FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DANIELA CLÁUDIA SPERANDIR CARDOSO



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Transcrição:

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE ITUVERAVA FACULDADE DE FILOSOFIA CIÊNCIAS E LETRAS DANIELA CLÁUDIA SPERANDIR CARDOSO HISTORIOGRAFIA E CANGAÇO: UMA ANÁLISE INTRODUTÓRIA ITUVERAVA 2014

DABIELA CLÁUDIA SPERANDIR CARDOSO HISTORIOGRAFIA E CANGAÇO: UMA ANÁLISE INTRODUTÓRIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Educacional de Ituverava, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da para obtenção do título de Licenciatura em História. Orientador: Prof. Ms. Felipe Ziotti Narita ITUVERAVA 2014

DANIELA CLÁUDIA SPERANDIR CARDOSO HISTORIOGRAFIA E CANGAÇO: UMA ANÁLISE INTRODUTÓRIA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Fundação Educacional de Ituverava, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da para obtenção do título de Licenciatura em História. Ituverava, de de. Orientador (a): Nome do orientador (a) Examinador (a): Nome do examinador (a) Examinador (a): Nome do examinador (a)

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho principalmente aos meus pais Irene e Aparecido, que me deram todo o apoio para que eu conseguisse fazer uma faculdade, a todos da minha família, a todos meus amigos e ao meu namorado Fernando, que sempre estiveram do meu lado me apoiando e ajudando nos momentos difíceis e também nos momentos de vitórias que tive no decorrer do curso. Dedico também aos meus professores, que são os melhores que existem, agradeço pela paciência, pelo dom que têm de ensinar, e pela oportunidade que tive de ter mais conhecimentos a partir de seus ensinamentos, seja educativo ou ensinamentos de vida, que esses grandes mestres tem a oferecer.

AGRADECIMENTOS Muito Obrigada, Ao meu orientador, Felipe Ziotti Narita, pela competência e sabedoria, pelo apoio, paciência e pela disponibilidade que teve. Aos professores que, toda vez que pedi alguma orientação, sempre estavam dispostos a me ajudar em tudo que precisei. Ana Maria, que me ajudou na escolha do tema; o professor Felipe, que foi excelente orientador e professor muito sábio e atencioso; o professor Marco Antônio (Marcão), que além de coordenador do curso é um grande professor; os professores Wesley, Sandro, Marcio, Márcia, Aparecida Helena e Célia, que tanto contribuíram e ajudaram para o crescimento educacional e profissional de toda a nossa turma. E a todos que participaram do PIBID, quero aproveitar a oportunidade para agradecer ao professor Antônio Marco que me possibilitou esta maravilhosa experiência, no qual pude ter a certeza que é esta a profissão que escolhi o de ser professora, e obrigada a todos que colaboram com o projeto PIBID, e que sempre continuem dando esta maravilhosa oportunidade para os alunos. Meu muito obrigada a todos os funcionários da instituição, que estão sempre nos auxiliando no que precisarmos. A todos os colegas de sala, que são muito mais que amigos, que me acompanharam nesta linda caminhada de três anos, e os quais me ensinaram grandes aprendizados que levarei para toda a vida. E a todos que de forma direta ou indireta colaboraram por eu estar aqui, concluindo meu trabalho. Enfim, obrigada mãe e pai, por terem me proporcionado uma família linda e por terem me criado sob princípios de ética e moral, me mostrando que sem estudos e sem um objetivo de vida não chegamos a lugar algum. Obrigada a todos que passaram na minha vida e que deixaram grandes aprendizados.

O historiador se vale de uma serie de fontes que incluem desde documentos oficiais, até noticias na imprensa ou mesmo coisas aparentemente inesperadas como o rótulo de um remédio. Tudo depende do tipo e do tema de sua pesquisa. Bóris Fausto

RESUMO Este trabalho tem por objetivo investigar a forma como o cangaço é discutido por autores e cientistas sociais que estudam e analisam o movimento, visando ressaltar os principais pontos para o entendimento da formação destes grupos. O trabalho destaca e analisa a história do Brasil nos primeiros anos após a queda da monarquia e o início da Primeira República ( República Velha ), momento com vários acontecimentos importantes na vida política, econômica e social. Com a formação de movimentos sociais como Canudos e o cangaço, em contexto de forte influência dos latifundiários, vale ressaltar principalmente o coronelismo na região do nordeste brasileiro, onde tais eventos ocorriam. O presente trabalho analisa e discute algumas interpretações sobre a República Velha à luz do coronelismo e principalmente do cangaço. Os resultados das pesquisas mostraram diversas faces do cangaço, situando o movimento como elemento fundamental para as análises e discussões do Brasil republicano. Palavras-chave: História do Brasil; Historiografia; República Velha; Coronelismo; Cangaço.

SUMMARY This work aims to investigate the form of banditry as is discussed by authors and scientists who study and analyze the historiography of the highwaymen, aiming to highlight the points that occurred in the formation of these groups. The paper highlights and analyzes the history of Brazil in the early years after the fall of the monarchy the beginning of the old republic, which had several important events in political, economic and social life. Forming social movements as the war Straws and banditry, which have a strong influence of the landowners, particularly highlighting the Colonels in the Brazilian Northeast region, where the revolt happened Straws and acted the bandits. This paper analyzes and discusses the main works of the old republic, the Colonels, the revolt of straws and especially Cangaço. Research results showed the faces of the highwaymen, and how was the life of these groups, that some authors were considered only groups of banditry, and had not any outcome in social movements, and other authors cangaço was seen as fanaticism and heroism, to the northeastern hinterland. Keywords: History of Brazil; historiography; Old Republic; coronelismo; Cangaço

