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Eustache Prudêncio, Cotonu, 1996 Obs: As notas de rodapé são observações da tradutora. MILTON GURAN - Estamos em Cotonu, em 6 de fevereiro de 1996, na casa de Eustache Prudêncio. Então, Sr. Eustache, os agudás, como é que o senhor traduz esse nome, agudá? EUSTACHE PRUDENCIO - Os agudás, no que me concerne, são brasileiros cujos ancestrais vieram do Brasil. Indo mais longe, vindos desde o Portugal, transitando pelo Brasil. Para se instalarem na África, sobre toda a costa do Golfo da Guiné, que antigamente era a Costa dos Escravos. Mas não são afro-brasileiros. Se dizemos afrobrasileiros, quer dizer que são brasileiros que têm uma relação muito forte com a África. Mas essencialmente, são brasileiros. Dom Francisco de Souza é um brasileiro, ele nasceu no Brasil e veio fazer comércio; ele representou o Brasil no Forte Português. É por isso que eu digo que é preciso às vezes subir até o Portugal para encontrar os brasileiros. Então, Dom Francisco de Souza passou sobre a costa por conta dos negócios e ele pode pegar mulheres entre as africanas, ele teve filhos mestiços. São esses mestiços que tiveram outros filhos. Pouco a pouco a família se ampliou. E hoje, a gente não se esquece, quando a ocasião se apresenta, nós nos reunimos entre os De Souza para festejar à moda brasileira. Não é à moda afro-brasileira. MG - Nós encontramos a palavra agudá na língua fom, iorubá. EP - (...) MG - Estamos falando que essa palavra agudá, nós a encontramos em várias línguas, fom, iorubá. O senhor conhece a ideia, a origem dessa palavra agudá? EP - Agudá, é, em princípio, todos aqueles que chegam do Brasil. MG - Sim, sim. Mas eu não falo do sentido, eu falo da etimologia do nome mesmo, porque, a gente se pergunta, tem o porto São Jorge da Ajuda, talvez todos aqueles que são ligados ao porto São Jorge de Ajuda africano, Ajuda se transformou em Agudá. É possível, não? É uma hipótese, eu me pergunto. Sr. Prudêncio, o senhor é De Souza do lado de vossa mãe, desse lado o senhor pertence a que ramo De Souza? EP - Eu sou da quinta geração. MG - Então, o senhor é do ramo do Antônio. Vosso nome, como se pronuncia corretamente? EP - Prudêncio. MG - E do lado Prudêncio, o senhor pode me dizer alguma coisa de vossa família? 1

EP - (???) 1 Porque meu ancestral autentico não veio do Brasil. Ele veio da Nigéria e é Dom Francisco Félix. De Souza foi quem o trouxe do país Iorubá. Paul 2 Verger poderá dizer ao senhor outros detalhes. Ele o trouxe da costa e o instalou perto dele, em Aiudá. Eles ficaram juntos, depois, Dom Francisco, fazendo o tráfico entre a costa e a Bahia, o levou ao Brasil. E lá, ele lhe disse: - Mas seu nome iorubá não funciona, vamos te dar outro nome, e vamos te batizar aqui na Bahia, e você vai pegar um nome brasileiro. Ter um amigo com um nome iorubá não pega bem para mim. É preciso que seja um nome brasileiro. E o nome iorubá Odjo Fabiyi foi abandonado por meu ancestral, em beneficio de Prudêncio. Eles viveram na Bahia e seu adivinho, aquele que previa seu futuro, o oráculo, o Babalaô, o charlatão, era meu ancestral. E quando eles voltaram, Dom Francisco o colocou bem perto dele, em Singbomey, em sua casa. Minha casa paterna e minha casa materna se encontram confundidas na mesma concessão. Eu vou para Uidá, eu posso viver na casa dos De Souza, é exatamente como se eu estivesse na casa dos Prudêncio. Tem só um pequeno muro que separa as casas. É assim que isso evoluiu. Mas o outro ramo, de Babalaô Odjo Fabiyi, que não era do Brasil, continuou a assinar Odjo Fabiyi. Mas o ramo que passou na Bahia pegou o nome Prudêncio. De outra forma, é o nome cristão do meu ancestral. E, a medida que tivemos filhos, tornouse o nome da nossa família. É isso. MG - Falando em família, o senhor me disse que o senhor teve 17 filhos. Infelizmente o senhor perdeu dois, então o senhor tem 15 filhos. EP - (???) 3 um menino e uma menina. Ela morreu em Dakar. Eu trouxe seus restos mortais aqui e fiz enterrar aqui, do lado. (???) 