Introdução. 1. Análise da conversação

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Introdução Mais do que instrumento da conversação, a língua é um meio pelo qual a pessoa se organiza e reflete. O fato de refletir em português e não por idéias puras comprova o poder do idioma. De acordo com o lingüista Ataliba Teixeira de Castilho, professor da Universidade de São Paulo (USP) a modalidade falada é mais rica que sua versão escrita. A língua falada é um recurso repleto de entoação, pausa, gestos, etc. Não podemos pensar em outra forma de comunicação quando se pensa na fala. No texto oral existem marcas específicas; marcadores discursivos que não são encontrados no texto escrito. No texto falado, o fato de o emissor e o receptor estarem presentes face a face cria uma situação de trocas de falas, de modo que o texto é produzido por ambos, com a possibilidade de haver explicações, retoques, ressalvas sobre o que está sendo dito, manifestações de concordância ou discordância de opiniões, geralmente acompanhadas de gestos e expressões faciais que sinalizam, para o interlocutor, o andamento da interação. Neste trabalho, cujo texto utilizado para análise foi o Inquérito N.125 Informante N. 151, do Projeto Nurc/Salvador, descrevemos as principais características do texto falado, com o objetivo de mostrar as formas conversacionais, o princípio de projeção interacional, a manutenção e a passagem de turno, o sistema de correção e os marcadores conversacionais, em uma abordagem específica a cada tópico relacionado. 1. Análise da conversação A Análise da Conversação teve sua origem no interior da sociologia interacionista americana e o seu princípio tem como base trabalhar somente com dados reais, sendo estes analisados em seu contexto natural de ocorrência. A interação é seu conceito fundamental o que lhe reveste de um caráter globalizante e dinâmico. Para a Análise da Conversação, os atores sociais fabricam constantemente a realidade social. A preocupação básica dos primeiros conversacionalistas americanos, como H. Sacks, E. Schegloff, G. Jefferson, e outros era a de estudar a estrutura da conversação em termos das 4

atividades sociais dos interlocutores. Nessa estrutura se situam a repartição e tomada de turnos, começo e encerramento de uma conversação, ações que exigem reação imediata do interlocutor como por exemplo, pergunta e resposta, solicitação e aceitação ou recusa, etc. Em estudos posteriores na Alemanha, o enfoque dado foi em um estudo mais lingüístico do texto falado no que concerne a sua organização, dos sinais de articulação, dos marcadores conversacionais, etc. No Brasil, L. A. Marcuschi foi o pioneiro nesse tipo de trabalho. O exercício da fala implica normalmente três elementos que são: Uma alocução a existência de um destinatário distinto do falante; Uma interlocução uma troca de palavras, pois o mais comum é que a prática do exercício de linguagem é aquela onde haja a circulação e a troca da fala (o diálogo) e os papéis do emissor e do receptor se permutem; Uma interação é preciso que os falantes falem alternadamente, ou seja, que ambos estejam imbuídos na troca comunicativa. Segundo Ataliba Castilho 3. Organização tópica da conversação (...) a Análise da Conversação privilegia a abordagem pragmática da linguagem falada, e formula indagações de natureza psicológica, etnográfica e lingüística, numa perspectiva marcadamente interdisciplinar. Ora, a reflexão gramatical tem uma vocação intradisciplinar, e suas indagações se voltam para as classes, as funções e as relações que constituem a estrutura lingüística. 1 Quando se fala, fala-se de alguma coisa, ou seja, no decorrer de uma interação, os falantes têm sua atenção centrada em um ou vários assuntos que são, de certa maneira, delimitáveis no texto conversacional. Mesmo que se passe com freqüência de um para outro assunto, é possível que, se os falantes forem questionados sobre o que falaram, eles sejam capazes de enumerar os principais tópicos. Tópico que dizer aquilo sobre o que se falou. 1 Citação de Ataliba Castilho In. Discursos em Análise, p. 235. 5