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1: PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL... 17 FIGURA 2 BANDEIRA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRAZIL... 21 FIGURA 3: MARECHAL DEODORO DA FONSECAERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. FIGURA 4: MARECHAL FLORIANO PEIXOTO, O MARECHAL DE FERRO.... 24 FIGURA 5 PRUDENTE DE MORAIS ( PARTIDO REPUBLICANO FEDERAL ) - 15/11/1894 A 15/11/1998... 28 FIGURA 6: CAMPOS SALES (PARTIDO REPUBLICANO PAULISTA )- 15/11/1898 A 15/11/1902... 30 FIGURA 7: LAMPIÃO EM JUAZEIRO DO NORTE VISITA A PADFRE CÍCERO... 45 FIGURA 8: LAMPIÃO E MARIA BONITA... 46 FIGURA 9: CHEFES DE VOLANTES QUE ENFRENTARAM E MATARAM O BANDO DE LAMPIÃO... 47 FIGURA 10: CABEÇAS DE CANGACEIROS DEGOLADOS: EMBAIXO, ISOLADA, A DE LAMPIÃO: LOGO ACIMA, A DE MARIA BONITAERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 11 1 A QUEDA DA MONARQUIA... 13 1.1 Contextualização: o governo provisório (1889-1891)... 17 1.2 A primeira constituição da república (1891)... 21 1.3 Os governos de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894)... 22 2 CORONELISMO E ESTRUTURA POLÍTICA DA PRIMEIRA REPÚBLICA 25 2.1 O coronelismo na república oligárquica... 31 2.2 Revoltas Sociais: Antônio Conselheiro e revolta de Canudos... 34 3 O CANGAÇO COMO BANDITISMO SOCIAL... 37 3.1 Cangaço: Fanatismo versus Heroísmo... 40 3.2 Cangaço como revolta social... 43 3.3 Lampião e Maria Bonita... 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 50 REFERÊNCIAS... 52 ANEXOS... 55

11 INTRODUÇÃO Este trabalho tem por objetivo fazer uma análise introdutória da historiografia produzida sobre o cangaço no contexto da República Velha. Durante o final do século XIX e início do século XX, o Brasil passava por uma transição muito importante representada pela queda da monarquia e pelo início da República. Com esta transição, houve vários acontecimentos que representaram marcos muito importantes na história do Brasil. Proclamada a República no Brasil, o país passou por mudanças na vida política e econômica. Além disso, houve vários movimentos sociais, como a revolta de Canudos e a formação dos grupos de cangaceiros no Nordeste. Movimentos que devem ser situados em um contexto político com forte influência dos coronéis na região. A partir da análise de tais mudanças a partir da Proclamação da República, em 1889, o trabalho tem por objetivo mostrar uma breve apresentação da formação da República Velha, mostrando a influência que os coronéis tiveram na formação de grupos e movimento sociais como a revolta de Canudos e principalmente os grupos de cangaço. Nesse sentido, discutiremos de que forma alguns autores do campo das ciências sociais (sobretudo a historiografia e a sociologia) produziram interpretações que permitem um entendimento e uma contextualização do cangaço. O primeiro capítulo faz uma breve contextualização do que foi a República Velha, que foi formada a partir do golpe republicano de 1889. Como analisaremos, a República foi administrada, nos primeiros anos, pelos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto (a chamada República da Espada, entre 1889 e 1894) e posteriormente pela política dos presidentes civis, focalizando maior destaque para Prudente de Morais (1894-1898) e Campos Sales (1898-1902). O segundo capítulo traz questões sobre o coronelismo, os grandes latifundiários, com enfoque para a vida no nordeste brasileiro. Trata-se de uma região que, sob a influência dos coronéis, conheceu diversas revoltas sociais, dentre as quais podemos destacar, por exemplo, a guerra de Canudos e o os grupos do cangaço. Este capítulo oferece uma contextualização do cangaço a partir de parâmetros teóricos apontados pela historiografia.

12 O terceiro capítulo discute de forma específica o papel do cangaço na República brasileira. Nesse sentido, discutiremos como era a vida nos grupos do cangaço, exibindo o surgimento daqueles grupos e enfatizando, sobretudo, as visões historiográficas dos autores que os estudam. A justificativa deste trabalho, portanto, é analisar a história do cangaço em três fases: o cangaço como banditismo social, o cangaço como fanatismo e heroísmo e o cangaço como movimento social. O tema do cangaço é discutido para autores como uma certa duvida do que realmente eles buscavam ao aterrorizar a população do Nordeste brasileiro, este trabalho como dito acima mostra o cangaço em três visões diferentes, cada uma ressaltando o que os autores interpretavam o que seria o cangaço. O principal objetivo deste trabalho é focar a visão sobre o cangaço especificando como se deu o surgimento destes grupos e como foi a vida dos cangaceiros, o que influencioos nessa vida nômade que eles levavam e sobretudo as origens destes povos, e ainda o trabalho enfatiza um pouco sobre uns dos grupos que foi grande sucesso inspirando livros, contos de cordéis e até novelas, cantigas e minisséries, que é os cangaceiros Lampião e Maria Bonita. O tema do cangaço é importante para o estudo da República, porque estes grupos eram considerados bandidos, bandoleiros que faziam justiças com as próprias mãos. Além disso, para uma parte da população nordestina os cangaceiros eram vistos como heróis do sertão. Por outro lado, para outros, os bandos eram vistos como malfeitores que aterrorizavam a população nordestina, sem nenhum objetivo, apenas com o intuito de tirar proveito próprio, participando da história como um mero acontecimento que não trouxe frutos significativos. O presente trabalho pode ser classificado como uma pesquisa bibliográfica, que tem por objetivo analisar as interpretações de autores que falam sobre a história do Brasil, situando o cangaço em um contexto traçado por algumas interpretações historiográficas já tradicionais dialogando sempre com as pesquisas mais recentes. Para tanto, vale ressaltar autores como Caio Prado Junior, Bóris Fasto, José Murilo de Carvalho, Raymundo Faoro, Felipe Ziotti Narita, Antônio Marco Ventura Martins, entre outros autores nomes importantes para a compreensão dos temas e conceitos que seguem no decorrer do presente trabalho.