4 Nós nos lembramos dela, ela não foi esquecida pela família. E cada dia 1º de novembro, ou 2 de novembro, vamos ao cemitério para rezar sobre seu túmulo, com flores, para acender uma vela, totalmente à moda brasileira. MG - É a cultura brasileira no Benim. Sr. Prudêncio, o senhor pode dizer o nome dos seus filhos? EP - Sim, tem meu filho mais velho, o doutor em farmácia, ele chama Edgard. O segundo, é Sérgio. O terceiro, Vladimir, que está no comando. O quarto é Mário. O quinto, é o marido da minha nora, que acabou de sair, que chama (???) 5. Depois, tem Bouteiro, que morreu. Depois, Pakito. Depois é a série de filhas. As filhas todas têm nome brasileiro, em lembrança de minha mãe, que chegou pequena filha De Souza, Paula. Então tem: Sílvia, que morreu; depois tem Diana, Tatiana, Giovanna, Elsa, Manuela, Conchita, Sandra, e Raissa, que é a ultima. É isso. MG - E a filhinha que fez um ano ontem? EP - É a Richita. 1 2 Ele deve referir-se ao antropólogo francês Pierre Verger. 3 Idem. 4 Idem. 5 Idem. 2

MG - Está bom. Escute, Sr. Prudêncio, o senhor é muito conhecido como sendo um homem letrado, culto, o senhor é oficial da Ordem, cavaleiro da Ordem do Daomé. EP - E, recentemente, oficial da Ordem Nacional do Benim. O Daomé mudou de nome, e se chama agora Benim. MG - E o senhor é também condecorado. EP - Da Ordem Equatorial do Gabão, porque eu tive que dar uma conferencial cultural em Libeville, em 1974. Foi depois do chefe de Estado Kérékere. MG - O senhor pode me falar um pouco de vossa vida Professional? EP - Ah, sim, eu saí professor da escola normal do Senegal, eu continuei ainda meus estudos, tornei-me diretor da escola, eu tinha feito um estágio em Aix-en-Provence, perto de Marselha. Depois, eu segui uma formação de pedagogia moderna, em Nice. Eu voltei para Dakar para fazer um exame especial, o CALP. Então, eu me tornei inspetor de ensino primário. E depois, fui encarregado do distrito escolar de Uidá. De Uidá até Mono, e isso durante seis anos. Bom, depois, eu voltei para Cotonou, para pegar o distrito escolar do Atlântico. Então, depois dos movimentos políticos, eu fui chamado pelo general Kérékou para ser conselheiro cultural, encarregado da cultura e da importação, em seu gabinete. Então eu o segui durante três anos. E depois, justo no momento em que eu ia me aposentar, nomearam-me embaixador do Benim na Nigéria. Então, eu voltei às minhas origens. Então, eu servi na Nigéria e acumulativamente, com essas funções, eu sou encarregado do Camarões. Eu trabalhava tanto em Lagos, na Nigéria, quanto em Yaoundé, no Camarões, até o momento em que eu peguei voluntariamente minha aposentadoria. E, à partir desse momento, eu fiz atividades culturais. Eu animo emissões, Prazer em ler, na Radio Difusão; a emissão A à Z, na televisão, e depois, o cansaço se fazendo sentir, eu abandonei tudo isso para gozar da minha aposentadoria real. Agora estou em casa. MG - O prazer da literatura beninense...e quando o senhor nasceu? EP - Eu nasci em 5 de setembro de 1922. MG - Como meu pai. Meu pai nasceu em 19 de outubro do mesmo ano. EP - Então, agora, tenho 74 anos e tento levá-los bem alegremente. MG - Ah, isso se vê logo de cara. EP - Pois é. MG - O senhor está bem colocado para me ajudar a entender a participação dos brasileiros, os agudás, no panorama cultural beninense. Além do senhor, vossa participação é célebre, bem conhecida, depois do senhor, que outro beninense é conhecido na literatura beninense? 3

EP - Nós não somos muito numerosos, mas o senhor pode ver, por exemplo, Monsenhor Sastre. Do lado da avó dele, ele é próximo dos De Souza. Ele escreveu vários documentos culturais nesse quadro aí. O senhor tem a família Vieira. Tem Justin Vieira que está agora em Abidjan, mas ele escreveu sobretudo no contexto da informação. O senhor tem o De Medeiros, um cineasta, um domínio especial. Realmente, eu não conheço outros. MG - Diga-me uma coisa, Sr. Prudêncio. De modo geral, o que é ser um agudá hoje em dia no Benim? EP - Ser agudá hoje no Benim é ter uma origem brasileira. Mas, infelizmente, os agudás não se encontram em todas as famílias. O senhor tem sobretudo os De Souza, os D Almeida, os De Medeiros, os Olympio, os Francisco, que são agudás. Ah, o senhor tem também os