Os limites das unidades tópicas são depreensíveis não só pelo conteúdo assunto, mas também por um conjunto de marcas formais como, por exemplo: Presença, no início de uma unidade comunicativa, de elementos como: bom, bem, então, agora, veja, Eu acho, etc.; Presença, no final de uma unidade comunicativa, de pausas mais prolongadas, entonação característica, frases conclusivas do tipo é isso aí, de acordo?, e isso que eu penso, certo?, entendeu?, enfim, etc. O texto que serviu de base para a análise do trabalho aqui apresentado, compõe-se de cinco sub-tópicos: formas de tratamento, instrumentos musicais, música, lugares públicos e jogos que, por sua vez, compõem o quadro tópico Vida social diversões, conforme fragmentos a seguir. DOC Bem, nós vamos começar por uma coisa que se chama fórmulas de tratamento. (...) LINHAS 1-2) (INQ151, DOC, p.71, DOC Bom. Agora, vamos dar outro pulo para instrumentos musicais. (...) (INQ151, DOC, p.75, LINHAS 190-191) DOC Está ótimo. Agora, vamos pa... para a música popular. (...) (INQ151, DOC, p.77, LINHAS 264-265) DOC Sim. Agora, lugares públicos de reunião. (...) LINHA 329) (INQ151, DOC, p.79, DOC Certo. Oh... agora vamos aos jogos. Você gosta de jogos? (inint) (superp) 440-441) (INQ151, DOC, p.82, LINHAS 6

4. Marcadores discursivos Os marcadores podem ser denominados de conversacionais (MC) ou discursivos. Utilizaremos a expressão marcadores discursivos, no decorrer do texto. As unidades lingüísticas formadoras dos marcadores discursivos, pertencem a várias classes gramaticais, constituindo um grupo de palavras ou expressões que ocorrem no início, no meio ou no final de turnos ou unidades discursivas que garantem a cooperação e a preservação do ato comunicativo. 2 De acordo com Dino Preti, os marcadores discursivos permitem ao falante tomar ou iniciar o turno, mantê-lo ou encerrá-lo, bem como envolver os parceiros na conversação. São elementos típicos da fala, que funcionam como articuladores das unidades cognitivo-informativas do texto e como elementos orientadores da interação. 3 Os marcadores discursivos sinais do falante que orientam o ouvinte são: Pré-posicionados no início de turno: olha, veja, bom, mas eu, eu acho, não, epa, peraí, certo, mas, sim, sei, quanto a isso, nada disso, como assim?, etc. No início de unidade comunicativa: então, aí, daí, portanto, agora veja, porque, e, assim, por exemplo, digamos assim, quer dizer, eu acho, como vê, etc. Doc (...) E, digamos assim, normalmente as pessoas, quando se encontram, como é que se cumprimentam? Doc E, digamos, a... ao se levantar. (...) (INQ151, DOC, p.71, LINHAS 2-4) LINHA 9) (INQ151, DOC, p.71, Doc Sim. Você se levanta de manhã... (superp) (INQ151, DOC, p.71, LINHA 12) 2 Esther Gomes de Oliveira, In. Discursos em análise, p. 234. 3 Citação de Dino Preti. In. Discursos em análise, p. 238. 7

Doc Certo. Agora, quando... fórmulas de despedida, por exemplo. 38-39) (INQ151, DOC, p.72, LINHAS 151 Eu acho, que não. Essas coisas dependem muito, assim, do momento. (INQ151, INF151, p.73, LINHAS 104-105) Doc Mas, digamos em... em... em outras circunstâncias, a gente sabe, não é, que os professores... que os alunos se dirigem aos professores de que maneira? (...) (INQ151, DOC, p.74, LINHAS 147-150) 151 Por exemplo, um frevo, um samba, um tango; (...) 147-150) (INQ151, INF151, p.79, LINHAS Pós-posicionados no final de turno: né, certo?, viu?, entendeu?, é isso aí, que acha?, e então?, etc. No final de unidade comunicativa: né, não sabe?, certo?, entende?, de acordo?, tá?, não é?, etc. Doc Não. E, digamos assim, tratamentos diferentes de acordo com as diferenças hierárquicas, não é? (INQ151, DOC, p.71, LINHAS 21-23) 151 (...) É sempre precedendo do meu, né? (...) (INQ151, INF151, p.73, LINHA 78) Doc... descrevê-los. enfim, tudo o que lhe ocorrer. É o óbvio, entendeu? Doc Hum, diga aí. (INQ151, DOC, p.76, LINHAS 197-198) 318) (INQ151, DOC, p.79, LINHAS 151 (...) Ahm... de modo geral, é isso. 8

