fls. 158 Em 08 de agosto de 2018 faço conclusão destes autos ao(à) Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Andre Gustavo Livonesi, MM. Juiz(a) de Direito. DECISÃO Processo nº: 1002405-08.2018.8.26.0407 Classe - Assunto Ação Civil Pública - Dano ao Erário Requerente: Ministério Público do Estado de São Paulo Requerido: Vistos. Edmar Carlos Mazucato e outros Trata-se de ação civil pública com pedido de tutela provisória de urgência proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO contra VALTER LUIZ MARTINS, EDMAR CARLOS MAZUCATO e MARILZA CAVALLINI, alegando que os primeiros, na condição de Prefeitos Municipais de Osvaldo Cruz, praticaram ato de improbidade administrativa por atentar contra os princípios da moralidade, impessoalidade, eficiência e legalidade, causando lesão ao Erário, uma vez que, no período de 2009 a 2014, efetuaram pagamento de adicional de insalubridade de forma irregular e indevida a Marilza Cavallini. Segundo o Ministério Público, o adicional de insalubridade foi pago porque Marilza ocupava o cargo de cirurgiã-dentista, mas ela não exercia tal função junto ao Município de Osvaldo Cruz. Na gestão de Valter Martins, ela teria sido beneficiada pelo valor de R$ 6.213,60 que, atualizado monetariamente, perfaz R$ 17.774,72. Já na gestão de Edmar Mazucato, teria sido beneficiada pelo pagamento de R$ 2.280,00, com valor atual de R$ 4.015,83. Pede a procedência da ação para condenar os requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos II e III da Lei n. 8.429/92 e a decretação de indisponibilidade de bens dos requeridos, no valor corresponde ao prejuízo causado ao Erário, somado ao valor máximo da multa passível de aplicação, o que soma R$ 17.774,72 para Valter Luiz Martins; R$ 1.547.989,80 para Edmar Carlos Mazucato e R$ 392.568,55 para Marilza Cavallini. Juntou documentos (fls. 39/157). É a breve síntese. Fundamento e decido. Para a concessão da tutela de urgência é necessário que se evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, nos termos do artigo 300, caput, do Código de Processo Civil. Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 1
fls. 159 A alegação feita pelo Ministério Público de que os requeridos possam ter praticado ato de improbidade administrativa, na cognição sumária que se faz, é verossímil, ante as provas encartadas aos autos que instruíram a petição inicial. O Estatuto dos Funcionários Públicos Municipais de Osvaldo Cruz, Lei Municipal n. 2.057/97, prevê que o pagamento de adicional de insalubridade cessa com a eliminação das condições ou dos riscos que deram causa a sua concessão (artigo 168 fl. 50). O Ofício do Município de Osvaldo Cruz, em resposta aos questionamentos feitos pelo Ministério Público, informou que a servidora Marilza Cavallini recebeu adicional de insalubridade no período de 2009 a 2014 (fls. 81/82). Os documentos que acompanham o ofício mostram que, de janeiro/2009 a 12/2014, houve pagamento de referido adicional (fls. 83/84) e que, em 30.12.2014, pela Portaria 6.901/2014 houve o cancelamento do adicional atribuído à servidora Marilza no período de maio a agosto de 2014 (fl. 85). Importante destacar que Valter Luiz Martins, então Prefeito Municipal, nomeou Marilza Cavallini, então Primeira-Dama, para desempenhar atividades junto ao Setor de Obras Sociais, mantendo-se a remuneração correspondente ao cargo que exercia junto ao Município, conforme Portaria n. 5.528, datada de 15.01.2009 (fl. 86). Já na gestão do requerido Edmar Carlos Mazucato, a servidora Marilza Cavallini, dentista, foi designada para exercer a função de confiança de Diretora da Divisão de Coordenação de Projetos e Programas da Secretaria Municipal da Promoção Social, conforme Portaria n. 6.466, datada de 15.01.2013 (fl. 63). Como se vê, embora tenha havido o cancelamento do adicional de insalubridade no período compreendido entre maio e agosto de 2014 e, conste no Ofício encaminhado pelo Município que a "servidora foi notificada sobre o pagamento realizado indevidamente e se manifestou no sentido de realizar o ressarcimento da citada quantia devidamente corrigida", não há provas de ressarcimento ao Município dos valores pagos indevidamente à servidora. O artigo 7º da Lei n. 8.429/92 autoriza a indisponibilidade dos bens de indiciados por ato de improbidade administrativa, providência de natureza acautelatória. Por consequência, ela exige os requisitos dos processos cautelares, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora. O risco de dano irreparável ou de difícil reparação está consubstanciado no fato de que, caso a medida seja concedida somente ao final, o dano à coletividade poderá não ser reparado, pois os requeridos, sabedores do ajuizamento desta ação e da probabilidade de êxito ao autor da demanda, poderão transferir, ocultar ou desviar seus bens e valores. A indisponibilidade de bens é admissível antes mesmo da notificação dos Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 2
