OS PROGRAMAS DE PARCELAMENTO DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS E SEUS IMPACTOS NA LIVRE CONCORRÊNCIA

Documentos relacionados
LEI , DE 24 DE OUTUBRO DE 2017 INSTITUI O PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA PERT.

MEDIDA PROVISÓRIA nº 783, de 31/05/2017. Instrução Normativa RFB nº 1711, de 16/06/2017.

PERT, REFIS DO FUNRURAL E DO SIMPLES E OUTROS PROGRAMAS DE ANISTA TRIBUTÁRIA. Heloisa Guarita Souza

Histórico do Refis e arrecadação dos programas. Julio Cesar Vieira Gomes Auditor-Fiscal da Receita Federal

PERT. Programa Especial de Regularização Tributária MP nº 783/2017 IN/RFB nº 1.711/2017 Portaria PGFN nº 690/2017

TRIBUTÁRIO. Destacamos abaixo as informações consideradas por nós como as mais importantes relativas ao PERT: 1. INFORMAÇÕES GERAIS. 1.

Newsletter N 70 outubro Nesta edição:

MP 783/2017 LEI /2017

PGFN regulamenta o PERT

PARCELAMENTO APROVADO PELA LEI Nº /2009 REFIS DA CRISE

Refis da Copa Eliminação dos honorários sobre os débitos previdenciários

Medida Provisória nº 793 institui o Programa de Regularização Rural

Tributos e Contribuições Federais/Previdenciária - Medida Provisória nº 783/2017, que instituiu o Pert, é convertida em lei, com emendas

Estudo sobre Impactos dos Parcelamentos Especiais

Clipping Legis. Publicação de legislação e jurisprudência fiscal. Nº 206 Conteúdo - Atos publicados em maio de 2017 Divulgação em junho de 2017

Tributos e Contribuições Federais - Instituído novo parcelamento especial

Programa Especial de Regularização Tributária (Pert)

Tema MP nº 766/17 Projeto de lei de conversão da MP nº 766/17 Condições gerais

PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA PERT (REFIS 2017)

PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA SIMPLES NACIONAL (PERT-SN)

Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)

Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)

TRIBUTÁRIO Nº 651/14 - ASPECTOS RELACIONADOS AO REFIS

BRASÍLIA Complexo Brasil XXI SH Sul Quadra 06, Conj. A, Bloco C, 12º andar Tel. (5561)

MEDIDA PROVISÓRIA 783/2017 PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA (PERT)

PROJETO DE LEI N.º 2.281, DE 2015 (Do Sr. Jutahy Junior)

REF.: MP nº 449/2008 PARCELAMENTO DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS E PERDÃO DE DÍVIDAS TRIBUTÁRIAS

PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA PERT MEDIDA PROVISÓRIA Nº 783/17

Tributário Junho de 2017

ÍNDICE. Autor. O que é o REFIS da Crise 2013? Qual a legislação aplicável? Qual o prazo para adesão?

PERT-SN Parcelamento Especial de Regularização Tributária das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte. MAPA ETÉCNICO FISCAL

MENSAGEM N 011/2017. PROJETO DE LEI N 009/ Institui o programa de recuperação de créditos municipais, e dá outras providências.

Parcelamento Especial

Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)

SENADO FEDERAL. PROJETO DE LEI DA CÂMARA Nº 164, DE 2017 (Complementar)

REFIS DA CRISE L /09 REABERTURAS LEIS: / / /14

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 766, de 04/01/2017.

Prefeitura Municipal de Sidrolândia ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL

Taxalert. PERT - Mudanças introduzidas pela Lei nº /2017 à redação da MP 783

1. Quem pode usufruir os benefícios das reduções previstas na Lei?

Assunto: Alterações no regulamento do Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) no âmbito da Receita Federal do Brasil

- PGFN/RFB 15, DOU

PROGRAMA DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA RURAL PRR (REFIS RURAL)

das micro e pequenas empresas

DIÁRIO OFICIAL. Esse município. temautonomia. Índice do diário. Publicações de Atos Oficiais. Câmara Municipal de Miguel Calmon.

