Réu: ANP - AGENCIA NACIONAL DE PETROLEO, GAS NATURAL E BIOCOMBUSTIVEIS. Decisão

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ACÓRDÃO. São Paulo, 14 de março de Cristina Cotrofe Relatora Assinatura Eletrônica

Transcrição:

Fls 414 PODER JUDICIÁRIO - JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO 24ª Vara Federal do Rio de Janeiro Processo nº 0202887-08.2017.4.02.5101 (2017.51.01.202887-1) Autor: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS COM TERMINAIS MARÍTIMOS, FLUVIAIS E TERRESTRES DE EMBARQUE E DESEMBARQUE DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL - ABRAMT Réu: ANP - AGENCIA NACIONAL DE PETROLEO, GAS NATURAL E BIOCOMBUSTIVEIS Decisão Trata-se de ação pelo rito comum ajuizado pela ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS MUNICÍPIOS COM TERMINAIS MARÍTIMOS, FLUVIAIS E TERRESTRES DE EMBARQUE E DESEMBARQUE DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL ABRAMT em face da AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS ANP, na qual requer a concessão de urgência para suspender a Resolução n.º 624/13, até o julgamento final da ADI 4917, ajuizada no STF em março de 2013. Para tanto, afirma que possui 23 (vinte e três) municípios associados com características semelhantes nas operações de embarque e desembarque de petróleo e gás natural, através de instalações em seus territórios, espalhados em 11 estados brasileiros; que de acordo com a legislação, municípios recebem royalties do petróleo e gás natural, inclusive aqueles que sediam instalações de embarque e desembarque de petróleo e/ou gás natural; que tais royalties são calculados mensalmente e recolhidos ao Tesouro Nacional pelas companhias produtoras de petróleo e gás e a ANP elabora uma listagem com os nomes dos municípios beneficiários e respectivos valores de royalties a que cada um tem direito e determina o pagamento, através do Banco do Brasil; que, segundo o entendimento pacificado no STJ, essa compensação financeira só é devida aos municípios onde há instalações marítimas ou terrestres de embarque e desembarque de óleo bruto ou gás natural, desde que a atividade de exploração desses hidrocarbonetos estejam inseridas na cadeia extrativa; que, no entanto, a Lei nº 12.734/12 incluiu municípios sem essa vinculação; que tal tal lei, por outro lado, teve sua aplicação suspensa por meio de medida liminar concedida pela Ministra Cármen Lúcia. Entretanto, a ANP entendeu, através de uma medida administrativa, que essa suspensão foi apenas parcial. Aponta que, não obstante a decisão da Corte Suprema, a ANP vem adotando a nova sistemática da Lei 12.734/12, com base na Resolução da Diretoria Colegiada nº 624/2013, em que reconhece os pontos de entrega às concessionárias de gás natural

produzido no país (city gates) e as Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGNs) como instalações de embarque e desembarque para fins de pagamento de royalties aos municípios afetados por suas operações. Alega que a interpretação errônea, promovida pela ANP, viola a medida cautelar deferida pelo STF, na ADI 4917/RJ, e gera, por conseguinte, expressiva queda na receita de royalties dos Municípios a ela associados. Fls 415 Sustenta, por fim, que, na questão, cabe também o deferimento da tutela de evidência, independentemente da demonstração de perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, já que sobre a questão há tese firmada em julgamento de casos repetitivos. É o relatório. Decido. O art. 300 do CPC dispõe que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. Por sua vez, a tutela de evidência está disciplinada no artigo 311 do Código de Processo Civil, e pode ser concedida liminarmente quando as alegações de fato puderem ser comprovadas apenas documentalmente - havendo tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante -, ou quando se tratar de pedido reipersecutório fundado em prova documental adequada do contrato de depósito. No presente caso, a autora alega em sua inicial que a Resolução 624/2013 da ANP violou de forma indireta a decisão cautelar proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, no bojo da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.917, que determinou a suspensão da eficácia dos seguintes dispositivos legais: 42-B; 42-C; 48, II; 49, II; 49-A; 49-B; 49-C; 2º do art. 50; 50-A; 50-B; 50-C; 50-D; e 50-E da Lei Federal n. 9.478/97, com as alterações promovidas pela Lei n. 12.734/2012, uma vez que manteve a eficácia dos artigos 48, 3º e art. 49, 7º, da Lei 9.478/97, que remetem especificamente aos artigos suspensos. A questão trazida à análise refere-se à aplicabilidade dos 3º do art. 48 e 7º do art. 49, ambos da Lei nº 9.478/97 1, com as alterações promovidas pela Lei nº 1 Art. 48. A parcela do valor dos royalties, previstos no contrato de concessão, que representar 5% (cinco por cento) da produção, correspondente ao montante mínimo referido no 1o do art. 47, será distribuída segundo os seguintes critérios: (...) 3º Os pontos de entrega às concessionárias de gás natural produzido no País serão considerados instalações de embarque e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos Municípios afetados por essas operações, em razão do disposto na alínea c dos incisos I e II. Art. 49. A parcela do valor do royalty que exceder a cinco por cento da produção terá a seguinte distribuição: (...) 7º Os pontos de entrega às concessionárias de gás natural produzido no País serão considerados instalações de embarque e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos Municípios afetados por essas operações, em razão do disposto na alínea c dos incisos I e II.

