A UTOPIA ROMÂNTICA NA PERSPECTIVA DE MICHAEL LOWY

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Transcrição:

A UTOPIA ROMÂNTICA NA PERSPECTIVA DE MICHAEL LOWY Rodrigo Rocha Rezende de Oliveira rodrigorochadeoliveiracod@gmail.com http://lattes.cnpq.br/2082430045766940 RESUMO: Este artigo abordará a concepção que Michel Lowy (1938) desenvolve em sua obra sociológica e filosófica, em torno dos temas romantismo e revolução, dispostos por todo o conjunto de seu corpus que já completa mais de vinte títulos publicados em português. O caminho de revisão que Lowy realiza está apoiado nos trabalhos inaugurais de George Lukács (1885-1971) e Lucien Golmann (1913-70), autores vinculados à empresa marxista de sistematização das ideologias e cosmovisões modernas. Retomar o romantismo nesse contexto significará para Lowy e essa escola romper barreiras e preconceitos com relação à visão de mundo essencialmente utópica; uma vez que sabemos que os românticos sustentam um sonho anticapitalista desde as mais variadas referências. Se Lowy pontua o surgimento do romantismo em Rousseau, a reverberação dessa estrutura da sensibilidade é completamente disseminada, principalmente através das influências de autores como Walter Benjamin, Nietzsche dentre outros. As possíveis reentradas que a teoria elaborada por Lowy anuncia, leva-nos enfim, a desejar compreender mais profundamente quais características reúne os diferentes autores e tendências ao todo estrutural desse movimento. Palavras-chave: utopia, revolução, romantismo, marxismo. INTRODUÇÃO A leitura corrente que localiza o romantismo enquanto uma expressão de determinação literária e filosófica, geralmente reacionária, servirá de base para o pensamento crítico de Michael Lowy, que trabalha sobre a repaginação do olhar sociológico e histórico sobre o tema. São muitos os textos que Lowy escreve em torno do assunto, num período que se estende do primeiro título (em português) Romantismo e Marxismo (1990), até escritos mais recentes publicados no Brasil como; A estrela da Manhã: Surrealismo e Marxismo e, Revolta e Melancolia: o Romantismo na contramão da modernidade (2017). Pensador franco brasileiro de origem judaica, nascido em 1938 na cidade de São Paulo, Lowy percorrerá durante sua trajetória territórios e pensamentos

diversos (da primeira formação ainda no Brasil, a Israel e França) com uma pesquisa imbuída pela expansão ótica da concepção marxista na sua apresentação heterodoxa, junto à crítica cultural. Lowy parte em sua teoria, de um levantamento tipológico do romantismo, transversal aos meios culturais que comporão a formação de um espaço de análise e coerência criada sobre o movimento. Assim, estipula um elenco de autores que escreveram a partir de Jean Jacques Rousseau no século XVIII até o inicio do século XX, já com o Surrealismo, que estarão compreendidos dentro dessa totalidade. Autores e pensamento que se transmutam por sobre o que inicialmente aparece como simplesmente homogêneo; uniforme e datado a um universo vário e complexo, muito além das primeiras impressões mais comuns. O método estruturalista genético no qual Lowy está apoiado enxerga o mundo através de uma ótica essencialmente dialética, onde os pólos de convergência e divergência no seu plano permanecem em constante conflito. O estruturalismo genético é, portanto, um método que procura analisar totalidades estruturadas, e que procura observar qual é a dialética entre o todo e as partes, entendendo que é impossível compreender a totalidade sem a articulação das suas partes, sem perceber o lugar que elas ocupam nas relações que constituem a estrutura total. (Lowy, 2016, p. 26). Marcuse, Gui Debord, Rosa Luxemburgo, Nietzsche e Max Weber, por exemplo, compõem um contexto controverso e intenso, reunidos, por via de uma retomada sobre a modernidade que Lowy não poderia contornar. Iniciativas como a do ecossocialismo e dos movimentos sociais na América Latina, animados pelo espírito de contestação e resistência utópica ao capitalismo, muitas vezes nostálgicos de um passado anterior ao grande sistema, também são engendrados pelo todo da nova estrutura. Política, estética, sociedade, economia, cosmologia, são aspectos incorporados pela dimensão romântica. Dimensões que extrapolam, por fim, as fronteiras espaciais e temporais rumo à ampliação cada vez mais radical do romantismo enquanto visão do mundo, enquanto estrutura da sensibilidade; na esteira de uma história completamente inspecionada.