I. REABERTURA DO PRAZO PARA ADESÃO AO REFIS IV E DEMAIS PARCELAMENTOS FEDERAIS

Programa de Regularização Tributária - PRT

Troféu Transparência Reunião Técnica Programa de Regularização Tributária

Programa de Regularização Tributária (PRT)

Programa Especial de Regularização Tributária PERT

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR Nº DE 2018 (Dep. Jorginho Mello)

PARECER 050/ Dos Parcelamentos Previstos na Lei /2013:

PROGRAMA DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - PRT

REABERTURA REFIS DA CRISE CONSOLIDAÇ ÃO.

rios (a partir de 2008) Setembro 2009

ELUCIDANDO O PERT: PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA

CÂMARA LEGISLATIVA DO DISTRITO FEDERAL

Art. 2º - Os débitos de que trata o artigo anterior, existente para com a Fazenda Municipal, poderão ser pagos de acordo com os seguintes critérios:

PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA - PERT Alternativas perante a RFB 03/08/2017

O PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA E SUA INCIDÊNCIA NOS IMPOSTOS INDIRETOS

PARCELAMENTO REFIS V

Souza, Schneider, Pugliese e Sztokfisz Advogados. São Paulo -SP -DF. Brasília Shopping, Torre Norte SCN, 13 andar, s Brasília DF Brasil

LEI COMPLEMENTAR Nº 819, DE 12 DE SETEMBRO DE 2017.

Programa Especial de Regularização Tributária. Medida Provisória nº 783/2017 IN RFB nº 1711/2017 Portaria PGFN nº 690/2017

PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR N O, DE 2016

Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos

INFORME JURÍDICO TRIBUTÁRIO

ESTUDO SOBRE IMPACTOS DOS PARCELAMENTOS ESPECIAIS

Brasília - DF, terça-feira, 15 de julho de 2014 página 12 MINISTÉRIO DA FAZENDA

"CAPÍTULO XXXI DO PAGAMENTO DE CRÉDITOS DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL COM OS BENEFÍCIOS DO DECRETO Nº /17 - "REFAZ 2017"

Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)

MEDIDA PROVISÓRIA N. 303, DE PARCELAMENTO DE DÉBITOS FISCAIS E PREVIDENCIÁRIOS

Programa Especial de Regularização Tributária ( PERT ) Possíveis controvérsias judiciais 03/08/2017

13 de fevereiro de 2017

01/08/2014 Ana Cristina Fischer Dell Oso - Advogada

DESTAQUES DA SEMANA: SEMANÁRIO Nº 6/2016 1ª SEMANA FEVEREIRO DE 2017

TÍTULO: AS MUDANÇAS NO REGIME TRIBUTÁRIO DO SIMPLES NACIONAL E SEUS REFLEXOS

Conselho Regional de Educação Física da 11ª Região Mato Grosso do Sul

Tributos e Contribuições Federais Previdenciária - PGFN regulamenta o Programa Especial de Regularização Tributária Pert

Recomendação nº. 17/2017 /FAMEM São Luís (MA), 18 de maio de 2017.

ENTENDA O. São Paulo, 1 de agosto de 2017

INFORME TRIBUTÁRIO. Publicado o Programa Especial de Regularização Tributária ("Novo Refis")

Pert - Programa Especial de Regularização Tributária. Informações Básicas e Esclarecimentos

Retenções Previdenciárias no Fundo de Participação dos Municípios

O QUE PODE SER PARCELADO? (art. 1º, 1º e 2º)

Parcelamentos previstos na MP 449 são ampliados pela Lei nº /09

Parcelamento de débitos federais Lei nº /09 Portaria PGFN/RFB nº 06/09

Diário Oficial da União Seção 1 Nº 82, segunda-feira, 3 de maio de 2010 Pág. 51 PORTARIA CONJUNTA PGFN/SRF Nº 3, DE 29 DE ABRIL DE 2010

ARTIGO 65 DA LEI Nº , DE 11 DE JUNHO DE Este texto não substitui o publicado no Diário Oficial ARTIGO 65

PERT - PROGRAMA ESPECIAL DE REGULARIZAÇÃO TRIBUTÁRIA

PÓS GRADUAÇÃO DIREITO E PROCESSO TRIBUTÁRIO

Rio de Janeiro, 12 de dezembro de Of. Circ. Nº 308/17

MEDIDA PROVISÓRIA Nº 793, DE 31 DE JULHO DE 2017.