13 1 A QUEDA DA MONARQUIA O fim da monarquia se deu por diversos fatores, tais como o movimento republicano, o militarismo, a abolição da escravatura e os conflitos entre Estado imperial e Igreja Católica (COSTA, 1999). A monarquia, assim, entrava em crise por causa da insatisfação de camadas da população e dos movimentos republicanos, que traziam consigo novas mudanças na política além de um novo jeito de governo no país, lutando ainda por um novo regime, a Republica. A abolição da escravatura também agravou ainda mais o regime monárquico, pois os grandes senhores do café na época utilizavam a mão-de-obra escrava, de forma que a abolição dos escravos sem dúvida provocou grande prejuízo para esses senhores. Apesar das questões religiosas e do problema da mão-de-obra, o historiador Boris Fausto (1996) afirma que foi sobretudo o militarismo o principal fator para a queda final da monarquia. No contexto da crise monárquica e da proclamação da República, Oliveira Vianna, analisando a situação a atuação do partido Republicano, conclui que até 15 de novembro de 1889 os centros de propaganda republicana não tinham conseguido dar a seu ideal uma irradiação capaz de precipitar do trono do velho monarca. Foi preciso uma outra força para se chegar à república: e essa força foi o exército (apud COSTA, 1999). Para o autor José Murilo de Carvalho (1995), havia três correntes que disputavam a definição da natureza do novo regime: O liberalismo à Americana (inspirado, sobretudo, nos Estados Unidos e na Revolução Americana de 1776): corrente composta por indivíduos autônomos, cujos interesses eram compatibilizados pela mão invisível do mercado, ou seja, cabia ao governo interferir o menos possível na vida dos cidadãos. O jacobinismo à francesa (1789): havia a idealização da democracia clássica, utilizando a utopia da democracia direta, do governo por intermédio da participação direta de todos os cidadãos na vida política. O positivismo (Auguste Comte) a republica era ai vista dentro de uma perspectiva mais ampla que postulava uma futura idade de ouro em que os seres humanos se realizariam plenamente no seio de uma humanidade mitificada pela ciência e por um Estado forte. Segundo Fausto (1996), o positivismo é uma corrente de pensamento cujos princípios básicos foram formulados por Auguste Comte (1798-1857). Comte considerava ser a ditadura

14 republicana a melhor forma de governo para as condições de sua época. Opunha-se assim a Republica liberal, que se baseia na ideia de soberania popular, sendo o poder exercido em nome do povo através de um mandato. Portanto, eram essas as ideias dos pensadores históricos para o fim da monarquia, e o começo de um novo regime a republica que traria consigo novas perspectivas para os cidadãos. Segundo o autor Boris Fausto (1996), O fim do regime monárquico resultou de uma serie de fatores cujo peso não é o mesmo. Duas forças, de características muitos diversas, deveria ser ressaltada em primeiro lugar: O exercito e um setor expressivo da burguesia cafeeira de são Paulo, organizado politicamente no PRP. O episodio de 15 de novembro resultou da iniciativa quase exclusiva do exercito, que deu um pequeno, mas decisivo empurrão para apressar a queda da monarquia. Conforme a citação acima, já havia ocorrendo vários desentendimentos entre governo, estados e oficiais do exército. Um dos mais expressivos atritos ocorreu quando em 1884 o tenente coronel Madureira, oficial de prestigio e amigo do imperador convidou um dos jangadeiros que havia participado da luta pela libertação dos escravos no ceara a visitar a Escola de Tiro no Rio Janeiro, da qual era comandante. O oficial foi punido com a sua transferência para o Rio Grande do Sul. Aí publicou no jornal republicano, A federação, um artigo, narrando o episodio do Ceara que acirrou os ânimos. O ministro de guerra assinou então uma ordem em que proibia militares de discutir pela imprensa questões políticas ou da corporação. Os oficiais sediados no Rio Grande do Sul realizaram uma grande reunião em Porto Alegre, protestando contra a proibição do ministro. Deodoro da Fonseca na presidência da Província do Rio Grande do Sul recusou-se a punir os oficiais, sendo chamado ao Rio de Janeiro. Afinal, surgiu uma formula conciliatória, favorável aos militares. Revogou-se a proibição e o gabinete foi censurado pelo Congresso. Nessa altura em 1887, os oficiais organizaram o Clube Militar como associação permanente para defender seus interesses sendo marechal Deodoro eleito presidente, Deodoro solicitou ao ministro da guerra que o exercito não fosse mais obrigado a caçar escravos fugidos. Isso aconteceu na pratica apesar da recusa do ministro em atender ao pedido. A insatisfação militar e a propaganda republicana cresciam quando, em junho de 1889, o imperador convidou um liberal -o visconde de Ouro Preto- para formar novo gabinete. Ouro Preto propôs uma serie de reformas, mas contribuiu para acender os ânimos ao nomear para a presidência do RS Silveira Martins, inimigo pessoal de Deodoro. A 11 de novembro de 1889, figuras civis e militares como Rui Barbosa, Benjamim Constant, Aristides Lobo e Quintino Bocaiuva, reuniram-se com marechal Deodoro, tratando de convencê-lo a lidera um movimento contra o regime. A participação de Deodoro era importante como figura conservadora e de prestigio no exercito. Ele resistia por ser amigo do imperador e não gostar da presença de paisanos na conspiração. O problema lhe parecia de ordem militar. Mas uma serie de boatos espalhados pelos jovens militares falando da prisão de Deodoro, da redução dos efetivos ou mesmo da extinção do exército, levou

15 Deodoro a decidir-se pelo menos a derrubar Ouro Preto. (FAUSTO, 1996, p.233-234). Carvalho (1995, p. 39), em argumento semelhante ao exposto acima por Boris Fausto, indica o contexto de enfraquecimento do regime monárquico: Exerceram também influência decisiva no desencadeamento do movimento as noticias inventadas no dia pelo major Solón sobre a prisão de Deodoro e Benjamin, e os boatos de que a tropa de São Cristovão seria atacada pela Guarda Nacional, pela Guarda Negra e pela policia. De fato Ouro Preto decidira reorganizar a Guarda Nacional e fortalecer a policia como contrapeso a indisciplina do exercito, mas era certamente falso que pretendesse reduzir o contingente do exercito, ou mesmo extingui-lo, como se disse a Deodoro. A cada noticia dessas trazidas pelos jovens oficiais, Deodoro explodia: Não permitirei isso! Assestaria a artilharia, levaria os sete ministros à praça publica e me entregarei depois ao povo para julgar-me! Até mesmo Floriano Peixoto pode ter sido levado a não defender a Monarquia por razoes corporativas. É conhecida sua resposta a Deodoro quando este o sondou sobre o movimento: Se a coisa é contra os casacas, lá tenho minha espingarda velha. Deodoro menciona também outra manifestação de Floriano em que este, pegando num botão da farda, dissera: Seu Manuel, a monarquia é inimiga disto. Se for para derrubá-la estarei pronto. A partir das análises de Boris Fausto e de José Murilo de Carvalho é possível perceber que o entendimento do golpe republicano de 1889 não deve ficar restrito à figura do marechal Deodoro da Fonseca. É preciso inseri-lo em um contexto mais amplo, em que a ascensão da república brasileira ocorria a partir do próprio desgaste da monarquia. Assim, armado o golpe dos republicanos na manhã de 15 de novembro de 1889, Deodoro marchou com sua tropa para o ministério da guerra, onde se encontravam os monarquistas. Deodoro proclamou a republica após a derrubada do Ministério de Ouro Preto ato ocorrido sem a presença dos civis, contando apenas com uma tropa de militares jovens. Num relato que ficou famoso, Aristides da Silveira Lobo, jornalista e ministro do primeiro governo republicano, expressou a ausência popular no dia 15 de novembro de 1889. Ele conta que, no dia em que foi proclamada a República, o povo assistiu a tudo bestializado, supondo que estivesse vendo, talvez, uma parada militar. Com a saúde bastante debilitada e com o regime monárquico enfrentando sua pior crise política, D. Pedro II e a Família Imperial, retornando de Petrópolis e sabendo dos acontecimentos na cidade do Rio de Janeiro, partiriam para o exílio na Europa. Segundo Emília Viotti da Costa (1999),

