Em 29 de agosto de 2017 faço conclusão destes autos ao(à) Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Andre Gustavo Livonesi, MM. Juiz(a) de Direito.

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1 fls. 281 Em 29 de agosto de 2017 faço conclusão destes autos ao(à) Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Andre Gustavo Livonesi, MM. Juiz(a) de Direito. DECISÃO Processo nº: Classe - Assunto Ação Civil Pública - Improbidade Administrativa Requerente: Ministério Público do Estado de São Paulo Requerido: Vistos. PREFEITURA MUNICIPAL DE OSVALDO CRUZ e outros Trata-se de ação civil pública com pedido de tutela provisória de urgência proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO contra MUNICÍPIO DE OSVALDO CRUZ, EDMAR CARLOS MAZUCATO, CEMI CONSULTORIA EMPRESARIAL E IMOBILIÁRIA LTDA., ALINE SILVA BOSCO, CAROLINA SILVA BOSCO, APARECIDO FERNANDES BARBOSA, CLAUDEMIR APARECIDO ALVES DE SOUZA, MARCOS ROGÉRIO ATELLI, ALAN WILLIAN DE SOUZA, CLODOALDO CANDIDO TABORGA, DANIEL L. CONTIERI DOS SANTOS, FELIPE CANOLA HIRANO, FERNANDA MONTEIRO BACETTO, GIOVANE D. EVEDOVE DE ALMEIDA, JOICE M. DOS S. F. SOUZA, JOSÉ R. STRNGUETTA JÚNIOR, LILIAN CRISTINA GIELAMO OKUBO, MICHELA CRISTINA ZAGO FOGAÇA, ROGERIO ADRIANO LOPES, TANIA DA SILVA LAUTON, WANDERSON DOS SANTOS RECENTE e WILSON DEODATO PEREIRA, alegando que restou apurado no inquérito civil que Edmar Mazucato, na condição de Prefeito Municipal de Osvaldo Cruz, em conluio com os demais requeridos, praticaram atos de improbidade administrativa que atentam contra os princípios da Administração Pública. Os requeridos, previamente ajustados, valendo-se das habilidades técnicas da empresa CEMI, frustraram a licitude do concurso público 001A/2016, o que acarretou a contratação irregular de vários servidores públicos. Argumenta que foi enviada uma denúncia anônima à Promotoria de Justiça, noticiando favorecimento de candidata sobrinha da Secretária Municipal de Saúde, que já desempenhava função na Administração Municipal desde Foram requisitadas informações e remessa da documentação do concurso, com o arquivamento do inquérito. No entanto, foi apurado que Edmar Mazucato e a empresa CEMI praticaram irregularidades nos concursos públicos 001/2015 e 001/2016, objeto do processo n , que tramita perante a 2ª Vara Judicial de Osvaldo Cruz. Houve fraude Processo nº p. 1

2 fls. 282 no procedimento licitatório que culminou na contratação da empresa CEMI, pois a licitação foi realizada sob a modalidade convite, com participação direta de Aparecido Fernandes Barbosa, Claudemir Aparecido Alves de Souza e Marcos Rogério Atelli, integrantes da comissão permanente de licitação. Foi simulada a participação de três empresas no procedimento, pois além da vencedora CEMI, participaram o Instituto de Apoio Social, cujo objeto social indica "atividades integrativas e complementares em saúde humana", não trabalhando no ramo de atividade para o qual foi convidado e M & G Consultoria e Representações Empresariais Ltda., que possui interesses convergentes com a empresa CEMI, uma vez que as representantes legais desta, Aline e Caroline, figuram como testemunhas do contrato social daquela. Entende o Ministério Público que, na prática, houve o convite de apenas uma empresa. Acrescenta a nulidade do Concurso Público 001A/2016, pois todos os contratos, exceto José Stringuetta Júnior, já tinham sido contratados anteriormente por contrato temporário. Além disso, o edital foi publicado em , quando já havia expirado o prazo da empresa CEMI para prestação de serviços, sem notícia de prorrogação ou modificação. Afirma que Edmar Mazucato gerou prejuízo de R$ ,88. Pede a tutela provisória de urgência para suspender os efeitos do concurso 001A/2016, com imediata suspensão da homologação do resultado e de suas etapas ulteriores, determinandoao Município de Osvaldo Cruz e ao Prefeito Municipal que reorganize e reestruture seu quadro pessoal com afastamento e exoneração dos servidores contratados irregularmente através deste concurso, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, sem direito a qualquer remuneração a partir do cumprimento da decisão judicial. No mesmo prazo, deverá providenciar a contratação de novos servidores, por meio de concurso a ser realizado por empresa idônea. Juntou documentos (fls. 72/249). Petição de emenda à inicial, na qual o Ministério Público pedindo seja decretada a indisponibilidade de bens do requerido Edmar Carlos Mazucato até o limite de R$ ,88 cujo valor compreende dano ao Erário de R$ ,88 referente à contratação irregular e multa civil de R$ ,00, equivalente a cem vezes a remuneração do cargo de Prefeito Municipal de Osvaldo Cruz e, decretação da indisponibilidade de bens dos demais requeridos para pagamento da multa equivalente a 100 vezes o valor dos vencimentos dos servidores contratados irregularmente. É a breve síntese. Fundamento e decido. Inicialmente, recebo a petição de fls. 250/257 e documentos de fls. 268/280 como aditamento à petição inicial. Para a concessão da tutela de urgência é necessário que se evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, nos termos do Processo nº p. 2

