O planejamento textural utilizado na composição da terceira peça do ciclo sinfônico Variações Texturais

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Transcrição:

O planejamento textural utilizado na composição da terceira peça do ciclo sinfônico Variações Texturais MODALIDADE: COMUNICAÇÃO SUBÁREA: COMPOSIÇÃO José Orlando Alves UFPB jorlandoalves2006@gmail.com Resumo: O presente trabalho tem por objetivo descrever a elaboração de um planejamento textural e sua realização na composição da peça Variações Texturais III, para orquestra sinfônica. O referido planejamento foi alcançado através da interação dos parâmetros densidade absoluta, densidade relativa e âmbito, além da relação de independência e interdependência entre as camadas. As formulações analíticas desenvolvidas por Wallace Berry e Didier Guigue foram adotadas como referenciais teóricos. Concluímos que a previsão dos possíveis delineamentos texturais pode ser um importante fator no estímulo da criatividade composicional. Palavras-chave: Composição. Planejamento. Textura. Densidade. Complexidade. The Textural Planning Used in the Composition of the Third Piece of the Symphonic Cycle Variações Texturais. Abstract: This paper aims to describe the development of a textural planning and its realization in the composition of the piece Variações Texturais III, for symphony orchestra. This plan has been achieved by the interaction of parameters such as absolute density, relative density and ambit, as well as the independence and interdependence of the layers. The analytical formulations developed by Wallace Berry and Didier Guigue were adopted as theoretical references. We conclude that the prediction of possible textural designs can be an important factor in the motivation of compositional creativity. Keywords: Composition. Planning. Texture. Density. Complexity. 1. Introdução A composição da terceira peça do ciclo sinfônico Variações Texturais apresenta a realização musical de um planejamento textural que relaciona os seguintes parâmetros: densidade absoluta, densidade relativa, âmbito e a relação qualitativa de dependência e interdependência entre as partes integrantes da textura 1. A descrição do processo composicional a partir de diferentes planejamentos texturais, que resultaram na composição das duas primeiras peças sinfônicas, está presente em dois trabalhos publicados anteriormente (ALVES, 2014; ALVES, 2016) 2. Os conceitos de densidade absoluta (DA), âmbito (A) e densidade relativa (DR) foram abordados inicialmente por Berry (1976) e complementado, posteriormente, por Guigue (2011). O número de componentes sonoros que soam concomitantemente e que caracterizam a trama textural, dentro de um intervalo de tempo, é denominado de densidade 1

absoluta (DA) por Guigue (2011, p. 53) e de densidade número por Berry (1976, p. 184) 3. As notas que estão nas extremidades de um agregado sonoro determinam o âmbito (A), que corresponde ao somatório de todas as possibilidades de notas 4 (existentes ou não) entre a mais aguda e a mais grave, com essas duas incluídas na soma (GUIGUE, 2011, p.53). A divisão da densidade absoluta pelo âmbito resulta na densidade relativa (DR), cujo resultado varia entre 0 e 1. Outro parâmetro importante no planejamento textural de todo o ciclo sinfônico é a relação qualitativa de independência e interdependência entre as partes, que aqui denominamos abreviadamente como RQT (Relação Qualitativa Textural). Essa relação pode ser representada numericamente de modo que a caracterização da independência e da interdependência esteja relacionada com a disposição vertical de números separados por um traço. Assim, ao número 1 é atribuído o maior grau de independência; o número 2 está relacionado com duas camadas ou vozes em relação de interdependência; a relação 1 1 expressa duas camadas independentes; e assim por diante (ALVES, 2014, p. 2). Podemos exemplificar o conceito da RQT em uma composição para quarteto de cordas. Quando os quatro instrumentos tocam em ritmos diferentes, com direcionamentos melódicos diversificados, a RQT resultante corresponde a 1 1 1 1. Quando os dois violinos tocam com o mesmo ritmo, em um direcionamento melódico idêntico, completamente diferenciado do comportamento da viola e do violoncelo, teremos a RQT correspondente a 2 1 1. Essa exemplificação é comentada por PONTES (2014, p. 47). A representação da independência/interdependência de componentes texturais em números inteiros tem relação direta com a Teoria das Partições. Pauxy Gentil-Nunes apresenta uma tese original que relaciona a teoria particional matemática (que foi desenvolvida no século XVIII por Leonhard Euler, matemático suíço) à teoria analítica textural de Wallace Berry, na qual demonstra a possibilidade de complementação entre elas, uma vez que ambas as teorias tratam de cumulação de inteiros positivos. A teoria das partições é considerada, aqui, uma representação efetiva da teoria de Berry. (GENTIL- NUNES, 2009, p.36). Para calcular as possíveis RQT, em função de uma determinada densidade relativa (DR), utilizamos o aplicativo TexturalCalc 5, objeto da pesquisa resultou na dissertação de mestrado intitulada Planejamento textural a partir de aspectos elementares do caos determinístico aplicados à composição musical (PONTES, 2014). A complexidade textural 6 ocorre em função das RQT(s) e é calculada a partir da densidade relativa (DR), que varia de 0 a 1. 2