16 O movimento de 15 de novembro não tinha inicialmente nenhum intuito republicano, apenas visava a derrubada do ministério. Fora essa a intenção tanto de pelotas quanto de Deodoro. Não estava nos planos destronar o imperador, a quem todos veneravam. A corrente republicana nunca passara de uma minoria no exercito. Constituía-se de uma pequena fração erudita, composta de jovens que gastavam o seu ardor belicioso ganhando batalhas napoleônicas dentro das salas de aula e estratégias e movendo sobre a cartografia da mapoteca da escola e os seus exércitos vigorosos. Os jovens militares eram positivistas e republicanos e sobre eles atuava o fascínio de Benjamim Constant. Portanto, o golpe de 15 de novembro de 1889 foi aceito, sem nenhuma guerra. Estava proclamada a república no Brasil. Ainda segundo Costa (1999), O movimento do golpe republicano resultou da conjugação de três forças: uma parcela do exercito, fazendeiros do Oeste Paulista e representantes das classes medias urbanas que, para a obtenção dos seus desígnios, contaram indiretamente com o desprestígio da monarquia e o enfraquecimento das oligarquias tradicionais. Momentaneamente unidas em torno do ideal republicano, conservavam, entretanto, profundas divergências, que desde logo se evidenciaram na organização do novo regime, quando as contradições eclodiram em numerosos conflitos, abalando a estabilidade dos primeiros anos da república. Os anos seguintes à proclamação da república, apesar das intensas mudanças políticas, não representaram qualquer revolução na vida dos trabalhadores. As condições econômicas do país, por exemplo, pioraram logo de partida, com uma grave crise afetando a nascente República.

17 Figura 1: Proclamação da República no Brasil I - A figura feminina empunhando a bandeira representa a nova república brasileira, instaurada através do golpe militar de 15 de novembro. Disponível em: <http://mestresdahistoria.blogspot.com>. 1.1 Contextualização: o governo provisório (1889-1891) Depois de proclamada a República, e com a saída do Imperador, formou-se então o Governo Provisório (1889-1891). Este governo era liderado pelos grupos que derrubaram o poder da monarquia. Encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca (chefe do novo governo), o grupo contava com apoio de militares, cafeicultores e profissionais liberais (CARVALHO, 1995). Os primeiros anos da republica foram conturbados, pois não havia um projeto totalmente claro se como seria conduzido o novo regime. Nesse sentido, Costa (1999, p. 489) afirma que

18 Monarquistas não aceitavam a ideia de republica, e criticavam os militares dizendo que a republica foi instaurada sem o conhecimento do povo, e afirmavam que a proclamação da republica não passava de um levante militar alheio à vontade do povo. Uma simples parada militar substituíra esse regime por outro instável, incapaz de garantir a segurança e a ordem ou de promover equilíbrio econômico e financeiro e, que além de tudo, restringia a liberdade individual. Como dizia Rui Barbosa, ministro da fazenda do Governo Provisório, era necessário dar uma forma constitucional ao país para garantir o reconhecimento da República e a obtenção de créditos no exterior para tentar contornar a crise econômica. Dentre as primeiras providências tomadas pelo governo provisório, destacam-se: Instituição do federalismo as províncias imperiais foram transformadas em estadosmembros da federação; com isso, teriam maior autonomia administrativa em relação ao governo federal, cuja sede recebeu o nome de distrito federal, situado no Rio de Janeiro. Separação entre Igreja e Estado foi extinto o regime do padroado, por meio do qual o estado controlava a igreja católica no país, e o catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado. Em consequência, foram criados o registro civil de nascimento e o casamento civil. Até então, só havia a certidão de batismo, e as pessoas casavam-se na igreja. Criação de novos símbolos nacionais para substituir os símbolos da Monarquia foi criada, por exemplo, uma nova bandeira nacional, com o lema Ordem e Progresso (sugerido pelo ministro da Guerra, Benjamim Constant). O lema teve sua origem no pensador francês Auguste Comte (1798-1857), que pregava o amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim. Promulgação da lei da grande naturalização com a intenção de amenizar o sentimento antilusitano de boa parte da população brasileira urbana, foi decretada, em dezembro de 1889, uma lei que declarava cidadãos brasileiros os estrangeiros residentes no Brasil. Quem não quisesse ser naturalizado brasileiro deveria manifestar-se no órgão competente. Esse sentimento antilusitano provinha, sobretudo dos brasileiros das camadas mais pobres da população que sentiam explorados pelos imigrantes portugueses, os quais controlavam boa parte do comercio e dos imóveis de aluguel especialmente os cortiços.