508-509) (INQ151, INF151, p.83, LINHAS Os marcadores discursivos sinais do ouvinte que orientam o falante são: Convergentes sim, ahã, mhm, claro, pois não, de fato, isso, ah sim, ótimo, taí, etc. Indagativos será?, não diga, mesmo?, é? ué, como?, como assim? o quê?, etc. Divergentes não, duvido, discordo, essa não, nada disso, nunca, peraí, calma, etc. Doc (...) Quando a pessoa se levanta que encontra alguém, como é que diz? 9-10) (INQ151, DOC, p.71, LINHAS Doc Sim, exato. (...) (INQ151, DOC, p.72, LINHA 48) Doc E o tratamento entre amigos, normalmente, qual é? Doc (...) Como? (INQ151, DOC, p.73, LINHAS 84-85) 150) (INQ151, DOC, p.74, LINHA Doc Está ótimo. (...) (INQ151, DOC, p.77, LINHA 264) Os elementos que marcam as delimitações tópicas não exercem essa função em caráter permanente e exclusivo. São denominados de multifuncionais. Eles podem aparecer em diversas situações textuais, diferentes da delimitação tópica. Um exemplo característico é o marcador discursivo então, que abre vários tópicos, mas aparece, também, em outros pontos. Doc Não. E, digamos assim, tratamentos diferentes de acordo com as diferenças hierárquicas, não é? Então, se é uma pessoa 9

que a gente considera do mesmo nível hie... nosso, tem uma coisa, se não é (inint) é outra. Então, imagine situações diferentes de pessoas que se encontram, do mesmo nível e de nível diferente. (INQ151, DOC, p.71, LINHAS 21-27) Doc Hum. Tratamentos, assim... você já falou alguma coisa, eu acho que já falamos disso, de um superior para um inferior de mais idade. Então, uma pessoa de... superior, de nível superior para um inferior, mas esse inferior seja mais velho. Tem alguma diferença? (INQ151, DOC, p.72, LINHAS 61-66) 151 Bom, pra mim não faz diferença e eu... talvez das que eu tenha citado tenha sido entre namorados; quer dizer, eu não tenho marido, então, (rindo) devo ter dito a mesma coisa. (INQ151, INF151, p.73, LINHAS 109-110) Doc E... então, fale, assim, de tudo o que lhe ocorrer em relação a instrumentos musicais, se você toca ou se alguém toca, se tocam... (INQ151, DOC, p.76, LINHAS 193-195) 151 (...) Então, talvez por isso eu, hoje em dia, aprecie tanto o clássico como o popular, seja capaz de assistir um concerto. (INQ151, INF151, p.76, LINHAS 224-226) Marcadores discursivos como, por exemplo, bom, bem, olha, ah, agora, é o seguinte, quanto a, para começar, primeira coisa, primeiro ponto, e tem mais, etc, encerram em si uma espécie de ato preparatório de uma declaração seqüente. Tais marcadores discursivos definem-se e identificam-se entre si, na seqüência das variáveis, por um padrão alto de recorrência, pela condição de seqüenciadores tópicos, em princípio não orientados, de maneira dominante, para a interação, exteriores aos conteúdos tópicos ou proposicionais, parcialmente transparentes em relação ao adjetivo, advérbio e interjeições homônimos, sistematicamente representados por suas respectivas formas, únicas e 10

invariáveis, sintaticamente independentes, prosodicamente demarcados, sem autonomia comunicativa e de massa reduzida. No diálogo entre informante e documentador analisado, o marcador discursivo bom teve alto padrão de recorrência, sendo utilizado aproximadamente 34 vezes no início de turnos e no início de unidades comunicativas. 151 Bom, se é uma ausência prolongada, mas de alguém que a gente quer ver, a gente diz que Tomara que nos vejamos em breve. Se não, é um Até mais. (INQ151, INF151, p.72, LINHAS 44-47) 151 Bom, o pai, em geral, se refere a meu filho, minha filha. É sempre precedendo do meu, né?. E o filho, também, diz meu pai ou painho, ou meu velho, muitas vezes. (INQ151, INF151, p.73, LINHAS 77-80) Doc Bem, então, nós vamos começar por uma coisa que se chama fórmulas de tratamento. E, digamos assim, normalmente as pessoas, quando se encontram, como é que se cumprimentam? 1-4) (INQ151, DOC, p.71, LINHAS 151 Ah, (superp) sim! Gozado! É uma coisa que não me ocorre, eu estou dormindo sozinha; então, eu me levanto, praticamente não cumprimento logo ninguém. Depois disso, Bom dia. 13-16) (INQ151, INF151, p.71, LINHAS 5. Descontinuidades no fluxo da informação no nível linear As descontinuidades na seqüência tópica podem ser divididas em dois grandes grupos: Processos de inserção configuram uma reelaboração da seqüência discursiva, provocando uma diminuição de ritmo no fluxo conversacional. Desempenham funções interativas relevantes que têm como objetivo explicar, ilustrar, fazer alguma ressalva, etc. 11