Por força maior do recorte neste trabalho, vamos considerar mais estritamente a tomada que Lowy realiza do pensamento de Walter Benjamin sobre a filosofia da história dito de antemão que é justamente a influência benjaminiana o que arregimenta a noção marxista da história no pensamento de Lowy. Como podemos ver o romantismo para Lowy será um fenômeno cultural que têm como signo pingente de sua expressão não só a policromia, tantas vezes enfatizada por outros estudiosos do tema, mas, também, uma vasta gama de interesses, disseminados pelas mais distintas áreas. E no caso de Benjamin o que explicitará o caractere destacado será uma composição singular entre o judaísmo messiânico e um reingresso no pensamento crítico não positivista. WALTER BENJAMIN & O ROMANTISMO REVOLUCIONÁRIO A partir de uma ideia organizacional inspirada na tipologia sociológica, Lowy enumera alguns tipos internos ao circuito ideológico do movimento romântico, contados quatro de seus módulos. Em um desses módulos, que é detalhadamente descrito e sempre almejado com interesse especial na revisão que Lowy elabora sobre o romantismo, o autor vislumbra o que chamará de romantismo revolucionário. Com o intuito de revitalizar a corrente, voltada para determinada crítica à modernidade, ou melhor, autocrítica à modernidade, tal escolha compatibiliza-se com o próprio trabalho critico de Lowy. Ou seja, compatibiliza-se com a postura que sustenta os valores utópicos de ordem marxista que sua tomada removerá. Lowy encontra ainda mais especificamente, na leitura particular que faz de Walter Benjamin, o preenchimento pleno da tendência; justamente onde nos debruçaremos e por onde modestamente traçaremos linhas gerais acerca da armação teórica em questão. Antes de qualquer coisa, vamos então à exposição dos tipos ideais do romantismo que são descritos por Lowy a fim de diferenciar dentro desse conjunto, a formação revolucionária que logo em seguida abordaremos à parte: O romantismo passadista ou retrógrado, que visa estabelecer o estado social antecedente [...] 2) O romantismo conservador que, contrariamente ao precedente, deseja simplesmente a manutenção da sociedade e do

Estado tal como existem nos países não tocados pela Revolução Francesa [...] 3) O romantismo desencantado, para o qual o retorno ao passado é impossível, quaisquer que tenham sido as qualidades sociais e culturais pré-capitalistas [...] 4) O romantismo revolucionário (e/ou utópico), que recusa ao mesmo tempo, a ilusão de retorno às comunidades do passado e a reconciliação com o presente capitalista, procurando uma saída na esperança do futuro. (Lowy, 1990, p. 15-16). A superação do estágio presente do capitalismo, enfrentado pelos românticos, por via do retorno ao passado com vistas para o futuro revolucionário, culmina numa saída fincada na esperança, defendida justamente, em prol da redenção dos oprimidos pela História oficial. E nesse caminho, que é aquele perfeito por Walter Benjamin, o que se pretende é a interdição do presente (olhando para o tempo de agora), a fim de romper com o ideal progressista positivista e recuperar no passado suas valorações societárias pré-capitalistas. Recuperar, contudo, uma axiomática soerguida e estabelecida por sobre valores qualitativos contrapostos a valores quantitativos; o poético contraposto ao prosaico, o mágico libertário contraposto a uma racionalização rasteira e burocratizada. E podemos identificar exatamente os mesmos termos, por exemplo, num outro texto em que Lowy aproxima o trabalho de Benjamin ao do Surrealismo, onde procura estabelecer algumas de suas afinidades ideológicas e revolucionárias, engendrados ambos os pensamentos no tipo romântico revolucionário. Em que consiste então esta embriaguez, este Rausch cujas forças Benjamin tanto quer dar à revolução? Em Sens Unique (1928), Benjamin se refere à embriaguez como expressão da relação mágica do homem antigo com o cosmo, mas deixa entender que a experiência (Erfahrung) do Rausch que caracterizava esta ação ritual com o mundo desapareceu da sociedade moderna. Ora, no ensaio da Literarische Welt ele parece tê-la reencontrado, sob uma nova forma, no surrealismo. (Lowy, 2002, p. 45). No comentário talmúdico que o autor franco-brasileiro faz sobre as teses Sobre o conceito de história de Walter Benjamin em seu livro intitulado Aviso de Incêndio: uma leitura das teses encontramos ainda outras remições ao recurso do passado como parte da reflexão utópica. Caractere que Lowy enfatiza correntemente porque servirá de base para evidenciar que estamos tratando de um lugar excepcional dentro do