19 Segundo o historiador Carvalho (1995), Também houve entre nós batalha de símbolos e alegorias, parte integrante das batalhas ideológicas e politicas. Tratava-se da batalha em torno da imagem de um novo regime, cuja finalidade era atingir o imaginário popular para recria-lo dentro de valores republicanos. A elaboração de um imaginário é parte integrante da legitimação de qualquer regime politico. É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça, mas, de modo especial, o coração, isto é as aspirações, os medos e as esperanças de um povo. Além dos atritos políticos, o Governo Provisório tentou lidar com uma grave crise econômica: foi o chamado encilhamento, uma reforma financeira executada pelo ministro da fazenda Rui Barbosa. Esta reforma financeira tinha por objetivo estimular o crescimento econômico, principalmente na área da indústria. Segundo Fausto, encilhamento era o local onde são dados os últimos retoques nos cavalos de corrida antes de disputarem os páreos. Por analogia, a palavra teria sido aplicada à disputa entre as ações das empresas na Bolsa do Rio de Janeiro, trazendo em si a ideia de jogatina. Conforme aponta Ventura (1996, p. 281), A politica financeira dos ministros da Fazenda do marechal Deodoro da Fonseca, Rui Barbosa e Barão de Lucena, provocou uma euforia especulativa, chamada de encilhamento, em analogia à preparação dos cavalos antes da corrida. Rui Barbosa autorizou, em 17 de janeiro de 1890, os bancos privados a emitirem dinheiro, dando inicio a uma serie de decretos que foi modificando ao longo de sua gestão. As medidas trouxeram inflação galopante, desconhecida no pais desde a década de 1820, com desvalorização da moeda, especulação com títulos e papéis, abertura e fechamento de empresas fantasmas. Diversos contemporâneos de Rui criticaram o decreto como um ato escandaloso de favorecimento às empresas do Conselheiro Mayrink, que recebia não só os privilégios bancários como inúmeras facilidades para negócios com terras públicas e contratos de construção. O banco de Mayrink passou a ostentar, a partir do final de 1890, o nome muito significativo de Banco da República... Lima (2000) afirma que Rui Barbosa baixou vários decretos com o objetivo de aumentar a oferta de moeda e facilitar a criação de sociedades anônimas. A medida mais importante foi a que deu a alguns bancos a faculdade de emitir moeda política que, desencadeada sem controle efetivo do Estado republicano, agravaria ainda mais o problema financeiro da República. Dessa forma,

20 No episódio, conhecido como "encilhamento", Rui aumentou o volume de dinheiro disponível na praça. Seu intuito, oficialmente, era fortalecer o comércio e a nascente indústria, criando empregos que absorveriam a mão-de-obra recém-liberta da escravidão. Muito pouco desse dinheiro, no entanto, foi canalizado para essas atividades. A maior parte foi para a especulação desenfreada, promovida pelos antigos senhores de escravos. Estes últimos foram os grandes beneficiários da situação. Tiveram acesso fácil ao crédito e ainda lucraram com a desvalorização da moeda, que possibilitou a exportação de seus excedentes agrícolas. Enquanto isso, a economia do país ia para o buraco. O episódio é emblemático da figura de Rui Barbosa. Ele pode ter sido, como quer Lamounier, um homem de idéias brilhantes. O estudo de Murilo de Carvalho demonstra, no entanto, que ele é também precursor de uma estirpe de governantes que perdura até hoje: aqueles que posam de modernos, que embalam suas idéias num discurso encantador, mas que na prática política revelam-se tão arcaicos quanto seus predecessores. Prado Júnior (1998, p. 218) afirma que: Os primeiros anos que seguem imediatamente à proclamação da República serão dos mais graves da história das finanças brasileiras. A implantação do novo regime não encontrou oposição nem resistência aberta sérias. Mas a grande transformação política e administrativa que operou não se estabilizará e normalizará senão depois de muitos anos de lutas e agitações. Do império unitário o Brasil passou bruscamente com a República para uma federação largamente descentralizada que entregou às antigas Províncias, agora Estados, uma considerável autonomia administrativa, financeira e até política. Tais historiadores entram em acordo quando dizem que o encilhamento era uma ideia até boa, pois com a república eles teriam de dar uma posição, ou seja, mostrar que a republica resolveria os problemas econômicos por isso, a monarquia não teria sido derrubada em vão. O encilhamento traria novas perspectivas de vida para os trabalhadores, de mofo que a republica carregaria a ideia de um regime em que a indústria e a prosperidade reinavam. No entanto, o encilhamento teve seu fim pressionado Rui Barbosa, quando este demitiu-se do cargo em 1891. Segundo Fausto (1996), veio à crise com a derrubada do preço das ações, a falência de estabelecimentos bancários e empresas. O valor da moeda brasileira cotado em relação à libra inglesa começou a despencar.

21 1.2 A primeira Constituição da República (1891) Segundo Fausto (1996), uma comissão de cinco pessoas foi encarregada de redigir um projeto de Constituição, submetido depois a profunda revisão por parte de Rui Barbosa. A seguir, o projeto foi encaminhado para a apreciação da Assembleia Constituinte, que, após muitas discussões e emendas, promulgou o texto a 24 de fevereiro de 1891. Figura 2 Bandeira dos Estados Unidos do Brasil Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/- YvZ51TlvUZ8/Tv5gKIMshPI/AAAAAAAABHM/F4xoc0p_d98/s1600/A%20primeira%20Bandeira%20dos%2 0Estados%20Unidos%20do%20Brasil.pngl>. O Brasil então passaria a ser chamado República dos Estados Unidos do Brasil, tendo sua constituição influenciada pela constituição norte-americana. Promulgada em 24 de fevereiro de 1891, 1 a nova Constituição, em alguns dos seus principais pontos, estabelecia: separação entre Igreja e Estado, formação de uma República federativa, voto restrito aos alfabetizados e organização de três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Portanto, conforme o esquema proposto por José Murilo de Carvalho (1987, p. 163-164), a Constituição de 1891 estabelecia: Governo e estado o Brasil adotou a forma de governo republicana, com sistema presidencialista. O presidente da republica tornou-se chefe de governo e de estado, auxiliado por ministros. O estado passou a ser federalista, ou seja, 1 Trechos da Constituição de 1891 seguem na seção Anexo deste trabalho.

