MÉTODOS DE PROTECÇÃO DO GADO



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MÉTODOS DE PROTECÇÃO DO GADO Uma forma eficaz de reduzir os conflitos com os predadores Sílvia Ribeiro (Bióloga, Grupo Lobo) Os conflitos entre a produção animal e a presença de predadores, como o lobo, remontam ao início da pastorícia e resultam da competição pelo mesmo recurso os animais domésticos. Este conflito agravou-se à medida que as presas silvestres do lobo, como a cabra-brava, o corço ou o veado, foram sendo caçadas pelo homem, muitas vezes até à extinção, fazendo com que os animais domésticos, cada vez mais numerosos, se tornassem muito importantes para a sobrevivência deste carnívoro. A predação sobre os animais domésticos conduziu à perseguição generalizada e à progressiva extinção do lobo de grande parte da sua área de distribuição original, colocando-o em perigo de extinção. Com o reconhecimento da importância da manutenção da biodiversidade, torna-se necessário o desenvolvimento de uma produção agrícola e pecuária que tenha em consideração a conservação do meio ambiente. Enquanto a União Europeia subsidia a produção animal em moldes tradicionais e a recuperação das raças autóctones, também apoia o desenvolvimento de estudos e de medidas que permitam a recuperação de espécies ameaçadas, como sejam os grandes predadores. Reduzir os conflitos entre os grandes predadores e a produção animal, diminuindo os prejuízos no gado, é uma condição essencial para a coexistência com o homem. Ao mesmo tempo que foram sendo utilizadas formas cada vez mais elaboradas de perseguir os predadores também foram sendo desenvolvidos métodos de proteger os animais domésticos que não implicavam a morte do predador. Este conhecimento ancestral, moldado pela convivência com os predadores, produziu métodos de protecção originais e muito eficazes. Estes métodos podem ser de vários tipos, desde o simples confinamento nocturno do gado, utilizando estruturas que impedem o acesso do predador, à utilização de engenhos ou de animais de protecção, como é o caso do cão de gado, que assustam o predador e mantêm-no à distância. Confinamento nocturno O confinamento do gado durante a noite num estábulo seguro (que não permita a entrada de predadores) é uma forma muito eficaz de proteger os rebanhos durante o período em que os predadores estão, em geral, mais activos. Também o confinamento num bardo (ou curral) - conjunto de cancelas em madeira ou metal, com cerca de 1,20m de altura, ou ainda numa pastagem vedada de pequenas dimensões, pode conferir alguma protecção, pois limita os movimentos e a dispersão dos animais e facilita a acção de protecção dos cães de gado ou de outros métodos de protecção. Maneio do gado O pastor tem um papel muito importante na prevenção da predação, através da aplicação de medidas de maneio adequadas, como sejam manter os animais jovens ou doentes confinados ou em pastagens protegidas, escolher os percursos e as pastagens mais seguras, manter o rebanho junto, controlando os animais para não se afastarem, ou colocar chocalhos nos animais que se costumam afastar. Grupo Lobo 1

Presença do pastor A presença do pastor constitui, também, uma forma de protecção essencial, pois pela sua acção o pastor pode afastar o predador durante o ataque (gritando ou atirando paus e pedras) ou ajudar os cães de gado, muitas vezes alertando-os para a presença do predador ou orientando a sua acção. Como método de protecção, o cão de gado destaca-se pela sua ancestralidade e capacidade de adaptação às diferentes situações de pastoreio e de maneio tradicional do gado, sendo um método de utilização generalizada. Por toda a Europa mediterrânica, onde a produção pecuária adquiriu uma grande importância económica, podiam encontrar-se cães de gado acompanhando os rebanhos durante o percurso diário de pastoreio ou durante as migrações transumantes de verão, em busca de melhores pastos. Estas migrações sazonais, que podiam atingir centenas de quilómetros e durar vários meses, implicavam a movimentação de milhares de animais ao longo de rotas estabelecidas que cruzavam os países de Norte a Sul, chegando a atravessar fronteiras. Os cães de gado usavam, geralmente, coleiras de picos ao pescoço, que os protegiam em caso de luta com os predadores, como o lobo. Cão de gado A utilização de cães de gado para proteger os animais domésticos dos ataques dos predadores, faz parte do sistema tradicional de pastoreio em regime extensivo utilizado na Europa e na Ásia. Os cães de gado possuem um comportamento especial, que lhes permite serem muito eficazes na sua função. Este comportamento, que foi sendo seleccionado pelos pastores ao longo de centenas de anos, permite que os cães (quando correctamente educados) não perturbem o rebanho e permaneçam sempre perto dele, defendendo-o em caso de perigo. Cão de gado da raça Cão de Castro Laboreiro perfeitamente integrado num rebanho de cabras Serranas (Cidadelha de Jales, Vila Pouca de Aguiar) (Autor: Sílvia Ribeiro) Cão de gado da variedade de pêlo curto da raça Cão da Serra da Estrela perfeitamente integrado num rebanho de ovelhas (Porto da Nave, Moimenta da Beira). (Autor: Raquel Simões) Grupo Lobo 2

