Uso do ácido glicólico em produtos cosméticos para tratamento tópico da acne

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Transcrição:

Uso do ácido glicólico em produtos cosméticos para tratamento tópico da acne 1 Ana Paula Wippel - Acadêmica do Curso de Tecnologia em Cosmetologia e Estética, da Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, Santa Catarina (Univali). 2 Ana Júlia Von B. du Vernay França - Farmacêutica; Professora do Curso de Tecnólogo em Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí, Balneário Camboriú, Santa Catarina (Univali). Professora Orientadora. Contato: 1 Endereço:anapaula.wippel@hotmal.com 2 Endereço: anajúlia@univali.br RESUMO O uso do ácido glicólico na forma tópica é cada vez mais freqüente em formulações de produtos de linhas profissionais e até mesmo em produtos de home care (uso domiciliar). A literatura defende que este ácido é eficaz no tratamento da acne vulgar, pois tem ação queratolítica em concentrações mais baixas e epidermólise em concentrações mais altas, o que fornece a razão fundamental para seu uso em formas tópicas. Além disso, o uso freqüente do ácido glicólico tem a capacidade de diminuir a oleosidade e a população de Propinobacterium acnes, o microorganismo que produz a inflamação na acne. O trabalho tem como objetivo fazer uma revisão bibliográfica do ácido glicólico, comprovando sua eficácia na acne de grau I e II, além de verificar a composição de dez produtos de tratamento tópico de acne, que são regularmente utilizados em cabines de estética facial, e que levam o ácido glicólico na sua composição. Palavras-chave: Ácido glicólico, produtos cosméticos anti-acne, acne vulgar.

INTRODUÇÃO A acne é uma patologia do folículo piloso, que acomete na maioria das vezes indivíduos que passam pela fase da adolescência e juventude, quando os hormônios são mais oscilantes, Sousa, 2005. Além dos hormônios, a acne está também relacionada com outros inúmeros fatores que podem ser: predisposição genética do indivíduo, hiperqueratinização, androgênios, pressão ou fricção excessiva da pele, utilização de cosméticos comedogênicos, reação do organismo a certos medicamentos tópicos ou orais (anticoncepcionais e anabolizantes). Apesar de a acne resultar de fatores múltiplos acredita-se que um padrão anormal de queratinização seja o principal responsável para o desenvolvimento da acne tratada por esteticistas. O tratamento da acne visa interferis nos fatores patológicos desencadeantes. Segundo Kede( 2004) existem evidencias histológicas e clinicas de que o comedão é a lesão fundamental da acne e que está diretamente relacionada com a hiperqueratinização folicular. O ácido glicólico é um ativo eficaz no tratamento da acne porque é capaz de diminuir a coesão dos corneócitos e provocar a separação dos queratinócitos, promovendo a epirdemólise em concentrações mais elevadas, o que fornece a razão fundamental para o seu uso em formulações tópicas. Apesar de a literatura fornecer dados que comprovem que o ácido glicólico é um eficiente ativo no tratamento tópico da acne vulgar, não se sabe se ele é realmente empregado com tanta freqüência em produtos cosméticos de linhas de uso profissional. Sabe-se que o emprego desse ativo tem se popularizado nos últimos anos e está mais freqüente nas cabines de esteticistas. Há alguns anos atrás, o ácido glicólico já era bastante empregado no tratamento da acne, mas em forma de peelings médios a profundos, com orientações de médicos dermatologistas. Como a área de estética facial e os produtos cosméticos têm se expandido não somente em tecnologia como também têm crescido em área de atuação, o ácido glicólico passou a fazer parte das formulações cosméticas de uso profissional por

