.641,37 2.552.628,79 3.182.392,01 3.285.823,07 3.803.094,99 Comparação entre alternativas mais custo-efetivas Citologia em Meio Líquido Teste Papanicolaou + HPV 2.552.628,79 3.182.392,01 3.803.094,99 0,0152 0,0174 0,0175 0,01796 0,01 0,0 0,0175 0,0 0,0 CEI = Custo / caso; HPV teste de captura híbrida para papilomavírus. a redução em 20% dos valores dos itens de custo e uma elevação em igual proporção dos valores pratica- Casos / 10.000 mulheres 152 174 175 175 Custo caso detectado 19.005,57 23.722,08 14.586,45 17.718,74 18.246,59 19.807,79 14.586,45 17.679,96 19.807,79 CEI 19.005,57 56.308,86-1.575.012,58 136.725,95 218.781,81 43.390,87 14.586,45 125.952,64 73.556,84 dos para o teste de Papanicolaou as- sume a posição de melhor razão cus- to-efetividade incremental (Tabela 7).

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil ESTIMATIVA DE PREÇOS PARA AS NOVAS TECNOLOGIAS DE RASTREAMENTO TABELA 7 Redução em 20% nos valores dos itens de custo relacionados às outras estratégias de rastreamento, com o valor da estratégia do Papanicolaou elevado em 20% As duas novas tecnologias examinadas nesse estudo, de forma isolada ou em combinação com o teste de Papanicolaou citologia em meio líquido e captura híbrida para HPV não se encontram dentro dos procedimentos aprovados para reembolso no SUS, o que impede que se possam comparar as várias estratégias de rastreamento sob a perspectiva do sistema público de saúde brasileiro. Na ótica da avaliação econômica, para se considerar que essas estratégias fossem equivalentes ao teste de Papanicolaou, elas deveriam ter no mínimo a mesma relação custo-efetividade deste último teste. Para isso, procedeu-se então a uma estimativa de qual deveria ser o preço máximo destes testes de rastreamento para o SUS, de modo a garantir o aqui pretendido. A partir dos valores pagos pelo SUS, foi estimado o custo da estratégia de Papanicolaou para o sistema público como sendo de R$ 245.762,79. Tomando por base uma efetividade de 175 casos detectados em 10 mil mulheres, a razão de custo foi de R$ 1.404,36 por caso detectado de câncer ou lesão precursora de alto grau. Estimou-se, então, o preço que cada uma das outras tecnologias precisaria atingir para igualar a razão de custo-efetividade do teste de Papanicolaou no reembolso público, qual seja, de R$ 1.404,36. Estes valores encontram-se presentes na Tabela 8. Procedimento Custo Efetividade HPV autocoleta Citologia em Meio Líquido Citologia em Meio Líquido + HPV coleta por profissional CH-HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + HPV coleta por profissional Teste de Rastreamento CH-HPV Citologia em Meio Líquido CH-HPV combinado com Papanicolaou 2.311.077,14 2.506.726,63 3.302.113,10 3.063.154,55 2.628.658,46 3.042.476,00 Comparação entre as alternativas mais custo-efetivas HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + HPV coleta por profissional 3.063.154,55 2.628.658,46 3.042.476,00 Comparação entre as alternativas mais custo-efetivas HPV coleta por profissional Teste Papanicolaou + HPV coleta por profissional 2.628.658,46 3.042.476,00 Preço SUS estimado (a) 19,12 8,22 11,82 0,0152 0,0162 0,0174 0,0175 0,0 0,0 0,0175 0,0 0,0 0,0 0,0 CEI = Custo / caso; HPV teste de captura híbrida para papilomavírus. Preço AMB (b) 228,13 44,75 228,13 Casos / 10.000 mulheres 152 162 174 175 175 Preço 20% AMB (c) 182,50 35,80 182,50 Custo por caso detectado 15.204,45 15.452,18 18.977,66 17.503,74 14.603,66 15.846,23 17.503,74 14.603,66 15.846,23 14.603,66 15.846,23 TABELA 8 Preços estimados das novas tecnologias de rastreamento para o SUS DISCUSSÃO A elevação quase universal dos gastos em saúde e os crescentes constrangimentos decorrentes da escassez de recursos vis-à-vis às demandas têm imposto a necessida- de de se justificar as novas técnicas a/b 8,38% 18,37% 5,18% CEI 15.204,45 19.134,80 67.547,58-238.958,55-86.899,22 34.484,79 17.503,74-86.899,22 34.484,79 14.603,66 34.484,79 a/c 10,48% 22,96% 6,48% em termos de seu custo-efetividade. Assim, tão importante quanto os diferenciais de efetividade entre os vários métodos, é a sua eficiência comparativa em termos da utiliza- ção dos recursos médicos e sociais. Em alguns casos, a introdução de uma nova tecnologia pode produzir