Por toda a Europa mediterrânica e Ásia, existem mais de 30 raças reconhecidas de cães de gado. Esta diversidade resulta de uma selecção baseada não só na capacidade de adaptação dos animais às características de cada região, mas também nas preferências estéticas. Em Portugal estão reconhecidas 4 raças de cães de gado: o Cão de Castro Laboreiro; o Cão da Serra da Estrela, nas variedades de pêlo curto e pêlo comprido; o Rafeiro do Alentejo; e o Cão de Gado Transmontano. Cão de gado da raça Cão de Castro Laboreiro defendendo o rebanho de cabras Bravias (Alvadia, Ribeira de Pena). (Autor: Raquel Simões) Cão de gado da variedade de pêlo curto da raça Cão da Serra da Estrela com coleira de picos (Vilar, Castro Daire). (Autor: Sílvia Ribeiro) Com o progressivo desaparecimento dos predadores e o desinteresse pela pastorícia tradicional, estes métodos de protecção deixaram de ser empregues e o conhecimento sobre a sua utilização tem vindo a perder-se. No entanto, ainda é possível encontrar viva na memória de alguns pastores a utilização ancestral de métodos de protecção muito interessantes, como é o caso das cordas e bandeiras, associados ao confinamento nocturno dos rebanhos no bardo, característico das regiões mais quentes do País. Cordas e bandeiras As cordas e bandeiras constituem um método de protecção que era utilizado há algumas décadas atrás nas regiões mais quentes do País (e.g. Mogadouro, Castelo Branco), onde o gado era geralmente confinado nos bardos ou currais. Este método consistia na colocação de uma corda esticada em torno do bardo, a cerca de 50cm de altura e a 1-2m de distância. Alternativamente, a corda podia ser colocada por cima das cancelas, a uma altura de cerca de 50cm. Nas cordas eram, por vezes, penduradas peças de roupa velha ou pedaços de tecido/plástico (bandeiras) a intervalos de 1m. Embora no nosso país este método já não seja utilizado, ainda é possível observar a utilização de cordas em algumas regiões de Zamora (Espanha) (Javier Talegón, com.pess.). Grupo Lobo 3

Corda (lia) colocada em torno de um bardo de madeira para impedir a entrada dos predadores (Zamora, Espanha). (Autor: Sílvia Ribeiro) As bandeiras (ou fladry) eram também utilizadas na Polónia para ajudar a confinar os lobos durante as batidas. Actualmente, este método está a ser reutilizado no âmbito de acções de conservação daquele predador. Após a realização de estudos em cativeiro que demonstraram a sua eficácia (pelo menos temporariamente), as bandeiras começaram a ser utilizadas em diversos países da Europa e América do Norte, para proteger manadas e rebanhos mantidos em pastagens vedadas. Bandeiras (fladry) colocadas em torno de uma pastagem vedada para impedir a entrada dos predadores. (Autor: Sílvia Ribeiro) Mais recentemente surgiram outros métodos de protecção, como sejam as cercas eléctricas, vedações à prova de predadores, coleiras protectoras para o gado ou novos tipos de sirenes e de luzes. Estudos realizados em vários países da Europa e América do Norte comprovam a eficácia dos diferentes métodos, quando correctamente aplicados. Grupo Lobo 4

Cercas eléctricas As cercas eléctricas, quando construídas de forma correcta, têm sido utilizadas com bastante sucesso para impedir o ataque dos predadores. Estas cercas devem ter cerca de 1,5-1,7m de altura e ser formadas por vários fios eléctricos, espaçados de 10 a 30cm, estando os fios perto do solo mais próximos uns dos outros. As cercas eléctricas móveis podem ser bastante úteis para confinar e proteger o gado, pois permitem a montagem em locais diferentes, acompanhando as deslocações do rebanho. Têm sido utilizadas para confinar e proteger os rebanhos em pastagens temporárias durante a noite. Quando as cercas são fixas torna-se necessário a sua verificação regular em toda a extensão, bem como eventuais acções de manutenção/reparação para garantir a sua eficácia, pois uma falha na construção ou a existência de um ponto fraco (como uma maior distância ao solo devido à erosão ou uma quebra na corrente devido ao crescimento da vegetação junto à cerca) é facilmente aproveitado pelos predadores. É ainda possível aumentar a eficácia de vedações de arame já existentes, colocando dois fios eléctricos ao longo da vedação, um junto ao solo (para impedir que o predador escave ou passe por baixo) e outro acima da vedação. Cerca eléctrica móvel utilizada para confinar e proteger um rebanho de ovelhas durante a noite (Roménia). (Autor: Clara Espírito Santo) Chocalhos e coleiras do gado A colocação de chocalhos nos animais do rebanho/manada permite ao pastor localizálos, sendo muito útil para recuperar os animais perdidos ou aqueles que se costumam afastar. Tal como as coleiras de picos para os cães de gado, também têm sido desenvolvidos vários tipos de coleiras de protecção para o gado, que protegem a parte inferior do pescoço dos animais do ataque de canídeos. Um modelo mais recente de coleiras, feitas de um plástico resistente, foi criado por produtores de gado da África do Sul, com resultados muito promissores. Grupo Lobo 5