Programa Especial de Regularização Tributária (PERT)

Legal Letter. Destaques. Escritório conta com uma nova filial na. Reaberta a possibilidade de adesão. CCJ aprova mudança para

PREFEITURA MUNICIPAL DE ALTO PARANÁ

Brasília - DF, quarta-feira, 20 de agosto de 2014 página 26 MINISTÉRIO DA FAZENDA

CAPÍTULO III - DA UTILIZAÇÃO DE CRÉDITOS DE PREJUÍZO FISCAL E DE BASE DE CÁLCULO NEGATIVA DA CSLL

PREFEITURA MUNICIPAL DE BARREIRAS Estado da Bahia

NOVO PARCELAMENTO DE DÉBITOS FISCAIS LEI /2009 E PORTARIA CONJUNTA PGFN/RFB Nº 06/2009

Transcrição:

OS PROGRAMAS DE PARCELAMENTO DE DÉBITOS TRIBUTÁRIOS E SEUS IMPACTOS NA LIVRE CONCORRÊNCIA Matheus Henrique Ribeiro Silva 1 RESUMO Criou-se em nosso país uma cultura de edição de programas de parcelamentos especiais de débitos tributários, tanto no âmbito federal, quanto nos estadual e no municipal. Com isso, as grandes empresas detentoras de grandiosos patrimônios financeiros, conseguem obter por meio de consultorias jurídicas e contábeis, dados e estudos que provisionam a criação destes programas, tendo em vista a periodicidade ocorrida nos últimos anos. Isso resulta em uma disparidade enorme entre os pequenos contribuintes - leia-se pequenos empresários em comparação com os grandes, justamente por não obterem de recursos financeiros e experiencia empresarial para lidar com toda a burocracia do sistema tributário, este que por sua vez demanda de grande conhecimento jurídico para entendê-lo. Verifica-se então que, este hábito instaurado nos últimos governos gera grave ofensa ao princípio da livre concorrência, onde quem paga seus débitos tributários de forma correta, fica em total desvantagem em relação aqueles que utilizam da ineficácia e marasmo estatal (no que se refere a burocracia tributária) se tornando inadimplentes por um certo período, já que possuem meios de se programar e assim aproveitar desses programas. Adiante será demonstrado por meio de um breve relato histórico, que é perfeitamente possível prever a edição de tais programas, se aproveitando assim na ineficácia legislativa. Palavras-chave: Parcelamento tributário. REFIS. Livre iniciativa. Livre concorrência. Insegurança jurídica. 1. INTRODUÇÃO Os governos federais vêm, nas últimas duas décadas, editando reiterados programas de regularização tributária, com a finalidade de receber débitos provenientes de irregularidades fiscais dos contribuintes, que resultam de dívidas ativas com a União, Estados e Municípios. Esses programas, que recebem várias nomenclaturas sendo REFIS a mais empregada, são previstos na legislação pátria desde 2001, com o advento da Lei Complementa nº 104/2001. Devido à alta carga tributária 2 e a burocratização que regem o sistema tributário brasileiro, não só as empresas, mas também os particulares acabam por ficarem em débito com o fisco, gerando um altíssimo endividamento com o governo. Ocorre que essa edição cíclica dos programas, resulta em uma cultura de espera por parte dos devedores melhor dizendo, realizam seu planejamento financeiro já prevendo a ação do governo na edição dos programas. 1 Bacharelando em Direito pela Toledo Prudente Centro Universitário E-mail: matheusrbr@live.com 2 Gráficos: A carga tributária no Brasil e em outros países da OCDE e América Latina. Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/na-base-dos-dados/post/graficos-carga-tributaria-no-brasil-e-em-outrospaises-da-ocde-e-america-latina.html