CAETANO, Rosângela et al economia de recursos do programa de rastreamento que suplantam o custo aumentado dos testes, como por exemplo, quando a sensibilidade do novo teste torna possível aumentar o intervalo entre exames, desse modo reduzindo os custos totais dos programas (HUTCHISON et al., 2000). No caso do câncer de colo uterino, o tempo médio entre o aparecimento de anormalidades detectáveis e o desenvolvimento de doença invasiva é considerado como de cerca de 10 a 15 anos. Entretanto, intervalos menores de tempo entre os exames de detecção são necessários devido ao número de testes falso-negativos, ou seja, as mulheres necessitam ser retestadas de um a três anos após um exame normal para reduzir a chance de se perder anormalidades existentes e não devido ao rápido desenvolvimento da doença. De forma bastante consistente, estudos de análises econômicas dos programas de rastreamento cervical têm mostrado que a relação de custo-efetividade do rastreamento, independente da tecnologia utilizada, aumenta exponencialmente à medida que os intervalos entre os exames de rastreamento diminuem, efeito que é ampliado pelo aumento da sensibilidade do teste (GOLDIE et al., 2001). Testes de rastreamento mais sensíveis, porque garantem que uma maior proporção de indivíduos com doença seja captada no rastreamento, podem permitir um espaçamento dos intervalos sem prejuízo da segu- rança e com implicações importantes para os custos e a eficiência comparativa entre os métodos. A avaliação das novas tecnologias propostas precisa também considerar os custos associados com a obtenção, processamento e interpretação dos exames, bem como aqueles referentes ao reexame decorrente de amostras inadequadas. Além disso, melhorias na acurácia envolvem a identificação de um número aumentado de pacientes com lesões intra- NEM SEMPRE O TESTE DE PAPANICOLAOU SE REVELARÁ A ESTRATÉGIA DE RASTREAMENTO DE CÂNCER CÉRVICO-UTERINO DE MELHOR RELAÇÃO CUSTO-EFETIVIDADE epiteliais de baixo grau, e os custos de investigar e tratar mulheres com testes falso-positivos ou anormais devem também ser avaliados. Os novos métodos introduzidos para o rastreamento do câncer cérvico-uterino têm sido objeto de diversos estudos de custo-efetividade (FLORES et al., 2003, FAHS et al., 1996, MANDELBLATT et al., 2002), em particular por agências internacionais de avaliação tecnológica (MSAC, 2003, 2002a, 2002b; AHC- PR, 1999, ICSI, 2003), responsáveis em seus países por auxiliar nas decisões relativas à cobertura e ao reembolso destes procedimentos pelos sistemas de saúde, público e privados. Em geral, os estudos e revisões parecem apontar que, embora estes testes mostrem melhor acurácia diagnóstica, com sensibilidade igual ou maior que a do teste de Papanicolaou, as incertezas presentes nos modelos empregados ainda não permitem concluir por maior custo-efetividade tanto da citologia em meio líquido quanto dos testes de captura para HPV. Neste estudo, o teste de Papanicolaou apresentou a melhor razão incremental de custo-efetividade entre todas as estratégias de rastreamento analisadas. Entretanto, as análises de sensibilidade demonstraram que este resultado é dependente dos custos das estratégias empregadas. Tanto é assim que a estratégia de captura híbrida para HPV com coleta por profissional de saúde, com a redução em 20% dos valores dos itens de custo e uma elevação em igual proporção dos valores praticados para o teste de Papanicolaou, assume a posição de melhor razão de custo-efetividade incremental. Isto significa que nem sempre, tomando por base os preços propostos para o setor privado de saúde, o teste de Papanicolaou se revelará a estratégia de rastreamento de câncer cérvico-uterino de melhor relação custo-efetividade.