3 fls. 283 artigo 300, caput, do Código de Processo Civil. A alegação feita pelo Ministério Público de que os requeridos possam ter praticado ato de improbidade administrativa, na cognição sumária que se faz, é verossímil, ante as provas encartadas aos autos que instruíram a petição inicial. Destaco, em especial: (i) a elaboração do concurso em lapso temporal superior ao previsto no Edital de convite n. 059/15 (fl. 115); (ii) o procedimento licitatório, sob a modalidade convite, para contratação de empresa para prestação de serviços técnicos especializados em organização e execução de concurso público/processo seletivo, tendo como participante CEMI Consultoria Empresarial e Imobiliária Ltda.-ME, cujas sócias Aline Silva Bosco e Caroline Silva Bosco figuram como testemunhas do contrato social da outra empresa participante M&G Consultoria e Representações Empresariais Ltda. (fls.146/151) e (iii) a inabilitação prévia da empresa Instituto Apoio Social, cujo objeto social compreende atividades de práticas integrativas e complementares em saúde humana, ou seja, diversas daquelas exigidas pelo edital, deixando de observar o número mínimo de participantes do procedimento licitatório (fls. 158 e 167). O artigo 7º da Lei n /92 autoriza a indisponibilidade dos bens de indiciados por ato de improbidade administrativa, providência de natureza acautelatória. Por consequência, ela exige os requisitos dos processos cautelares, quais sejam, o fumus boni iuris e o periculum in mora. O risco de dano irreparável ou de difícil reparação está consubstanciado no fato de que, caso a medida seja concedida somente ao final, o dano à coletividade poderá não ser reparado, pois os requeridos, sabedores do ajuizamento desta ação e da probabilidade de êxito ao autor da demanda, poderão transferir, ocultar ou desviar seus bens e valores. A indisponibilidade de bens é admissível antes mesmo da notificação dos requeridos. Nesse sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA INDISPONIBILIDADE DE BENS Decisão que deferiu a liminar decretando a indisponibilidade de bens do agravante e demais réus na ação supra Contratação direta, por inexigibilidade de licitação, de escritório de advocacia, em contrariedade à recomendação do Tribunal de Contas do Estado A indisponibilidade dos bens está de acordo com o art. 7º da Lei Federal nº 8.429, de 02/06/1.992 O Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que para o deferimento da indisponibilidade dos bens não há necessidade de comprovação de que os réus estejam dilapidando ou na iminência de dilapidar seus patrimônios Precedentes STJ Indício de Processo nº p. 3

4 fls. 284 dolo do agravante para viabilizar a contratação Decisão mantida Recurso não provido. (Relator(a): Kleber Leyser de Aquino; Comarca: Eldorado; Órgão julgador: 3ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento: 07/02/2017; Data de registro: 08/02/2017) Por outro lado, entendo que nesse momento processual não é possível determinar, em caráter liminar e sem a devida instrução probatória, que o Prefeito Municipal Edmar Carlos Mazucato promova o afastamento e exoneração dos servidores supostamente contratados de maneira irregular, bem como que realize novo concurso público para contratação de servidores. Tal medida, além de ter natureza satisfativa plena, é irreversível. Ademais, não há demonstração de que a permanência dos servidores municipais que ocupam o polo passivo nos cargos em que foram contratados, até a solução deste feito, enseja efetivo dano à instrução processual. Em outras palavras, o afastamento somente será possível se houver demonstração de uso dos referidos cargos para modificação do quadro probatório. Nesse sentido: "RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO CIVIL PÚBLICA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA PROVISÓRIA CAUTELAR BLOQUEIO DE BENS E DIREITOS DOS RÉUS E AFASTAMENTO DE SERVIDOR DO EXERCÍCIO DO RESPECTIVO CARGO PÚBLICO IMPOSSIBILIDADE. 1. A indisponibilidade de bens e valores, em ação civil pública, em tese é possível, nos termos do artigo 7º da Lei Federal nº 8.429/92, desde que presentes fundados indícios da prática de ato de improbidade administrativa. 2. Além disso, a decretação do referido bloqueio de bens e valores não está condicionada à comprovação da dilapidação de patrimônio dos réus. 3. Precedente da jurisprudência consolidada do C. STJ. 4. Contudo, em sede de cognição sumária, é impossível a verificação da ocorrência do efetivo prejuízo ao Erário Público, sendo inviável a indisponibilidade de bens e direitos no montante indicado na petição inicial. 5. O afastamento de agente público é medida excepcional e, somente, pode ser autorizada quando necessária à regular instrução processual, situação inocorrente no caso ora examinado. 6. Decisão, agravada, parcialmente reformada. 7. Recurso de agravo de instrumento, apresentado pela parte corré, provido. (Relator(a): Francisco Bianco; Comarca: Piraju; Órgão julgador: 5ª Câmara de Direito Processo nº p. 4