Rodrigues. MG - Vamos pegar a questão por outro ângulo. No tempo do avô do senhor, ou mesmo do vosso tio Emilio Norberto de Souza, era simples ver o que queria dizer agudá. É um evoluído, e depois [alguém que] tem o domínio de um código cultural brasileiro. Antes a diferença era evidente. Agora, tem mesas na casa de todo mundo, todo mundo se deita em uma cama, todo mundo pode comer com uma colher, um garfo. Há um século, apenas os agudás faziam isso. Então, hoje mesmo, como podemos reconhecer um agudá? Será que posso reconhecer um agudá? EP - Sim, se o senhor encontra um Agudá, sua vestimenta vos indicará que é um agudá, porque ele está sempre distinto. Ele ama muito se vestir propriamente e de forma significativa. O senhor vai na casa dele, ele não come em cima de uma toalha, mas na mesa, com seus filhos 6. E antes de comer, ele deve rezar, ou depois de comer. Então, do ponto de vista da religião, ele é diferente de todo mundo. Ele é completamente especial. A grosso modo, é isso. MG - É um pouco isso que me contam. EP - Tem a vestimenta e a vida em casa 7. Se o senhor vai na casa do africano que não é tão evoluído, que não é agudá, ele vive à moda africana. MG - Mesmo se ele estudou, se ele é bem na sociedade, se ele está confortável economicamente, ele mantém sempre essa maneira. EP - É isso. MG - Tem uma historiadora beninense que me disse que agora, como muitos africanos partiram para a França, para estudar lá, é mais difícil de ver imediatamente a diferença entre um agudá e um não agudá. EP - Sim, ela tem razão. 6 Esse parágrafo está sublinhado e, na margem esquerda está escrito identidade. 7 Frase sublinhada. 4

MG - Bom, hoje festejamos o Bonfim em Porto Novo, e fazemos a bourian, em Uidá. A família De Souza festeja lá. O Bonfim, aliás, foi festejado no dia 28 lá; não muito porque teve uma morte na família de Mito, tem uma pequena cerimônia. E eu queria perguntar ao senhor o que mudou nas manifestações, agora e no tempo em que o senhor era ainda pequeno. EP - Não é mais a mesma intensidade de antes. Quando eu era pequeno, a festa do Bonfim, as bourian saíam, nós tínhamos o hábito de comer a feijoada. E era isso que interessava as crianças. MG - É boa a feijoada. EP - Ah, sim. O brasileiro, o agudá, ele ama comer bem. Durante as festas, eram os pratos brasileiros que nos interessavam. Bom, hoje nós os fazemos, mas acrescentamos outros pratos do lado. Sarabouya, ou bem tipicamente fazem o Man, o molho de legumes, molho de folhas. Então, é um pouco adulterado, baixou um pouquinho, mas a bourian continua em vigor. É isso. MG - Bom, eu gostaria que o senhor me falasse sobre a entronização do Chachá VIII. Faz vinte anos que não temos um Chachá. Agora, temos um Chachá, o que isso quer dizer para o senhor, da família De Souza, ter um Chachá? EP - Ah, isso é a sequencia normal de Dom Francisco de Souza. O senhor viu que em sua entronização ele estava vestido como Dom Francisco Félix de Souza, seu (???) 8 no corpo, sua gravata e seu bonezinho, exatamente como Dom Francisco. E eu não posso esconder nada do senhor, ele foi investido pelos descendentes da família De Souza. E eu, eu fiz parte daqueles que entronizaram Honoré Julião de Souza, porque, porque sou filho de Paula, neto de Antônio 9, então, fui escolhido para a entronização. Fomos nós que o investimos primeiro, e para a entronização, também me classificaram em lugar de honra. Era necessário para que aquilo tivesse certa disciplina. Bom, isso me fez compreender que não podemos parar a linhagem dos Mitô sobre o Mitô VII, porque o Mitô VII foi entronizado velho. Ele não era mais jovem. Ele morreu depois de 8 ou 9 anos. Entronizando agora um Mitô como Honoré, que está bastante sólido, esperamos que ele vai durar, e que ele vai levantar a concessão e ele está fazendo isso. Então, o Mitô não pode nos negligenciar, nós que somos os descendentes dos filhos. Por exemplo, recentemente, quando íamos receber minha condecoração de oficial da Ordem Nacional do Benim, a cerimônia era presidida pelo Mitô Chachá. MG - Ele estava lá. EP - Ah, sim, eu digo isso sempre. MG - Bom, retomando a história, agora que o senhor tem um Chachá, isso mostra a importância que a família dá a essa honra. 8 9 O trecho sou filho de Paula, neto de Antônio foi sublinhado. 5