12.734/2012, que dispõe sobre o pagamento e a distribuição dos royalties devidos em função da produção de petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos. Fls 416 Analisando tais dispositivos, é possível concluir que ambos fazem referência direta aos incisos II dos arts. 48 e 49, que foram suspensos pela cautelar deferida na ADI n.º 4.917-DF. Isso porque, da leitura da decisão proferida na ADI nº 4.917 2, fica evidente que a intenção do STF, ao suspender tais incisos, era proteger os Estados e Municípios produtores ou atingidos pela produção de petróleo e gás natural dos prejuízos efetivos da recente alteração na repartição dos royalties, instituída pela Lei nº 12.734/12. Nesses termos, a Resolução da ANP Agência Nacional do Petróleo, que gerou a inclusão de 167 (cento e sessenta e sete) novos municípios no rateio dos royalties a serem distribuídos, não se revela, neste juízo preliminar, lícita, na medida em que impôs diminuição de recursos aos demais entes que vinham recebendo os valores anteriormente autorizados, simplesmente tendo por justificativa a premissa equivocada de que poderia fazer valer o novo sistema legal dos royalties de maneira parcial. Entendo que, embora a decisão liminar tomada pela Suprema Corte não tenha suspendido expressamente a eficácia dos 3º do art. 48, e 7º do art. 49 da Lei 9.478/97, seu conteúdo foi atingido por via indireta, já que tais parágrafos se referiam aos artigos 48 e 49, que foram objeto da ação no STF e restou nítida a intenção da Suprema Corte de resguardar Estados e Municípios produtores e participantes da cadeia produtiva de petróleo e gás natural dos prejuízos que uma nova repartição traria para seus cofres. Nessa linha, colaciono julgados do Egrégio TRF2: Ementa: arguição de inconstitucionalidade. 3º DO ART. 48 E 7º DO ART. 49 DA LEI 9.478/97. Royalties do petróleo. Municípios. 2 (...) 12. A extraordinária urgência demandada para o exame da cautelar, na espécie em foco, é realçada pelo Autor na petição apresentada, na qual faz constar valores vultosos e imprescindíveis para o prosseguimento dos serviços públicos essenciais estaduais e dos Municípios situados no Estado do Rio de Janeiro, e que seriam desidratados com a aplicação imediata do novo regramento. Estados e Municípios planejaram e orçaram seus desempenhos segundo as normas antes vigentes, sem a alteração advinda com a promulgação das normas inicialmente vetadas. Com a superação dos vetos apostos pela Presidente da República ao Projeto de Lei votado pelo Congresso Nacional, foram promulgadas e publicadas as novas normas em 15.3.2013, mesma data em que ocorreu o ajuizamento da presente ação. A gravidade dos efeitos imediatos das regras questionadas fica patenteada pela afirmativa do Governador do Estado de que as vinculações orçamentárias fariam com que, em 2013, restassem apenas R$ 300 milhões disponíveis para custeio de diversos programas sociais. O equilíbrio das contas estaduais restaria severamente ameaçado, assim como a capacidade do Estado de honrar seus compromissos constitucionais, legais e contratuais.... 13. Esses reflexos relevantes e irreparáveis, pela eficácia que os repasses minorados produziriam e que seriam baseados na nova legislação, exigem a imediata manifestação deste Supremo Tribunal em ação de controle concentrado de constitucionalidade, com a dispensa da prévia requisição de informação aos órgãos dos quais emanaram os dispositivos legais impugnados.