fls. 160 requeridos. Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA INDISPONIBILIDADE DE BENS Decisão que deferiu a liminar decretando a indisponibilidade de bens do agravante e demais réus na ação supra Contratação direta, por inexigibilidade de licitação, de escritório de advocacia, em contrariedade à recomendação do Tribunal de Contas do Estado A indisponibilidade dos bens está de acordo com o art. 7º da Lei Federal nº 8.429, de 02/06/1.992 O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que para o deferimento da indisponibilidade dos bens não há necessidade de comprovação de que os réus estejam dilapidando ou na iminência de dilapidar seus patrimônios Precedentes STJ Indício de dolo do agravante para viabilizar a contratação Decisão mantida Recurso não provido. (Relator(a): Kleber Leyser de Aquino; Comarca: Eldorado; Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento: 07/02/2017; Data de registro: 08/02/2017 - destaquei) Nessa fase processual se faz apenas a comprovação da existência de indícios veementes da prática do ilícito, sendo despicienda a demonstração da intenção dos requeridos de se desfazer de seu patrimônio a fim de frustrar eventual ressarcimento. O periculum in mora é presumido e remete à gravidade dos danos e a possibilidade alijamento do patrimônio público e não propriamente à iminência de dilapidação patrimonial. Nesse sentido já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, em julgamento sob o rito do recursos repetitivos: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. APLICAÇÃO DO PROCEDIMENTO PREVISTO NO ART. 543-C DO CPC. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. CAUTELAR DE INDISPONIBILIDADE DOS BENS DO PROMOVIDO. DECRETAÇÃO. REQUISITOS. EXEGESE DO ART. 7º DA LEI N. 8.429/1992, QUANTO AO PERICULUM IN MORA PRESUMIDO. MATÉRIA PACIFICADA PELA COLENDA PRIMEIRA SEÇÃO. 1. Tratam os autos de ação civil pública promovida pelo Ministério Público Federal contra o ora recorrido, em virtude de imputação de atos de improbidade administrativa (Lei n. 8.429/1992). Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 3
fls. 161 2. Em questão está a exegese do art. 7º da Lei n. 8.429/1992 e a possibilidade de o juízo decretar, cautelarmente, a indisponibilidade de bens do demandado quando presentes fortes indícios de responsabilidade pela prática de ato ímprobo que cause dano ao Erário. 3. A respeito do tema, a Colenda Primeira Seção deste Superior Tribunal de Justiça, ao julgar o Recurso Especial 1.319.515/ES, de relatoria do em. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, Relator para acórdão Ministro Mauro Campbell Marques (DJe 21/9/2012), reafirmou o entendimento consagrado em diversos precedentes (Recurso Especial 1.256.232/MG, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 19/9/2013, DJe 26/9/2013; Recurso Especial 1.343.371/AM, Rel. Ministro Herman Benjamin, Segunda Turma, julgado em 18/4/2013, DJe 10/5/2013; Agravo Regimental no Agravo no Recurso Especial 197.901/DF, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado em 28/8/2012, DJe 6/9/2012; Agravo Regimental no Agravo no Recurso Especial 20.853/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 21/6/2012, DJe 29/6/2012; e Recurso Especial 1.190.846/PI, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, julgado em 16/12/2010, DJe 10/2/2011) de que, "(...) no comando do art. 7º da Lei 8.429/1992, verifica-se que a indisponibilidade dos bens é cabível quando o julgador entender presentes fortes indícios de responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause dano ao Erário, estando o periculum in mora implícito no referido dispositivo, atendendo determinação contida no art. 37, 4º, da Constituição, segundo a qual 'os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal cabível'. O periculum in mora, em verdade, milita em favor da sociedade, representada pelo requerente da medida de bloqueio de bens, porquanto esta Corte Superior já apontou pelo entendimento segundo o qual, em casos de indisponibilidade patrimonial por imputação de conduta ímproba lesiva ao erário, esse requisito é implícito ao comando normativo do art. 7º da Lei n. 8.429/92. Assim, a Lei de Improbidade Administrativa, diante dos velozes tráfegos, ocultamento ou dilapidação patrimoniais, possibilitados por instrumentos tecnológicos de comunicação de dados que tornaria irreversível o ressarcimento ao erário e devolução do produto do enriquecimento ilícito por prática de ato ímprobo, buscou dar efetividade à norma afastando o requisito da demonstração do periculum in mora (art. 823 do CPC), este, intrínseco a toda medida cautelar sumária (art. 789 do CPC), admitindo que tal requisito seja presumido à preambular garantia de recuperação Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 4