Processos de reconstrução geralmente, têm por função formular melhor ou reformular um segmento maior ou menor do texto já dito. O locutor recorre à correções ou reparos, repetições, parafraseamentos e acréscimos. Doc Sim, exato. Agora, imagine, assim, os... os tratamentos de... usuais, por exemplo, entre marido e mulher. (INQ151, DOC, p.72, LINHAS 48-50) Doc Hum. E normalmente, fora de... fora de sua experiência pessoal, há tratamentos específicos para religiosos? 122-124) (INQ151, DOC, p.74, LINHAS Doc Sim. E de referência ao... do professor para o aluno, como que eles se referem aos alunos? (INQ151, DOC, p.75, LINHAS 153-154) 151 (...) Não foi, assim, uma experiência que tivesse partido de nós, quer dizer, foi uma vanta... uma vontade de meus pais, e, como é evidente. nenhum de nós seguiu a carreira, ou mesmo abandonamos sem mesmo termos construí... eh... concluído. (...) Mas, por outras cir... questões, todos nós deixamos. (...) De todo... De tudo isso ficou, assim, uma certa experiência, (...) (INQ151, INF151, p.76, LINHAS 204-220) 151 Não, mas a... o tango que foi atualmente tão... que ficou tão em moda. (INQ151, INF151, p.78, LINHAS 301-302) Doc Hum, mas espera aí. A gente tem o... tem umas... uns jogos... que aquilo é jogo, no fundo é jogo, inclusive se faz apostas, etc, entre... os maiores competidores são animais, né? (INQ151, DOC, p.84, LINHAS 532-535) Doc Hum, mas outras... outros tipos de competições onde os animais entram em... em disputa? 540-541) (INQ151, DOC, p.84, LINHAS 12

151 Bom, futebol é um jogo de campo, claro, tem que ter dois campos di... separados por uma linha divisória, claro, são separados... a linha divisória. 6. Não preocupação com a correção gramatical (INQ151, INF151, p.86, LINHAS 617-619) No exercício da fala não há preocupação com a correção gramatical, o que pode ser observado nas seguintes construções: 151 Bom, quando elas são do mesmo nível ou há um problema de amizade é o que eu lhe falei: eu sempre digo Como vai? Que é que hão? ; é uma coisa que eu uso. Quando é uma pessoa, assim, que a gente tem mais respeito, geralmente, a gente diz Como vai o senhor?, Como está?... 28-33) (INQ151, INF151, p.71-72, LINHAS 151 Bom, há termos prefixados, que normalmente eu não tenho necessidade de usar e o único padre, assim, que eu falo, que tenho amizade e intimidade é, assim, muito liberal e de jeito nenhum nós o enxergamos como padre; então, o tratamento não difere dos demais. (INQ151, INF151, p.74, LINHAS 116-121) 151 (...) Então, talvez por isso eu, hoje em dia, aprecie tanto o clássico como o popular, seja capaz de assistir um concerto, desde que ele não seja, assim, dos mais lentos. (...) 224-227) (INQ151, INF151, p.76, LINHAS 151 Só. Simplesmente as pessoas se visitam para comentarem, assim, as últimas novidades, colocarem as fofocas em dias. (INQ151, INF151, p.75, LINHAS 170-172) 151 Corrida de cavalos. Não sei se existem outro tipo de corrida. (INQ151, INF151, p.84, LINHAS 538-539) DOC Você já assistiu alguma corrida de cavalo? 13

549) (INQ151, DOC, p.84, LINHA 7. Os turnos na conversação A conversação é organizada em turnos, ou seja, cada intervenção de um dos participantes durante a interação. Essas interações podem ser simétricas como, por exemplo, as conversas do dia-a-dia nas quais cada participante tem igual direito ao uso da palavra; e assimétricas, como entrevistas, consultas e palestras, em que o poder da palavra está com um dos participantes que a distribui conforme sua vontade. No texto que foi utilizado para análise as interações são de ordem assimétrica. As regras que regem as interações verbais são de natureza muito diversa e nelas podem ser destacadas três categorias que operam em níveis diferentes: Regras que permitem a gestão da alternância dos turnos de fala, ou seja, a construção dessas unidades formais que são os denominados turnos. Regras que regem a organização estrutural da interação. Uma conversação é uma organização que obedece a regras de encadeamento sintático, semântico e pragmático, e é essa gramática das conversações que, em um segundo nível, é preciso estabelecer. Regras, enfim, que intervêm no nível da relação interpessoal. Para que possa haver o diálogo, se faz necessário que sejam colocados em presença pelo menos dois interlocutores que façam uso alternado da fala. Assim, em um primeiro nível de análise, toda interação verbal se apresenta como uma sucessão de turnos da fala, ou seja, os participantes se submetem a um sistema de direitos e de deveres como, por exemplo: O falante de turno tem o direito de manter a fala por determinado tempo, mas também é seu dever cedê-la num certo momento; O seu sucessor potencial tem o dever de deixá-lo falar e de ouvi-lo enquanto ele fala; o sucessor também tem o direito de solicitar o turno da fala ao final de certo tempo e o dever de tomá-la quando ela lhe é cedida; 14