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil Tanto a redução na sensibilidade do teste de Papanicolaou quanto o aumento da sensibilidade da citologia em meio líquido não alteram os resultados acima relatados, exceto quando se alteram os custos das estratégias de rastreamento. As estimativas realizadas buscando identificar os preços que as novas tecnologias precisariam assumir no sistema público, de modo a atingirem uma razão de custo-efetividade equivalente ao do teste de Papanicolaou. Tomando por base o valor de reembolso atualmente praticado para o teste de Papanicolaou de R$ 5,37, mostraram que os valores reembolsados pelo SUS para os testes de captura híbrida para HPV com coleta por profissional de saúde, da citologia em meio líquido e da combinação do CH-HPV com a citologia convencional, deveriam ser de, no máximo, R$ 19,12, R$ 8,22, e R$ 11,82, respectivamente. Vale ser ressaltado, entretanto, que nesses valores de reembolso estimados não estão incluídos os custos relacionados à adoção de uma nova tecnologia pelo sistema de saúde. Usualmente, a modificação de rotinas já estabelecidas implica, entre outros, em custos não previstos, perda de produtividade transitória e necessidade de treinamento e capacitação de recursos humanos para a reorganização da assistência nos novos moldes. Outrossim, deve-se observar também que os cálculos efetuados são ex- pressão de um exercício preliminar, que não deve ser tomado como valor proposto de reembolso para o SUS, para o qual seriam necessários estudos de custos mais detalhados, que não estiveram presentes no escopo deste projeto. Algumas limitações desse estudo merecem ser mencionadas. Primeiro, como a perspectiva adotada foi a do sistema de saúde, não foram incluídos os custos indiretos. Na ótica da sociedade, por exemplo, NO BRASIL, A MAIORIA DAS UNIDADES DE SAÚDE NÃO TEM SISTEMAS DE CUSTEIO OPERANTE E DESCONHECE O CONSUMO PRECISO DE RECURSOS VINCULADOS À PRESTAÇÃO DE CADA INTERVENÇÃO OU SERVIÇO além dos custos diretamente relacionados à detecção dos casos, se precisariam agregar os custos relativos a deslocamento dos pacientes e acompanhantes, perda de produtividade decorrentes de absenteísmo, aposentadoria e morte precoce, etc. Por sua vez, em função da medida de efetividade escolhida, também não foram considerados nas estimativas realizadas os custos dos tratamentos dos casos detectados. Como os valores referentes à inves- tigação adicional e ao tratamento são muito mais elevados que aqueles relacionados ao diagnóstico precoce, sua inclusão poderia modificar os resultados aqui encontrados. Outra limitação foi a utilização de valores de reembolso e não o levantamento dos custos atribuíveis a cada uma das opções de rastreamento. No Brasil, a maioria das unidades de saúde não tem sistemas de custeio operante e desconhece o consumo preciso de recursos vinculados à prestação de cada intervenção ou serviço. Os valores pagos por um dado procedimento pelo SUS dizem respeito aos gastos contabilizados pelo sistema e não ao consumo dos recursos empregados em uma função de produção relativa àquele procedimento. Embora o uso dos fatores envolvidos na função de produção de cada intervenção seja um custo na perspectiva do Estado brasileiro, na medida que o valor da tabela de reembolso de procedimento do SUS não venha a cobri-los, este uso não corresponde ao que é custo para SUS, que se restringe ao valor efetivamente pago por este sistema. CONCLUSÕES A principal conclusão deste estudo é que, embora o teste de Papanicolaou possa ser mais custo-efetivo, outras tecnologias e estratégias de rastreamento do câncer de colo uterino mais recentemente introduzidas podem vir a mostrar melhor

CAETANO, Rosângela et al razão de custo-efetividade na dependência dos preços praticados no setor de saúde. Dadas as incertezas existentes em vários parâmetros-chave, faz-se necessária a realização de estudos mais completos que contemplem os vários estágios da evolução natural do câncer de colo de útero em nosso meio e os efeitos das transições entre esses estados, a serem explorados por meio de modelos de universo temporal mais longo. REFERÊNCIAS AHCPR Agency for Health Care Policy and Research. Evaluation of Cervical Cytology. Evidence Report/Technology Assessment. Number 5, February 1999. AHCPR Publication No. 99-E010. ALVES, V. A. F.; BIBBO, M.; SCHMITT, F. C. L.; MILANEZI, F. & LONGATTO-FILHO A. Comparison of manual and automated methods of liquid-based cytology: a morphologic study. Acta Cytol 2004; 48(2):187-93. AMB Associação Médica Brasileira. Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos. Câmara Brasileira do Livro, SP. Brasil. 