marxismo, de uma critica heterodoxa que vai além de outras tendências fortemente arraigadas no iluminismo. Lowy nos lembra então que Estamos habituados a classificar as diferentes filosofias da historia conforme seu caráter progressista ou conservador, revolucionário ou nostálgico do passado. Walter Benjamin escapa a essas classificações. Ele é um critico revolucionário da filosofia do progresso, um adversário marxista do "progressismo", um nostálgico do passado que sonha com o futuro, um romântico partidário do materialismo. Ele é, em todas as acepções da palavra, "inclassificável". Adorno o definia, com razão, como um pensador "distanciado de todas as correntes'". Sua obra se apresenta, realmente, como uma espécie de bloco errático a margem das grandes tendências da filosofia contemporânea. (Lowy, 2005, p. 14). Torna-se possível o sonho. Obviamente, nesta perspectiva um sonho que está totalmente engajado e politicamente firmado na emancipação, sem por isso mesmo, desligar-se do mundo moderno completamente. Pelo contrário, Lowy está apontando outra margem da problemática relação entre modernidade-pós-modernidadecontemporâneidade. O romantismo revolucionário, da revolta e melancolia, reata os laços com a história da ruína com o intuito de consumar o espírito anticapitalista de cosmologias ao largo do grande sistema. CONCLUSÃO Acreditamos que o momento que vivemos, muitas vezes anunciado como um momento de pós-utopia e de descrédito total da própria idéia de revolução na concepção marxista sobre a história, apenas revigora o trabalho de Lowy. Nessa conjuntura, seu papel é, a partir de uma sociologia do romantismo, criar um verdadeiro embate com o pretenso desencantamento do mundo moderno e sua condenação às ilusões pósmodernas, como nas palavras de Terry Eagleton (1998). A narrativa messiânica e a esperança, que Walter Benjamin, por exemplo, sempre defendeu, estão ainda mais vivas nessa escola. Porque o romantismo revolucionário sobrevoa os novos tempos com o espírito inconteste da utopia pré-capitalista sob a nova roupagem do ecossocialismo e dos movimentos sociais na América Latina (teologia da libertação e outros), como

destacamos, sustenta-se o sonho de emancipação da humanidade pela superação da contradição entre as classes sociais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENJAMIN, Walter, O Anjo da História, Tradução de João Barrento, São Paulo. Autêntica, 2ª Ed., 2012. EAGLETON, Terry, As ilusões do pós-modernismo, tradução Elisabeth Barbosa, Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., 1998. LOWY, Michael, Aviso de incêndio: Uma leitura das teses Sobre o Conceito de História,. Goldman e o Estruturalismo genético, Serv. Soc. Soc., São Paulo: n. 125, p. 24-40, jan./abr. 2016.. Revolta e Melancolia: o romantismo na contracorrente da modernidade, Tradutor Nair Fonseca, São Paulo: Boitempo Editorial, 2015.. Romantismo e Messianismo. Ensaios sobre Lukács e Benjamin, São Paulo: Edusp/ Ed. Perspectiva, 1990. SOBRE O AUTOR: Graduando do último período em Filosofia pela Universidade Federal de Juiz de Fora, atualmente é Bolsista da modalidade BIC na pesquisa intitulada Bergson e Steiner: Um diálogo possível entre suas concepções filosófico e filosófico educacionais alocada na Faculdade de Educação dessa mesma instituição. No ano passado publicou seu primeiro ensaio intitulado Em torno do conceito de simpatia em Bergson e Steiner, registrado nos anais do VIII Colóquio Internacional de Filosofia e Educação, organizado pela UERJ.