Basicamente, o aplicativo calcula um índice de complexidade que varia entre 0 (zero) e 1 (um), ou seja, que vai do menos complexo ao mais complexo, tendo por base a relação de independência/interdependência, em dado momento, prevista (no caso da elaboração de um planejamento textural, como descrita no presente trabalho) ou analisada (quando sua formulação parte da observação analítica de um trecho musical) (ALVES, 2014, p. 3). A figura 1 apresenta a interface do aplicativo na aba densidade para massa (que calcula todas as RQTs possíveis, de forma prescritiva, para a utilização em uma composição musical), com a densidade absoluta igual a 16, complexidade da massa igual a 0,470 e margem de aproximação de 0,05 7, que corresponde ao cálculo da 15ª linha da tabela 1, comentada no tópico seguinte. Figura 1: Interface do aplicativo XXX com o resultado de 0,470 para a complexidade da massa. O aplicativo forneceu onze possibilidades distintas de distribuição da textura para uma complexidade de 0, 470 (que corresponde à densidade-relativa, resultado da divisão da densidade absoluta de 16 componentes da textura pelo âmbito de 34 notas), considerando a margem de aproximação de 0,05. Veremos no próximo item que escolhemos a primeira distribuição desta lista (9 4 3) para incluir no planejamento textural das Variações Texturais III. 2. O planejamento textural Podemos observar na tabela 1 que o planejamento textural da terceira peça enfatizou a relação inversamente proporcional entre a densidade absoluta (DA) e o âmbito (A). Ou seja, o acréscimo na DA de 2 até 25 em relação à diminuição do âmbito de 48 até 25 (24ª linha) gerou uma DR crescente de 0,041 até a complexidade máxima possível 1, o que resultou em uma disposição de 25 componentes independentes (1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1). 3

Escolhemos a distribuição 9 4 3, indicada na figura 1, um dos resultados possíveis para a DR de 0, 470, porque preserva a interdependência de 3 (três) componentes se compararmos ao resultado escolhido (10 3 2) para a DR anterior (0,428). Assim, o critério de seleção para as RQT(s) evidencia os blocos de interdependência em comum entre as DR. Assim, escolhemos a distribuição 9 6 2 para a DR de 0,515 (o cálculo seguinte à DR de 0, 470) porque preserva a interdependência de 9 componentes. Esse critério está presente em todas as escolhas presentes na tabela 1. Podemos observar também a existência de um palíndromo com o vértice na linha 24, que representa a complexidade máxima (DA = 25 e âmbito = 25). O que está abaixo da linha 24 é a repetição espelhada do que está acima da referida linha. A forma de planejar a distribuição da textura na terceira peça é contrastante aos planejamentos das duas peças anteriores 8. 4

Tabela 1: Síntese do planejamento textural da peça XXXXX III. 3. Exemplo da realização musical Escolhemos como primeiro exemplo da realização musical do planejamento textural a complexidade máxima que corresponde às 25 independências (DA = 25 e A = 25, linha 24 da tabela 1). A figura 2, que corresponde ao comp. 24 da peça, apresenta os 25 componentes da textura em total independência, ou seja, não existem dobramentos. O âmbito de 25 notas está presente entre o fá na 1ª flauta e o fá nos combrabaixos. Cada linha da tabela 1 foi realizada musicalmente em um compasso, ou seja, a peça termina no quadragésimo sétimo compasso. 5