Assustar o predador Outra forma de protecção é a utilização de dispositivos para manter o predador à distância. Em Portugal era frequente a utilização de fogueiras, luzes e espantalhos, geralmente associados ao confinamento nos bardos, para assustar os predadores, e também de buzinas e petardos durante o pastoreio em alturas de maior perigo. A utilização de espantalhos de diversos tipos, desde bonecos a simples sacos ou garrafas de plásticos, é ainda comum em certas regiões de Zamora (Espanha) (Javier Talegón, com.pess.). Mais recentemente, novos engenhos como detonadores de propano, sirenes ou luzes intermitentes têm sido desenvolvidos com o mesmo objectivo. No entanto, os resultados obtidos em diversos estudos mostram que muitos destes métodos têm apenas um sucesso relativo, pois os predadores habituam-se facilmente, de modo que devem ser utilizados apenas em situações temporárias ou numa primeira fase, enquanto a utilização de outros métodos está a ser preparada. Espantalho e plásticos utilizados em bardos para afastar os predadores (Zamora, Espanha). (Autor: Sílvia Ribeiro) Dispositivo luminoso utilizado numa pastagem para afastar os predadores (Valladolid, Espanha). (Autor: Javier Talegón) Grupo Lobo 6

Em Portugal, a utilização dos cães de gado de raças nacionais tem vindo a ser efectuada com bastante sucesso no âmbito de uma linha de acção desenvolvida pelo Grupo Lobo, desde 1996, a qual visa reduzir os conflitos entre as comunidades rurais e o lobo através do uso de métodos de protecção dos animais domésticos que sejam compatíveis com a presença do lobo. Após a introdução dos cães de gado verifica-se uma redução geral nos prejuízos causados pelo predador. Mais de 90% dos criadores de gado participantes consideram os seus cães de gado muito eficientes, havendo um grande número de solicitações de novos cães. Para além dos cães de gado, a utilização de outros animais de protecção, como burros ou lamas, tem vindo a ser desenvolvida, embora o seu sucesso pareça ser menor. Burros de gado Aparentemente, os burros são utilizados há mais de 100 anos na Namíbia, para proteger os rebanhos dos predadores (Jean-Marc Landry, com.pess.). Recentemente estão a ser utilizados nos Estados Unidos da América e na Europa, para proteger animais domésticos (bovinos e pequenos ruminantes) dos ataques de coiotes, raposas ou cães. Os burros demonstram uma certa agressividade para com os cães e outros canídeos, perseguindo e tentando morder e escoicear os intrusos. No entanto, a sua eficácia na protecção contra os lobos ainda não foi definitivamente provada. Embora sejam menos eficientes que os cães de gado, têm a vantagem de não necessitarem de um alimento especial, podendo alimentar-se juntamente com o rebanho nas pastagens. A sua eficiência é maior quando utilizados sozinhos em pequenas pastagens e em rebanhos pouco dispersantes. Utilizam-se geralmente fêmeas ou machos castrados, pois são menos agressivos para os animais do rebanho. Burros utilizados para proteger rebanhos de ovinos dos ataques de predadores (Cantão de Valais, Suíça). (Autor: Jean-Marc Landry) Apesar da sua elevada eficácia, nenhum método pode impedir totalmente a predação, mas apenas contribuir para a sua redução. A utilização em simultâneo de métodos complementares garante uma protecção acrescida. A selecção dos métodos a utilizar deve ter em conta a sua adequação às condições existentes, nomeadamente, ao tipo de pastoreio e de pastagem, à espécie e densidade do predador, e ao efectivo e espécie/raça do rebanho. Grupo Lobo 7

A resolução dos conflitos com as comunidades rurais, através do desenvolvimento de medidas que contribuam para reduzir a predação nos animais domésticos e minimizar os prejuízos económicos resultantes, é um dos aspectos fundamentais para a coexistência entre a produção pecuária e os predadores. A utilização de métodos de prevenção da predação, através da recuperação e adaptação de métodos tradicionais de protecção do gado, do uso de novos métodos ou de práticas de pastoreio e maneio do gado melhoradas e compatíveis com a presença de predadores, parece ser uma boa solução. Grupo Lobo 8