EP - Quando eu propus a ele de vir presidir a cerimônia de minha condecoração, ele estava todo feliz. E eu tive que pronunciar um pequeno discurso, e eu especifiquei que eu devia fazer essa cerimônia sob a presidência de Chachá VIII. E todo mundo aplaudiu. Era ele que estava honrado. Eu estava honrado, mas ele estava honrado porque a grande cerimônia que era a grande cerimônia que ele presidia depois de sua entronização. MG - Isso foi quando? EP - No último dia 16 de dezembro. MG - Faz um mês e pouco. EP - Isso. MG - A família Souza é uma das maiores famílias que a gente conhece. Na opinião do senhor, tem quantos membros na família De Souza, diretos e indiretos? EP - Aqui no Benim? MG - Em geral. EP - No mundo? MG - Sim. EP - Não tenho nenhuma ideia. Deve ter um mundo louco. Tem até na Índia, é isso. MG - O senhor é da quinta geração. Então, vamos fazer uma conta. Chachá deixou 67 filhos, registrados com os nomes e os batizados. Vamos contar 70 para tornar as coisas mais simples. Se cada um desses 70, em média, ele faz dez filhos, então isso faz uma primeira geração de 700, uma segunda geração de 7 mil, uma terceira, de 70 mil, uma quarta de 700 mil, mas talvez, de fato, seja um exagero. Vamos cortar pela metade. Isso faz 350 mil. E eu olho em volta de mim, os Souza, eles tem muitos filhos. Mesmo o Mitô, ele tem 23, o senhor tem 15 vivos. É raro na família ter menos filhos. Eu pergunto quantos podem ser. É preciso fazer um cálculo. Eu perguntei ao Noel, ele me disse 700 mil. Eu disse que era muito, ele refletiu e depois me disse: Sim, é muito. E eu perguntei a um filho de Parfait de Souza. Ele disse: Nós somos 700 mil. Todo mundo diz: Nós somos 700 mil. Mas tem mais de 500 mil. E, além disso, tem os Souza do lado das mães, que não são mais De Souza. Aliás, isso é uma coisa que o senhor não lembrou da cultura brasileira. Por exemplo, eu, eu tenho os nomes do meu pai e da minha mãe. E eu transmito a meus filhos o nome de família de meu pai e talvez o nome da família da minha mãe. E eles, eles pegam o nome de família do pai e da mãe. E eles podem pegar o nome de família da mãe da mãe deles. Assim, guardamos um traço dessa ascendência. Aqui no Benim, os descendentes dos ramos de filhas não guardam mais o nome. Então, para os De Souza, quanto fazemos a conta total, isso faz quanto? Isso faz muito. Outra coisa, será que o senhor tem sugestões de pessoas que eu possa ver no quadro da minha pesquisa? De um modo geral, nós tocamos em todos os assuntos que 6

eu teria necessidade de discutir. Eu vou transcrever a cassete que eu deixarei na casa do senhor, para o senhor conhecer, e se jamais aparecerem coisas para acrescentar, etc. Eu percebi que em certas famílias brasileiras, falam às vezes palavras brasileiras. As palavras que entraram na língua, como corpo, cama, coisas assim, e outras palavras. Eu liguei para o Sr. Paraíso no telefone ontem e ele disse: Como passou?. EP - Obrigado 10. Sim, tem algumas palavras assim. MG - Quais são essas palavras? EP - (???) 11. Bom die 12 : Bom dia. (???) 13 : faca. Gafo 14 : garfo 15. Seda: seda 16 ; Natal: Natal 17. Aqui no meio dizemos Nata, mas não é Nata, é Natal. O senhor quer Moyo 18 : é o molho 19 com pimenta. Gama 20 : cama 21. Está me escapando um pouco. MG - Sim, é assim. Não é fácil para o senhor lembrar. É por isso que eu digo que eu vou fornecer uma transcrição disso e se tem alguma palavra para acrescentar, o senhor pode acrescentar aí. É interessante, é assim que nós escrevemos a história, a partir desses retalhos de informação. Sr. Prudêncio, eu agradeço ao senhor. 10 No manuscrito está Um brigado, assim, quase português. 11 12 No manuscrito está com e, mas quase português. 13 14 No manuscrito está gafo, sem o r. 15 No manuscrito está em francês: fourchette. 16 No manuscrito está em francês: la soie. 17 Idem: Noel. 18 No manuscrito está moyo, para dizer molho. 19 No manuscrito está em francês: sauce. 20 No manuscrito está gama, com g. 21 No manuscrito está em francês: lit. 7