Figura 2: exemplo da realização musical da complexidade máxima (DA = 25 e A = 25). 6

A figura 3 é a realização musical da linha 25 da tabela 1. Nesta configuração da textura, a DA é reduzida a 24 componentes (o trompete 2 foi retirado) e o âmbito, acrescido de uma nota, continua demarcado entre a 1ª flauta e os contrabaixos. Existem interdependências entre 1ª trompa, 1º trompete e 2º trombone (3); trombone baixo, tuba e contrabaixos (3); 2º oboé, 2ª trompa e 1º trombone (3); 2ª clarineta e o 1º fagote (2); 1º trompete e 2º trombone (2). Os demais onze componentes permanecem independentes 9. Figura 3: exemplo da realização musical da complexidade 0, 923 (DA = 24 e A = 26). 7

4. Conclusão O planejamento textural da peça Variações Texturais III, descrito nesse trabalho, foi estruturado a partir dos seguintes parâmetros: densidade absoluta, âmbito, densidade relativa e a relação qualitativa (interdependência/independência entre as camadas). Para cada peça, que integra o ciclo sinfônico, foi elaborado um planejamento diferenciado onde os mesmos parâmetros foram manipulados de diferentes formas, construindo assim uma demonstração das diversas possibilidades de manipulação ou variação das texturas. A proposta de elaborar um planejamento textural foi bem-sucedida, visto que relacionamos simultaneamente quatro parâmetros que podem definir diferentes disposições texturais na caracterização e no desenvolvimento de processos variacionais. O aplicativo que calcula e relaciona, de forma prescritiva, as possíveis disposições da textura não tem o propósito de substituir ou tolher a criatividade do compositor, mas sim de estimulá-la, desafiando sua capacidade de prever e concatenar os eventos musicais que estão descritos numericamente. Referências: ALVES, José Orlando. Aplicação do conceito de complexidade textural no planejamento da primeira peça do ciclo Variações Texturais, para orquestra sinfônica. In: Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM), XXIV, 2014, São Paulo. Anais... Editora da UNESP. ALVES, José Orlando. As principais características do planejamento textural na composição da peça sinfônica Variações Texturais II. In: Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM), XXVI, 2016, Belo Horizonte. Anais... Editora da UEMG. ALVES, José Orlando. Três ferramentas para a manipualção da textura musical: conceituação e aplicações em planejamentos composicionais. Revista Debates (UNIRIO). Rio de Janeiro, n. 15, p.104-134, 2015. BERRY, Wallace. Structural Functions in Music. New Jersey: Prentice-Hall, 1976. COPE, David. Techniques of the Contemporary Composer. Nova York: Schirmer Books, 1997. GENTIL-NUNES, P. Análise Particional: uma mediação entre composição musical e teoria das partições. 2009. 243f. Tese (Doutorado em Música) Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), 2009. GUIGUE, Didier. Estética da Sonoridade. São Paulo: Perspectiva, 2011. SADIE, Stanley; TYRRELL, John (Ed.). Texture. In:The new Grove dictionary of music and musicians. 2.ed. London: Macmillan, 2001. PONTES, Felipe Grisi Correia. Planejamento Textural a partir de aspectos elementares do caos determinístico aplicados à composição musical. 2014. 226f. Mestrado (Dissertação em Composição Musical) Departamento de Música, Programa de Pós-Graduação em Música, UFPB, João Pessoa, 2014. 8