5 fls. 285 Público; Data do julgamento: 16/12/2016; Data de registro: 19/12/2016) A possibilidade de afastamento in limine do agente público de exercício do cargo, emprego ou função, porquanto medida extrema, exige prova incontroversa de que a sua permanência poderá ensejar dano efetivo à instrução processual, máxime porque a hipotética possibilidade de sua ocorrência não legitima medida dessa envergadura. (STJ, REsp nº /ES, Rel. Min. Denise Arruda, j ) Ante o exposto, ACOLHO em parte o pedido liminar feito pelo MINISTÉRIO PÚBLICO para: (i) DETERMINAR a suspensão do concurso público municipal 001A/2016, ficando proibida qualquer nova nomeação de candidato até a resolução final desta lide; (ii) DECRETAR a INDISPONIBILIDADE DE BENS móveis (veículos), imóveis e aplicações financeiras de: A) EDMAR CARLOS MAZUCATO, até o limite de R$ ,88 (um milhão, seiscentos quatorze mil, quinhentos e oitenta e um reais, oitenta e oito centavos); B) CEMI CONSULTORIA EMPRESARIAL E IMOBILIÁRIA LTDA., ALINE SILVA BOSCO, CAROLINA SILVA BOSCO, APARECIDO FERNANDES BARBOSA, CLAUDEMIR APARECIDO ALVES DE SOUZA, MARCOS ROGÉRIO ATELLI, ALAN WILLIAN DE SOUZA, CLODOALDO CANDIDO TABORGA, DANIEL L. CONTIERI DOS SANTOS, FELIPE CANOLA HIRANO, FERNANDA MONTEIRO BACETTO, GIOVANE D. EVEDOVE DE ALMEIDA, JOICE M. DOS S. F. SOUZA, JOSÉ R. STRNGUETTA JÚNIOR, LILIAN CRISTINA GIELAMO OKUBO, MICHELA CRISTINA ZAGO FOGAÇA, ROGERIO ADRIANO LOPES, TANIA DA SILVA LAUTON, WANDERSON DOS SANTOS RECENTE e WILSON DEODATO PEREIRA até o limite de R$ ,00 (cem mil reais) cada, uma vez que ausente nos autos o valor da remuneração individual recebida pelos requeridos. Cadastre-se a decisão na Central de Indisponibilidade, bloqueando-se bens e valores, inclusive via BACENJUD e RENAJUD, comunicando-se, ainda, os locais/órgãos, a seguir discriminados, que deverão informar este Juízo apenas em caso positivo, quando da localização de eventual bem em nome dos requeridos: ANAC, Bolsa de Valores, Capitania dos Portos, Colégio Notarial do Brasil, ARISP (via sistema); Instituto Nacional de Propriedade Industrial; Junta Comercial do Estado de São Paulo e Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Deverá ser observada, ainda, a impossibilidade de extensão dos efeitos desta decisão às verbas comprovadamente de natureza alimentar, em prestígio ao princípio da dignidade da pessoa humana (artigo 1º, III, da Constituição Federal). Processo nº p. 5

6 fls. 286 (iii) CITEM-SE e NOTIFIQUEM-SE os requeridos para, querendo, oferecerem manifestação por escrito, que poderá ser instruída com documentos e justificações, dentro do prazo de 15 (quinze) dias, conforme artigo 17, 7º, da Lei n /92. Conste no mandado que, em sendo apresentada manifestação preliminar, a relação processual será considerada triangularizada e, caso seja recebida a ação civil pública, não será emitido novo mandado de citação, mas apenas a intimação dos advogados constituídos para apresentação de contestação (ENFAM, Enunciado 12 Teoria e Prática de Improbidade Administrativa TJPI/EJUD 2013). (iv) Dê-se ciência à Fazenda Pública Municipal, pessoa jurídica interessada, nos termos do 17, 3º, da Lei n /92 combinado com artigo 6º, 3º, da Lei n /65. (v) Sem prejuízo do exposto, para melhor delimitação do alcance da presente medida, OFICIE-SE ao Município de Osvaldo Cruz para que informe, dentre os requeridos relacionados na petição inicial, aqueles que foram aprovados no concurso público n. 001A/2016, em que cargo lograram êxito, se houve nomeação e o histórico de cada um dos cargos efetivos ou comissionados que ocuparam ou ocupam na Prefeitura Municipal. Expeça-se o necessário. Intimem-se. Osvaldo Cruz, 29 de agosto de Juiz(a) de Direito: Dr(a). Andre Gustavo Livonesi DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI /2006, CONFORME IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA Processo nº p. 6