esteticistas faciais no tratamento não somente da acne como de tratamentos antienvelhecimento, fotoenvelhecimento e peles secas, Nardin (1999.) O presente trabalho tem como objetivo verificar o uso do ácido glicólico no tratamento da acne e avaliar, através da composição descrita na rotulagem, as principais marcas de cosméticos de uso profissional que são utilizadas por esteticistas, observando a presença do ácido glicólico em suas formulações destinadas ao tratamento anti-acne. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Pele Segundo Peyrefitte(1998), a pele é o manto que reveste a superfície corporal, além de ser o maior órgão do corpo humano, pesando cerca de 3 a 3,5 kg. Apresenta funções como, proteção contra invasão bacteriana, proteção contra lesões, dessecação( perda de água do organismo), proteção e absorção de raios ultravioletas, traumas físicos. Além das funções de proteção a pele tem uma função estética, a pele saudável, sem manchas, rugas, úlceras ou cicatrizes significam grande vaidade para o ser humano. A pele é dividida entre epiderme, derme e hipoderme, sendo que na derme fica a localização dos folículos pilossebáceos, que são uma invaginação profunda da epiderme na derme. Além disso, são encontradas ainda na derme, além do folículo pilossebáceo, as seguintes estruturas derivadas da epiderme: unhas, glândulas sebáceas e sudoríparas (Peyrefitte,1998). Histologicamente, segundo Peyrefitte, (1998) a glândula sebácea se encontra na derme e abre-se no folículo piloso, na inserção entre o músculo eretor do pêlo e a epiderme; é uma glândula de ducto curto, pois seu conteúdo se extravasa no exterior da epiderme pelo orifício pilossebáceo, para lubrificar a sua superfície e também o pêlo, e já se localiza bem próxima a esta região, diferentemente de outras glândulas que possa se encontrar em regiões mais profundas da epiderme.

Acne A acne é uma doença da unidade pilossebácea (composta pelo folículo piloso e a glândula sebácea), que possui vários fatores capazes de serem desencadeantes, tornando-se muitas vezes difícil diagnosticar o que realmente ocasionou seu surgimento Sousa, 2005. Na grande maioria das vezes, ela pode surgir de uma obstrução do ducto pilossebáceo resultante de uma hiperqueratose de retenção, que impede o extravasamento da secreção sebácea até o exterior da epiderme, esta secreção acumulada, somatizada a presença do microorganismo residente, o Propinobacterium acnes, juntamente a um aumento da produção do sebo pelas glândulas sebáceas, que geralmente decorre de uma alteração hormonal, Vaz, 2003. A acne pode ser dividida em quatro graus de agravamento, sendo que o esteticista geralmente trata os graus I, e II. Nos casos de grau III e IV, a esteticista deve encaminhar o cliente à um profissional médico dermatologista, e pode trabalhar em conjunto seguindo suas orientações, com o objetivo de controlar o quadro, que já se encontra muito inflamado, Gomes, 2006. Segundo Gomes (2006) os graus da acne são divididos da seguinte forma: 1. Acne grau I (acne comedogênica- não inflamatória) - Apresenta a pele oleosa, comedões abertos e comedões fechados. 2. Acne grau II (acne papulopustulosa inflamatória) - Apresenta pele oleosa, comedões abertos, comedões fechados, pápulas, pústulas, nódulos e cistos. 3. Acne grau III (acne nodulocística inflamatória) Apresenta pele oleosa, comedões abertos e comedões fechados. 4. Acne grau IV (acne fulminante) - Forma infecciosa e sistêmica de acne, de causa desconhecida e início abrupto, que acomete predominantemente o sexo masculino. Apesar de rara, é devastadora e grave. A etiologia da acne fulminante não é a mesma da acne vulgar, ou seja, não ocorre com o mesmo processo de obstrução do folículo pilossebáceo, hipersecreção e fatores hormonais. Em alguns casos o indivíduo acometido possui pápulas, pústulas e nódulos que evoluem para úlceras. Pode também haver dores nas articulações e febre. O tratamento é exclusivamente feito por médicos.