1 Termo utilizado para se referir a quaisquer dos aspectos verticais de uma estrutura musical. Isso pode ser aplicado tanto para aspectos verticais de uma obra ou passagem por exemplo, o modo em que partes individuais ou vozes são reunidas quanto para atributos tais como timbre ou ritmo, ou a características da execução musical, tais como articulação e nível da dinâmica (SADIE; TYRRELL, 2001, p. s/n o, tradução nossa). 2 A composição da terceira peça está prevista no projeto de pesquisa Desenvolvimento de Processos Composicionais Relacionados à Música Textural, vinculado aos Laboratórios de Composição Musical (COMPOMUS) e Musicologia, Sonologia e Computação (MUS 3 ), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e contemplado pelo CNPq com um financiamento institucional, aprovado no Edital UNIVERSAL de 2012. 3 A densidade é um aspecto determinante para caracterizar um evento textural, como ressalta Cope (1997, p. 99): Textura resulta da combinação de altura, timbre e duração e é geralmente medida em termos de densidade. [...] compositores contemporâneos expandiram seus conceitos para incluir um vocabulário mais amplo de texturas, que vai de simples notas até grandes densidades sonoras. 4 Para Berry (1976, p. 184) o âmbito é definido pelo somatório de semitons, o que difere da proposta de Guigue. 5 Basicamente, o aplicativo calcula um índice de complexidade que varia entre 0 (zero) e 1 (um), ou seja, que vai do menos complexo ao mais complexo, tendo por base a relação de independência/interdependência, em dado momento, prevista (no caso da elaboração de um planejamento textural) ou analisada (quando sua formulação parte da observação analítica de um trecho musical) (ALVES, 2014: 4). 6 É importante enfatizar que o conceito de complexidade, adotado na presente pesquisa, refere-se somente aos parâmetros densidade (absoluta e relativa) e a interdependência e independência das partes que compõem a textura em determinado momento. Ou seja, adotamos um tipo específico de concepção de complexidade textural, cuja parametrização permite formalizar planejamentos composicionais também específicos [...].No entanto, temos consciência da limitação desse conceito, quando comparado a outros fatores, como a resultante espectral e tímbrica da sonoridade, a utilização do ruído, a espacialização e a variação da dinâmica, entre outros. Estamos buscando a implementação do aplicativo visando a inclusão de outros parâmetros [...] (ALVES, 2015: 111). 7 Um importante recurso do aplicativo é o campo chamado margem de aproximação. Esse campo foi inserido no aplicativo porque prevíamos que uma determinada densidade absoluta nem sempre vai apresentar todas as possibilidades que variam entre 0 e 1. Se considerarmos apenas duas casas decimais, existem 100 algarismos entre 0 e 1. E nem sempre encontraremos, para uma densidade absoluta, 100 possibilidades de distribuição. Se o aplicativo não encontra para aquela densidade absoluta a distribuição da complexidade almejada, é possível que ele nos forneça valores próximos àquele que estamos procurando. Por exemplo, suponha que pedimos para o aplicativo nos fornecer uma distribuição de densidade 0,60 e ele não encontre. Caso isso aconteça, o aplicativo não nos retorna nada. Mas, ainda nesse exemplo, colocamos o valor 0,05 no campo margem de aproximação. Nesse caso, o aplicativo irá procurar todas as possibilidades que variam entre 0,55 (0,60-0,05) e 0,65 (0,60 + 0,05). Dessa maneira, é muito mais provável que encontremos um resultado satisfatório (PONTES, 2014: 37). 8 No caso da primeira peça [do ciclo sinfônico], partimos da decisão arbitrária de trabalhar a densidade absoluta como uma constante. Assim, escolhemos o número 13 para designar a densidade absoluta, porque permitia a inclusão de famílias tímbricas diferenciadas na instrumentação proposta, que poderia variar de um instrumento solista até um tutti, [...] (ALVES, 2014, p. 4). A característica específica [do planejamento] da segunda peça [do ciclo] foi fixar ou congelar o âmbito em 46 notas, ou seja, duas oitavas e uma sexta maior. Assim, o âmbito escolhido permitiu trabalhar com blocos timbrísticos uniformes (como por exemplo, utilizar somente as cordas, ou os metais ou as madeiras), contrastando, assim, com a diversidade timbrística da primeira peça (ALVES, 2016, p. 4). 9 A brevidade deste trabalho, constituído por, no máximo, oito folhas de texto corrido, seguindo as normas do congresso, impede a inclusão de outras figuras e comentários subsequentes dos desdobramentos da realização musical a partir do planejamento textural proposto. 9