22 as antigas províncias do Império foram transformadas em estados membros, ganhando autonomia para eleger seu governador e seus deputados estaduais. Cada estado teria uma Constituição própria, que, entretanto, não poderia contrariar as normas da Constituição federal. Divisão dos poderes o Estado brasileiro passou a ter três poderes independentes: Executivo, exercido pelo presidente da republica e pelos ministros do estado; Legislativo, exercido pelo congresso nacional, composto da câmara dos deputados e do senado federal; e Judiciário, cujo órgão máximo é o Supremo Tribunal Federal. Voto o direito de voto foi garantido aos brasileiros maiores de 21 anos, executando-se analfabetos, mendigos, soldados, religiosos. As mulheres também não podiam votar. O voto era aberto, ou seja, os eleitores eram obrigados a revelar publicamente em que candidato votava o que permitia aos grandes fazendeiros pressioná-los na hora da votação. Como analisa o historiador Carvalho (1987, p. 149): Na capital da República, a cidade do Rio de Janeiro, os acontecimentos políticos as representações em que o povo comum aparecia como expectador ou, no máximo, como figurante. Sem os caminhos da participação politica, o povo do Rio de Janeiro concentrou suas atividades social nos bairros, nas associações nas igrejas, nas festas religiosas, nas rodas de capoeira etc. Foram o futebol, o samba e o carnaval que deram ao Rio de Janeiro uma comunidade de sentimentos, por cima e além das grandes diferenças sociais que sobreviveram e ainda sobrevivem. Negros livres, exescravos, imigrantes, proletários e classe media encontram aos poucos um terreno comum de auto-reconhecimento que não lhes eram propiciados pela política. Portanto era esta a forma como foi instaurada a Constituição da República. Muitos dos seus elementos, inclusive, ajudariam a estabilizar o novo regime, tendo validade até os dias de hoje (como a divisão dos três poderes, por exemplo). 1.3 Os governos de Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894) Elaborada a constituição de 1891, o Congresso nacional teria de eleger o primeiro presidente e o vice-presidente da República dos Estados Unidos do Brasil. Com o apoio dos

23 militares, Deodoro da Fonseca se candidatou à presidência, tendo como vice o almirante Eduardo Wanden Kolk, enfrentando a oligarquia cafeeira de São Paulo, com Prudente de Morais, e o vice Marechal Floriano Peixoto. Deodoro da Fonseca vence as eleições para presidente, e Floriano Peixoto vence para o cargo de vice. Figura 3: Marechal Deodoro da Fonseca Disponível em: <http://histoblogsu.blogspot.com.br/2009_06_14_archive.html>. Segundo Fausto (1996), a vitória de Deodoro se deu pela margem de 129 votos contra 97, atribuídos ao paulista Prudente de Morais, que contou não só com os votos de congressistas dos grandes Estados, como também dos florianistas. O governo constitucional de Deodoro da Fonseca foi muito conflituoso, lidando com um clima de total instabilidade para governar. Sem o apoio dos cafeicultores de São Paulo, que tinham vários representantes no Congresso Nacional, Deodoro possuía vários atritos com o poder Legislativo. Assim, não conseguindo lidar com a forte oposição do Congresso, Deodoro decide fechá-lo e prender seus principais líderes, em um ato de autoritarismo e de claro desrespeito pela Constituição. Conforme Fausto (1996) Deodoro entrou em choque com o Congresso e atraiu suspeitas ao substituir o ministério, que vinha do governo provisório, por outro sob o comando de um tradicional político monárquico o barão de Lucena. Juntos tentaram reforçar o Poder Executivo, tendo como modelo o extinto Poder Moderador. A 3 de novembro de 1891, Deodoro fechou o Congresso, prometendo para o futuro novas eleições e uma revisão da Constituição. Deodoro sofreu forte opressão do congresso em razão de seu grande autoritarismo: frente a isso, as Forças Armadas e alguns membros da Marinha organizaram um golpe que

24 ficou conhecido como Primeira Revolta da Armada, explodindo quando trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Brasil entraram em greve e a marinha, liderados por Custódio José de Melo, ameaçaram bombardear a cidade do Rio de Janeiro. Isto implicou a renúncia de Deodoro da presidência no dia 23 de novembro de 1891, assumindo o cargo o vice Floriano Peixoto. Afirma Ventura (1991): Após a vitória do contragolpe, Floriano enviou o então coronel Solon a São Paulo para depor o governo estadual que apoiara o golpe de Deodoro. Floriano chegou a convidar Euclides para ocupar cargo politico, mas este recusou a oferta, pedindo apenas o que a lei previa para os recém formados da escola superior de guerra: um estagio na estrada de ferro central do Brasil. Figura 4: Marechal Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro. Disponível em: <http://histoblogsu.blogspot.com.br/2009_06_14_archive.html>. O governo de Floriano Peixoto (1891-1894), com a ajuda das forças políticas paulistas e das Forças Armadas, foi marcado por um período autoritário que ficou conhecido por sua firmeza e habilidade políticas. Além disso, a própria figura de Floriano Peixoto despertava certo apelo popular, representando uma espécie de nacionalismo ( florianismo ). Segundo Fausto (1996), Floriano tinha em mente construir um governo estável, centralizado, vagamente nacionalista, baseado, sobretudo no exercito e na mocidade das escolas civis e militares. Seu governo foi muito popular, voltado sobretudo para agradar o povo, de modo que Floriano reduziu a taxa de impostos, criou moradias populares a isto podemos chamar de certo paternalismo, já que encarava a política como uma espécie de presente do governo para as necessidades da população.