Tratamento Atualmente existem muitas formas de tratamento para a acne, que podem ser tratamentos tópicos ou medicações orais. Os tratamentos da acne visam interferir nos fatores patogênicos. Os graus inicias como I, e II, já são tratados por esteticistas há várias décadas. Com o passar do tempo, a cosmetologia vai se aprimorando e os protocolos cosméticos de tratamento vão ficando mais eficazes, proporcionando resultados cada vez mais satisfatórios. O importante é tratar a acne já no início do seu desenvolvimento. Além do tratamento tópico com ácidos é importante ressaltar que o indivíduo deve realizar uma higienização freqüente da pele com sabonetes antissépticos para diminuir a proliferação bacteriana e o acúmulo do sebo. O uso de fotoproteção e cuidados com a exposição solar são importantes para evitar hiperpigmentação. A acne é considerada normal no processo do desenvolvimento do jovem, e muitas vezes é negligenciada, e havendo uma demora na procura de um tratamento especializado para essa patologia. Essa demora, leva muitas vezes a danos irreversíveis como machas e cicatrizes, além dos danos a nível psico-social (Vaz, 2003). A pele tem um grande caráter de vaidade para o ser humano, seu bom aspecto representa saúde, vitalidade e beleza, e o desenvolver da acne compromete toda a estética da pele. Dentre os vários ativos dermatológicos que fazem dos cosméticos cada vez mais eficazes, se destacam os Alfa Hidroxiáxidos ( AHAs). Segundo Nardin, 1999, os AHAs apresentam um grupo carboxila terminal com um ou dois grupamentos hidroxila na posição alfa e uma cadeia carbônica de comprimento variável. ( figura 01)

R1 = H = ácido glicólico R1 = CH3 = ácido lático R1 = CHOH-COOH = ácido tatárico Figura 01: A estrutura geral dos alfa- Hidroxiáxidos Fonte: Rev. Bras. Farm.,87(3),2006. Encontram-se como AHAs : ácido glicólico, derivado da cana de açúcar, o lático, derivado do leite e do mel, o cítrico derivado das frutas cítricas, o málico derivado de maçãs e pêras, e o mandélico derivado de um extrato amargo de amêndoas, e o ácido tartárico derivado do vinho e em uvas.os AHAs são utilizados não somente no tratamento da acne, mas também no tratamento de peles secas, ictioses, envelhecimento, linhas finas de expressão e hipercromias, Almeida( 2007). Estes ácidos, quando aplicados topicamente, produzem efeitos específicos sobre a pele, não somente a nível epidérmico (extrato córneo), mas também a nível dérmico, como papilas dérmicas, folículos pilosos e fibroblastos. Segundo Nardin (1999), após aplicações com baixas concentrações de AHAs, foi demonstrado histologicamente uma diferenciação mais ordenada na epiderme. Segundo Rubin (2007), todos os AHAs, em contato com a pele, tem a capacidade de diminuir a concentração dos corneócitos na camada córnea da epiderme, facilitando a renovação celular e a tornando mais fina e mais permeável a outros ativos. Por esse motivo são muito utilizados como coadjuvantes de tratamentos antienvelhecimento, pois permitem a melhor absorção de ativos como vitaminas antioxidantes. Dentre os AHAs, o de estrutura mais simples é o ácido glicólico, derivado da cana-de-açúcar. Ele tem apenas dois carbonos em sua estrutura molecular e é hidrossolúvel, o que o torna mais difuso na fase intracelular. Por ter a menor molécula, tem maior poder de penetração do que os outros AHAs, sendo mais rápida sua absorção no local da aplicação Almeida, 2007.