2004, 3ª edição. BOLICK, D. R. & HELLMAN, D. Laboratory implementation and efficacy assessment of the Thin Prep cervical cancer screening system. Acta Cytol 1998; 42:209 13. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do Sistema Úni- co de Saúde. SIA-SUS. Sistema de Informações Ambulatoriais do SUS, 2004. In: http://www.calcmed.com.br/ tabelasnet/tabelas_sus.asp BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Estimativa 2005: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA Coordenação de Prevenção e Vigilância, 2004. BRASIL. INCA Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Inquérito domiciliar sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não transmissíveis. Rio de Janeiro: INCA; 2003a. BRASIL. INCA Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência À Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Nomenclatura Brasileira para Laudos Citopatológicos Cervicais e Condutas Clínicas Preconizadas. Rio de Janeiro: INCA, 2003b. FAHEY, M. T.; IRWIG, L. & MASCASKILL, P. Meta-analysis of Pap Test Accuracy. Am. J. Epidemiol 1995; 141:680-9. FAHS, M. C.; PLICHTA, S. B. & MANDEL- BLATT, J. S. Cost-effective policies for cervical cancer screening: An international review. Pharmacoeconomics 1996, 9:211-30. FLORES, Y.; BISHAI, D.; LAZC ANO, E.; SHAH, K.; LÖRINCZ, A. et al. Improving cervical cancer screenning in Mexico: Results from the Morelos HPV Study. Salud Pública Méx 2003; 45(Suppl. 3): S388-98. GIRIANELLI, V. R.; THULER, L. C.; SZKLO, M.; DONATO, A.; ZARDO, L. M. G., LO- ZANA, J. A. et al. Validade dos Exames do DNA do HPV e Citologia em Base líquida na Detecção Precoce do Câncer do Colo do Útero e suas Lesões Precursoras. Relatório Final de Pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Câncer, 2003.. Comparação do desempenho do teste de captura híbrida II para HPV, citologia em meio líquido e citologia convencional na detecção precoce do câncer do colo do útero e de suas lesões precursoras no Rio de Janeiro, Brasil. Rev. Bras. Cancerol 2004; 50(3):225-6. GOLDIE, S. J., KUHN, L., DENNY, L., PO- LLACK, A. & WRIGHT, T. C. Policy analysis of cervical cancer screening strategies in low-resource settings: Clinical benefits and cost-effectiveness. JAMA 2001; 285:3107 15. HUTCHISON, M. L.; BERGER, B. M. & FAR- BER, F. L. Clinical and Cost Implications of New Technologies for Cervical Cancer Screening: The Impact of Test Sensitivity. Am. J. Manag. Care 2000;6:766-80. ICSI Institute for Clinical Systems Improvement. Liquid-Based Cervical Cytology. Technology Assessment Committee, Technology Assessment Report #76, 2003. MANDELBLATT, J. S.; LAWRENCE, W. F.; GAFFIKIN, L.; LIMPAHAYOM, K. K.; LUMBI- GANO, N. P., WARAKAMIN, S., et al. Costs and Benefits of Different Strategies

Custo-efetividade no diagnóstico precoce do câncer de colo uterino no Brasil to Screen for Cervical Cancer in Less- Developed Countries. J. Natl. Cancer Inst 2002; 94(19):1469-83. MSAC Medical Services Advisory Committee (MSAC). Human papillomavirus testing for cervical screening. Assessment report, Austrália, May 2003.. Human papillomavirus testing in women with cytological prediction of low-grade abnormality. Canberra, Austrália, 2002a.. Liquid based cytology for cervical screening. Assessment report, Austrália, August 2002b. MUNOZ, N. Human papillomavirus and cancer: the epidemiological evidence. J. Clin. Virol 2000; 19(1-2): 1-5. vical graus 2 e 3. Cad. Saúde Pública 2003; 19(4):1029-1037. SHERMAN, M. E.; CHIFFMAN, M. H.; LO- RINCZ, A. T.; HERRERO, R.; HUTCHINSON, M. L.; BRATTI, C., et al.. Cervical specimens collected in liquid buffer are suitable for both cytologic screening and ancillary human papillomavirus testing. Cancer J Clin. 1997; 81:89 95. WRIGHT, J. R. T. C.; SCHIFFMAN, M.; SO- LOMON, D.; COX, J. T.; GOLDIE, S.; HATCH, K.; NOLLER, K. L.; et al.. Interim Guidance for the Use of Human Papillomavirus DNA Testing as an Adjunct to Cervical Citology for Screening. Obstet Gynecol 2004: 103:304-9. MYERS, E. R. M. C.; CRORY, D. C.; NAN- DA, K.; BASTIAN, L. & MATCHAR, D. B. Mathematical Model for the Natural History of Human Papillomavirus Infection and Cervical Carcinogenesis. Am. J. Epidemiol. 2000; 151(12): 1158-71. SALOW, D.; RUNOWICZ, C. D.; SOLOMON, D.; MOSCICKI, A. B.; SMITH, R. A.; EYRE, H. J. & COHEN, C. American Cancer Society Guideline for the Early Detection of Cervical Neoplasia and Cancer. CA Cancer J Clin, 2002, 52: 342-362. SANTOS, A. L. F.; DERCHAIN, S. F. M.; CALVERT, E. B.; MARTINS, M. R.; DUFLO- TH, R. M. & MARTINEZ, E. Z. Desempenho do exame colpocitológico com revisão por diferentes observadores e da captura híbrida II no diagnóstico da neoplasia intra-epitelial cer-