De fato, conforme será demonstrado por meio de um breve relato histórico dos últimos anos, é perfeitamente possível prever com bastante acurácia o momento em que o serão disponibilizados os programas, principalmente em anos eleitorais. Entretanto, os programas trazem consigo algumas questões em que ensejam risco à segurança jurídica, sendo a mais grave a lesão ao princípio da livre concorrência. O fisco possui uma série de instrumentos e recursos necessários que são empregados para efetivar e garantir a cobrança do crédito tributário, ou seja, utiliza-se de sanções para que os contribuintes permaneçam com suas obrigações em dia, então sempre que for desrespeitada uma primeira norma, há uma segunda penalizando o não cumprimento daquela. A multa é um dos instrumentos utilizados pelo fisco, mas na maioria dos programas editados há descontos expressivos não só nela, como também nos juros moratórios, e utilização de créditos tributários para amortização da dívida. Para os contribuintes inadimplentes que se programam com a edição dos programas, fazendo uma análise simples, em várias situações se torna vantajoso ser inadimplente, ou seja, vale a pena correr o risco. Mas e para o pequeno empresário, por exemplo, que está no começo das suas atividades, que não possui experiência, e que acima de tudo, está sempre em dia com suas obrigações. Ele está em igualdade com quem está irregular? Essa questão será analisada por meio deste trabalho, analisando de forma sistemática a ameaça ao princípio da livre concorrência. 2. METODOLOGIA Para análise do tema utilizou-se o método dedutivo, analisando as previsões legais constitucionais que autorizam a edição dos programas, comparando-as com os princípios que que são inerentes a eles. A partir daí foi realizada pesquisa literária buscando encontrar conceitos e a organização no sistema normativo. Traçou-se um histórico do problema para melhor demonstrar as causas e efeitos gerados no âmbito da arrecadação tributária. 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Previsão Constitucional O parcelamento tributário foi incluído no Código Tributário Nacional (CTN) por meio da Lei Complementar nº 104/2001, inserindo o inciso VI no artigo nº 151 do referido código. 3 No âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), o legislador regulamentou este parcelamento o dividindo em dois grupos: parcelamento convencional e parcelamentos especiais. O parcelamento convencional, previsto nos artigos 10 a 14-F da Lei nº 10.522/2002, é disponível a todo tempo ao contribuinte, bastando que ele se dirija a unidade correspondente ao seu domicilio tributário e o solicite. Já os parcelamentos especiais são aqueles instituídos por atos legislativos, por meio da criação de normas que contém em seu conteúdo regras excepcionais às previstas no parcelamento convencional. Estes, diferentes do convencional, normalmente há uma fixação 3 Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: VI o parcelamento.

de limite de prazo para adesão, sendo que restringem os débitos que podem ser objeto do parcelamento, bem como as parcelas variam em cada programa de parcelamento. Percebe-se que, pela existência do parcelamento convencional, o especial seria de caráter excepcional, mas conforme será demonstrado no tópico seguinte, os governos vêm abusando na criação desta modalidade de parcelamento, impactando diretamente na leal concorrência do mercado. 3.2. Histórico dos programas especiais de parcelamento Desde a edição da Lei Complementar nº 104, de 10 de janeiro de 2001, foram criados quase 40 programas especiais, que trouxeram consigo grandes reduções nos valores dos débitos tributários, não só nos juros, mas também nas multas e encargos legais, além de longos prazos para pagamento, e podendo ainda, a utilização de créditos de prejuízos fiscais para quitação da dívida. Segue abaixo uma relação dos principais programas criados, constando as principais benesses de cada um: 2000 Programa de Recuperação Fiscal (REFIS) Valor da parcela calculado pela aplicação de um percentual da receita bruta mensal (0,3% a 1,5%). Prazo ilimitado para pagamento. Utilização de créditos de prejuízos fiscais e de base de cálculo negativa da CSLL. 2003 Parcelamento Especial (PAES) Redução de 50% das multas. Prazo de 180 meses para pagamento. 2006 Parcelamento Excepcional (PAEX) Redução de 50% a 80% das multas e de 30% dos juros de mora. Modalidades de parcelamento: 6, 120 e 130 parcelas. 2008 Refis da Crise Redução de 60% a 100% das multas e de 25% a 45% dos juros de mora. 14 modalidades de pagamento à vista e parcelado. Utilização de créditos de prejuízos fiscais e de base de cálculo negativa da CSLL. 2013 a 2014 Foram realizas 4 reaberturas do Refis da Crise de 2008, possibilitando a inclusão de débitos vencidos até certas datas, prevendo vários descontos e modalidades de parcelamentos. 2016 Parcelamento Especial para débitos do Simples Nacional Parcelamento dos débitos apurados na forma do regime do Simples Nacional em até 120 prestações. 2017 Programa de Regularização Tributária (PRT) 1ª modalidade: Pagamento de 20% do débito à vista e o restante utilizando de créditos de Prejuízo Fiscal ou Base de Cálculo Negativa da CSSL, ou também outros créditos tributários, ou optar por parcelamento do restante em 96 parcelas. 2ª modalidade: Pagamento de 24% em 24 parcelas, e o restante com a utilização de créditos. 3ª modalidade: Parcelamento em 120 prestações. 2017 Programa Especial de Regularização Tributária (PERT) O prazo de adesão foi reaberto por 3 vezes.