Figura 02: Estrutura do ácido glicólico. O ácido glicólico, em contato com a pele intacta, causa um desprendimento do excesso do extrato córneo, causando uma descamação da epiderme. A epiderme fica mais fina, as células jovens passam a ficar na superfície. Esse processo seguido estimula que as células se renovem com mais rapidez, evitando a hiperqueratose e a obstrução do folículo pilossebáceo, o que justifica a diminuição da comedogênese. Além disso, essa descamação causa extrusão dos comedões e das lesões inflamatórias na fase inicial. Como a hiperqueratinização é impedida, a saída do sebo é facilitada, diminuindo as chances de obstrução do folículo piloso. A pele fica com a textura mais lisa e com menos relevos, tornando o local menos propício para o desenvolvimento de microorganismos como o Propinobacterium acnes, que se aloja em relevos contendo sebo, queratina, umidade e temperatura adequada com a pele( Peyrefitte, 1998). Segundo Almeida (2007), o mecanismo de ação do ácido glicólico ainda não é totalmente conhecido e ainda permanece em análise, mas há evidências de que o uso tópico também promove uma diminuição da secreção sebácea. O ácido glicólico pode ser usado na acne comedogênica, papulopustulosa e nodulocística, sendo que nos casos de acne papulopustulosa e nodulocística é preciso mais número de aplicações. Efeitos Adversos Segundo Façanha, 2007, o ácido glicólico não reage diretamente com o sol, mas por ser esfoliante, deixa a pele mais fina e menos protegida aos raios UV. Por isso é recomendado o uso do filtro solar durante o tratamento. Segundo Hofmeister (1995) é

propriedade do ácido glicólico, além de seu baixo poder de sensibilização, a baixa capacidade de desencadear alergias. O efeito colateral mais comumente observado em indivíduos que aplicam o ácido glicólico é o eritema que muitas vezes pode ser persistente, dependendo da sensibilidade da pele, da concentração, ph e número de aplicações. Quanto maior a concentração e ph mais baixo, maior será o poder de penetração e mais irritante será a aplicação. Este eritema desaparece logo após cessarem as aplicações quando a pele se restabelecer. Os efeitos benéficos do ácido glicólico também dependem da sua concentração e ph. A sua penetração está diretamente relacionada com o valor do ph, quanto mais baixo for o valor do ph, ( próximo a 1) maior será o seu poder de penetração na pele. Segundo Rubin, em ph mais altos, os AHAs tem função essencialmente hidratante. Para obter resultados no combate à acne, é preciso aplicar em concentrações entre 5 a 15%. Segundo Almeida, 2007, o ácido glicólico com ph entre 3,8 e 4,2 é o mais adequado, pois tem boa penetração sem causar tanta irritabilidade e eritemas na pele. Peelings de ácido glicólico em gel com 50 a 70 % de concentração só podem ser aplicados por médicos. A concentração permitida para o uso de AHAs em produtos cosméticos é de no máximo 10 %, em ph igual ou maior a 3,5. Em baixas concentrações e ph entre 3,2 e 4,4 o ácido glicólico atua nas camadas mais profundas do extrato córneo, diminuindo a adesão dos corneócitos, tornando o extrato córneo menos espesso e mais permeável. Em concentrações mais altas o acido glicólico tem maior poder esfoliante, pois as ligações se rompem e aumenta rapidamente a descamação. O uso do ácido glicólico em formulações cosméticas para protocolos de acne seria bem tolerado se aplicado em várias sessões, para que houvesse bons resultados, pois os produtos comercializados para esteticistas tem no máximo 10% de AHAs em suas formulações com ph neutralizado( próximo a 3,5), que são os limites permitidos. Mesmo assim é necessário tomar cuidados com a exposição solar e com a sensibilidade da pele (Façanha, 2007). METODOLOGIA