Um equilíbrio relativo da duração de turnos; Um equilíbrio também absolutamente relativo da focalização do discurso, que deve estar centrado sucessivamente nos dois falantes. Nos exemplos abaixo, os marcadores discursivos bem, então e bom assinalam o início de turnos. Os marcadores e, digamos assim e quer dizer demarcam o início de unidades comunicativas. Os marcadores entendeu e né assinalam o final de turnos. O marcador discursivo né também sinaliza o final de unidades comunicativas. Doc Exato. E pra fazer compras (rindo) aonde que nós vamos? (INQ151, DOC, p.80, LINHAS 387-388) DOC Bem, então, nós vamos começar por uma coisa que se chama fórmulas de tratamento. E, digamos assim, normalmente as pessoas, quando se encontram, como é que se cumprimentam? 1-4) (INQ151, DOC, p.71, LINHAS 151 Bom, pra mim não faz diferença e eu... talvez das que eu tenha citado tenha sido entre namorados; quer dizer, eu não tenho marido, então, (rindo) devo ter dito a mesma coisa. Doc (...) É o óbvio, entendeu? (INQ151, INF151, p.71-72, LINHAS 109-112) (INQ151, DOC, p.76, LINHAS 197-198) 151 Creio que Vossa Reverendíssima, né? 125) (INQ151, ÌNF151, p.74, LINHA Doc (...) Na realidade você já falou em alguns (inint) porque você já falou aqui de aniversário, essas coisas todas, né? Mas outras reuniões sociais que acontecem; (...) 394-397) (INQ151, DOC, p.80, LINHAS 15

8. As falhas do sistema de turnos Essas perdas são inevitáveis e ocorrem com freqüência, podendo ser atribuídas: Tanto ao fato de que os índices sobre os quais repousa a aplicação das regras de alternância são freqüentemente frouxos, o que pode causar sua negligência; Quanto ao fato de que, estando tudo de acordo sobre a interpretação dos sinais que foram emitidos, os falantes em presença não estão todos necessariamente dispostos a se submeter a esses sinais. A superposição da fala relaciona-se com essas disfunções, pois configura-se como um fenômeno recorrente nas conversações, quando elas se dão entre dois interlocutores O falante 2 se põe a falar enquanto o falante 1 ainda está falando, conforme fragmento abaixo: DOC Sim. Você se levanta de manhã... (superp) LINHA 12) INQ151, DOC, p.71, 151 Ah, (superp) sim! (...) (INQ151, INF151, p.71, LINHA 13) 9. Conclusão Diante da análise feita, as conclusões a que chegamos apontam a necessidade de um estudo mais aprofundado que conjugue, de um lado, os estudos lingüísticos que vêm descrevendo a inter-relação fala/ escrita e, de outro, os estudos sobre o papel da oralidade secundária na sociedade letrada. 16

Referências ILARI, Rodolfo (org.). Gramática do português falado. 4. ed. rev. Campinas/São Paulo: Editora da Unicamp, 2002. KOCH, Ingedore Villaça. A inter-ação pela linguagem. 8. ed. São Paulo: Contexto, 2003. LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino. Porto Alegre: L&PM,1985. MACEDO, Joselice. et al. Discursos em Análise. Salvador: Universidade Católica do Salvador. Instituto de Letras, 2003. NEVES, Maria Helena Moura (org.). Gramática do português falado. 2. ed. São Paulo: Humanitas/FFLCH/USP. Campinas: Editora da Unicamp, 1999. ORECCHIONI, Catherine Kerbrat. Analise da conversação: princípios e métodos. Tradução de Carlos Piovezani Filho. São Paulo: Parábola Editorial, 2006. SANTOS, Ednalva Maria Marinho dos et al. O texto científico: diretrizes para elaboração e apresentação. 2. ed. atual. e aum. Salvador: Unyahna / Quarteto, 2002. 17