25 O governo de Floriano também foi conturbado, pois grupos opositores a seu mandato defendiam a convocação de novas eleições presidenciais. Com a deposição dos políticos que apoiavam Deodoro da Fonseca, acontecia um impasse político, sendo que Deodoro renunciara após nove meses de governo e o vice só poderia assumir se o presidente governasse por dois anos. No entanto, Floriano resistia às oposições com grande poder e autonomia: ficaria conhecido, portanto, como Marechal de Ferro. Contudo, os generais revoltados enviaram ao presidente uma carta manifesto, onde eles questionam a legitimidade do governo de Floriano. Tal reação fez com que Floriano punisse os militares, pondo-os na reserva da Força Armada. Essa reação fez com que os militares liderassem a Segunda Revolta da Armada, ameaçando novamente um bombardeio sobre a cidade do Rio de Janeiro, caso não houvesse novas eleições. Enquanto isso, no Rio grande do Sul surgiu um violento conflito entre dois grupos políticos: era a chamada Revolução Federalista, opondo o Partido Republicano Rio- Grandense (PRR) e o Partido Federalista. Boris Fausto (1996, p. 255) explica que Opunham-se de um lado, os republicanos históricos adeptos do positivismo, organizados no PRR, e de outro lado, os liberais. Em março de 1892, estes fundaram o Partido Federalista, aclamando seu Líder Silveira Martins, prestigiosa figura do Partido Liberal no império. O partido defendia a revogação da Constituição estadual baseada nas ideias positivistas e a instauração de um governo parlamentar. A constituição previa a concentração de poderes no Executivo, ficando o Legislativo encarregado apenas de aprova a legislação financeira. Afirma ainda que a Guerra civil entre os dois grupos, conhecida como Revolução Federalista, começou em fevereiro de 1893 e só terminou mais de dois anos e meio depois, já na presidência de Prudente de Morais. A luta foi implacável, dela resultando milhares de mortos. Esta revolução terminou em agosto de 1895, com a vitória dos republicanos positivistas, durante o governo de Prudente de Morais, que foi eleito a presidente em março de 1894. O governo dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto ficou conhecido como Republica da Espada (1889-1894), pois foi um período em que a República foi governada de forma autoritária por militares. 2. CORONELISMO E ESTRUTURA POLÍTICA DA PRIMEIRA REPÚBLICA O termo coronelismo surgiu no Brasil na época do Império, a partir da deposição de D. Pedro I, em 1831, e a formação da Guarda Nacional, criada em 1831 no Período Regencial,

26 com objetivo de garantir a segurança, manter a ordem do país, defender a constituição, a liberdade, a independência e a integridade do império (MARTINS, 2004). Somente poderiam usufruir da Guarda Nacional os cidadãos com renda anual superior a 200 mil réis nas zonas urbanas e 100 mil réis nas zonas rurais. Com isso somente quem tinha posses e recursos para assumir custos como uniformes e armas utilizadas poderia ser integrante da Guarda Nacional. Martins (2004, p. 121) afirma que há pelo menos três posições distintas sobre os motivos da criação das milícias no Brasil e o papel por ela desempenhado: A primeira entende a Guarda Nacional como instrumento político-militar das classes dominantes. A milícia é apresentada como força anti-exercito, para sustentar militarmente a estrutura econômica do país, fundada no latifúndio e na mão de obra escrava. A segunda posição enfatizou a estreita relação existente no processo de força civil paramilitar para milícia eleiçoeira, a serviço do conservadorismo político brasileiro. A terceira posição interpretou a Guarda como elemento reforçador do poder local. Este aspecto não está totalmente ausente nas interpretações anteriores. No entanto, a ênfase com que é tratada pelos autores indica uma contradição entre os fins para os quais foi criada e reorganizada a milícia e a forma como se apresentou nos municípios. O controle da guarda nos municípios, apesar de todo o empenho centralizador do governo, permanecia nas mãos das autoridades locais, o mesmo ocorrendo para a qualificação do serviço da ativa e da reserva, e principalmente para uma qualificação política. Os governos das Regências (1831-1840) colocaram então os postos militares a venda e os proprietários adquiriram os títulos de tenente, capitão, tenente-coronel e coronel da Guarda Nacional. No entanto, o coronel, que tinha esse posto por ter posses e recursos, passou a ser visto como um homem poderoso, de distinta posição social, de forma que os representantes desta dominação social eram os coronéis e os seus subordinados estavam junto à população mais pobre. Tinha mais poderes os que se beneficiavam de grandes extensões de terras, conforme Martins (2004). Assim, segundo este historiador, é corrente na historiografia brasileira que as elites nacionais desenvolveram estratégias de poder local, seja pela presença nos quadros administrativos do governo, e por casamentos consanguíneos, prole numerosa, e poder econômico. Esses fatores permitiram a construção de uma rede de poder que atuou efetivamente nas comunidades. Portanto, foi assim que surgiram os poderes locais na estrutura política brasileira desde a época do Império. Com a formação da Guarda Nacional, os mandões locais (base do coronelismo do período republicano) estavam espalhados por várias províncias e regiões: contudo, foi apenas durante a Primeira República ( República Velha ), com a dominação

27 política das oligarquias (governo nas mãos de poucos) e o sistema representativo (votos), que o coronelismo ganhou muita força, atuando principalmente sobre as camadas mais pobres da população. Segundo o Dicionário de Conceitos Históricos, o conceito de oligarquia remete aos filósofos gregos, especialmente Platão e Sócrates: A palavra oligarquia indica, em primeiro lugar, uma forma de governo. O termo vem do grego e significa o governo de poucos. Em sua obra A republica, Platão definiu a oligarquia como uma forma de governo que se opunha ao bom governo. A oligarquia era para Platão, o governo dos ricos, ávidos por poder e dinheiro. Mas, dessa definição a palavra foi gradativamente ganhando conotação mais social e passou a designar também um grupo, uma elite detentora do poder politico e econômico. Ainda para Aristóteles definiu a oligarquia como uma das três formas de governos possíveis, com a monarquia o governo de um e a democracia o governo de muitos (2010, p. 316). O poder dos coronéis não se estabelecia apenas na concessão de patentes pela Guarda Nacional: apenas se consolidava, conforme salienta Rêgo (2008, p. 70): O coronelismo e a Guarda Nacional são geralmente apresentados como faces da mesma moeda, em razão da intensidade de suas relações. O fato de pertencer a essa instituição era assim uma forma de legitimação formal do prestígio do coronel, mas não se constituía na origem de seu poder. Nesse sentido, sua extinção em 1918 foi de pouca relevância para o coronelismo como fenômeno sociopolítico, já que, a partir de então, os coronéis tornaram-se chefes de fato e não somente de direito, autoproclamados ou aclamados pela comunidade. notamos que Na visão historiográfica do autor Leal, em seu livro Coronelismo, enxada e voto, O vocábulo coronelismo, introduzido desde muito em nossa língua com acepção particular, de que resultou ser registrado como brasileirismo nos léxicos aparecidos do lado de cá do Atlântico, deve incontestavelmente a remota origem do seu sentido translato aos autênticos ou falsos coronéis da extinta Guarda Nacional. Com efeito, além dos que realmente ocupava nela tal posto, o tratamento de coronel começou desde logo a ser dado pelos sertanejos a todo e qualquer chefe político, a todo e qualquer potentado (LEAL, 1997, p.289). Mesmo com a extinção da Guarda Nacional em 1918, o título de coronel passou a ser atribuído aos grandes proprietários de terras. Afirma Oliveira que