OPERAÇÕES DE EMBARQUE E DESEMBARQUE. PONTOS DE ENTREGA DE GÁS NATURAL. 1. O 3º do art. 48 e o 7º do art. 49 da Lei nº 9.478/97, alterados pela Lei nº 12.734/12, equiparam os pontos de entrega às concessionárias de gás natural produzido no País às instalações de embarque e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos Municípios afetados por essas operações. Ou seja, aumentam o espectro das instalações de embarque e desembarque. 2. No julgamento da ADI nº 4.917, proposta pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, o Supremo Tribunal Federal, em medida cautelar, suspendeu a eficácia de dispositivos da Lei nº 9.478/98, alterados pela Lei nº 12.734/12, não alcançando, tal suspensão, os dispositivos objeto da presente arguição. Considerando, no entanto, as razões que ensejaram a concessão, pelo STF, da referida medida cautelar, concluise pela inconstitucionalidade dos 3º do art. 48 e o 7º do art. 49 da Lei nº9.478/97, alterados pela Lei nº 12.734/12. 3. Com efeito: da expressão nos seus respectivos territórios, constante do art. 20, 1º, da CF, depreende-se que a participação nos resultados da exploração de petróleo ou gás natural ou a compensação por essa exploração cabe aos Estados e Municípios em cujo território se dá tal atividade ou que sejam por ela afetados, objetivando-se compensar tais entes federativos pelos impactos ambientais e socioeconômicos decorrentes ou intensificados pela exploração de petróleo ou gás natural. 4. É inconstitucional, em decorrência, a ampliação do espectro das instalações de embarque e desembarque a fim de que abranja os pontos destinados à mera entrega de gás natural às concessionárias. Note-se: tais pontos de entrega atuam, tão somente, no escoamento do gás já processado, não estando na esfera de impacto ambiental e socioeconômico da atividade de exploração de gás natural (STJ: AgRg no REsp 1310525/RN, AgRg no REsp 1369814/AL, REsp 1375539/AL e REsp 1369122/AL). 5. Ademais, a interpretação no sentido de que devido o pagamento de royalties a entes federativos que não participem da cadeia de produção do petróleo e gás natural ou sejam afetados pela mesma, pela própria finalidade do art. 20, 1º, da CF, viola o princípio da isonomia, em sua perspectiva material. 6. A nova sistemática viola também os atos jurídicos perfeitos, dado que não realizada, pela Lei nº 12.734/2012, qualquer ressalva quanto à sua aplicação aos contratos já vigentes, conforme, inclusive, destacado nas razões do veto presidencial ao art. 3º da Lei nº 12.734/2012, posteriormente derrubado pelo Congresso Nacional. 7. Arguição de inconstitucionalidade acolhida, para reconhecer a inconstitucionalidade do 3º do art. 48 e do 7º do art. 49 da Lei nº 9.478/97, com redação dada pela Lei nº12.734/2012. (Processo nº 0020985-64.2013.4.02.5101. Órgão julgador: ÓRGÃO ESPECIAL. Data de decisão: 05/11/2015. Data de disponibilização: 18/11/2015. Relator: LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO). Fls 417 Ementa: PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. ROYALTIES. OPERAÇÕES DE EMBARQUE E DESEMBARQUE. PONTO DE E NTREGA DE GÁS NATURAL.

1. Trata-se de remessa necessária e apelação interposta pela AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, GÁS NATURAL E BIOCOMBUSTÍVEIS - ANP contra sentença que concedeu a segurança "para determinar que a ANP refaça os cálculos dos royalties referentes ao petróleo devidos ao impetrante, conforme metodologia anterior à determinada pelas mudanças operadas pela lei nº 12.734/12 sobre a lei nº 9.478/97, a partir do mês de fevereiro de 2017." 2. Não há falar em inadequação da via eleita, por se tratar de controvérsia quanto ao direito aplicável na elaboração dos cálculos de distribuição de royalties, sendo desnecessária dilação probatória, além do fato de ser possível o reconhecimento da inconstitucionalidade incidenter tantum dos artigos impugnados. 3. Pelo que aduz a ANP, a Resolução de Diretoria RDC nº 624/2013 foi editada em observância às disposições contidas no 3º do artigo 48 e do 7º do art. 49, ambos da Lei nº 9.478/97, com a redação dada pela Lei nº 12.734/2012. 4. O Órgão Especial desta Corte, na Arguição de Inconstitucionalidade nº 2013.51.01.020985-6, já reconheceu, incidenter tantum, a inconstitucionalidade do 3º do artigo 48 e do 7º do art. 49, ambos da Lei nº 9.478/97, com redação dada pela Lei nº 12.734/2012, que equiparam os pontos de entrega às concessionárias de gás natural produzido no país às instalações de embarque e desembarque, para fins de pagamento de royalties aos municípios afetados por essas operações. 5. Na forma do parágrafo único do art. 949 do CPC/2015, desnecessária nova submissão da questão ao Órgão Especial desta Corte. 6. Remessa necessária e apelação desprovidas. (Órgão julgador: 7ª TURMA ESPECIALIZADA. Data de decisão: 18/12/2017. Data de disponibilização: 24/01/2018. Relator: LUIZ PAULO DA SILVA ARAUJO FILHO). Fls 418 Portanto, resta inequívoca a probabilidade do direito invocado. Por sua vez, em que pese o tempo decorrido, vislumbro a urgência da medida, pois a manutenção do novo regime só faria aumentar os prejuízos, dele decorrentes, dos municípios associados. Diante do exposto, presentes os requisitos autorizadores, DEFIRO A TUTELA DE URGÊNCIA para suspender os efeitos da Resolução n.º 624/13, até decisão ulterior nesta ação. Intime-se para cumprimento e cite-se a ANP, na pessoa de seu representante legal para, querendo, contestar, no prazo legal. P. I. Rio de Janeiro, 5 de março de 2018. MAURÍCIO DA COSTA SOUZA Juiz Federal Substituto no exercício da Titularidade