1ª modalidade: Pagamento de 20% do valor integral da dívida em 5 parcelas e o restante utilizando créditos de prejuízo fiscal (PF) e base de cálculo negativa da CSLL ou de outros créditos próprios relativos a tributos. 2ª modalidade: Parcelamento do valor integral da dívida em 120 prestações, calculadas aplicando percentuais escalonados sobre o valor da dívida. 3ª modalidade: Pagamento de no mínimo 20% do valor integral da dívida, e o restante em condições que possibilitam reduções de até 90% dos juros e 70% das multas, além de parcelamentos em até 175 prestações. Somente nesses programas citados, a adesão foi de aproximadamente 3 milhões de contribuintes, o que revela o interesse e a viabilidade de aderi-los. Em estudo realizado pela Receita Federal do Brasil, estima-se que a renúncia fiscal dos maiores programas de parcelamento especial desde 2008 até hoje é de aproximadamente 176 bilhões de reais 4. 3.3. Princípio da Livre Concorrência O princípio da livre concorrência, previsto no artigo 170, IV, da Constituição Federal 5, é intimamente ligado ao da livre iniciativa, e diz respeito à existência de um mercado extremamente competitivo, onde a todo o momento há a criação de novos negócios, e, portanto, há de ser necessária a intervenção do Estado para possibilitar que todos tenham a capacidade se inserirem neste meio. É neste sentido que ensina Alexandre de Moraes 6, afirmando que a livre concorrência constitui livre manifestação da liberdade de iniciativa, devendo, inclusive, a lei reprimir o abuso de poder econômico que visar a dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Questiona-se, portanto, como é possível existir livre concorrência quando se tem um governo que estimula a inadimplência por meio desses parcelamentos, beneficiando aos grandes empresários que por sua vez possuem condições e suporte financeiro para estar em débito com o fisco, deixando a margem os pequenos empresários que exercem suas atividades dentro contribuindo corretamente com o fisco, que são os que mais contribuem com a economia do país. Depois de quase duas décadas ignorando estes fatos, o poder legislativo começa a tentar impor algumas limitações, e neste sentido é o Projeto de Lei Complementar (PLP) nº 474/2018, de autoria do Deputado Estadual Hugo Leal (PSB/RJ), determinando que o abatimento de juros e multas ficará limitado a 50%, e os débitos uma vez renegociados não poderão novamente serem parcelados. 4. CONCLUSÕES Percebe-se por esse sintetizado estudo, que os pequenos empresários estão sempre um passo atrás dos grandes, já que estes podem utilizar de seu ativo financeiro (que seria destinado ao pagamento de tributos) aplicando em investimentos que resultam em mais 4 Estudo sobre impactos dos parcelamentos especiais. Disponível em http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/20171229-estudo-parcelamentos-especiais.pdf. 5 Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) IV livre concorrência;(...) 6 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 6 ed. Revista, ampliada e atualizada com a EC nº 22/99. São Paulo: Atlas. 1999. Página 595.

lucros. O governo acaba por então incentivando a concorrência desleal, prejudicando e inviabilizando a atividade empresarial, criando barreiras enormes àqueles que estão no início de suas atividades e/ou possuem de baixo patrimônio financeiro para lidar com o mercado, indo totalmente contra ao princípio da livre concorrência. REFERÊNCIAS AMARO, L. S. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1998. BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei Complementar nº 474/2018. Institui regras limitadoras para a instituição de parcelamento de créditos tributários e regulamenta o 11 do art. 195 da Constituição Federal. BRASIL. Constituição (1998) Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2007. BRASIL. Lei nº 10.684, de 30 de maio de 2003. Altera a legislação tributária, dispõe sobre parcelamento de débitos junto à Secretaria da Receita Federal, à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e ao Instituto Nacional do Seguro Social e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.684.htm. Acesso em 06/04/2018. BRASIL. Lei nº 10.522, de 19 de julho de 2002. Dispõe sobre o Cadastro Informativo dos créditos não quitados de órgãos e entidades federais e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10522.htm. Acesso em 06/04/2018. BRASIL. Receita Federal do. Estudo sobre Impactos dos Parcelamentos Especiais. Disponível em http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/20171229-estudo-parcelamentosespeciais.pdf. Acesso em 06/04/2018. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 6 ed. Revista, ampliada e atualizada com a EC nº 22/99. São Paulo: Atlas. 1999.