fls. 162 do patrimônio do público, da coletividade, bem assim do acréscimo patrimonial ilegalmente auferido". 4. Note-se que a compreensão acima foi confirmada pela referida Seção, por ocasião do julgamento do Agravo Regimental nos Embargos de Divergência no Recurso Especial 1.315.092/RJ, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 7/6/2013. 5. Portanto, a medida cautelar em exame, própria das ações regidas pela Lei de Improbidade Administrativa, não está condicionada à comprovação de que o réu esteja dilapidando seu patrimônio, ou na iminência de fazê-lo, tendo em vista que o periculum in mora encontra-se implícito no comando legal que rege, de forma peculiar, o sistema de cautelaridade na ação de improbidade administrativa, sendo possível ao juízo que preside a referida ação, fundamentadamente, decretar a indisponibilidade de bens do demandado, quando presentes fortes indícios da prática de atos de improbidade administrativa. 6. Recursos especiais providos, a que restabelecida a decisão de primeiro grau, que determinou a indisponibilidade dos bens dos promovidos. 7. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do CPC e do art. 8º da Resolução n. 8/2008/STJ. (REsp 1366721/BA, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, Rel. p/ Acórdão Ministro OG FERNANDES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 19/09/2014-grifado). O valor a ser considerado para fins de bloqueio de bens e ativos deve englobar o valor da lesão, incluindo eventual multa civil a ser aplicada, de modo a assegurar a integral reparação do dano. Nesse sentido: RECURSO ESPECIAL. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA. INDISPONIBILIDADE DE BENS. LIMITE DA CONSTRIÇÃO. QUANTUM SUFICIENTE AO INTEGRAL RESSARCIMENTO DO DANO. RECURSO ESPECIAL DA UNIÃO 1. O Superior Tribunal de Justiça, ao interpretar o art. 7º da Lei 8.429/1992, tem decidido que, por ser medida de caráter assecuratório, a decretação de indisponibilidade de bens, incluído o bloqueio de ativos financeiros, deve incidir sobre quantos bens se façam necessários ao integral ressarcimento do dano, levando-se em conta, ainda, o potencial valor de multa civil, excluindo-se os bens impenhoráveis. Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 5
fls. 163 (...) 8. Recurso Especial da União provido. Recurso Especial do particular não provido. (REsp 1610169/BA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/05/2017, DJe 12/05/2017 destaquei) "AÇÃO CIVIL PÚBLICA Ato de improbidade administrativa Indisponibilidade de bens da agravante Possibilidade Indícios de prática de atos de improbidade, a permitir a medida constritiva Necessidade de se acautelar o futuro ressarcimento ao erário A decretação da indisponibilidade de bens deve considerar o ressarcimento do dano, incluindo o potencial valor da multa civil Precedentes do STJ e desta Câmara Recurso não provido" (TJSP; Agravo de Instrumento 2078026-51.2018.8.26.0000; Relator (a): Reinaldo Miluzzi; Órgão Julgador: 6ª Câmara de Direito Público; Foro de Cajamar - 2ª Vara Judicial; Data do Julgamento: 30/07/2018; Data de Registro: 02/08/2018) Ante o exposto, ACOLHO o pedido liminar feito pelo MINISTÉRIO PÚBLICO para: (i) DECRETAR a INDISPONIBILIDADE DE BENS móveis (veículos), imóveis e aplicações financeiras de: A) EDMAR CARLOS MAZUCATO, até o limite de R$ 1.547.989,80 (um milhão, quinhentos e quarenta e sete mil, novecentos e oitenta e nove reais, oitenta centavos); B) VALTER LUIZ MARTINS, até o limite de R$ 17.774,42 (dezessete mil, setecentos e setenta e quatro reais, quarenta e dois centavos); C) MARILZA CAVALLINI, até o limite de R$ 392.568,55 (trezentos e noventa e dois mil, quinhentos e sessenta e oito reais, cinquenta e cinco centavos). Cadastre-se a decisão na Central de Indisponibilidade, bloqueando-se bens e valores, inclusive via BACENJUD e RENAJUD, comunicando-se, ainda, os locais/órgãos, a seguir discriminados, que deverão informar este Juízo apenas em caso positivo, quando da localização de eventual bem em nome dos requeridos: ANAC, Bolsa de Valores, Capitania dos Portos, Colégio Notarial do Brasil, ARISP (via sistema); Instituto Nacional de Propriedade Industrial e Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Oficie-se à Junta Comercial de São Paulo para que informe se os requeridos são sócios de alguma empresa e, em caso positivo, remeta cópia dos ficha cadastral completa. Deverá ser observada, ainda, a impossibilidade de extensão dos efeitos desta decisão às verbas comprovadamente de natureza alimentar, em prestígio ao princípio da Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 6
fls. 164 dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III, da Constituição Federal). (iii) CITEM-SE e NOTIFIQUEM-SE os requeridos para, querendo, oferecerem manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de 15 (quinze) dias, conforme artigo 17, 7º, da Lei n. 8.429/92. Conste no mandado que, em sendo apresentada manifestação preliminar, a relação processual será considerada triangularizada e, caso seja recebida a ação civil pública, não será emitido novo mandado de citação, mas apenas a intimação dos advogados constituídos para apresentação de contestação (ENFAM, Enunciado 12 Teoria e Prática de Improbidade Administrativa TJPI/EJUD 2013). (iv) Dê-se ciência à Fazenda Pública Municipal, pessoa jurídica interessada, nos termos do 17, 3º, da Lei n. 8.429/92 combinado com artigo 6º, 3º, da Lei n. 4.717/65. Expeça-se o necessário. Intimem-se. Osvaldo Cruz, 08 de agosto de 2018. Juiz(a) de Direito: Dr(a). Andre Gustavo Livonesi DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA Processo nº 1002405-08.2018.8.26.0407 - p. 7