28 A origem do coronelismo remonta ao inicio da republica e sua correspondente ampliação do direito de voto previsto na Constituição de 1891. Subitamente, as massas rurais, que ainda então compunha a quase totalidade da população brasileira, passaram a formalmente ter o direito de escolher, através do voto, todos os ocupantes de cargos eletivo do país. Contudo, sua subordinação e dependência face aos grandes proprietários de terra significaria um enorme aumento do poder politico destes, na medida em que podiam controlar mediante uma serie de práticas repressivas e paternalistas o destino desses votos para os candidatos identificados com o pacto de poder estabelecido a partir da República (OLIVEIRA, 2012, p. 68). O período de 1894 até 1930 é marcado pelo governo dos cafeicultores, contando também com grande força dos coronéis, que abusavam do uso do poder sobre as populações mais pobres. O primeiro presidente civil foi o Prudente de Morais, que governou entre 1894 e 1898. Seu governo ilustrou a forte presença de latifundiários. Logo de início herdou m governo com grandes crises econômicas e revoltas de florianistas contra a oligarquia civil cafeeira. Prudente de Morais procurava atender aos anseios da classe oligárquica cafeeira, que apoiavam o seu governo. Por isso, seu governo foi um marco para a consolidação da ordem oligárquica, com um governo de civis na jovem República. Conforme Carvalho (2011, p. 156), o presidente civil Prudente de Morais teve seu governo perturbado por conflitos com diversos partidos e com o Congresso. Processo tumultuado, também, por revoltas militares e populares, de modo que o presidente sofreu uma tentativa de assassinato. Deixou o país à beira da falência financeira. Figura 5: Prudente de Morais ( Partido Republicano Federal ) - 15/11/1894 a 15/11/1998 Disponível em <http://www.pictime.com.br/pessoas/presidentes-do-brasil>.

29 Logo depois, com a ajuda de Morais assume a presidência Manuel Ferraz de Campos Sales, que governou no período de 1898-1902. Para Carvalho (2011, p. 156), Campos Sales, partidário do republicanismo do manifesto, seu objetivo era anular a influencia, para ele deletéria dos dissidentes republicanos, a quem se referia como puritanos. O paulista Campos Sales, eleito presidente em 1898, fez um governo impopular, durante o qual consertou as finanças e montou um sistema politico que nada tinha a ver com os sonhos da propaganda, mas que estabilizou o regime e lhe deu mais trinta anos de vida. O autor ressalta ainda que ele criou um engenhoso mecanismo, a que chamou politica dos estados, pelo qual o presidente da republica se entendia com os governadores no sentido de formar um congresso governista. A ideia era simples e realista. Ele sabia que no Brasil o governo do povo, pelo povoe para o povo era uma utopia (CARVALHO, 2011). Logo de início o seu governo foi marcado por crises econômicas acumuladas desde os governos anteriores: nesse contexto, a alta da inflação e a queda nos preços do café, que era principal atividade econômica, obrigaram o governo a negociar auxílios econômicas externos por meio do chamado funding loan. Segundo Arnaldo Fazolli Filho (1977), funding loan era um acordo através do qual foi realizado um empréstimo no valor de dez milhões de libras, tendo como garantia a renda das alfandegas do Rio de Janeiro e as outras alfandegas nacionais como possíveis subsidiarias. Ou seja, o governo brasileiro deveria começar a retirar uma grande quantia de papel moeda de circulação, iniciando assim um drástico processo de desinflação. Ficaram suspensas as cobranças de juros sobre o novo empréstimo por um período de três anos e amortização da divida propriamente dita só processaria a partir de 1911, num prazo de 63 anos, contando da data do acordo que foi 1898. Afirma ainda Fazolli Filho (1977, 243) que esta política de valorização retirou de circulação a quantidade de papel moeda estipulada pelo funding loan e depositou-a em bancos alemães e ingleses do Rio de Janeiro. Posteriormente, este dinheiro foi queimado. Os impostos foram elevados e então foram criados o imposto de renda e os impostos de selo e consumo. Porém Campos Sales investiu nas exportações de mercadorias como café, borracha, e algodão, e em seu governo foi consolidada a política dos governadores, sistema que era baseado na troca de favores, no qual os governadores de estados davam seu apoio ao governo federal, ajudando a eleger deputados e senadores de plena confiança do presidente, que dava em retribuição verbas para o seus estados e apoio aos aliados políticos. Esta política estava baseada na ligação de coronéis aos governadores, com um grande sistema de fraudes. Seu

30 governo terminou com grande estima por parte da elite cafeeira. A respeito da politica dos gvernadores, o historiador Francisco Iglésias (1985, p. 32) escreveu: O presidente da republica entende-se com os dos estados; autoridade federal apoia as dos estados, nomeando os funcionários federais ante a indicação ou aprovação dos estados; estes apoiam o governo central, através do voto de suas bancadas do senado e na câmara. O resultado é a conciliação pelo alto, sem audiência do povo, fato comum na pratica de então com leis eleitorais impróprias e com fraude. Em contrapartida, afirma Lopez (1983, p. 47): Durante o mandato de Campos Sales, o governo federal, para fazer face ao extremo federalismo vigente, (...) resolveu estabelecer acordos políticos com os governos estaduais, a fim de garantir a formação de Congressos dóceis às diretrizes presidenciais (...). Esta foi a chamada Politica dos Governadores : os governadores se responsabilizariam pela escolha de bons deputados e bons senadores nas eleições, a partir de acordos om chefes políticos locais, isto é, os coronéis- latifundiários, manipuladores do voto e da frágil vontade do povo camponês. Figura 6: Campos Sales (Partido Republicano Paulista )- 15/11/1898 a 15/11/1902 Disponível em: <http://www.pictime.com.br/pessoas/presidentes-do-brasil>. Como discutimos em capítulo anterior, a proclamação da República em 1889 foi seguida por um contexto de grande instabilidade econômica, social e política. Golpes de Estado, guerras civis e crises políticas marcaram os primeiros governos da República. Com a