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Transcrição:

Apelação Criminal n. 0022768-46.2016.8.24.0023, da Capital Relator: Desembargador Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva APELAÇÃO CRIMINAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI MARIA DA PENHA. LEI 11.340/2006. RECURSO DOS OFENSORES. DISTANCIAMENTO MÍNIMO E PROIBIÇÃO DE COMUNICAÇÃO COM A OFENDIDA. PRETENDIDA A REFORMA DA DECISÃO POR INSUFICIÊNCIA DE EVIDÊNCIAS CONCRETAS DAS SUPOSTAS AGRESSÕES POR PARTE DOS APELANTES. RECURSO DA VÍTIMA. INSURGÊNCIA QUANTO AS MEDIDAS DETERMINADAS. AUMENTO DE MEDIDAS DE PROTEÇÃO. REQUERIMENTO FORMULADO PELA OFENDIDA EM CARÁTER AUTÔNOMO. AUSÊNCIA DE INQUÉRITO POLICIAL E PROCESSO PENAL EM CURSO. COMPETÊNCIA. PROVIDÊNCIA DE NATUREZA JURÍDICA CÍVEL. IMPOSSIBILIDADE DE AS CÂMARAS CRIMINAIS REGULAREM A MATÉRIA. REMESSA A UMA DAS CÂMARAS DE DIREITO CIVIL. RECURSO NÃO CONHECIDO. REDISTRIBUIÇÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Criminal n. 0022768-46.2016.8.24.0023, da comarca da Capital Juizado de Violência Doméstica contra a Mulher em que é/são Apte/RdoAd(s) L. J. M. F. e outro e Apdo/RteAd(s) B. J..

A Primeira Câmara Criminal decidiu, por votação unânime, negar provimento ao recurso. Custas legais. O julgamento, realizado nesta data, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Paulo Roberto Sartorato, com voto, e dele participou a Exma. Sra. Desa. Hildemar Meneguzzi de Carvalho. Funcionou como membro do Ministério Público o Exmo. Sr. Dr. Procurador de Justiça Fábio Strecker Schmidt. Florianópolis, 14 de junho de 2018. Desembargador Ariovaldo Rogério Ribeiro da Silva Relator 2

RELATÓRIO A Delegacia de Proteção à Mulher da Capital, com atribuições no Município de Florianópolis/SC, instaurou procedimento para apuração de supostas agressões atribuídas por Leo Machado Facco e Analu Vergílio Jayaraman contra Bagylakshmi Jayaraman, no âmbito protetivo da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006). O procedimento foi instaurado por iniciativa da ofendida, que formulou requerimento de medidas protetivas de urgência elencadas no art. 22, inc. III, da Lei 11.340/06, por meio da autoridade policial (fls. 01/04), com parecer favorável do Ministério Público (fls. 38/40), e, posteriormente, na sentença, confirmado em parte pelo Juízo a quo (fls. 41/51). Inconformada, a Defesa de Leo Machado Facco e Analu Vergílio Jayaraman, interpôs Recurso de Apelação (fls. 68/74), em cujas razões, requer a nulidade da sentença guerreada, pelo exorbitante cerceamento de defesa ocorrido, ante a impossibilidade de inquirição de testemunhas defensivas arroladas e, ainda, a desconstituição do julgamento proferido, com a produção de prova testemunhal solicitada. Ao final, a revogação da medida protetiva aplicada, pela impossibilidade física do seu cumprimento, vez que residem no mesmo local que a protegida. Nas Contrarrazões (fls. 86/92), o representante da vítima, pleiteia o conhecimento e total improvimento do Recurso, com a manutenção integral da medida determinada na origem. Ainda, em sede das suas Razões de Apelação (fls. 93/101), a vítima Bagyalakshmi, postula pela reforma da decisão originária, e por consequência, a concessão de acréscimos nas medidas de proteção. Por fim, a 17ª Procuradoria de Justiça Criminal de Santa Catarina (fls. 108/112), em parecer de lavra da Exma. Sra. Dra. Heloísa Crescenti Abdalla Freire, manifestou-se: "considerando a ausência de representação da Vítima 3

para eventual propositura da Ação Penal, [...] a competência para apreciar o presente Recurso de Apelação deve recair sobre uma das Câmaras Cíveis desse Egrégio Tribunal de Justiça". Este é o relatório. VOTO O recurso não merece ser conhecido, porquanto ausentes os requisitos de admissibilidade. Vejamos. A Defesa insurge-se quanto à aplicação das medidas protetivas determinadas pela Magistrada a quo. Para tanto, sustenta, em apertada síntese, que a decisão foi fundada exclusivamente na palavra da vítima, bem como não há evidências concretas quanto à existência do fato e, ainda, a desnecessidade da sua manutenção. Inicialmente, verifica-se que as medidas protetivas, consistentes no afastamento dos Apelantes do lar familiar; proibição destes de se aproximarem da Protegida, respeitando o limite mínimo de 20 (vinte) metros; bem como o impedimento, por qualquer meio, de manter contato com Ela, foram empregadas pela magistrada a quo, com base nos fatos narrados pela vítima, consoante se pode observar dos documentos acostados às fls. 01/04 (Boletim de Ocorrência - fl.03, bem como das declarações prestadas perante a autoridade policial -fls. 03/04). Dito isso, é de suma importância salientar a natureza jurídica híbrida das medidas protetivas elencadas na Lei 11.340/06. Nesse sentido, dispõe o art. 13 do referido Diploma Legal: Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. Em razão disso, o art. 33, estabelece que: 4

Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela legislação processual pertinente. Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais, para o processo e o julgamento das causas referidas no caput. No caso dos autos, observa-se que o processo tramitou no Juizado de Violência Doméstica contra a Mulher, da Comarca da Capital, na qual foram aplicadas as medidas protetivas de urgência dispostas no art. 22 da Lei Maria da Penha: Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras: III - proibição de determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; Nessa senda, cumpre registrar que há divergência de entendimentos doutrinários e jurisprudenciais quanto à natureza jurídica das medidas supracitadas. Nesse sentido, Maria Berenice Dias, no tocante, especificamente às medidas previstas no inc. II, do Art. 22, leciona: [...] As demais medidas protetivas que visam à proteção da vítima são todas do âmbito das relações familiares: o afastamento do agressor do domicílio comum e a possibilidade de a ofendida e seus dependentes serem reconduzidos ao lar. Essas medidas podem ser requeridas através de medida cautelar intentada pela vítima (CPC, art. 888, VI) perante o JVDFM. Enquanto não instalados esses juizados, as ações devem ser propostas no juízo cível. Tratando-se de demanda de natureza jurisdicional, a ação precisa atender todos os requisitos legais previstos no Código de Processo Civil, entre eles a necessidade de a autora se fazer representar por advogado. (DIAS, Maria Berenice. A lei maria da penha na justiça. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 146). Ainda: [...] Não há como reconhecer de natureza penal, por exemplo, a determinação do afastamento do agressor do lar. Tanto o Código Civil (art. 1.562) como o Código de Processo Civil (art. 888, VI) preveem a separação de 5

corpos no juízo cível como ações a serem propostas pela vítima. Ora, dispondo ela de legitimidade para buscar a tutela por meio de ação a ser proposta no juízo cível, nada justifica obstacularizar a possibilidade de pleitear o mesmo direito por meio de incidente suscitado perante a autoridade policial em face de episódio de violência doméstica. [...] (pp.149-150). Verifica-se que, no caso dos autos, as medidas protetivas foram concedidas em razão do requerimento formulado perante à autoridade policial e, após manifestação favorável do Ministério Público, sendo ao final, deferido pela Magistrada a quo, com a posterior citação dos Apelantes. Por fim, sobreveio sentença, na qual o Juízo a quo aplicou ao caso, o procedimento das tutelas cautelares previsto no atual Código de Processo Civil. Assim sendo e, tendo em vista que, não houve inquérito policial, tampouco Ação Penal para apuração de eventual prática delituosa mas, tão somente aplicação autônoma de medidas protetivas, é inconteste que tal providência possui natureza cível, mesmo porque o Juízo a quo resolveu o mérito da demanda com fundamento no art. 487, I, do CPC, aplicando as regras concernentes à tutela cautelar, nos termos do art. 305 e seguintes do atual Código de Processo Civil. Nesse sentido, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça já reconheceu que em determinados casos a Lei Maria da Penha possui natureza de cautelar cível satisfativa, ou seja, não seria uma norma de natureza exclusivamente penal. Vejamos: DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER. MEDIDAS PROTETIVAS DA LEI N. 11.340/2006 (LEI MARIA DA PENHA). INCIDÊNCIA NO ÂMBITO CÍVEL. NATUREZA JURÍDICA. DESNECESSIDADE DE INQUÉRITO POLICIAL, PROCESSO PENAL OU CIVIL EM CURSO. 1. As medidas protetivas previstas na Lei n. 11.340/2006, observados os requisitos específicos para a concessão de cada uma, podem ser pleiteadas de forma autônoma para fins de cessação ou de acautelamento de violência doméstica contra a mulher, independentemente da existência, presente ou potencial, de processo-crime ou ação principal contra o suposto agressor. 2. Nessa hipótese, as medidas de urgência pleiteadas terão natureza de cautelar cível satisfativa, não se exigindo instrumentalidade a outro processo cível ou criminal, haja vista que não se busca necessariamente garantir a eficácia prática da tutela principal. "O fim das medidas protetivas é proteger 6

direitos fundamentais, evitando a continuidade da violência e das situações que a favorecem. Não são, necessariamente, preparatórias de qualquer ação judicial. Não visam processos, mas pessoas" (DIAS. Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça. 3 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012). 3. Recurso especial não provido. (REsp 1419421/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/02/2014, DJe 07/04/2014).(grifei). Além disso, destaca-se que "A natureza híbrida da Lei Maria da Penha, por si só, não confere às Câmaras Criminais dos Tribunais de Justiça competência para regularem matéria de natureza exclusivamente cível, o contrário poderá trazer para o âmbito do direito penal competências exclusivas do direito civil, como as destes autos, o que não pode ser admitido por esta Corte, pois o direito penal é a ultima ratio do sistema jurisdicional e sua atuação deve ficar adstrita aos casos em que os outros ramos do direito forem ineficazes para combater o mal previsto, o que não atende a hipótese ora enfrentada." (TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.006263-2, de Itapoá, rel. Des. Marli Mosimann Vargas, Primeira Câmara Criminal, j. 12-08-2014). Por outro lado, não se desconhece a existência do entendimento diverso sobre a natureza jurídica das medidas protetivas elencadas nos inc. I, II e III, alíneas 'a', 'b', 'c' da Lei n. 11.340/2006, como sendo de natureza penal. Porém, filio-me a corrente que reconhece a natureza cível destas medidas quando impostas de maneira autônoma, para fins de cessação ou acautelamento de violência doméstica, independentemente da intenção de ingressar na esfera criminal contra o suposto agressor, sendo desnecessária a intervenção penal, pelos motivos acima expostos. Ante o exposto, voto no sentido de não conhecer do recurso e determinar a redistribuição do processo a uma das Câmaras de Direito Civil deste Tribunal de Justiça. Este é o voto. 7