O estudo em questão se caracteriza por uma pesquisa exploratória descritiva de caráter qualitativo e quantitativo, sendo que as informações foram coletadas através de um levantamento dos produtos cosméticos de tratamento profissional e domiciliar de acne no laboratório de Cosmetologia e Estética da Universidade do Vale do Itajaí, Univali, Campus de Balneário Camboriú. Foram analisadas a composição através da rotulagem dos produtos cosméticos de 10 marcas de produtos utilizados nos protocolos anti-acne. As informações de estudo foram; os princípios ativos presentes e a forma cosmética que se encontram.. Resultados e Discussão Após o levantamento de produtos cosméticos utilizados no tratamento da acne no laboratório de Cosmetologia e Estética, Campus de Balneário Camboriú, foram obtidos dados que podemos observar no gráfico 1. Avaliação presença de ativos produtos profissionais 45,00 40,00 35,00 30,00 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 com ácido glicólico sem ácido glicólico sem ativo ácido com ácido glicólico sem ácido glicólico sem ativo ácido Gráfico 1 avaliação da presença de ativos em produtos cosméticos de linhas profissionais. Fonte: Pesquisa aplicada por Ana Paula Wippel A primeira coluna mostra que o ácido glicólico aparece como ativo no combate da acne em 30% das marcas pesquisadas. A segunda coluna representa as marcas sem ácido

glicólico na sua composição, mas que levavam outro ativo ácido na sua formulação para tratamento da acne. A terceira coluna mostra as demais marcas pesquisadas que não possuíam nenhum produto com ativo ácido para tratamento de acne. Dentre as 10 marcas pesquisadas, apenas 30% contém o ácido glicólico como ativo nas linhas de tratamento anti-acne. Dentre esses produtos, um era um sabonete secativo, e os outros eram produtos de uso domiciliar. Das três marcas pesquisadas que continham o ácido glicólico como ativo no combate da acne, foi verificado que possuíam apenas um produto da linha que levava o ácido glicólico como ativo, sendo que a marca 1, o produto se apresentava na forma de sabonete líquido; na marca 2, o produto de apresentava como uma máscara em gel; a marca 3, o produto se apresentava como um gel secativo. Dentre as marcas pesquisadas, todas tinham uma outra linha alternativa para tratamento de acne contendo outros ativos anti-acne na sua formulação, que não eram AHAs, nem beta hidroxiácidos. As marcas que utilizavam o ácido glicólico no tratamento da acne como ativo não o associavam a outro ativo, sempre se encontrava sozinho nas formulações. CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado da pesquisa gera surpresa devido à literatura afirmar que o ácido glicólico é um ativo eficaz no tratamento tópico da acne. Os dados da pesquisa levam a conclusão que este ativo é bem pouco explorado na área dos cosméticos, e seu uso ainda se encontra restrito aos tratamentos mais invasivos como peelings médicos. Segundo os autores pesquisados, conclui-se que o ácido glicólico contém as seguintes propriedades: Queratolítico, impedindo a hiperqueratinização folicular, e consequentemente a comedogênese. Uniformiza a textura da pele, interferindo na proliferação bacteriana.

Assim como todos os AHAs, tem a capacidade de causar efeitos regularização da produção sebácea. Observando-se os fatores patogênicos relacionados à formação da lesão acneica, pode-se sugerir que o ácido glicólico é um candidato ao tratamento eficaz da acne, porém ainda pode ser mais explorado na área da estética. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Emily Frizzo de. Utilização do Ácido Glicólico nas Alterações Estéticas. Revista Personalité : 2007 AVRAN, Marc R.; TSAO, Sandy; TANNOUS, Zeina; AVRAN,Mathew M. Atlas Colorido de Dermatologia e Estética: São Paulo: McGraw-Hill, 2009 FAÇANHA, Rosângela. Estética Contemporânea. São Paulo, 2007. GOMES, Rosaline Kelly; GABRIEL, Marlene S. Cosmetologia: Descomplicando Princípios Ativos.: 2 edição, São Paulo: Livraria Médica Paulista Editora, 2006. HOFMEISTER, Heloisa Araújo; MIKI, Cláudia; nunes, Luciana Rodrigues; AZULAY, Rubem David. Ácido Glicólico no fotoenvelhecimento cutâneo. Disponível em: < http:/ www.anaisdedermatologia.org.br/public/artigo> Acesso em 8/10/09 KEDE, M.P.V; SABATOVICH O. Dermatologia e Estétitica.: primeira edição São Paulo: Atheneu, 2004

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